quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

EUA: desaba a participação da classe média na renda do país

"Quebrei tentando me tornar integrante da classe média"

Enquanto a parcela da classe média na renda do país caiu de 62% para 43%, a classe alta viu sua renda acelerar de 29% para 49%. A classe média encolheu
de 61% para 50% dos adultos

 
A classe média dos EUA está “encolhendo”, já “não é mais a maioria da população” e também “ficou para trás financeiramente”, apontou estudo do Pew Research Center com base em dados do Censo norte-americano e do Fed. Conforme o relatório, a classe média dos EUA encolheu de “61% da população adulta para pouco menos de 50%”, entre 1970 e 2015, sendo que, quanto à participação na renda nacional, sua parcela despencou “de 62% para 43%” enquanto a “classe alta” empinava “de 29% para 49%” - ao mesmo tempo em que a “classe pobre” mal se movia, e ainda assim para pior, isto é, “de 10% baixava para 9%”.
 
Depois daquela devastação dos anos 1930, com milhões de desempregados e agricultores arruinados e favelas gigantescas, a posição da indústria dos EUA no pós-guerra, com o resto do planeta destruído, e a herança do New Deal permitiram que as famílias trabalhadoras pudessem obter uma parte, ainda que pequena, da riqueza do país e, inclusive, do saque imperial, o que foi a base material para o mito da “classe média norte-americana”, tão propalado por Hollywood e a máquina de propaganda de Washington. Mistificação que serviu de inspiração para as fraudes de Dilma sobre a “nova classe média” de R$ 70 ao mês.
Como percebe em algum nível o Pew, depois de quatro décadas em que a “classe média” seria, supostamente, “o centro da economia” norte-americana [declaração capaz de causar ataques de riso entre os capos da banca, dos monopólios e de Big Oil], o quadro no país está perto de um “ponto de inflexão” – questão difícil de contestar, com a “classe alta” prestes a açambarcar mais da metade da renda nacional, após essas décadas “deixando escorrer”, como repetia Reagan, a riqueza para os de baixo.
Naturalmente, tais classificações de “classes” adotadas no estudo são, para falar piedosamente, bastante imprecisas, mas ainda assim não deixam de exprimir o problema de fundo. Desde o crash de 2008, do bailout de Wall Street e da eclosão do Occupy e sua denúncia dos “99% versus o 1%” - e teria sido ainda mais preciso execrar os 0,1% e a plutocracia -, está cada vez mais difícil abafar nos EUA o debate sobre a escandalosa desigualdade no país hoje e os monstruosos privilégios da máfia financeira e da casta imperial, lado a lado com a implacável deterioração das condições de existência da maioria do povo, de que Detroit, outrora a quarta mais rica cidade do país, é o mais acabado cartão postal.
Note-se que estudo admite que tende a subestimar as benesses da “classe alta”, já que os dados que utiliza não consideram adequadamente os ganhos “com dividendos e juros”. Assim, a desigualdade certamente é ainda pior.
Para sua definição de classe média, o relatório do Pew considera um domicilio com três pessoas, cuja renda anual é entre dois-terços e o dobro da mediana da renda nacional, isto é, de US$ 42.000 a US$ 126.000. [No conceito, 50% dos valores verificados são maiores que a mediana, e 50% são menores]. Aliás, nesse extremo inferior deve ser bem difícil, por exemplo, sobreviver em Nova Iorque ou Los Angeles. Como referência, a linha oficial de pobreza nos EUA (2015), para um domicílio com dois adultos e duas crianças, é US$ 23.634 anual.
Domicílios de baixa renda, conforme o Pew, são os que percebem anualmente abaixo de dois-terços da mediana da renda nacional (para um domicilio ‘ajustado’ de três), e a “alta renda”, acima do dobro, isto é, mais de US$ 126.000 (uma piada, para qualquer meio-ricaço, o que dirá para um Rockefeller). [Com a especulação desbragada com as hipotecas, uma casa de US$ 126.000 seria, certamente, uma bagatela].
É bastante revelador um dos quadros que ilustram o relatório, sobre a mediana de riqueza para as diversas classes (“baixa”, “média” e “alta”). Em 1983, a mediana da riqueza (ativos menos dívidas) da “classe alta” era de US$ 323.402; a da “média”, US$ 95.879; e a da “baixa”, US$ 11.544. Em 2013, a “classe alta” dobrara, para US$ 650.074; a “classe média” pouco se mexera, para US$ 98.057; e a classe “baixa” via suas posses encolherem para US$ 9.465.
Ou, como assinalado no estudo: “em 1983, as famílias de renda alta tinham aproximadamente 30 vezes tanta riqueza quanto as de baixa renda e cerca de três vezes quanto as famílias de classe média”. O que passou em 2013 – três décadas depois - para “quase 70 vezes” em relação às famílias de baixa renda e “quase sete vezes” comparado com a classe média.
O que se explica não só pela destruição trazida pelas crises de 2001 e 2008, como pela desindustrialização (“offshoring”), corte de impostos para os ricos e subtração de benefícios para a população, fim da regulação dos bancos que Roosevelt criara e arrocho salarial. “Os americanos de renda média retrocederam financeiramente ainda mais no novo século”, ressaltou o relatório. “Em 2014, a mediana da renda desses domicílios foi 4% menor que em 2000”. Entre 2001 e 2008, a mediana de sua riqueza (ativos menos dívidas) caiu 28%”. A crise, reconheceu, bateu implacável: em 2013 a perda total da mediana da riqueza “tinha sofrido perda de 40% em seis anos”.
Dados do Pew também possibilitam aquilatar o endividamento que foi empurrado goela abaixo das famílias de classe média norte-americanas cujos salários estavam arrochados: 90% de aumento da dívida entre 1983 a 2001, seguida de mais 61% de 2001 a 2007. Se a crise acabou? O estudo diz que para todas as camadas de renda nos EUA, a mediana em 2014 continua abaixo da de 2000 devido às “duas recessões” (2001 e 2007-2009) e às recuperações econômicas “demasiado anêmicas”.
Quanto à classe “baixa”, aos pobres? Quando não está nas ruas caçando prefeitos e policiais racistas como em Chicago, ou protestando contra o salário mínimo congelado desde 2009, tem de agüentar a demagogia de Obama sobre o “renascimento” de uma “economia de classe média”, enquanto os mastodontes Dow e Du Pont fundem seus monopólios, o S&P 500 não para de inflar desde 2009, Washington conspira para anexar o Transpacífico e o Transatlântico, e a orgia com derivativos volta aos píncaros da glória pré-2007. Para culminar, aleijões como Hillary, Trump, Jeb, Cruz e assemelhados estão de tocaia no ano que vem.
ANTONIO PIMENTA
http://www.horadopovo.com.br/

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