quinta-feira, 12 de junho de 2014

Sem o apoio da URSS o ‘Dia-D’ teria fracassado


MOON OF ALABAMA*
Enquanto é dado enorme destaque ao ponto de vista “ocidental” sobre a Operação Overlord da II Guerra Mundial, a invasão do “Dia-D” e o mês subsequente de combates no Front Ocidental foram estrategicamente muito menos importantes que as operações dos soviéticos no Front Oriental.

Sem a operação soviética paralela – Operação Bagration – a invasão da fortaleza da Europa no oeste teria fracassado. Considerando os números das forças envolvidas e das forças alemãs destruídas, pode-se até mesmo dizer que a Operação Overlord não passou de movimento diversionista para manter ocupadas algumas divisões alemãs, enquanto o ataque soviético no leste destruía exércitos nazistas inteiros.
Na Conferência de Teerã, no inverno de 1943, Churchill, Roosevelt e Stalin alinharam as suas estratégias: [N. HP: após vários adiamentos da prometida abertura da “segunda frente” na Europa, e quando a maré da guerra já havia virado com a vitória em Stalingrado e em Kursk].
A declaração distribuída pelos três líderes, na conclusão da conferência, dia 1/12/1943, registrava as seguintes conclusões militares:
...
A invasão da França pelo canal (“Operação Overlord”) seria lançada durante maio de 1944, em conjunto com uma operação contra o sul da França. Essa operação seria lançada com a força máxima possível com os equipamentos de desembarque existentes. Adiante, a conferência registrou a declaração de Joseph Stalin, de que as forças soviéticas lançariam uma ofensiva mais ou menos no mesmo momento, com o objetivo de impedir que as forças alemãs fossem transferidas do Front Oriental para o Front Ocidental”.
Stalin fez muito mais que cumprir o que prometera:

As brigadas de partisans, entre os quais muitos judeus e evadidos de campos de concentração, plantaram 40 mil cargas de demolição. Devastaram as vitais estradas de ferro que ligavam o Grupo Central do Exército Alemão às suas bases na Polônia e no leste da Prússia.
Três dias depois, dia 22/6/1944, no terceiro aniversário da invasão de Hitler contra a União Soviética, o marechal Zhukov deu a ordem para o assalto principal contra as linhas alemãs. 26 mil armas pesadas pulverizaram as posições avançadas dos alemães. Os gritos dos foguetes Katyusha foram seguidos pelo rugido de 4 mil tanques e pelos brados de combate (em mais de 40 línguas) dos 1,6 milhão de soldados soviéticos. Assim começou a Operação Bagration, assalto contra um front alemão de mais de 600 quilômetros.
A ofensiva soviética do verão foi várias vezes maior que a invasão da Normandia, tanto na escala das forças envolvidas quando no preço direto que custou aos alemães.
No final do verão, o Exército Vermelho chegara já às portas de Varsóvia e às trilhas entre os Cárpatos que levam à Europa Central. Tanques soviéticos já haviam tomado em movimento de pinça o Centro do Exército Alemão e o destruíram. Só na Bielorrússia, os alemães perderiam mais de 300 mil homens. Outro gigantesco exército alemão fora cercado e seria aniquilado ao longo da costa do Báltico. Estava aberta a estrada para Berlim.
No total, cerca de 70-80% das perdas alemãs aconteceram no Leste. Em 1944 havia 228 divisões alemães no Leste, comparado com o total de 58 divisões no Oeste (e Sul). Em junho, julho e agosto de 1944 os soviéticos, só eles, destruíram completamente cerca de 28 divisões alemãs, força alemã maior que as 15 divisões que existiam no Front Ocidental no Dia-D e semanas posteriores.
Dá vergonha ver a quantidade de propaganda que se gasta com o Dia-D, em comparação com o reduzido reconhecimento dos esforços e baixas muito maiores dos soviéticos no Front Oriental.
*Moon of Alabama – site cujo nome homenageia famosa canção de Bertolt Brecht na peça Hauspostille, de 1927 (com música de Kurt Weil).
http://www.horadopovo.com.br/

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