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“Veja” fomenta covardia contra Lula, sem provas, com o objetivo de tirá-lo da disputa de 2018. Direita aloprada

Olhem para a História, do Brasil e do mundo, e pensem mil vezes antes de embarcarem numa aventura de desdobramentos imprevisíveis. Qualquer covardia infundada terá resposta. E pesada.

Por J. Bacamarte, para o Dá O Que Pensar
A imprensa já publicou, a partir de uma revelação do insuspeito jornalista Ricardo Noblat, que o juiz Sérgio Moro refere-se a Lula como “Nine”, ou seja, “Nove” em inglês (seria reveladora a preferência pelo inglês?), numa referência – como chamá-la? – abjeta, discriminatória, condenável, à deficiência física do ex-presidente.
A revista Veja, em sua última edição, deixa claro que o objetivo do juiz que comanda a Operação Lava Jato é chegar a Lula, que seria tratado, na midiática operação, como o cabeça do “esquema de corrupção” na Petrobras.
A própria Odebrecht já desmentiu qualquer envolvimento de Dilma ou Lula. Mas, claro, para uma publicação como a Veja, isso é um detalhe que deve ser, providencialmente, esquecido.
Aliás, ressalte-se, a própria Lava Jato não tem sido bem-sucedida na obtenção de provas contra políticos. Até agora, de verdade mesmo, tem a confissão de um diretor e um gerente da Petrobras, confessadamente corruptos, e de um doleiro reincidente, cuja “delação” anterior se mostrou mentirosa.
Através deles, que, por sinal, divergem entre si em algumas “denúncias”, chegou o dr. Moro a diretores e presidentes de empreiteiras.
Estes, por sua vez, são encarcerados até que “confessem”, preferencialmente através de delações. Confessem, diga-se sem rodeios, sob a tortura de celas minúsculas e sem condições dignas – e só mediante isso são autorizados a sair da cadeia “preventiva”.
Os “métodos” arbitrários do juiz Moro já foram execrados pelo ministro Teori Zavascki, do STF, que os chamou de “medievais”. Há centenas de juristas e advogados que também questionam tais práticas, sem qualquer vínculo ou amor por empreiteiros ou políticos corruptos, mas por compromisso com um “detalhe” singelo como a… legalidade.
Ou seja, até agora há os que receberam e os que pagaram. Quanto aos políticos, muito barulho, prisões “preventivas” e… nada. Inclusive contra Renan Calheiros e Eduardo Cunha, que, denunciados e sob inquérito, continuam mandando e desmandando no Congresso Nacional como se nada houvesse contra os dois.

GRUPO GOLPISTA COMANDA A “LAVA-JATO”

O ex-presidente Lula não tem mandato no momento. Talvez por conta disso, sua excelência ou algum articulista mais apressado da mídia tradicional possa imaginar que seria fácil e vantajoso “pegar o presidente Lula”, mesmo sem qualquer prova.
Bastaria uma “prisãozinha preventiva” de um mês ou dois, para investigações – e esse tipo de arbitrariedade tem ocorrido a todo momento na Lava Jato -, para que esse grupo causasse, assim imaginam alguns de seus integrantes mais aloprados, um grande dano político ao ex-presidente, principal candidato a voltar à presidência em 2018.
“Esse grupo”, no caso, é formado pelo juiz que chama Lula de “Nine”, pelos procuradores que já declararam a intenção ditatorial de “refundar a República” (sem Constituinte e sem debates, por suposto) e pelos delegados da PF pegos em flagrante, durante a última campanha presidencial, manifestando-se nas redes sociais a favor de Aécio Neves, contra o PT. Ou seja, não são agentes republicanos, independentes, imparciais. São militantes, inclusive o dr. Moro, que tem um passado um tanto revelador (veja aqui), ligado ao PSDB.
“Esse grupo”, portanto, essencialmente antirrepublicano, que faz uso político do aparato judicial e que atenta contra o estado democrático de direito, talvez pense que poderia desfechar esse golpe em Lula, tirando-o da competição eleitoral de 2018.
Pensar besteira é a coisa mais fácil do mundo.
manifestacao-Vargas
Manifestações após a morte de Getúlio Vargas

AVENTURA SUICIDA

Os truculentos não costumam ser muito inteligentes. Às vezes, sequer param para pensar.
“Colocar as mãos em Lula”, de forma infundada e ilegal – por mais que tentassem dar aparência de legalidade e por mais que a mídia monopolista apoiasse esse golpe – não sairia, nem de longe, de graça para os golpistas.
Pelo contrário; poderia ter o efeito oposto: ao invés de enfraquecer, fortalecer; ao invés de derrubar, levantar com uma força dez vezes maior.
A História está repleta de exemplos.
Quando Getúlio Vargas se matou em 1954, depois de sofrer uma gigantesca campanha de difamação, mentirosa e golpista, capitaneada pela imprensa conservadora da época – com O Globo à frente -, essa elite que o atacava viu o povo, que até então a tudo assistia atônito, sair às ruas com emoção e revolta, empastelando os jornais que caluniaram impiedosamente o presidente trabalhista, considerado o “pai dos pobres”. Resultado político: a direitista UDN perdeu as eleições seguintes.
Veículos do O Globo queimados pela massa enfurecida após o suicídio de Getúlio Vargas
Veículos de O Globo queimados pela massa enfurecida após o suicídio de Getúlio Vargas
No mundo, um exemplo mais recente e atual.
Em 2002, uma aliança liderada pelos grandes grupos de mídia, empresários, setores da Igreja Católica e militares depôs o presidente Hugo Chávez, na Venezuela, com a simpatia e o apoio dos Estados Unidos. Parecia um fato, Hugo Chávez fora preso inclusive, mas a aventura durou apenas 47 horas. O povo foi às ruas para defender o presidente dos pobres.
Na Venezuela, em 2002, o povo mostrou para a mídia e os golpistas com quanta revolta popular se garante a democracia
Na Venezuela, em 2002, o povo mostrou para a mídia e os golpistas com quanta revolta popular se garante a democracia
Vejam como o roteiro da direita venezuelana fazia a mídia e os golpistas acreditarem na aventura.
Antes do golpe, as ruas de Caracas estavam tomadas pelo terceiro dia de uma série de protestos organizados pela oposição em meio à convocação de uma greve geral pela Fedecámaras, maior associação empresarial do país e ferrenha opositora do governo Chávez, e a central sindical CTV (Confederação dos Trabalhadores da Venezuela). O ambiente parecia propício para o golpe. Aparentemente, estava “todo mundo” contra o governo bolivariano: empresários, trabalhadores, religiosos, militares e mídia.
E mais: a versão dos opositores era amplamente divulgada pelas TVs e jornais privados que, nas semanas que antecederam ao golpe, também apoiaram publicamente as manifestações anti-Chávez. Após a prisão do presidente, os meios de comunicação passaram a enviar repórteres para locais calmos, dando a impressão de uma situação de tranquilidade, enquanto os confrontos entre simpatizantes de Chávez e policiais controlados pelos golpistas continuavam intensamente nas ruas. A porrada comeu.
O povo na rua atropelou a mídia golpista
O povo na rua atropelou a mídia golpista
A posse do golpista Pedro Carmona provocou grande revolta na população, que respondia com passeatas e protestos. As redes de televisão foram rodeadas e a reação popular foi maior em contrariedade ao golpe.
Resultado político: o golpe foi revertido em menos de dois dias, a mídia oposicionista saiu desmoralizada e Chávez não perdeu mais qualquer votação.
Como esses, não é difícil achar outros exemplos históricos. Soluções políticas artificiais e tramas golpistas, de qualquer tipo, contra líderes bem quistos por seu povo, sobretudo pelos trabalhadores e pela grande massa, são tiros que podem sair pela culatra, especialmente em nossos dias. Com resultados bem piores – e imprevisíveis – para os golpistas.
No Brasil atual, alguém duvida de qual seria a reação contra alguma covardia feita a Lula, cuja aprovação no imaginário popular continua intacta? O que fariam os operários do ABC paulista, os milhões de sem-terra do MST, os sindicalistas de todo o país, a CUT, a CTB, a CSB e outras centrais sindicais, os universitários, a UNE, os intelectuais, os blogueiros, as redes sociais, as pastorais sociais da Igreja, etc etc etc?
Tal ato tiraria o PT, sua militância e sua grande rede de simpatizantes, de vários partidos e sem partido, da apatia em que se encontram. E, fatalmente, deslocaria o PT de sua política essencialmente conciliatória. Quando o ambiente radicaliza, todos vão junto. E salve-se quem tiver mais “garrafas vazias para vender”.
É bom que a elite brasileira se lembre – no ar condicionado dos gabinetes judiciais e das chefias de redações – que o povo é grande. E não é bobo.
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