segunda-feira, 25 de julho de 2016

Hipocrisia, terrorismo e cumplicidade

Podemos falar em guerra contra o terrorismo num contexto em que os países centrais (EUA, Inglaterra, França etc) criam condições concretas para que grupos extremistas surjam, revertido ou não por dogmas supostamente religiosos?

No caso do Estado Islâmico, o cinismo estadounidense vem subestimando a humanidade. É preciso entender primeiramente que a intervenção criminosa no Iraque comandada pelos EUA, fragilizando esse país, somada às intervenções na Síria mediante o armamento de grupos rebeldes ao governo de Assad, condicionou que organizações extremistas surgissem como opção a miséria e a sistemática perda da autonomia. Sabe aquelas armas químicas no Iraque? Nunca foram encontradas. É possível pautar a necessidade de um regime democrático na Síria enquanto a Arábia Saudita, um dos regimes mais fechados do planeta e principal financiador de organizações fundamentalistas no Oriente Médio, permanece como um dos principais parceiros comercial dos EUA?
Democracia e liberdade são as palavras de ordem da conveniência imperialista. Se um país, como é caso da Arábia Saudita, permite que grandes volumes de recursos financeiros sejam encaminhados para essas organizações dita terroristas com ampla facilidade, por que não recebem do ocidente o mesmo tratamento que o Afeganistão, Iraque e Síria?
E no caso da Turquia, país membro da OTAN? Ai nos deparamos com uma avalanche de contradições. Seu atual governo protagoniza repressões violentas acompanhada de assassinatos à grupos opositores, especialmente de esquerda e ainda por cima ajudam o Estado Islâmico a combater os curdos. Ora, se os curdos representam atualmente a principal força de resistência e combate terrestre ao ISIS, porque estaria a Turquia caminhando na contramão do enfrentamento ao dito terrorismo e bombardeando regiões curdas? Vejam bem, o governo de extrema direita turca vem atualmente dando suporte financeiro e logístico ao EI, faz vista grossa a entrada e saída de combatentes pela sua fronteira, compra petróleo entre outros produtos contrabandeado desse grupo, enfrenta os curdos e em nenhum momento os grandes meios de comunicação fazem qualquer tipo de denúncia. Foi necessário derrubarem um caça russo, potência militar que atua na Síria combatendo o Estado Islâmico, para que a face fascista do governo turco viesse à tona.


Estão mesmo a França, EUA e cia tão empenhados no combate ao Estado Islâmico? Os bombardeios e milhares de mortes de civis ocorridas na Síria e Iraque provocadas pelas intervenções militares a esses países não se igualam às ações dos grupos ditos como terroristas? Por que a Turquia e a Arábia Saudita ainda não sofreram nenhum boicote econômico da União Europeia e dos EUA?
A hipocrisia e a indignação seletiva predominam na geopolítica internacional. Lágrimas de crocodilo escorreram nos olhos dos presidentes Obama e Hollande após o triste atentado de Paris em que a morte de centenas de inocentes comove infinitamente mais que as milhares de vida retiradas pelas covardes ações militares do ocidente no Oriente Médio e das diárias mortes provocadas pelo Estado Islâmico na região em que atua. Enquanto as ações da indústria bélica crescem na bolsa de valores e a disputa pela região petrolífera movimentarem as atuações dos países imperialista, não se pode falar em combate ao terrorismo e sim cumplicidade.
Phillipe Cupertino
Militante do Levante Popular da Juventude

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