quarta-feira, 18 de junho de 2014

Insurreição avança e Obama inicia evacuação da embaixada em Bagdá


Washington anuncia que está retirando da Zona Verde o pessoal não essencial e envia porta-aviões George H. Bush para o Golfo Arábico e mais 275 marines para guardar o complexo

Enquanto o portal “Dhiqar.net” do Partido Baas – o partido de Sadam - reproduzia foto da famosa fuga de helicóptero na embaixada dos EUA em Saigon com a legenda “esteja atento para esta cena logo em Bagdá”, o governo dos EUA anunciou que estava evacuando da sua embaixada na Zona Verde, aliás a maior do planeta, o pessoal não essencial e no dia seguinte (16) o presidente Obama informou o envio de mais 275 marines para proteger o complexo.
Washington também anunciou a retirada às pressas de centenas de mercenários ianques da base de Balad, ameaçada de cair diante dos insurgentes que marcham para a capital, enviou um porta-aviões – o com o nome do criminoso de guerra George H. Bush – para o Golfo Arábico e passou a aventar tratativas com Teerã e o bombardeio dos insurretos iraquianos.
UNIDADES EM BAGDÁ
No sábado (14), o site “Informationclearinghouse.info”, dos EUA, divulgou vídeo com a chegada a Bagdá das primeiras unidades de guerrilheiros. O porta-voz do exército fantoche, general-brigadeiro Saad Maan, negou na segunda-feira (16), terminantemente, que os guerrilheiros houvessem feito ataques perto do Aeroporto Internacional de Bagdá, como reportado pela tevê Al Hadath. “Tudo está normal”, asseverou, apesar de quatro divisões do exército fantoche terem caído, como peças de dominó, em uma semana, praticamente sem dar um tiro, e o levante ter se estendido a seis províncias.

A essa altura, três das quatro entradas da Zona Verde estavam fechadas. O portal “Dhiqar”, na segunda-feira, assinalou que as forças revolucionárias estavam “às portas de Bagdá”, pelo acesso norte, com combates a 45 km, em Tarmiya. O “Dhiqar” também informou o início das operações militares rumo a Bagdá, a partir do “triângulo da morte” – como o invasor ianque chamava – ao sul da capital, e a derrubada de um helicóptero fantoche em Doura. Além da libertação de Tal Afar no norte do país, cidade de 200 mil habitantes, também admitida pela mídia imperial, o portal descreveu sob a rubrica de “urgente”, outros avanços, como confrontos em Qaim, Baqba, Dujail, Saqlawiyah e Samarra. Foi abatido um helicóptero em Faluja, um avião em Tikrit e mais dois helicópteros em Baiji.
Enquanto Obama, que supostamente teria sido contra a “Guerra do Iraque”, dizia que os soldados dos EUA haviam “se sacrificado pelo Iraque” e o fantoche Maliki havia estragado tudo com o “sectarismo”, e o poodle Blair alegava que não era culpa dele nem de W. Bush tal desastre e insistia em mais intervenção, o jornalista inglês Patrick Cockburn do “Independent”, admitia que “o principal fator” a favor do levante é “a percepção entre os cinco ou seis milhões de sunitas de que o fim da opressão está à mão”.
A invasão levou a devastação ao país árabe de maior desenvolvimento até então e para tentar erradicar as raízes da revolução do Baas, que havia nacionalizado o petróleo, o regime de W. Bush destruiu o aparato estatal e o exército, instaurou um regime fantoche constituído por párias pró-Irã, impôs uma “constituição” para dividir o país e o povo através das convicções religiosas (a sectarização), buscou esquartejar o país, negar seu caráter árabe e, coroando tudo isso, a “desbaasificação”, ou seja, perseguição a tudo que era nacional, árabe, socialista e unitário. Além dos párias pró-Irã, o invasor contou também com os serviços de setores como a Irmandade Muçulmana.

Antes da invasão, a revolução havia conseguido com que a diversidade religiosa não fosse um elemento de divisão do povo, os chamados casamentos entre seitas eram comuns assim como as comunidades compartilhadas e não só os xiitas, por exemplo, eram maioria no comando do exército iraquiano, como um cristão, Tareq Aziz, era o segundo nome do Iraque. Para deter a resistência heróica à invasão, Washington, como ficou provado na época, apelou para a “Solução El Salvador”, trazendo Negromonte para criar esquadrões da morte como feito na América Central, para o que utilizaram milícias pró-iranianas que se apresentavam como “xiitas” e realizaram uma operação de bandeira trocada, na “Mesquita Dourada” de Samarra, para desencadear o morticínio. Em paralelo, os campos de petróleo eram assaltados pela Exxon, BP, Shell e outras petroleiras.
Em 2011, a heróica resistência do povo iraquiano, encabeçada pelo partido Baas, e engrossada por diferentes forças patrióticas, inclusive islâmicas, forçou a retirada das tropas de ocupação, após os EUA serem responsáveis por quase 1,5 milhão de iraquianos mortos, seis milhões de deslocados, e terem de gastar US$ 3 trilhões na guerra que “seria um passeio” e seria paga “com o dinheiro do petróleo iraquiano”. A mobilização popular na época impediu que o fantoche Nuri Al Maliki assinasse acordo para presença permanente de tropas e bases dos EUA.

RESISTÊNCIA UNIDA

Desde então, primeiro através de grandes manifestações contra o regime fantoche imposto pelos EUA, que Maliki reprimiu duramente, e através da unificação de todas as correntes nacionalistas e islâmicas, e das tribos iraquianas, através de um Conselho Político e de um Conselho Militar, o que se concretizou em março deste ano, o levante tornou-se questão de dias. Desde janeiro, Faluja, a cidade símbolo da Resistência, duas vezes assaltada pelos marines, estava sob controle dos insurretos.
A convocatória de Blair para nova intervenção no Iraque fez o atual prefeito de Londres, o conservador Boris Johnson, considerar que ele “está ficando doido”. Após a invasão, em 2003, o agora prefeito esteve em Bagdá, de onde escreveu um artigo publicado na “The Spectator”, em que, entre outras observações, ele reproduz declaração de um morador sobre o desastre que se abatera sobre o Iraque: “depois da guerra de 1991, Sadam recuperou a luz e o fornecimento de combustível em uma semana”. Mais de dez anos após a invasão, ainda falta luz regularmente na maior parte do país.
Documento do Partido Baas, sobre a “Primavera Árabe”, alertava que tudo o que estava acontecendo no mundo árabe, como na Palestina, Líbia, Síria, Egito, Sudão, era a “continuação da invasão do Iraque”. E apontava que o critério central na luta contra a tirania e a corrupção era o “rompimento com a dominação norte-americana” e com a agressão sionista.

                                                                                                                         

ANTONIO PIMENTA


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