quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Governo usou 13º dos aposentados para simular aumento do resultado primário




Em 8 meses, governo sangra país em R$ 338 bi com juros

No período, a despesa com a manutenção dos serviços públicos (custeio) ou com a expansão deles (investimento) caiu -16% no Ministério da Educação; -5,1% no Ministério da Saúde e -12% nos demais Ministérios 
 
Existe, no mercado, uma exótica espécie – rara, mas apenas porque são poucos os elementos que a compõem, quase uma alucinação televisiva: são aquelas beatas financeiras (não necessariamente, nem principalmente mulheres) que arrancam os cabelos umas das outras, na disputa para ser o porta-voz favorito dos bancos e outros saqueadores.
Veja o leitor o que ocorreu:
Na quarta-feira, um relatório do BC revelou que o governo Dilma, até agosto, forçou o setor público a transferir R$ 338 bilhões e 326 milhões, em juros, aos bancos e demais rentistas.
 R$ 338 bilhões e 326 milhões em apenas oito meses! É a maior hemorragia de dinheiro público, em juros, da história do país, em um período de oito meses – e, na verdade, em um ano, pois em oito meses o gasto com juros já superou o do ano passado inteiro, que até quarta-feira havia sido o maior (R$ 311 bilhões e 380 milhões, mas em 12 meses).
De janeiro a agosto deste ano, houve um aumento de +104,72% em relação ao gasto com juros no mesmo período do ano passado – que já não foi pouco (R$ 165 bilhões e 259 milhões).
Enquanto isso, o total dos dispêndios não-financeiros (isto é, com Saúde, Educação, etc.) do governo federal, em termos reais (já descontada a inflação), caiu -17,5% em agosto, em relação ao mesmo mês do ano passado (cf. Resultado do Tesouro Nacional – Agosto/2015, p. 15).
As despesas não-financeiras do Tesouro caíram -21,7%, e, as da Previdência, -10,4%, na mesma comparação (agosto 2015/agosto 2014).
Enquanto isso, também na mesma comparação, o gasto com juros aumentou +192,10%(de R$ 17,016 bilhões (agosto de 2014) para R$ 49,703 bilhões (agosto de 2015).
Só para ressaltar, pois sabemos quanto é, às vezes, difícil acompanhar uma exposição com muitos números, o que, no caso, é inevitável: a drenagem de dinheiro público para os bancos, via juros, aumentou +104,72% de janeiro até agosto e +192,10%  nos 12 meses que vão de agosto de 2014 até agosto de 2015.
Enquanto isso, em oito meses, já descontada a inflação, o dispêndio não-financeiro – despesa com atendimento ao povo, seja com a manutenção dos serviços públicos (custeio) ou com a expansão deles (investimento) - caiu -16% no Ministério da Educação; caiu -5,1% no Ministério da Saúde; caiu -12% nos demais Ministérios (cf. RTN, agosto/2015, p. 10).
Ou seja, o que o governo está fazendo é tirar dinheiro da Educação, da Saúde, da Defesa, da Previdência – e de qualquer lugar onde atenda a uma necessidade do povo e do país – para dá-lo aos bancos, sob a forma de juros – juros que, por sinal, é o próprio governo que determina a taxa.
É isso o que Dilma, Levy e outros criminosos (não há como tratar de outra forma quem provoca a morte de crianças e idosos ou o sofrimento indizível de milhões de famílias) chama de “ajuste”. É isso o que eles querem “ajustar”: o aumento da parcela de renda e patrimônio em poder do parasitário setor financeiro, sobretudo, estrangeiro: para ser preciso, norte-americano.
Pois, apesar disso, diante do resultado divulgado pelo BC, aquelas beatas do setor financeiro saíram gritando pela TV e nos jornais que é preciso cortar mais – e mais e mais - as verbas dos serviços públicos e qualquer despesa que seja com a população que paga os impostos, porque um “déficit nominal” de 9,2% do PIB é um descalabro que precisa ser conjurado com o estrangulamento da população.
O déficit orçamentário (“déficit nominal”) de que estão falando (9,2% do PIB) é o déficit em 12 meses (R$ 528 bilhões e 294 milhões), resultado que inclui todas as despesas públicas, inclusive os juros.
Pois, nos mesmos 12 meses, entre agosto de 2014 e agosto deste ano, o setor público foi drenado, sob a forma de juros, em R$ 484 bilhões e 448 milhões.
Logo, 91,7% desse alardeado “déficit nominal” corresponde aos juros, é causado pelos juros. Estes, isoladamente, atingiram 8,45% do PIB.
Portanto, é óbvio que o problema do déficit orçamentário são os juros.
No entanto, essa trupe de meretrizes fantasiadas de carolas do sistema financeiro quer cortar as despesas que atendem ao povo e ao país - não às que atendem aos bancos.
Pelo contrário, querem cortar as primeiras para aumentar as últimas.
Houve até uma senhorita que exumou a senil história do “déficit nominal zero”, o que, do ponto de vista prático, significa cortar despesas, cortar e cortar, até que todas as transferências sob a forma de juros sejam feitas em dinheiro. Logo, significa entregar todo o Tesouro aos bancos e demais rentistas, estuprando as despesas obrigatórias não-financeiras, o custeio, o investimento - e detonando com a propriedade do Estado, vale dizer, do povo.
Não é por acaso que esse governo é tão chegado às privatizações, a começar pela privatização do dinheiro da Petrobrás – de acordo com o artigo 157 do Código Penal, isto é, roubo - até as malfadadas concessões.
[Há um conhecido episódio do início da República, precisamente a 17 de janeiro de 1891, quando, na reunião do Ministério, ao se discutir a concessão do Porto de Torres, no Rio Grande do Sul, proposta pelo presidente da República, marechal Deodoro da Fonseca, o ministro das Relações Exteriores, Quintino Bocaiuva - conhecedor, mais que Deodoro, do chamado mundo dos negócios - afirmou: “se diz na praça que há sempre intermediários que se locupletam com essas concessões”. De lá para cá, nos 124 anos que nos separam daquela reunião, pouco ou nada mudou a esse respeito (cf. Dunshee de Abranches, “Actas e Actos do Governo Provisorio”, Imprensa Nacional, 1907, Rio, p. 298)].
Não deixa de ser impressionante como, ao optar por favorecer quem já é favorecido – e muito –, ao se submeter aos inimigos do país, o sujeito (ou sujeita) perde o contato com o que é humano.
Alguns economistas se surpreenderam com o “déficit primário” de agosto, menor do que esperavam – o que, pelo visto, significa que eles esperavam uma viagem ao centro da Terra. Alguns, de um grande banco, descobriram o mistério: “O governo adiou (para os próximos meses) uma parte do pagamento do 13º salário de aposentados que normalmente ocorreria em agosto. A decisão reduziu em torno de R$ 3,5 bilhões o gasto com previdência (que recuou 10,3% anualmente em termos reais), aumentando temporariamente o resultado primário” (cf. Itaú Unibanco, “Boletim Macro Brasil”, 30/09/2015).
Quando se nega um pagamento que já é mísero a homens que deram as suas vidas para construir o país - em prol de enriquecer bilionários (!?) que jamais fizeram nada pelo país, exceto parasitá-lo - já não estamos mais no terreno do debate de ideias, mas naquele em que se decide quem vive e quem deve morrer – do ponto de vista político, com as inevitáveis consequências.
Fez-se, também, um alarde em cima do aumento da dívida pública, como se esse aumento justificasse cortar o pouco que o povo ainda tem.
Em termos brutos, a dívida está em R$ 3 trilhões, 743 bilhões e 681 milhões.
Mas toda a questão está, não na dívida em si, mas no fato de que a sua magnitude é o resultado dos juros extorsivos que sufocam e infelicitam a Nação.
CARLOS LOPES
http://www.horadopovo.com.br/

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