terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Gregos impõem a maior derrota ao arrocho neoliberal da Troika


  “Os cinco anos de sofrimento e humilhação acabaram. O povo grego escreveu História e deixou a austeridade para trás", afirmou o novo primeiro-ministro Tsipras à multidão em Atenas
No momento em que o governo Dilma escancara, oficialmente, sua “austeridade” com o chicago-boy Levy, o povo grego acaba de defenestrar os capachos que durante cinco anos submeteram a Grécia ao mais brutal arrocho, empobrecimento e endividamento, dando uma vitória consagradora nas eleições deste domingo (25) à Coalizão de Esquerda Radical, Syriza, que elegeu 149 dos 300 parlamentares e que governará com maioria absoluta em aliança com os patriotas do partido conservador Gregos Independentes, Anel (13 deputados). Como anunciou o recém-declarado primeiro-ministro grego Alexis Tsipras, líder do Syriza, “os cinco anos de sofrimento e humilhação acabaram. O povo grego escreveu História e deixou a austeridade para trás. Vamos recuperar nossa soberania”.
É a primeira vitória da esquerda desde a submissão do continente europeu, pelo regime de Frau Merkel, à austeridade pró-bancos em seguida ao colapso especulativo de 2008. Milhares de pessoas festejaram na praça Klathmonos, em Atenas, a vitória sobre os paladinos da “austeridade”. O Pasok afundou de vez, só obtendo 4,7% da votação, enquanto a “Nova Democracia” de Antonio Samaras, apesar de todas as chantagens sobre o “iminente fim do mundo”, reverberadas pela máfia de Bruxelas, a Troika, o BCE e o FMI, não conseguiu escapar da derrota acachapante. Uma faixa ironizava a situação: “Gute Nacht Frau Merkel” [boa noite, senhora Merkel].
“O veredicto de nosso povo significa que a Troika acabou. O veredicto do povo grego dá fim, além de qualquer dúvida, ao círculo vicioso da austeridade no nosso país”, afirmou Tsipras. Seu primeiro ato como primeiro-ministro foi depositar rosas no memorial aos 200 gregos comunistas executados pelos nazistas em maio de 1944 durante a ocupação da Grécia na II Guerra Mundial. Já o líder do partido aliado, Panos Kammenos, tem descrito a Europa como “sendo governada por alemães neonazis”.
Para salvar os bancos alemães e franceses expostos na especulação com títulos da dívida grega no período do ingresso do país no euro, a Grécia, logo após a crise de 2008, sob os governos neoliberais do Pasok, Pasok-ND e ND, foi forçada a um garrote que catapultou sua dívida para 240% do PIB, causou uma depressão econômica que encolheu o PIB em 25%, provocou 27% de desemprego – e quase 60% entre os jovens -, levou três milhões à pobreza, devastou aposentadorias, destroçou o sistema de saúde e a educação, despejou em massa, privatizou o que restava, e levou à falência 140 mil empresas pequenas e médias.
Em entrevista ao jornal inglês Guardian, um eletricista de 54 anos, Panagiotis, resumiu a catástrofe que se abateu sobre o país. “A economia entrou em colapso. A pobreza atingiu proporções... gente, gente comum como você e eu, tendo de mexer em latas de lixo para arranjar comida. Os jovens só podem achar emprego no exterior”. “Syriza é a esperança da Grécia”, assinalou. Ou seja, a paciência dos gregos acabou – e outros povos da Europa sob arrocho pró-bancos vão pelo mesmo caminho.
Entre as medidas do programa de governo apresentado pelo Syriza durante a campanha eleitoral, estão a restauração do salário mínimo para o valor de 751 euros, que havia sido cortado, em 2012, para 580 euros; a criação de 300 mil empregos; e coisas como a religação da eletricidade dos lares que foi cortada por falta de pagamento – eletricidade grátis para pelo menos 300 mil pessoas. Trata-se de dar combate à crise humanitária imposta ao país, por meio da restauração do 13º salário dos aposentados com pensão inferior a 700 euros, atendimento médico e remédios grátis e abolição do imposto sobre o consumo de óleo para aquecimento. Fim dos leilões da casa própria única.
O programa prevê também o fim do imposto único sobre a moradia e criação de imposto socialmente justo sobre imóveis suntuosos. Acordos com as pequenas e médias empresas para regularização de impostos devidos, com limite para pagamento. Franquia fiscal de 12.000 euros para todos. Criação do Banco de Desenvolvimento Público. Para fomentar a geração de empregos, serão restaurados os acordos coletivos, suspensos sob a Troika. Também serão anuladas as normas facilitando demissões em massa.

ANTONIO PIMENTA
http://www.horadopovo.com.br/

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