quinta-feira, 27 de março de 2014

"Cristãos" que se alinham à direita são ateus vulgares e desmoralizam o cristianismo



Querida Professora Geovana


Conviver contigo e com tua turma maravilhosa nesses dias durante os quais pensamos, refletimos e nos esperançamos com a educação na História Brasileira foi fator de crescimento e de alegria. 


Durante nossas aulas dissemos que pensar a história da educação no Brasil é refletirmos sobre a própria história do Brasil, sobretudo é colocarmos nossa consciência sobre o Brasil e nosso povo. 


Pois bem, a história do Brasil registra um evento feio, triste e manchado de sangue sobre o qual precisamos refletir para identificarmos as causas que motivaram seus agentes a promover encenação ligada ao golpe e aos crimes promovidos pela ditadura militar, que se abateu sangrenta sobre nós, há 50anos. 


Refiro-me à autointitulada “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, a primeira acontecida em 22 de março de 1964 e a tentativa de fazerem a segunda agora, neste sábado passado. Na primeira os promotores diziam que “a família que reza unida permanece unida”. 


Os inúmeros blogs e sites que noticiam a segunda marcha são unânimes em identificar o fracasso da segunda marcha, apesar da violência e fúria dos cães amestrados de guarda a rosnar para os que se opunham à sua sanha e esquizofrenia política. 


O fracasso deu-se em dois sentidos: o primeiro é o numérico, coisa de algumas dezenas de ignorantes e de mal intencionados que se somaram ao eventinho que se distribuiu por algumas capitais, não enchendo um avião. O segundo, causa do primeiro e mais importante, é que o contexto da segunda marcha diferenciou-se da primeira em muitos fatores. Um, foi o conhecimento da história das causas malfadadas do primeiro. Através das redes sociais, debates acadêmicos, conferências, fóruns, atos públicos etc milhões de brasileiros debateram as causas da primeira marcha e onde desembocou. 


A luminosidade da arte do debate de ideais e do enfrentamento com a direita atrasada permitiu que as novas gerações conhecessem que o primeiro movimento se articulou com atos militares traidores, com muito dinheiro de empresários gananciosos, impatrióticos e perversos socialmente, que despejaram dinheiro nas mãos dos golpistas para que promovessem o assalto à democracia e com o sempre criminoso, terrorista e imperialista governo americano, que deu apoio financeiro, militar e político para a loucura que encheu o Brasil de trevas. 


Obama encontra-se nesse momento envolvido com golpes e terrorismos pelo mundo e não tem mais condições de se ocupar com sabotagens à democracia aqui, embora fosse essa a vontade yank. Apesar de o mundo não mais contar com a União Soviética também não é fácil para o império enfrentar os Brics, a Unasul, o Conesul e a Alba, que constroem nova correlação de forças internacionais e a multipolaridade política do mundo hoje, isolando a dominação imperialista. As marchadeiras “religiosas” não sabiam disso. As coitadas não enxergam nada alem de seus umbigos implementados a botox e a muitas plásticas, muitas menos conhecem política e multilateralismo geopolítico de hoje. Aliás, até gritam que não gostam de política e apregoam a ira contra os que chamam de políticos. O fracasso de sua marchinha é o preço de sua ignorância e de seu consequente fiasco e falta de respeito com a democracia e com a história.


As marchadeiras de religiosidade supersticiosa também não sabem que nosso povo assume cada vez mais sua autonomia e emancipação como povo e como classe social mais unida e pensante. As histéricas marchadeiras também não sabem disso, pois unir-se a favor dos direitos humanos e na construção da cidadania é a mais perfeita e permanente luta política, que as abomináveis e subinteligentes madames não conhecem. 


É claro, há muitos erros e entraves nos avanços políticos das conquistas que iniciamos em 2002. Há muita crítica séria a fazer. Contudo, é certo que as marchadeiras do diabo não fazem críticas. O que fazem é ofensa, é chamamento irresponsável para a ruptura da Constituição Brasileira e para as fraturas sociais, sedentas do retorno ao poder para vender o Brasil como produto barato para o império decadente. 


Um dos atores da marcha bestial de1964 foram as igrejas, notadamente a Igreja Católica Romana. Seus bispos, afastados de estudos sérios e do compromisso social, apoiaram o golpe em nome do medo ao comunismo. Pastores de igrejas evangélicas também serviram aos interesses dos gringos invejosos do nosso País e da felicidade do nosso povo e se somaram em apoio ao golpe insano.  


É a isso que me proponho discutir contigo aqui, minha querida amiga professora Geovana. Durante nossas aulas disseste que és espírita e ao mesmo tempo demonstraste sensibilidade pela questão social que fundamenta a educação no Brasil.


O que bispos, pastores e demais líderes religiosos devem aprender é que não há fé no campo da direita. 


Silas Mafaia, imensamente moralista e fundamentalista, de repente abandona  a fúria preconceituosa contra os gays, os homossexuais e o casamento entre pessoas do mesmo sexo para investir contra a Presidenta Dilma usando o mesmo discurso rançoso e acre da mídia dominante, esta produtora e criadora de fascistas. O núcleo ideológico do seu cérebro empobrecido de justiça social é o mesmo da histeria sexual. A verborragia continua sendo de direita, intencionalmente. 


Ele e outros da mesma estirpe raciocinam que é com a direita que ganham visibilidade e que ganharão emissoras e redes de TVs próprias. A esquerda não tem essas coisas e quando no poder defende a laicidade em tudo, inclusive na comunicação. Por isso odeiam a esquerda e o socialismo. 


Essa turma dita cristã, os denominados evangélicos – igrejas eletrônicas e da falsa teologia, que chamam de teologia da prosperidade – e os católicos romanos conservadores, como os bispos que apoiaram o golpe e a ditadura militar, esvazia a proposta cristã ao aderir à direita. 


Já puxei aqui vários autores que conceituam muito bem o que é a direita. Numa discussão simples percebe-se que esses ditos cristãos deixam Jesus para trás quando se misturam com discursos e práticas que orienta a linha de pensamento e ação de direita.


A direita é historicamente a ideologia dos que concentram riquezas e rendas, sem se importar com as mazelas humanas -  crianças abandonadas, mulheres estupradas, trabalhadores desempregados, jovens imolados no altar da marginalização, miséria na educação, na saúde e matança nos campos. A direita valoriza o mercado que é a soma de interesses do sistema financeiro usurpador da energia econômica e social, do comércio de concorrência predatória, da produção rural com o único interesse no lucro do que no alimento social e no amor à ecologia. A direita é essencialmente corrupta. A moral para ela se centra na vitória dos negócios, mesmo que destrua as pessoas e o mundo. A direita quando chega o poder age de modo fascista transformando os problemas sociais em questões de polícia. Na ocupação do aparelho de Estado privatiza os investimentos, mesmo que a custa de guerra usando o poder militar. No poder de Estado e fora dele a direita é histórica e socialmente geradora de injustiças e de misérias. Na história de governos de direta as filas de pobres, miseráveis, marginalizados em tudo são extensas. 


Então, como pessoas que se dizem cristãs, algumas delas berram em púlpitos que seguem Jesus, podem ser ao mesmo tempo seguidoras de Jesus e serem de direita, capitalistas e mesquinhas?


Não vejo nenhuma coerência nem relação entre ser cristão e ser de direita, neoliberal, conservador e burguês. Jesus, que justifica o sermos cristãos, não tem nenhuma relação com as práticas da direita. 


Jesus abominou o Estado romano opressor e destruidor da vida dos humildes. Jesus recriminou a riqueza como reforço do egoísmo e dos privilégios.


Jesus ensinou amar os pobres e por eles lutar. Ensinou o valor do ser comunitário e compartilhante. 


Jesus entregou-se radicalmente ao amor. Chegou a afirmar que todos reconheceriam seus discípulos pelo amor com que se relacionassem entre si e com a humanidade. 


Ora, a direita aferra-se ao Estado como poder para explorar. Isso não tem relação com Jesus. Jesus ensina a distribuir as riquezas. O que os ditos cristãos de direita vêm de coerência quando ajudam a explorar os pobres ou se alienam frente à miséria?


Como os ditos cristãos de direita explicam que sua orientação seja de ódio ao povo, à revolução, à justiça social, ao respeito aos diferentes, se seguir Jesus implica amar radicalmente, principalmente os pobres e injustiçados? Nesse mesmo sentido, seguir Jesus significa lutar pela partilha, pela comunitarização de tudo. Como os direitistas que se dizem cristãos explicam tanta incoerência com esse ensino de Jesus?


Não vejo nenhuma coerência ser cristão de direita, ser capitalista e neoliberal. A única coerência que vejo para ser cristão é ser socialista, é ser lutador pela justiça e pela paz, decorrência do amor que Jesus nos ensinou a viver pela humanidade. 


Ser cristão é ser naturalmente aliançado com o socialismo e com a revolução, o sonho de paz social. 


Fora isso temos um falso cristianismo, uma falsa fé. São apenas fórmulas vazias de fé, puro farisaísmo e de um ateísmo vulgar, desgraçadamente desmoralizante da fé que Jesus nos deu. O materialismo dialético é muito mais próximo do cristianismo do que a perversidade capitalista, que se ajoelha aos pés do deus lucro. 


Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.

Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano. 

Nenhum comentário: