segunda-feira, 13 de outubro de 2014

MENSAGEM DO PRESIDENTE DO PSB ROBERTO AMARAL QUE A MÍDIA VASSALA ESCONDE, EM APOIO A DILMA

 MENSAGEM AOS MILITANTES DO PSB E AO POVO BRASILEIRO
 




A luta interna no PSB, latente há algum tempo e agora aberta, tem
como cerne a definição do país que queremos e, por consequência,
do Partido que queremos. A querela em torno da nova Executiva e o
método patriarcal de escolha de seu próximo presidente são
pretextos para sombrear as questões essenciais. Tampouco estão em
jogo nossas críticas, seja ao governo Dilma, seja ao PT, seja à
atrasada dicotomia PT-PSDB - denunciada, na campanha, por Eduardo e
Marina como do puro e exclusivo interesse das forças que de fato
dominam o país e decidem o poder.
 
Ao aliar-se acriticamente à candidatura Aécio Neves, o bloco que
hoje controla o partido, porém, renega compromissos programáticos e
estatutários, suspende o debate sobre o futuro do Brasil, joga no
lixo o legado de seus fundadores - entre os quais me incluo - e
menospreza o árduo esforço de construção de uma resistência de
esquerda, socialista e democrática.

 Esse caminhar tortuoso contradiz a oposição que o Partido sustentou
ao longo do período de políticas neoliberais e desconhece sua
própria contribuição nos últimos anos, quando, sob os governos
Lula dirigiu de forma renovadora a política de ciência e tecnologia
do Brasil e, na administração Dilma Rousseff, ocupou o Ministério
da Integração Nacional.
 
Ao aliar-se à candidatura Aécio Neves, o PSB traiu a luta de
Eduardo Campos, encampada após sua morte por Marina Silva, no sentido
de enriquecer o debate programático pondo em xeque a nociva e
artificial polarização entre PT e PSDB. A sociedade brasileira,
ampla e multifacetada, não cabe nestas duas agremiações. Por isso
mesmo e, coerentemente, votei, na companhia honrosa de Luiza Erundina,
Lídice da Mata, Antonio Carlos Valadares, Glauber Braga, Joilson
Cardoso, Kátia Born e Bruno da Mata, a favor da liberação dos
militantes. O Senador Capiberibe votou em Dilma Rousseff.

 Como honrar o legado do PSB optando pelo polo mais atrasado? Em
momento crucial para o futuro do país, o debate interno do PSB
restringiu-se à disputa rastaquera dos que buscam sinecuras e
recompensas nos desvãos do Estado. Nas ante-salas de nossa sede em
Brasília já se escolhem os ministros que o PSB ocuparia num eventual
governo tucano. A tragédia do PT e de outros partidos a caminho da
descaracterização ideológica não serviu de lição: nenhuma
agremiação política pode prescindir da primazia do debate
programático sério e aprofundado. Quem não aprende com a História
condena-se a errar seguidamente.

 Estamos em face de uma das fontes da crise brasileira: a visão
pobre, míope, curta, dos processos históricos, visão na qual o
acessório toma a vez do principal, o episódico substitui o
estrutural, as miragens tomam o lugar da realidade. Diante da
floresta, o medíocre contempla uma ou outra árvore. Perde a noção
do rumo histórico.
 
Ao menosprezar seu próprio trajeto, ao ignorar as lições de seus
fundadores - entre eles João Mangabeira, Antônio Houaiss, Jamil
Haddad e Miguel Arraes -, o PSB renunciou à posição que lhe cabia
na construção do socialismo do século XXI, o socialismo
democrático, optando pela covarde rendição ao _statu quo_.
Renunciou à luta pelas reformas que podem conduzir a sociedade a um
patamar condizente com suas legítimas aspirações.
 
Qual o papel de um partido socialista no Brasil de hoje? Não será o
de promover a conciliação com o capital em detrimento do trabalho;
não será o de aceitar a pobreza e a exploração do homem pelo homem
como fenômeno natural e irrecorrível; não será o de desaparelhar o
Estado em favor do grande capital, nem renunciar à soberania e
subordinar-se ao capital financeiro que construiu a crise de 2008 e
construirá tantas outras quantas sejam necessárias à expansão do
seu domínio, movendo mesmo guerras odientas para atender aos
insaciáveis interesses monopolísticos.
 
O papel de um partido socialista no Brasil de hoje é o de
impulsionar a redistribuição da riqueza, alargando as políticas
sociais e promovendo a reforma agrária em larga escala; é o de
proteger o patrimônio natural e cultural; é o de combater todas as
formas de atentado à dignidade humana; é o de extinguir as
desigualdades espaciais do desenvolvimento; é o de alargar as chances
para uma juventude prenhe de aspirações; é o de garantir a
segurança do cidadão, em particular aquele em situação de risco;
é o de assegurar, através de tecnologias avançadas, a defesa
militar contra a ganância estrangeira; é o de promover a
aproximação com nossos vizinhos latino-americanos e africanos; é o
de prover as possibilidades de escolher soberanamente suas parcerias
internacionais. É o de aprofundar a democracia.
 
Como presidente do PSB, procurei manter-me equidistante das disputas,
embora minha opção fosse publicamente conhecida. Assumi a
Presidência do Partido no grave momento que se sucedeu à tragédia
que nos levou Eduardo Campos; conduzi o Partido durante a honrada
campanha de Marina Silva. Anunciados os números do primeiro turno,
ouvi, como magistrado, todas as correntes e dirigi até o final a
reunião da Comissão Executiva que escolheu o suicídio
político-ideológico.

 Recebi com bons modos a visita do candidato escolhido pela nova
maioria. Cumprido o papel a que as circunstâncias me constrangeram,
sinto-me livre para lutar pelo Brasil com o qual os brasileiros
sonhamos, convencido de que o apoio à reeleição da presidente Dilma
Rousseff é, neste momento, a única alternativa para a esquerda
socialista e democrática. Sem declinar das nossas diferenças, que
nos colocaram em campanhas distintas no primeiro turno, o apoio a
Dilma representa mais avanços e menos retrocessos, ou seja, é, nas
atuais circunstâncias, a que mais contribui na direção do resgate
de dívidas históricas com seu próprio povo, como também de sua
inserção tão autônoma quanto possível no cenário global.
 
Denunciámos a estreiteza do maniqueísmo PT-PSBD, oferecemos nossa
alternativa e fomos derrotados: prevaleceu a dicotomia, e diante dela
cumpre optar. E a opção é clara para quem se mantém fiel aos
princípios e à trajetória do PSB.
 
O Brasil não pode retroagir.
 
Convido todos, dentro e fora do PSB, a atuar comigo em defesa da
sociedade brasileira, para integrar esse histórico movimento em
defesa de um país desenvolvido, democrático e soberano.
 
Rio de Janeiro, 11 de outubro de 2014.

 ROBERTO AMARAL

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