sexta-feira, 20 de maio de 2016

Hillary mantém recusa de divulgar discursos pagos feitos ao Goldman


Um participante da palestra: Hillary "soou como um diretor-gerente do Goldman Sachs"


A pré-candidata nega-se a revelar o teor dos seus três discursos encomendados pelo banco Goldman Sachs e que lhe renderam US$ 675.000 em menos de seis meses
Até agora – e já bem perto da convenção nacional democrata, a ex-secretária de Estado e pré-candidata Hillary Clinton não arredou pé de manter em absoluto sigilo o teor dos seus três discursos pagos feitos ao Goldman Sachs, pelos quais recebeu US$ 675.000 em menos de seis meses, e cuja transcrição foi reiteradamente pedida pelo também pré-candidato Bernie Sanders. Nesta semana, Bernie venceu Hillary nas primárias de Oregon por 53% a 47% e em Kentucky ficou a menos de 2.000 votos da oponente, mantendo o ímpeto para as prévias na Califórnia e a disputa final à indicação à presidência em Filadélfia (veja matéria abaixo).
Na realidade, apenas em 2013, foram 41 as palestras pagas feitas por Hillary, sendo que as ao Goldman Sachs ocorreram no dia 4 de julho, 24 de outubro e 29 de outubro; na declaração dela de 2014, esses números não são detalhados, só valor: US$ 10 milhões. Um participante da palestra, ouvido pelo site Politico, praticamente matou a charada de porque Hillary não quer nem ouvir falar em liberar as transcrições dos discursos pagos: “ela soou mais como um diretor-gerente do Goldman Sachs”.
Antes, a testemunha comentara como era “diferente do que soa agora como candidata”. Conforme a Univison, que organizou em março um debate entre os dois candidatos democratas em conjunto com o Washington Post, além do Goldman Sachs também pagaram por palestras de Hillary o Morgan Stanley, o Deutsche Bank, o UBS e os fundos especulativos Fidelity e Apolo.
Com a devastação provocada pelo crash de 2008 e o bilionário bailout da banca de Wall Street com dinheiro público, a que se soma a deturpação da vontade eleitoral pela derrama, por banqueiros e bilionários, de rios de dinheiro para comprar candidaturas e lugares no Congresso e no executivo, que a decisão da Suprema Corte no caso United Citizens catapultou, a questão da descarada vinculação entre políticos como Hillary (e seu marido Bill) e os bancos passou a ser discutida abertamente ao longo da campanha eleitoral.
“Foi o que ofereceram”, disse Hillary sobre os US$ 675.000 do Goldman Sachs, tentando se fazer de desentendida. “O que tenho dito é que quando te pagam US$ 225.000 por um discurso e ela [Hillary] ditou vários ao Goldman Sachs ... deveria reparti-los com o povo americano”, reafirmou Bernie, que tem reiterado que “os bancos esperam obter algo” em troca dos seus “milhões de dólares de contribuições de campanha. Todo mundo sabe disso”.
Mas a mais sarcástica observação de Bernie sobre a recusa de Hillary foi que “se alguém vai ser pago US$ 250.000 por um discurso, deve ser um discurso brilhante. Deve ser um discurso capaz de fazer a terra tremer, escrito numa prosa shakespeariana”.
Como ressaltou Bernie, “o modelo de negócios de Wall Street é a fraude” e desde 2009 “os bancos já foram multados em US$ 204 bilhões mas ninguém foi preso”. Sobre o corrupto sistema de financiamento de campanhas eleitorais, questionou: “é aceitável que os banqueiros de Wall Street continuem comprando eleições?”
Ao que se sabe, Hillary e Bill são o verdadeiro casal de ouro. Conforme a revista Time, “os Clinton já receberam pelo menos US$ 1,4 bilhão”. Investigação mais detalhada do Washington Post dobrou essa estimativa para US$ 3 bilhões. Segundo a Counterpunch, a “parceria dos Clintons com Wall Street já dura 24 anos”.
Nesse interregno, o então presidente Bill Clinton nomeou o co-presidente do Goldman Sachs, Robert Rubin, seu secretário do Tesouro, que articulou a revogação da lei Glass-Steagall, acabando com a separação entre bancos comerciais e especulação. E ainda a lei de modernização do mercado de futuros, que liberou os derivativos e abriu caminho para a fraude do subprime, que iriam explodir no crash de 2008.
Também foi no Departamento de Justiça de Bill Clinton que o vice-procurador-geral Eric Holder formularia a ‘doutrina’ de impunidade de bancos e corporações, extremamente útil a partir de 2008. Ao deixar o governo, foi direto para o Covington Burling, o maior escritório de advocacia de Washington, que atende ao Morgan Stanley, Citibank, JP Morgan Chase, UBS, Deutsche Bank, Bank of America, Wells Fargo e Bank of New York Mellon. De onde saiu para o cargo de procurador-geral no governo Obama, onde garantiu a impunidade de todos os banksters envolvidos, com os bancos apenas multados e sem processo criminal – de onde voltou direto para o Convington.
CLINTONS E WALL STREET
Quando o governo de Bill Clinton acabou, o bom amigo Rubin, agora no Citibank – a derrubada da Glass-Steagall possibilitou a fusão do Travelers com o Citibank -, garantiu crédito de US$ 2 milhões à família para a compra de uma mansão em Washington. Bill também formou sua Fundação Clinton, para sorver propinas das corporações e bancos. Já a carreira de senadora de Hillary foi recebida com entusiasmo pela banca.
Quando, com o crash de 2008 o então presidente W. Bush, atendendo ao seu secretário do Tesouro, Henry Paulson, originário do Goldman Sachs, lançou a lei do bailout (“TARF, na sigla em inglês), a senadora Clinton votou sim aos bancos de Nova Iorque. Na campanha presidencial de 2008, oficialmente Wall Street destinou US$ 3,7 milhões para Obama e mais do triplo, US$ 14 milhões, para Hillary.
No Departamento de Justiça de Obama, a chamada Doutrina Holder determinava que a análise das “conseqüências colaterais” deveria ter prevalência sobre imputações criminais, conduzindo a penas financeiras em acordos que não exigiam admissão de culpa ou continuidade da acusação.
Algumas semanas após a posse, a secretária de Estado Hillary foi até à Suíça para discutir a ação movida pela Receita Federal norte-americana contra o UBS que, graças à interferência dela, pôde ser amenizada em 90%. Como uma mão lava a outra, nos anos seguintes o UBS pagou a Bill Clinton US$ 1,5 milhão por suas palestras e também contribuiu com US$ 540 mil para a Fundação Clinton.
 
ANTONIO PIMENTA

http://www.horadopovo.com.br/

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