quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Brasil tem telefonia e internet entre as mais caras do mundo


Setor dominado pelas teles estrangeiras cobra pelo pacote de serviços de telefonia móvel pré-paga um valor de 48 dólares, apontou entidade ligada à ONU


Relatório divulgado pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), entidade ligada a Organização das Nações Unidas (ONU), mostra o Brasil como o país com a telefonia móvel mais cara do mundo. Um dos setores que mais recebe incentivos do governo federal mantém tarifas extorsivas para a população.
O relatório anual, publicado pela UIT em Genebra, na segunda-feira (24), mostra que a cesta de produtos da telefonia brasileira custa US$ 48,32, ou cerca de R$ 123. Para chegar a esse valor, a entidade considera tarifas de planos pré-pagos, 30 ligações e 100 mensagens de texto por mês. No custo das chamadas são computadas aquelas feitas dentro da rede, para outras empresas e também para telefones fixos. O valor é bem acima da média calculada pela UIT, de US$ 16,9 ou R$ 42.
Considerando o valor da telefonia celular em relação à renda da população, o Brasil está em 119º lugar entre 166 países. O gasto médio da população brasileira com telefonia celular é 4,96%. Em pelo menos 36 países, o custo de um pacote parecido sairia por menos de 1% da renda mensal de um trabalhador.
O levantamento destaca que o custo do minuto para ligações de celular em horário de pico e dentro da rede da mesma operadora no Brasil é de 0,53 dólar por minuto, acima da maior parte dos países analisados, com exceção de França e Grécia (0,54 dólar), Irlanda (0,60 dólar) e Suíça (0,65 dólar). Os números são de 2013.
Fora da rede, ou seja, nas ligações para outras operadoras, os preços adotados no Brasil são ainda mais altos, ficando em 0,55 dólar. O país, nesse caso, fica atrás apenas de Irlanda (0,60 dólar) e Suíça (0,65 dólar).
BANDA LARGA
No país, o custo da banda larga para a população mais carente representa um peso 20 vezes maior que o preço do mesmo serviço representa para os mais ricos. E 44% das pessoas que têm computador em casa não conseguem pagar uma assinatura para ter internet.
O custo da banda larga no Brasil representa 1,42% da renda mensal média, o que coloca o país na 46º posição numa classificação onde o serviço é mais caro. Na Áustria, onde a banda larga é a mais barata do mundo, o serviço consome apenas 0,13% da renda média mensal de um trabalhador.
Segundo a UIT, entre 20% e 30% da população ainda considera que os serviços são caros demais para que possam pensar em ter um celular com internet rápida.
O preço médio da assinatura residencial mensal da banda larga fixa no Brasil está custa 13,82 dólares por 1 Mbit/s (megabit por segundo, de acordo com a UIT). Há países que oferecem velocidades bem maiores a preços muito mais baixos. É o caso da Rússia, onde a assinatura mensal de Internet de 1 Mbit/s sai por 1,25 dólares, em média. Já em Cingapura, a banda larga fixa de 1 Mbit/s sai por um valor médio de 0,79 dólares, segundo a UIT.
Enquanto isso, o governo federal diz tentar viabilizar a universalização da banda larga por meio de incentivos fiscais e financiamentos do BNDES para as teles estrangeiras e com isso o enterramento da Telebrás.
O Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (SindiTelebrasil) contestou os números da UIT. Segundo o sindicato das teles, a diversidade de planos oferecidos pelas operadoras faz com que o preço real do minuto de ligação seja mais baixo do que o apontado pela entidade.
“Em nenhum momento podemos dizer que a UIT está errada, porque ela pegou os preços diretos dos balcões. Mas podemos dizer que o preço da UIT não representa a realidade”, disse o presidente-executivo do SindiTelebrasil, Eduardo Levy.
A metodologia utilizada pela UIT que utiliza os planos homologados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que, segundo o SindiTelebrasil, são uma espécie de preço máximo do minuto da telefonia móvel, e não os valores efetivamente praticados na praça.
O SindiTelebrasil cita estudo da consultoria Teleco, contratada pelas teles, para analisar 17 países, além do Brasil, para alegar que o preço do minuto do celular no Brasil é oito vezes menor do que o apontado pela UIT.
A UIT considera que do pacote analisado, 53,1% seriam destinados para a mesma operadora; 26,4% para celulares de outra operadora e 20,5% para telefones fixos. Já a Teleco considerou 90% seria para celulares da mesma operadora; 5% para outra operadora e 5% para telefones fixos.
O que o sindicato das teles não contabiliza é a realidade. Desde a privatização dos serviços de telecomunicações no Brasil o aumento das tarifas é progressivo e a qualidade do serviço prestado está pior.
Na pesquisa realizada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em 2013 aponta que os usuários de serviço de telecomunicações, privatizado há 17 anos, estão mais insatisfeitos do que há onze anos.
A Anatel comparou a avaliação dos clientes dos serviços de telefonia fixa, móvel em 2012 e em 2002. Na telefonia móvel pré-paga, o índice geral de satisfação caiu de 77,5% em 2002 para 60% no ano passado. No pós-pago, a satisfação caiu de 71,4% para 53,7%.
Na telefonia fixa residencial, o índice geral de satisfação caiu de 72,1% para 58,9%, enquanto a avaliação do serviço fixo corporativo caiu de 77,5% para 60%.

O processo de desestatização, ao invés de promover uma suposta competitividade do setor de teles conduziu à monopolização por empresas privadas, principalmente estrangeiras, que impõem preços extorsivos em troca de serviços cada vez mais precários.
http://www.horadopovo.com.br/

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