quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Campanha do PT faz bem à democracia

Por Breno Altman

Não faltam vozes a denunciar inserções de campanha da presidente Dilma Rousseff como “baixaria” ou até “terrorismo eleitoral”. A candidata Marina Silva teria sido triturada por uma “máquina de mentiras”, a mesma variável que, supostamente inspirada pelo nazista Goebbels, estaria prestes a se abater sobre Aécio Neves.

Tal apreciação, além de distante da realidade, revela-se ardilosa. Sua única intenção consiste em vestir, com a coroa de espinhos do martírio, adversários incomodados pela crítica petista. A publicidade de Dilma recorre a algo que parece provocar horror em certos círculos: discussão programática implacável, densa e minuciosa, pois o Brasil é importante demais para conversas suaves. 

Tanto Marina Silva quanto Aécio Neves sinalizaram campanhas baseadas em sentimentos difusos, discursos melífluos e denúncias de ocasião. Qualquer coisa que pudesse capturar a seu favor, através de truques simbólicos e propostas de laboratório, com ajuda de parte da imprensa, a vontade de mudanças manifestada pelas ruas. De preferência, sem expor a verdadeira natureza de seus projetos para o país.

A equipe da presidente incumbente rechaçou o esquema. Foi apresentando, ponto a ponto, os interesses de fundo representados no programa de Marina Silva. Começa a fazer o mesmo com medidas anunciadas pelo candidato tucano. Nada pode ser MELHOR para o debate democrático que passar a limpo os propósitos mobilizadores de partidos e seus líderes.

O PT bateu no nervo marinista quando demonstrou que a independência jurídica do Banco Central significava atalho para o capital financeiro expandir sua hegemonia e ditar regras cujas consequências seriam travar o desenvolvimento, os gastos sociais e a distribuição de renda. Também explicou que a desregulamentação dos créditos bancários subsidiados abalaria a política de moradia e o financiamento agrícola.

Os petistas trouxeram a público temas importantes como regime de exploração do pré-sal, manutenção das políticas distributivistas, defesa de uma política externa independente e combate à homofobia. Contribuíram para que estas posições, originalmente embutidas em papelório para poucos leitores, viessem a ser conhecidas e discutidas.

A obra de João Santana, por determinação da presidente e do PT, foi colocar sob o sol, em linguagem acessível, às vezes caustica, ideias e providências que Marina Silva desejava manter à sombra. Tampouco poupou contradições e recuos que revelavam partes ocultas de seu pensamento. 

Os dois nomes da oposição conservadora se revelaram pouco à vontade com o choque de programas. Devem ter lá suas razões. A candidata do PSB desidratou quando simpatizantes se deram conta que aderira a fórmulas da velha direita. Seu colega do PSDB agora começa a ser submetido ao mesmo escrutínio político-ideológico.


Não há escolha mais moderna e transparente que transformar campanhas eleitorais, de concorrências mercadológicas, em combates francos por princípios, valores e plataformas. A opção petista está fazendo da disputa atual a mais politizada desde 1989.

Seria animador para a vida democrática se Aécio seguisse o bom exemplo do PT. Os eleitores só teriam a ganhar com a comparação entre os oito anos de gestão tucana e os doze de governos petistas, entre programas e compromissos de partidos que há vinte anos polarizam o país.

* Breno Altman é diretor editorial do site Opera Mundi. Artigo publicado originalmente no jornal Folha de S.Paulo.

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