quarta-feira, 18 de junho de 2014

Manning: EUA são uma “obscura máquina de guerra”


O soldado Bradley Manning – que adotou oficialmente o nome de Chelsea Manning -, denunciou em artigo no “New York Time” no sábado (14) as insistentes mentiras acerca da invasão do Afeganistão e do Iraque, propagadas pelo governo norte-americano, e questionou a imposição de uma profunda manipulação da cobertura jornalística nas zonas ocupadas, ou sob conflito.
Uma das pessoas mais corajosas da nossa época, que ousou divulgar centenas de milhares de documentos sobre as guerras no Iraque e no Afeganistão e as intervenções de Washington no mundo inteiro, o que lhe custou inclusive tortura e confinamento em solitária, Manning ressaltou no artigo que quando tomou a decisão de divulgar informações secretas em 2010, “o fiz por amor ao meu país, bem como por compromisso com a sociedade. E agora estou cumprindo uma sentença de 35 anos de prisão”.
Manning salienteou que “as preocupações que me motivaram não foram superadas. Agora que irrompe no Iraque uma guerra civil e os EUA novamente contemplam a possibilidade de intervenção, é preciso dar nova atenção à importante questão do controle, exercido pelas Forças Armadas norte-americanas, sobre a mídia, tanto no seu longo envolvimento no Iraque, quanto no Afeganistão”.
Para Manning, o bloqueio à liberdade de imprensa nos territórios invadidos ou em guerra, como no Iraque e no Afeganistão, somado aos excessivos segredos do governo norte-americano, tornam praticamente impossíveis ao povo norte-americano o conhecimento pleno da realidade das guerras financiadas por seu país. Somente jornalistas autorizados podem entrar nessas regiões ocupadas. “Para o Iraque inteiro, que tem uma população de 31 milhões, com 117 mil soldados norte-americanos, não havia mais de doze jornalistas norte-americanos cobrindo as operações” [os chamados “embedded”]. Aliás, jornalistas sempre ligados ao exército, e cujo trabalho se apoia nos relatórios militares.
Neste contexto, recorda que os relatórios e reportagens sobre as eleições iraquianas de 2010 contavam o “sucesso alcançado pelo exército norte-americano na construção da estabilidade e democracia”. Porém, “nós, que estávamos por lá, tínhamos a consciência de que a realidade era mais complexa. Relatórios militares e diplomáticos chegavam à minha mesa, detalhando uma brutal repressão do governo, do Ministério do Interior e da polícia federal contra políticos dissidentes, em favor do primeiro-ministro, Nuri Al Maliki. Os presos eram frequentemente torturados, ou mesmo assassinados”.

“No início de 2010, recebi ordens para investigar 15 indivíduos presos pela polícia federal, suspeitos de publicar ‘literatura anti-iraquiana’. Eu descobri que esses indivíduos não possuíam nenhuma ligação com o terrorismo; eles estavam publicando críticas acadêmicas ao governo do Sr. Maliki. Eu encaminhei os fatos ao oficial no comando da região oriental de Bagdá. Ele me respondeu que a informação não tinha importância, pelo contrário, segundo ele, eu deveria ajudar a polícia federal a encontrar mais gráficas ‘anti-Iraque’. Eu fiquei chocado pela cumplicidade e corrupção das nossas forças armadas”.
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