segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Discurso histórico do Papa Francisco na Bolívia, Santa Cruz - 9 de Julho...




"Quando o capital se torna um ídolo e dirige as opções dos seres humanos, quando a avidez do dinheiro domina todo o sistema socioeconômico, arruína a sociedade, condena o homem, transforma-o em escravo, destrói a fraternidade inter-humana, faz lutar povo contra povo e até, como vemos, põe em risco esta nossa casa comum." (Papa Francisco)

Boa tarde a todos!
Há alguns meses, reunimos-nos em Roma e não esqueço aquele nosso primeiro encontro. Durante este tempo, trouxe-vos no meu coração e nas minhas orações. Alegra-me vê-vos de novo aqui, debatendo os melhores caminhos para superar as graves situações de injustiça que padecem os excluídos em todo o mundo. Obrigado Senhor Presidente Evo Morales, por sustentar tão decididamente este Encontro.
Então, em Roma, senti algo muito belo: fraternidade, paixão, entrega, sede de justiça. Hoje, em Santa Cruz de la Sierra, volto a sentir o mesmo. Obrigado! Soube também, pelo Pontifício Conselho «Justiça e Paz» presidido pelo Cardeal Turkson, que são muitos na Igreja aqueles que se sentem mais próximos dos movimentos populares. Muito me alegro por isso! Ver a Igreja com as portas abertas a todos vós, que se envolve, acompanha e consegue sistematizar em cada diocese, em cada comissão «Justiça e Paz», uma colaboração real, permanente e comprometida com os movimentos populares. Convido-vos a todos, bispos, sacerdotes e leigos, juntamente com as organizações sociais das periferias urbanas e rurais a aprofundar este encontro.
Deus permitiu que nos voltássemos a ver hoje. A Bíblia lembra-nos que Deus escuta o clamor do seu povo e também eu quero voltar a unir a minha voz à vossa: terra, tecto e trabalho para todos os nossos irmãos e irmãs. Disse-o e repito: são direitos sagrados. Vale a pena, vale a pena lutar por eles. Que o clamor dos excluídos seja escutado na América Latina e em toda a terra.
1. Comecemos por reconhecer que precisamos duma mudança. Quero esclarecer, para que não haja mal-entendidos, que falo dos problemas comuns de todos os latino-americanos e, em geral, de toda a humanidade. Problemas, que têm uma matriz global e que atualmente nenhum Estado pode resolver por si mesmo. Feito este esclarecimento, proponho que nos coloquemos estas perguntas:
– Reconhecemos nós que as coisas não andam bem num mundo onde há tantos camponeses sem terra, tantas famílias sem tecto, tantos trabalhadores sem direitos, tantas pessoas feridas na sua dignidade?
– Reconhecemos nós que as coisas não andam bem, quando explodem tantas guerras sem sentido e a violência fratricida se apodera até dos nossos bairros? Reconhecemos nós que as coisas não andam bem, quando o solo, a água, o ar e todos os seres da criação estão sob ameaça constante?
Então dígamo-lo sem medo: Precisamos e queremos uma mudança.
Nas vossas cartas e nos nossos encontros, relataram-me as múltiplas exclusões e injustiças que sofrem em cada atividade laboral, em cada bairro, em cada território. São tantas e tão variadas como muitas e diferentes são as formas próprias de as enfrentar. Mas há um elo invisível que une cada uma destas exclusões: conseguimos nós reconhecê-lo? É que não se trata de questões isoladas. Pergunto-me se somos capazes de reconhecer que estas realidades destrutivas correspondem a um sistema que se tornou global. Reconhecemos nós que este sistema impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza?
Se é assim – insisto – digamo-lo sem medo: Queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos…. E nem sequer o suporta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco.
Queremos uma mudança nas nossas vidas, nos nossos bairros, no vilarejo, na nossa realidade mais próxima; mas uma mudança que toque também o mundo inteiro, porque hoje a interdependência global requer respostas globais para os problemas locais. A globalização da esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres, deve substituir esta globalização da exclusão e da indiferença.
Hoje quero reflectir convosco sobre a mudança que queremos e precisamos. Como sabem, recentemente escrevi sobre os problemas da mudança climática. Mas, desta vez, quero falar duma mudança noutro sentido. Uma mudança positiva, uma mudança que nos faça bem, uma mudança – poderíamos dizer – redentora. Porque é dela que precisamos. Sei que buscais uma mudança e não apenas vós: nos diferentes encontros, nas várias viagens, verifiquei que há uma expectativa, uma busca forte, um anseio de mudança em todos os povos do mundo. Mesmo dentro da minoria cada vez mais reduzida que pensa sair beneficiada deste sistema, reina a insatisfação e sobretudo a tristeza. Muitos esperam uma mudança que os liberte desta tristeza individualista que escraviza.
O tempo, irmãos e irmãs, o tempo parece exaurir-se; já não nos contentamos com lutar entre nós, mas chegamos até a assanhar-nos contra a nossa casa. Hoje, a comunidade científica aceita aquilo que os pobres já há muito denunciam: estão a produzir-se danos talvez irreversíveis no ecossistema. Está-se a castigar a terra, os povos e as pessoas de forma quase selvagem. E por trás de tanto sofrimento, tanta morte e destruição, sente-se o cheiro daquilo que Basílio de Cesareia chamava «o esterco do diabo»: reina a ambição desenfreada de dinheiro. O serviço ao bem comum fica em segundo plano. Quando o capital se torna um ídolo e dirige as opções dos seres humanos, quando a avidez do dinheiro domina todo o sistema socioeconômico, arruína a sociedade, condena o homem, transforma-o em escravo, destrói a fraternidade inter-humana, faz lutar povo contra povo e até, como vemos, põe em risco esta nossa casa comum.
Não quero alongar-me na descrição dos efeitos malignos desta ditadura subtil: vós conhecei-los! Mas também não basta assinalar as causas estruturais do drama social e ambiental contemporâneo. Sofremos de um certo excesso de diagnóstico, que às vezes nos leva a um pessimismo charlatão ou a rejubilar com o negativo. Ao ver a crónica negra de cada dia, pensamos que não haja nada que se possa fazer para além de cuidar de nós mesmos e do pequeno círculo da família e dos amigos.
Que posso fazer eu, recolhedor de papelão, catador de lixo, limpador, reciclador, frente a tantos problemas, se mal ganho para comer? Que posso fazer eu, artesão, vendedor ambulante, carregador, trabalhador irregular, se não tenho sequer direitos laborais? Que posso fazer eu, camponesa, indígena, pescador que dificilmente consigo resistir à propagação das grandes corporações? Que posso fazer eu, a partir da minha comunidade, do meu barraco, da minha povoação, da minha favela, quando sou diariamente discriminado e marginalizado? Que pode fazer aquele estudante, aquele jovem, aquele militante, aquele missionário que atravessa as favelas e os paradeiros com o coração cheio de sonhos, mas quase sem nenhuma solução para os meus problemas? Muito! Podem fazer muito. Vós, os mais humildes, os explorados, os pobres e excluídos, podeis e fazeis muito. Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, nas vossas mãos, na vossa capacidade de vos organizar e promover alternativas criativas na busca diária dos “3 T” (trabalho, tecto, terra), e também na vossa participação como protagonistas nos grandes processos de mudança nacionais, regionais e mundiais. Não se acanhem!
2. Vós sois semeadores de mudança. Aqui, na Bolívia, ouvi uma frase de que gosto muito: «processo de mudança». A mudança concebida, não como algo que um dia chegará porque se impôs esta ou aquela opção política ou porque se estabeleceu esta ou aquela estrutura social. Sabemos, amargamente, que uma mudança de estruturas, que não seja acompanhada por uma conversão sincera das atitudes e do coração, acaba a longo ou curto prazo por burocratizar-se, corromper-se e sucumbir. Por isso gosto tanto da imagem do processo, onde a paixão por semear, por regar serenamente o que outros verão florescer, substitui a ansiedade de ocupar todos os espaços de poder disponíveis e de ver resultados imediatos. Cada um de nós é apenas uma parte de um todo complexo e diversificado interagindo no tempo: povos que lutam por uma afirmação, por um destino, por viver com dignidade, por «viver bem».
Vós, a partir dos movimentos populares, assumis as tarefas comuns motivados pelo amor fraterno, que se rebela contra a injustiça social. Quando olhamos o rosto dos que sofrem, o rosto do camponês ameaçado, do trabalhador excluído, do indígena oprimido, da família sem tecto, do imigrante perseguido, do jovem desempregado, da criança explorada, da mãe que perdeu o seu filho num tiroteio porque o bairro foi tomado pelo narcotráfico, do pai que perdeu a sua filha porque foi sujeita à escravidão; quando recordamos estes «rostos e nomes» estremecem-nos as entranhas diante de tanto sofrimento e comovemo-nos…. Porque «vimos e ouvimos», não a fria estatística, mas as feridas da humanidade dolorida, as nossas feridas, a nossa carne. Isto é muito diferente da teorização abstrata ou da indignação elegante. Isto comove-nos, move-nos e procuramos o outro para nos movermos juntos. Esta emoção feita acção comunitária é incompreensível apenas com a razão: tem um plus de sentido que só os povos entendem e que confere a sua mística particular aos verdadeiros movimentos populares.


Vós viveis, cada dia, imersos na crueza da tormenta humana. Falastes-me das vossas causas, partilhastes comigo as vossas lutas. E agradeço-vos. Queridos irmãos, muitas vezes trabalhais no insignificante, no que aparece ao vosso alcance, na realidade injusta que vos foi imposta e a que não vos resignais opondo uma resistência ativa ao sistema idólatra que exclui, degrada e mata. Vi-vos trabalhar incansavelmente pela terra e a agricultura camponesa, pelos vossos territórios e comunidades, pela dignificação da economia popular, pela integração urbana das vossas favelas e agrupamentos, pela auto-construção de moradias e o desenvolvimento das infra-estruturas do bairro e em muitas actividades comunitárias que tendem à reafirmação de algo tão elementar e inegavelmente necessário como o direito aos “3 T”: terra, tecto e trabalho.
Este apego ao bairro, à terra, ao território, à profissão, à corporação, este reconhecer-se no rosto do outro, esta proximidade no dia-a-dia, com as suas misérias e os seus heroísmos quotidianos, é o que permite realizar o mandamento do amor, não a partir de ideias ou conceitos, mas a partir do genuíno encontro entre pessoas, porque não se amam os conceitos nem as ideias; amam-se as pessoas. A entrega, a verdadeira entrega nasce do amor pelos homens e mulheres, crianças e idosos, vilarejos e comunidades… Rostos e nomes que enchem o coração. A partir destas sementes de esperança semeadas pacientemente nas periferias esquecidas do planeta, destes rebentos de ternura que lutam por subsistir na escuridão da exclusão, crescerão grandes árvores, surgirão bosques densos de esperança para oxigenar este mundo.
Vejo, com alegria, que trabalhais no que aparece ao vosso alcance, cuidando dos rebentos; mas, ao mesmo tempo, com uma perspectiva mais ampla, protegendo o arvoredo. Trabalhais numa perspectiva que não só aborda a realidade sectorial que cada um de vós representa e na qual felizmente está enraizada, mas procurais também resolver, na sua raiz, os problemas gerais de pobreza, desigualdade e exclusão.
Felicito-vos por isso. É imprescindível que, a par da reivindicação dos seus legítimos direitos, os povos e as suas organizações sociais construam uma alternativa humana à globalização exclusiva. Vós sois semeadores de mudança. Que Deus vos dê coragem, alegria, perseverança e paixão para continuar a semear. Podeis ter a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, vamos ver os frutos. Peço aos dirigentes: sede criativos e nunca percais o apego às coisas próximas, porque o pai da mentira sabe usurpar palavras nobres, promover modas intelectuais e adotar posições ideológicas, mas se construirdes sobre bases sólidas, sobre as necessidades reais e a experiência viva dos vossos irmãos, dos camponeses e indígenas, dos trabalhadores excluídos e famílias marginalizadas, de certeza não vos equivocareis.
A Igreja não pode nem deve ser alheia a este processo no anúncio do Evangelho. Muitos sacerdotes e agentes pastorais realizam uma tarefa imensa acompanhando e promovendo os excluídos em todo o mundo, ao lado de cooperativas, dando impulso a empreendimentos, construindo casas, trabalhando abnegadamente nas áreas da saúde, desporto e educação. Estou convencido de que a cooperação amistosa com os movimentos populares pode robustecer estes esforços e fortalecer os processos de mudança.
No coração, tenhamos sempre a Virgem Maria, uma jovem humilde duma pequena aldeia perdida na periferia dum grande império, uma mãe sem tecto que soube transformar um curral de animais na casa de Jesus com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura. Maria é sinal de esperança para os povos que sofrem dores de parto até que brote a justiça. Rezo à Virgem do Carmo, padroeira da Bolívia, para fazer com que este nosso Encontro seja fermento de mudança.
3. Por último, gostaria que refletíssemos, juntos, sobre algumas tarefas importantes neste momento histórico, pois queremos uma mudança positiva em benefício de todos os nossos irmãos e irmãs. Disto estamos certos! Queremos uma mudança que se enriqueça com o trabalho conjunto de governos, movimentos populares e outras forças sociais. Sabemos isto também! Mas não é tão fácil definir o conteúdo da mudança, ou seja, o programa social que reflita este projeto de fraternidade e justiça que esperamos. Neste sentido, não esperem uma receita deste Papa. Nem o Papa nem a Igreja têm o monopólio da interpretação da realidade social e da proposta de soluções para os problemas contemporâneos. Atrever-me-ia a dizer que não existe uma receita. A história é construída pelas gerações que se vão sucedendo no horizonte de povos que avançam individuando o próprio caminho e respeitando os valores que Deus colocou no coração.
Gostaria, no entanto, de vos propor três grandes tarefas que requerem a decisiva contribuição do conjunto dos movimentos populares:
3.1 A primeira tarefa é pôr a economia ao serviço dos povos.
Os seres humanos e a natureza não devem estar ao serviço do dinheiro. Digamos NÃO a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez de servir. Esta economia mata. Esta economia exclui. Esta economia destrói a Mãe Terra.
A economia não deveria ser um mecanismo de acumulação, mas a condigna administração da casa comum. Isto implica cuidar zelosamente da casa e distribuir adequadamente os bens entre todos. A sua finalidade não é unicamente garantir o alimento ou um «decoroso sustento». Não é sequer, embora fosse já um grande passo, garantir o acesso aos “3 T” pelos quais combateis. Uma economia verdadeiramente comunitária – poder-se-ia dizer, uma economia de inspiração cristã – deve garantir aos povos dignidade, «prosperidade e civilização em seus múltiplos aspectos».[1] Isto envolve os “3 T” mas também acesso à educação, à saúde, à inovação, às manifestações artísticas e culturais, à comunicação, ao desporto e à recreação. Uma economia justa deve criar as condições para que cada pessoa possa gozar duma infância sem privações, desenvolver os seus talentos durante a juventude, trabalhar com plenos direitos durante os anos de atividade e ter acesso a uma digna aposentação na velhice. É uma economia onde o ser humano, em harmonia com a natureza, estrutura todo o sistema de produção e distribuição de tal modo que as capacidades e necessidades de cada um encontrem um apoio adequado no ser social. Vós – e outros povos também – resumis este anseio duma maneira simples e bela: «viver bem».
Esta economia é não apenas desejável e necessária, mas também possível. Não é uma utopia, nem uma fantasia. É uma perspectiva extremamente realista. Podemos consegui-la. Os recursos disponíveis no mundo, fruto do trabalho intergeneracional dos povos e dos dons da criação, são mais que suficientes para o desenvolvimento integral de «todos os homens e do homem todo».[2] Mas o problema é outro. Existe um sistema com outros objetivos. Um sistema que, apesar de acelerar irresponsavelmente os ritmos da produção, apesar de implementar métodos na indústria e na agricultura que sacrificam a Mãe Terra na ara da «produtividade», continua a negar a milhares de milhões de irmãos os mais elementares direitos econômicos, sociais e culturais. Este sistema atenta contra o projecto de Jesus.
A justa distribuição dos frutos da terra e do trabalho humano não é mera filantropia. É um dever moral. Para os cristãos, o encargo é ainda mais forte: é um mandamento. Trata-se de devolver aos pobres e às pessoas o que lhes pertence. O destino universal dos bens não é um adorno retórico da doutrina social da Igreja. É uma realidade anterior à propriedade privada. A propriedade, sobretudo quando afeta os recursos naturais, deve estar sempre em função das necessidades das pessoas. E estas necessidades não se limitam ao consumo. Não basta deixar cair algumas gotas, quando os pobres agitam este copo que, por si só, nunca derrama. Os planos de assistência que acodem a certas emergências deveriam ser pensados apenas como respostas transitórias. Nunca poderão substituir a verdadeira inclusão: a inclusão que dá o trabalho digno, livre, criativo, participativo e solidário.
Neste caminho, os movimentos populares têm um papel essencial, não apenas exigindo e reclamando, mas fundamentalmente criando. Vós sois poetas sociais: criadores de trabalho, construtores de casas, produtores de alimentos, sobretudo para os descartados pelo mercado global.
Conheci de perto várias experiências, onde os trabalhadores, unidos em cooperativas e outras formas de organização comunitária, conseguiram criar trabalho onde só havia sobras da economia idólatra. As empresas recuperadas, as feiras francas e as cooperativas de catadores de papelão são exemplos desta economia popular que surge da exclusão e que pouco a pouco, com esforço e paciência, adota formas solidárias que a dignificam. Quão diferente é isto do facto de os descartados pelo mercado formal serem explorados como escravos!
Os governos que assumem como própria a tarefa de colocar a economia ao serviço das pessoas devem promover o fortalecimento, melhoria, coordenação e expansão destas formas de economia popular e produção comunitária. Isto implica melhorar os processos de trabalho, prover de adequadas infra-estruturas e garantir plenos direitos aos trabalhadores deste sector alternativo. Quando Estado e organizações sociais assumem, juntos, a missão dos “3 T”, ativam-se os princípios de solidariedade e subsidiariedade que permitem construir o bem comum numa democracia plena e participativa.
3.2 A segunda tarefa é unir os nossos povos no caminho da paz e da justiça.
Os povos do mundo querem ser artífices do seu próprio destino. Querem caminhar em paz para a justiça. Não querem tutelas nem interferências, onde o mais forte subordina o mais fraco. Querem que a sua cultura, o seu idioma, os seus processos sociais e tradições religiosas sejam respeitados. Nenhum poder efetivamente constituído tem direito de privar os países pobres do pleno exercício da sua soberania e, quando o fazem, vemos novas formas de colonialismo que afetam seriamente as possibilidades de paz e justiça, porque «a paz funda-se não só no respeito pelos direitos do homem, mas também no respeito pelo direito dos povos, sobretudo o direito à independência».[3]
Os povos da América Latina alcançaram, com um parto doloroso, a sua independência política e, desde então, viveram já quase dois séculos duma história dramática e cheia de contradições procurando conquistar uma independência plena.
Nos últimos anos, depois de tantos mal-entendidos, muitos países latino-americanos viram crescer a fraternidade entre os seus povos. Os governos da região juntaram seus esforços para fazer respeitar a sua soberania, a de cada país e a da região como um todo que, de forma muito bela como faziam os nossos antepassados, chamam a «Pátria Grande». Peço-vos, irmãos e irmãs dos movimentos populares, que cuidem e façam crescer esta unidade. É necessário manter a unidade contra toda a tentativa de divisão, para que a região cresça em paz e justiça.
Apesar destes avanços, ainda subsistem factores que atentam contra este desenvolvimento humano equitativo e coarctam a soberania dos países da «Pátria Grande» e doutras latitudes do Planeta. O novo colonialismo assume variadas fisionomias. Às vezes, é o poder anônimo do ídolo dinheiro: corporações, credores, alguns tratados denominados «de livre comércio» e a imposição de medidas de «austeridade» que sempre apertam o cinto dos trabalhadores e dos pobres. Os bispos latino-americanos denunciam-no muito claramente, no documento de Aparecida, quando afirmam que «as instituições financeiras e as empresas transnacionais se fortalecem ao ponto de subordinar as economias locais, sobretudo debilitando os Estados, que aparecem cada vez mais impotentes para levar adiante projetos de desenvolvimento a serviço de suas populações».[4] Noutras ocasiões, sob o nobre disfarce da luta contra a corrupção, o narcotráfico ou o terrorismo – graves males dos nossos tempos que requerem uma ação internacional coordenada – vemos que se impõem aos Estados medidas que pouco têm a ver com a resolução de tais problemáticas e muitas vezes tornam as coisas piores.
Da mesma forma, a concentração monopolista dos meios de comunicação social que pretende impor padrões alienantes de consumo e certa uniformidade cultural é outra das formas que adota o novo colonialismo. É o colonialismo ideológico. Como dizem os bispos da África, muitas vezes pretende-se converter os países pobres em «peças de um mecanismo, partes de uma engrenagem gigante».[5]
Temos de reconhecer que nenhum dos graves problemas da humanidade pode ser resolvido sem a interação dos Estados e dos povos a nível internacional. Qualquer acto de envergadura realizado numa parte do Planeta repercute-se no todo em termos económicos, ecológicos, sociais e culturais. Até o crime e a violência se globalizaram. Por isso, nenhum governo pode atuar à margem duma responsabilidade comum. Se queremos realmente uma mudança positiva, temos de assumir humildemente a nossa interdependência. Mas interação não é sinônimo de imposição, não é subordinação de uns em função dos interesses dos outros. O colonialismo, novo e velho, que reduz os países pobres a meros fornecedores de matérias-primas e mão de obra barata, gera violência, miséria, emigrações forçadas e todos os males que vêm juntos… precisamente porque, ao pôr a periferia em função do centro, nega-lhes o direito a um desenvolvimento integral. Isto é desigualdade, e a desigualdade gera violência que nenhum recurso policial, militar ou dos serviços secretos será capaz de deter.
Digamos NÃO às velhas e novas formas de colonialismo. Digamos SIM ao encontro entre povos e culturas. Bem-aventurados os que trabalham pela paz.
Aqui quero deter-me num tema importante. É que alguém poderá, com direito, dizer: «Quando o Papa fala de colonialismo, esquece-se de certas acções da Igreja». Com pesar, vo-lo digo: Cometeram-se muitos e graves pecados contra os povos nativos da América, em nome de Deus. Reconheceram-no os meus antecessores, afirmou-o o CELAM e quero reafirmá-lo eu também. Como São João Paulo II, peço que a Igreja «se ajoelhe diante de Deus e implore o perdão para os pecados passados e presentes dos seus filhos».[6] E eu quero dizer-vos, quero ser muito claro, como foi São João Paulo II: Peço humildemente perdão, não só para as ofensas da própria Igreja, mas também para os crimes contra os povos nativos durante a chamada conquista da América.
Peço-vos também a todos, crentes e não crentes, que se recordem de tantos bispos, sacerdotes e leigos que pregaram e pregam a boa nova de Jesus com coragem e mansidão, respeito e em paz; que, na sua passagem por esta vida, deixaram impressionantes obras de promoção humana e de amor, pondo-se muitas vezes ao lado dos povos indígenas ou acompanhando os próprios movimentos populares mesmo até ao martírio. A Igreja, os seus filhos e filhas, fazem parte da identidade dos povos na América Latina. Identidade que alguns poderes, tanto aqui como noutros países, se empenham por apagar, talvez porque a nossa fé é revolucionária, porque a nossa fé desafia a tirania do ídolo dinheiro. Hoje vemos, com horror, como no Médio Oriente e noutros lugares do mundo se persegue, tortura, assassina a muitos irmãos nossos pela sua fé em Jesus. Isto também devemos denunciá-lo: dentro desta terceira guerra mundial em parcelas que vivemos, há uma espécie de genocídio em curso que deve cessar.
Aos irmãos e irmãs do movimento indígena latino-americano, deixem-me expressar a minha mais profunda estima e felicitá-los por procurarem a conjugação dos seus povos e culturas segundo uma forma de convivência, a que eu chamo poliédrica, onde as partes conservam a sua identidade construindo, juntas, uma pluralidade que não atenta contra a unidade, mas fortalece-a. A sua procura desta interculturalidade que conjuga a reafirmação dos direitos dos povos nativos com o respeito à integridade territorial dos Estados enriquece-nos e fortalece-nos a todos.
3.3 A terceira tarefa, e talvez a mais importante que devemos assumir hoje, é defender a Mãe Terra.
A casa comum de todos nós está a ser saqueada, devastada, vexada impunemente. A covardia em defendê-la é um pecado grave. Vemos, com crescente decepção, sucederem-se uma após outra cimeiras internacionais sem qualquer resultado importante. Existe um claro, definitivo e inadiável imperativo ético de atuar que não está a ser cumprido. Não se pode permitir que certos interesses – que são globais, mas não universais – se imponham, submetendo Estados e organismos internacionais, e continuem a destruir a criação. Os povos e os seus movimentos são chamados a clamar, mobilizar-se, exigir – pacífica mas tenazmente – a adoção urgente de medidas apropriadas. Peço-vos, em nome de Deus, que defendais a Mãe Terra. Sobre este assunto, expressei-me devidamente na carta encíclica Laudato si’.
4. Para concluir, quero dizer-lhes novamente: O futuro da humanidade não está unicamente nas mãos dos grandes dirigentes, das grandes potências e das elites. Está fundamentalmente nas mãos dos povos; na sua capacidade de se organizarem e também nas suas mãos que regem, com humildade e convicção, este processo de mudança. Estou convosco. Digamos juntos do fundo do coração: nenhuma família sem tecto, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhum povo sem soberania, nenhuma pessoa sem dignidade, nenhuma criança sem infância, nenhum jovem sem possibilidades, nenhum idoso sem uma veneranda velhice. Continuai com a vossa luta e, por favor, cuidai bem da Mãe Terra. Rezo por vós, rezo convosco e quero pedir a nosso Pai Deus que vos acompanhe e abençoe, que vos cumule do seu amor e defenda no caminho concedendo-vos, em abundância, aquela força que nos mantém de pé: esta força é a esperança, a esperança que não decepciona. Obrigado! E peço-vos, por favor, que rezeis por mim.
[1] JOÃO XXIII, Carta enc. Mater et Magistra (15 de Maio de 1961), 3: AAS 53 (1961), 402.
[2] PAULO VI, Carta enc. Popolorum progressio, 14.
[3] PONTIFÍCIO CONSELHO «JUSTIÇA E PAZ», Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 157.
[4] V CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO CARIBE (2007), Documento de Aparecida, 66.
[5] JOÃO PAULO II, Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Africa (14 de Setembro de 1995), 52: AAS 88 (1996), 32-33. Cf. IDEM, Carta enc. Sollicitudo rei socialis (30 de Dezembro de 1987), 22: AAS 80 (1988), 539.
[6] JOÃO PAULO II, Bula Incarnationis mysterium, 11.

Te Desejo Vida _ Padre Fábio de Melo

Trem Bala - Pe. Fábio de Melo

ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS

Padre Marcelo Rossi - Incendeia minha alma (Video ao vivo) ft. Padre Fáb...

terça-feira, 2 de outubro de 2018

O BRASIL ESTÁ DE PÉ!

O BRASIL ESTÁ DE PÉ!
Nunca houve na história do Brasil, manifestação contra um candidato que uniu a todos brasileiros de boa índole que amam a pátria.

Em nossa veias está o sangue de Tiradentes, Zumbi, José Bonifácio Andrada, Duque de caxias, Floriano Peixoto, Estilac Leal, Deodoro, dos Guararapes, de Getúlio Vargas, Tancredo Neves, Ulisses Guimarães, Leonel Brizola e tantos outros líderes que lutaram pela independência da pátria.

Não vai ser um entreguista, traidor, travestido de "nacionalista", que vai nos submeter. UM BOÇAL.
"Este povo de quem fui escravo, jamais será escravo de ninguém". Getúlio Vargas.
VIVA O BRASIL!
VIVA AS MULHERES GUERREIRAS BRASILEIRAS!


FRENTE POPULAR GETULISTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

"PESQUISAS"



Nas eleições de 2014 e 2016, os principais institutos de pesquisa erraram, em média, 54% dos prognósticos. Em 2016, o Ibope de 28 de setembro, quatro dias antes da eleição em São Paulo, “com 95% de grau de confiança”, apontou João Dória com 28% e Russomano em 2º com 22%. Contados os votos, Doria teve 53,7% e venceu no 1º turno. Em 2014, os resultados ficaram fora da margem de erro do Datafolha em 17 das 27 das pesquisas, 63%. No Ibope, 45% das 84 pesquisas. Na pesquisa a quatro dias da eleição de 2016, Haddad aparecia em 4º lugar. Apurados os votos o petista cegou em 2º com 16,7%. Em nota, o Ibope explicou que pesquisa é “retrato do momento” etc, e da pesquisa à votação vários fatores “impactam diretamente o eleitor”. A menos de 10 dias da eleição de 2014, em Pernambuco, o Datafolha cravou empate de Paulo Câmara com Armando Monteiro. Paulo Câmara foi eleito governador no primeiro turno, com espetaculares 68% dos votos. Armando Monteiro teve 31%. (Fonte: Diário do Poder)

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

PESQUISA ELEITORAL É UM ESTUPRO AS NOSSAS CONSCIÊNCIAS




A VERDADE É NOSSA! NENHUM PASSO ATRÁS!
"Este povo de quem fui escravo, jamais será escravo de ninguém" Getúlio Vargas.

O objetivo central das pesquisas é induzir o eleitor a votar quem está na frente e desestimular a militância. 

Isto é uma violência nas consciências da nação brasileira, um mecanismo utilizado para "estuprar" nossas mentes.
Quem os agiotas e especuladores, sanguessugas, do dinheiro publico, os banqueiros, que a mídia vagabunda chama de "mercado" tem mais confiança? Quem melhor seria "vice-rei", "Herodes", para o imperialismo dos EUA, principalmente?
Pergunto: Quem já foi entrevistado? Dois mil entrevistados representam mais de cem milhões de eleitores? 190 e poucos municípios representam mais de 5000 municípios? Em que bairros foram feitas as pesquisas, no Morro do Alemão, na favela da Maré ou no Alto Leblon, nos condomínios de luxo da Barra da Tijuca?
A pesquisa inclui perguntas como: se o candidato que votou na "Reforma trabalhista" do Temer e que votou no congelamento durante 20 anos qualquer investimento em saúde, educação, cultura e lazer é um bom candidato?
A pesquisa perguntou aos 5000 prefeitos que não terão um tostão para comprar um esparadrapo, uma dipirona para a população do seu município e que tem um candidato a presidente que votou para que o município se lascasse com essa PEC do congelamento ?
Não acredito que os prefeitos fariam campanha para um BOÇAL que votou nisso.
IBOPE E REDE GLOBO VÃO TOMAR NO OLHO DO...
Vai enganar o...
Não nos deixemos abater por essa fraude. 
A verdade esta com a maioria do povo brasileiro que luta por soberania, democracia, melhores condições de vida diariamente.
“O que existe por parte de alguns homens em nosso país, arvorados em líderes da economia nacional, é apenas um acentuado complexo contra o trabalhador brasileiro. Acham que ele não deve ser operário nas fábricas, que o Brasil não deve ter indústria, que é indispensável destruir toda e qualquer possibilidade de trabalho fora dos campos. O Brasil, no conceito desses homens, deve ser uma nação essencialmente agrícola. O operário deve mudar de profissão, pelo que pretendem, ou então voltar ao regime de escravatura”. GETÚLIO VARGAS.


A VERDADE É NOSSA! NENHUM PASSO ATRÁS.!

FRENTE POPULAR GETULISTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Haddad no JN – O que ele realmente fez e a imprensa “de esquerda” não viu

Por Wellington Calasans, para o Duplo ExpressoPublicado 16/set/2018 – 7:11
Atualizado 17/set/2018 – 10:40
Antes que venham os “PTminions” com os previsíveis ataques, gostaria de deixar claro duas coisas: 1) depois que Lula foi abandonado na cadeia pela ala jurídica do PT, o debate na nossa página é sobre democracia; 2) “Fernando – Marcos Lisboa – Haddad” não é Lula. E vice-versa.
Dito isso, preferi aguardar traços de honestidade dos militantes e da imprensa autointitulados “de esquerda” na avaliação sobre a participação do Doutor da USP, e não só, para que ele (o Doutor Haddad) desse algum sinal de humildade ou fosse enquadrado após o conselho de Gleisi Hoffmann com o necessário “banho de povo”. Nada disso ocorreu.
O que vi? Como diria Jack, vamos por partes.
Primeiro no JN, um Haddad nitidamente nervoso, cometeu diversos erros, depois daquela entrevista ficou nu. É muito fácil entender por que ele perdeu a prefeitura de São Paulo no primeiro turno sentado na cadeira. Vamos aos fatos:
  1. Falou no nome de Lula uma única vez, num constrangido “boa noite”. Como diria Lobão (coxinha como Haddad) “como quem pede desculpas pra si mesmo”. Ah! Para não ser injusto, Haddad também disse que milhões de brasileiros gostariam de estar vendo Lula sentado naquela cadeira. Foi a única coisa – meio – certa que ele falou em toda a entrevista. E com a qual eu e milhões de brasileiros concordamos – em parte. Nós, lulistas, não apenas “gostaríamos”, Haddad. O correto era dizer que Lula deveria estar ali. E que foi impedido por um Golpe. Todos “gostaríamos” de ter 10 milhões em nossas contas bancárias, não é mesmo? Isso é totalmente diferente de dizer que “deveríamos ter 10 milhões”. Mas Haddad não diria nada do gênero, porque…
  2. Defendeu as leis punitivistas do “PT Jurídico” (apud Luiz Moreira) que são responsáveis por toda criminalização do PT e a prisão ilegal do presidente Lula em segunda instância, juntamente com outros 14 mil brasileiros.
  3. Mais grave ainda, permitiu – logo na primeira pergunta – que Renata Vasconcelos reforçasse a “fake news” de que o “petrolão” (sic) foi “o maior escândalo de corrupção de todos os tempos”, com desvios de “12 bilhões de Reais” (sic). Ora! Era o momento exato de contestar e dizer que o maior escândalo de corrupção foi o caso BANESTADO, cuja instrução foi presidida pelo mesmo Sergio Moro, sem contudo resultar na prisão de quem quer que fosse. Muito mais que na Petrobras, o BANESTADO envolveu a evasão e a lavagem de algo entre 130 e 179 bilhões. De Dólares e não Reais! Bônus: a própria Globo – assim como a gangue de Moro – estão envolvidos no escândalo e no seu enterro (aquiaquiaqui). Mas Haddad…
  4. Defendeu o Judiciário ao ser indagado sobre uma conspiração que integrantes do PT atribuem ao mesmo, incluindo principalmente Lula. Até por ele ter dito em várias entrevistas que era alvo de uma conspiração tanto do Judiciário como internacional. Haddad bate no peito e diz que ele, Haddad, jamais falou em “conspiração” e sim em “erro judiciário”. Ou seja, Haddad continua sustentando que Lula sofreu, “apenas”, um “erro judiciário”. Lembrando aquela mesma frase que já proferira anteriormente: “O problema do ex-presidente Lula não é político é jurídico”. Isso explica a opção do PT Jurídico de salvar o STF das garras da ONU e jogar Lula aos leões. E evidencia que, nem antes nem depois da eleição, Haddad enfrentaria o avanço do Judiciário sobre a política. Falar em “erro judiciário” no caso Lula é o equivalente jurídico-político de dizer que o problema Globo se resolve com “controle remoto”.
  5. Perdeu uma grande oportunidade de defender Lula, pois neste caso ele estaria agradando aqueles “lulistas” que ainda não engoliram o marketing “Lula é Haddad”. Fica explícito um constrangimento e dificuldade em falar sobre Lula. Um erro fatal! Isso para não dizer que vejo como uma traição continuada.
  6. Em nenhum momento defendeu o presidente Lula que é vítima desse Judiciário. Pelo contrário! Sempre se coloca como uma vestal com aquele antigo discurso punitivista do PT Jurídico de Tarso Genro (seu ex-chefe) e José Eduardo Cardozo, seus mentores. Haddad ainda  diz que o PT foi o partido que mais combateu a corrupção, que fortaleceu as instituições de Justiça, etc. Enfim, enaltece as leis punitivistas que levaram quase todo o comando do PT e Lula para cadeia, sem crime e com a “delação premiada” aprovada por Dilma como verdade absoluta. Ladino, Bonner ironicamente provocou: pois é, candidato, vocês criaram todas essas leis e acabaram vítimas delas.
  7. Sobre Dilma, não falou em Golpe. Quem acompanha o Duplo Expresso sabe que Dilma negociou um PIDV – Plano de Incentivo à Demissão Voluntária com os EUA e ganhou como indenização o direito de ser “Senadora Honesta” por oito anos – com foro no STF. No entanto, Haddad nunca parte para o enfrentamento. Nunca diz que golpe é golpe. Ele chegou a afirmar que Tasso Jereissati em entrevista recente fez uma autocrítica, arrependido por ter apoiado a saída de Dilma, contestado a sua vitória e votado pautas bombas. Talvez já pavimentando um apoio do ou ao PSDB no segundo turno. ” PT Jurídico”e PSDB juntos contra as “forças do mal”. Que bizarra e previsível jogada de manutenção da bipolaridade PSDB x PT, mas agora como farsa. Um dia após a eleição eles voltarão a bater boca mas desta feita num falso barroco, sem contraste, onde ambos defendem PPP (com estrangeiros) e interesses dos bancos. Voltarão às manchetes dos mesmos jornais de sempre. Uma “farsa anunciada”, diria alguém interessado em vender livros.
  8. Ao ser questionado por que perdeu a eleição em SP em 2016, Haddad sai com a seguinte pérola: “o clima de antipetismo foi criado por informações represadas em relação aos outros partidos”. Isto é, ele assume todas as mentiras e calúnias da imprensa sobre o PT. Haddad já disse que é “o menos político (e mais técnico/ gestor)”. Já vimos esse filme com Doria em São Paulo e com Macron na França.
  9. E ainda depois dessa curra consensual, Haddad ainda termina a entrevista esboçando um sorriso simpático aos seus algozes (como uma hiena que come merda e ri…).
Segunda avaliação, a repercussão na imprensa “de esquerda”. Não vou aqui chamar a atenção para os elogios do PIG à entrevista de Haddad no JN. Isso é tão grave que prefiro não escrever neste texto. Vamos falar sobre o desvio de foco da imprensa “de esquerda”.
  1. Não houve críticas a Haddad.
  2. Para esta imprensa “de esquerda” é mais fácil falar o óbvio: “Haddad foi interrompido X vezes”. “Bonner é um grosso”. “Ele saiu maior do que entrou”.
  3. Nenhuma crítica! Tudo foi perfeito!
Melhor parar por aqui para não generalizar. Há quem não tenha falado nada. Isso já é um bom começo.
Considerações finais:
Haddad ficou nu! Os seus diplomas não foram capazes de vesti-lo. Mostrou-se despreparado, fraco e covarde (melhor covarde do que conivente com “tudo isso que está aí”). Haddad já havia assistido sabatinas anteriores do JN aos outros candidatos. A desculpa dos blogs “de esquerda” de que “ele foi 62 vezes interrompido”, não cola! Haddad já foi prefeito e ministro e deveria estar preparado para saber sair das cordas.
Haddad não esperou nem o Galo cantar três vezes para negar Lula pela segunda vez. 1° “O problema do Lula não é político. É jurídico”; Agora, no JN, a 2° “Eu, Haddad nunca falei em conspiração. É um ERRO JUDICIÁRIO”. Faltou falar que a ONU está errada e que “as instituições estão funcionando normalmente”.  A terceira veremos a qualquer momento. Ele vai seguir abrindo a boca, ou não.
Bônus!
Solitário, Lula – na sua cela solitária e fria de Curitiba – viu tudo e “escreveu um bilhete” para “salvar Haddad”. Perito amigo meu entupiu a minha caixa de e-mail com bilhetes e escritos antigos de Lula para provar o que qualquer amador pode constatar: “quem escreveu o bilhete não foi Lula”.
Como acho tudo isso uma farsa, sequer me darei ao trabalho de publicar sobre isso. Tire as suas próprias conclusões. Observe apenas o “d” minúsculo nos dois bilhetes e as letras “r” e “s” minúsculas quando escritas juntamente com outras e o “que”. Além da assinatura, claro (e não nos referimos à “volta” em cima do nome).
Bilhete escrito por Lula para o candidato ao Senado, pelo PT de Brasília, Professor Marcelo Neves (que teria o meu voto se lá votasse):
(recebido do próprio. E antes publicado aqui no Duplo Expresso – além de na página do candidato – em duas oportunidades: em 30/jul/2018 e, justamente, ontem de novo, quando afirmávamos que, evidentemente, aquela “carta” – quilométrica – lida no ato de celebração do descarte de Lula, na terça-feira, não fora escrita pelo ex-Presidente, com caneta BIC, num bloquinho de notas)
vs.
“Bilhetes escritos por Lula para ‘salvar Haddad’ depois do mico no JN”:
E aí? Foi Lula? Perguntem ao “imparcial” perito  Ricardo Molina. Ele é especialista em tudo!
O tamanho sumário do bilhete “a Haddad”, menor que aquele que Lula dedicou a um candidato ao Senado no DF (!), poderia refletir a dificuldade/ lentidão para escrever imitando a letra de outra pessoa, bem como a preocupação em diminuir o grau de exposição a erros na cópia. Quanto menor o texto, menos erros, claro.
(aliás, C.Q.D. com relação à impossibilidade de a “carta” de terça ter sido escrita por Lula)
Lembremos que, ainda nesta semana (12/set/2018), em novo ataque concertado ao Duplo Expresso, mesmo a blogosfera “de esquerda” pró-Plano B cobrava um bilhetinho, ao menos, de Lula endossando Haddad:



As duas faces do Exército



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Por Pedro Augusto Pinho,
Marechal Estevão Leitão de Carvalho (1881-1970) deplora: “o general Vespasiano de Albuquerque, terceiro ministro do marechal Hermes, na pasta da Guerra, (era) mais político do que soldado” (Memórias de um soldado legalista, Biblioteca do Exército, Tomo I, 2016).
Leitão de Carvalho pertenceu ao pequeno grupo de militares que estagiaram, por dois anos, antes da I Grande Guerra, no Exército da Alemanha Imperial, e buscou fortalecer o brasileiro, tendo sido fundador e da primeira equipe de redatores de “A Defesa Nacional”.
Entre 1889 e 1930, República Velha, eclodiram numerosos levantes, populares, rurais e militares. No início da República, o Exército Brasileiro, mesmo excluído do poder nacional (pois a Inglaterra mantinha a colonização, desde a substituição, no Brasil Colônia, do poder português), serviu como força repressora na defesa do interesse agrário-exportador.
Nos anos 1920 conheceremos o Exército revoltado, buscando seu poder com a instrução e a industrialização. É ainda Leitão de Carvalho que se insurge contra o “exemplo do Chile” de “limitar os armamentos”, (pois) não levava em conta a segurança dos Estados, (seria) o fim de sua existência” (V Conferência Pan-americana, 1923).
Parece verdadeiramente premonitória do que ocorre atualmente, com a ideologia neoliberal, destruindo Estados Nacionais, propugnando pelos Estados Mínimos.
Permitam-me breve reflexão. O Exército de Leitão de Carvalho sabia que a industrialização era fundamental para soberania nacional. Associava também a industrialização ao desenvolvimento educacional. Se o modelo agrário podia se manter com a escravidão, com o analfabetismo, o modelo industrial tinha outra exigência, a do conhecimento, a da pesquisa.
Assim, todos os denominados movimentos tenentistas dos anos 1920 – Forte de Copacabana (1922), Revolta Paulista (1924), Comuna de Manaus (1924) e Coluna Prestes (1925 a 1927) – propugnavam pela mudança do poder colonial pelo poder nacional.
As forças antinacionais, oposição ao empoderamento militar, haviam composto o pacto oligárquico, em 1913, juntando os partidos republicanos paulista (PRP) e mineiro (PRM). Ao subirem ao poder, com a oligarquia gaúcha, em 1930, os militares sepultam o modelo de Campo Sales, a Política dos Governadores.
Mas o partido de Joaquim Silvério dos Reis, como o grande jornalista Barbosa Lima Sobrinho designava os entreguistas, os inimigos do Brasil Soberano, se uniram na revolta paulista de 1932, com pretexto legalista.
E deste participaram alguns tenentistas.
Nem sempre foi claro para muitos comandos militares a direção para implantar os interesses nacionais. Após ser acusado de partidário do retrógrado movimento de 1932, Leitão de Carvalho defendeu o monopólio estatal do petróleo. Transcrevo do estudo de Jorge Miguel Mayer, para o CPDPC/FGV:
“Teve ativa participação na política nacional do petróleo entre 1948 e 1951. Juntamente com outros militares, como os generais José Pessoa e Júlio Caetano Horta Barbosa, e políticos, como Artur Bernardes, fundou o Centro de Estudos e Defesa do Petróleo e da Economia Nacional (CEDPEN), tendo sido presidente de honra da entidade de 1948 a 1950. O centro reunia militares, homens públicos, intelectuais e estudantes, exercendo importante papel na mobilização da opinião pública em torno da questão do petróleo.
Durante os debates sobre o anteprojeto do Estatuto do Petróleo, apresentado pelo governo do presidente Eurico Dutra, Leitão de Carvalho assumiu uma posição de defesa do monopólio estatal do produto, criticando o anteprojeto por possibilitar a participação do capital estrangeiro na exploração petrolífera”.
Numa rápida passagem pelas ações dos comandos militares, vamos encontrar, em diversos momentos, a submissão ao projeto da cúpula do poder estadunidense.
Antes mesmo do término da II Grande Guerra, as famílias que detinham o poder nos Estados Unidos da América (EUA), como exemplo Vanderbilt, David e John Rockefeller Jr., Madison e poucas mais, programaram a  doutrinação – com Hollywood, Reader’s Digest e pela televisão – e a divulgação do modelo industrial e o modo de vida (american way of life) estadunidenses. Lembrando que, nos anos 1928, preto e branco, e colorida, em 1954, a televisão passa a ser um grande instrumento usada também na criminalização da ideologia marxista-leninista, o comunismo.
A comunicação de massa, no modelo construído nos EUA e no Brasil, não permite a reflexão, a compreensão, e muito menos o debate. É um modelo totalitário e excludente, como determinadas religiões e todos poderes fascistas. A televisão, comercial como a conhecemos, é igualmente imbecilizante pois não exige leitura nem diálogo; é a pregação audiovisual permanente e sem contestação.
Os militares, na quase totalidade, saíram das classes médias e privilegiadas. Ter televisão, no Brasil de 1950/1959, então com cinco canais, era um objetivo de classe média, principal vítima de sua doutrinação.
Nova e breve reflexão. Um projeto de poder, que não atenda à soberania nem ao povo de qualquer nação, precisa ficar oculto, disfarçado em generalidades e apresentar um inimigo, idealizado, vestido de demônio, para conseguir galvanizar a população. Os EUA elegeram o comunismo, para quem jamais lera Marx nem saberia as diferenças entre as correntes socialistas, no século XX. Também falsearam a corrupção como ação de Estado, jamais reconhecendo que as fraudes fiscais, a sonegação, a escravidão eram atitudes privadas. Corrupção e comunismo passaram a ser os instrumentos para levar ao poder, no Brasil, os interesses econômicos, culturais e geoestratégicos estrangeiros.
Em 1941, o general Severino Sombra (1907-2000), então capitão do Exército, publica tardiamente, para a Comemoração do Cinquentenário da República, “As duas linhas de nossa evolução política” (Zelio Valverde Editor, Rio).
O capitão Sombra não era um iniciante nas letras nem na política. Autor da “História Monetária do Brasil Colonial” (1938), de “A fundação da sociologia” (1940), entre outras obras, foi o criador da Legião Cearense do Trabalho, considerado o primeiro movimento fascista no Brasil, em 1931, base do integralismo (Emília Carnevali da Silva, “Severino Sombra – O Homem no Espelho – A Legião Cearense do Trabalho (movimento que forneceu a base do Integralismo)”, XXIII Simpósio Nacional de História, Londrina, 2005).
As duas vertentes de Sombra para nossa história política eram o liberalismo e a nacionalidade. Causa-nos certa emoção ler um trabalho, editado há 77 anos, que coloca em suas páginas a principal questão do Brasil em 2018.
Mas fazia todo sentido para o estudioso da economia do Império e da Colônia.
O poder mundial dominante, do Congresso de Viena (1815) até a II Grande Guerra, foi o financismo inglês.
Gustavo Barroso (1988-1959), historiador cearense, conterrâneo de Sombra, deu a um de seus livros o título “Brasil Colônia de Banqueiros”, referindo-se à dominação inglesa de nossos governos.
General Sombra viu que os ideais nacionalistas seriam a principal força para combater o financismo estrangeiro. Hoje, sob o manto ideológico do neoliberalismo, é a mesma força – o sistema financeiro – que ameaça nossa Pátria.
Nestes anos que vão da Era Vargas ao golpe de 2016, o Exército assumiu diferentes atitudes, umas francamente entreguistas e golpistas, outras nacionalistas.
Em rápida recordação vemos nas deposições de Vargas, em 1945 e em 1954, o Exército auxiliando o combate à industrialização brasileira, por brasileiros.
Outra atitude teve o Marechal Henrique Teixeira Lott, no célebre contragolpe de 11 de novembro de 1955, garantindo a eleição e a posse de Juscelino Kubitschek e de João Goulart. No período JK-Jango o Brasil conheceu novo surto de desenvolvimento e industrialização.
Tem-se, em 1960, um golpe eleitoral. Jânio Quadros, corrupto e midiático personagem, encanta a classe média com a campanha contra a corrupção. Sim, meus caros, é de certo modo monótona a sempre presente campanha contra o comunismo e a corrupção, hoje caricaturizada pelo Cabo Daciolo, com a União das Repúblicas Socialistas da América Latina (URSAL). Veja que com todo recurso dos ricos países europeus, a União Europeia patina e dela sai o Reino Unido (Brexit). Mas para o Cabo, a Ursal é uma realidade.
Jango sofre o golpe da Agência Central de Inteligência (CIA) estadunidense, em 1964. Dele participam militares influenciados pelas próprias ações da CIA; veja-se a propósito “Todos os homens do Xá”, de Stephen Kinzer (Bertrand Brasil, 2004), minucioso relato do golpe que depôs Mohamed Mossadegh, e a semelhança com a quebra de hierarquia e outras ações promovidas aqui, em 1964, por este agente de desordens e golpes pelo mundo, a CIA.
Mas este golpe sofre um contragolpe da corrente nacionalista do Exército. E temos um novo período de industrialização e um projeto estratégico de independência tecnológica, empreendido pelo General Ernesto Geisel.
O Governo Geisel – 1974-1979 – coincide com a vitória do capitalismo financeiro sobre o capitalismo e socialismo industriais, no mundo ocidental. E será Geisel a  sofrer o primeiro golpe, no Brasil, aplicado pelo sistema financeiro internacional, que denomino banca.
A banca passa a dirigir o Governo Figueiredo e todos demais até 2003. É por isso que a imensa corrupção de José Sarney, Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso não leva à prisão qualquer político ou empresário, nem se insuflam, com dinheiro é óbvio, manifestações de rua e panelaços, à moda chilena pró-Pinochet.
Com o golpe de 2016, quando o Exército manteve-se discretamente no apoio, instalou-se, com fúria antinacional, o governo Temer.
E vendo a entrega de bens naturais insubstituíveis, que não podem ser repostos, como o petróleo, o nióbio, terras raras e outros minérios, e bens construídos com os investimentos e a competência brasileira, como a Embraer, a base de lançamento de foguetes em Alcântara (Maranhão), a tecnologia de ponta em produção marítima de petróleo, o Exército prefere se manifestar politicamente para impedir o ex-Presidente Lula de sair da prisão, de ser candidato à Presidência.
Temos uma candidatura assumidamente militar, que promete transformar o Brasil em um quartel, com escolas militares e uma parte escolhida da população armada. É encabeçada por um Capitão, precocemente aposentado, que tem por vice um General da Reserva Remunerada.
No momento em que o Brasil se esvai com o domínio da banca, esta chapa assinala, como grande feito, ter um banqueiro para Ministro da Fazenda e, talvez de outras áreas, que promete “privatizar tudo no Brasil em quatro ou cinco anos”, sendo o mandato de quatro anos.
Encerro estas apreensões nacionalistas com a frase do Tenente-Coronel Derougemont, Diretor de Estudos da Escola de Estado Maior, no número de julho de 1922 (Centenário da Independência) da revista “A Defesa Nacional”:
“O Exército pode desempenhar em tempo de paz um papel fecundo. Conservando-se afastado das lutas políticas, trabalhando a fim de aperfeiçoar sua instrução. O Exército não é um partido, nem mesmo de um regime, mas o Exército da Pátria, a armadura sólida da Nação”.
Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado.
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