quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Santiago é o povo, Caio é o povo. Os verdadeiros criminosos se escondem


Jornal do Brasil
Quem é Caio Silva de Souza? E quem é Santiago Andrade? O primeiro estava nas ruas, protestando contra o governo, supostamente em troca de R$ 150. O segundo estava nas ruas, cobrindo o protesto do povo. Os dois eram povo, e o destino os uniu com a velocidade de um rojão.
Santiago, cinegrafista premiado e profissional dedicado, deixa viúva, quatro filhos e um número incontável de colegas inconsoláveis. Admirado por todos, ele usava a sua câmera para mostrar a verdade. Ao ser atingido por um rojão, cumpria seu papel de mostrar na televisão a indignação de um povo contra seus governantes. 
Sua trágica morte deve ser profundamente lamentada, como a de cada um dos 70 jornalistas mortos durante a cobertura da guerra do Vietnã, cada um dos 80 mortos nos conflitos do Iraque, e cada um dos 50 mortos nos confrontos na Síria (sem contar os 30 desaparecidos). Como, inclusive a de outro cinegrafista da própria Bandeirantes, Gelson Domingos da Silva, morto com um tiro de fuzil durante a cobertura de operação policial na Favela de Antares, em novembro de 2011.
A morte de Santiago, como a de Gelson, cujo autor até hoje é desconhecido, deve ser incansavelmente investigada e a culpa, exemplarmente punida. 
Ao ser preso, Caio estava assustado, acuado e com fome. Sua mãe, como próprio das mães, fez dramático apelo na TV, negando que seu filho tivesse qualquer intenção de matar. "Foi um acidente", disse de dentro de sua humilde casa, em Nilópolis. Caio admitiu que aliciadores financiam a participação de manifestantes em protestos. Mesmo tendo recebido os tais R$ 150 para ir para as ruas, Caio também afirmou em entrevista exclusiva para a Rede Globo - entrevista que nem a própria Bandeirantes conseguiu: "Só quero ver meu país melhor, eu quero saúde, educação."
Em entrevista exclusiva para a Rede Globo, Caio, ao ser perguntado se era ligado a algum partido político, disse: "Não, só quero ver meu país melhor, eu quero saúde, educação"
Em entrevista exclusiva para a Rede Globo, Caio, ao ser perguntado se era ligado a algum partido político, disse: "Não, só quero ver meu país melhor, eu quero saúde, educação"
Receber para ir a manifestações - ou mesmo fazer 'rolezinhos' em shoppings, templo do capitalismo - parece ser o único caminho para jovens pobres que não querem se envolver com o dinhiro do tráfico. 
Hoje há três categorias de jovens entre 17 e 24 anos, que representam cerca de 50 milhões pessoas no país. Os que fazem 'rolezinhos' porque querem ser capitalistas, não podem e, na revolta, provocam desordem; os que vendem papelotes de cocaína em busca de trocados; e os que vão para as ruas, se for verdade, em troca de R$ 150, mas imbuídos de cidadania como mostra a declaração que Caio deu com exclusividade para a Rede Globo. São estas as "profissões" que sobram para estes jovens. Jovens que não têm as mesmas condições financeiras dos que assassinam índios em Brasília ou atropelam inocentes com seus velozes carros. São jovens que não podem frequentar analistas, e têm o presídio como única opção oferecida pelo Estado para se "tratarem". 
Se toda a imprensa, autoridades políticas e parte da opinião pública se levantam agora contra as manifestações, devem agir no mesmo tom com, por exemplo, o Movimento dos Sem Terra, que na quarta-feira fez um pesado protesto deixando mais de 20 policiais feridos em Brasília e depredando patrimônios públicos, inclusive o Supremo Tribunal Federal. E com relação ao MST, nem é preciso investigar quem estaria por trás do movimento. Eles estão ali, com nome e sobrenome. O que esses que se manifestam contra o jovem vão falar sobre o MST, cujas invasões já resultaram inclusive em morte? Por que eles não atacam, investigam e denunciam no mesmo tom? Eles vão se levantar contra o MST?
Os mesmos motivos que levaram Caio às ruas, levaram Santiago também. A grande imprensa quer colocá-los em lados opostos, mas eles não estão. O protesto une os dois: um como manifestante, outro como aquele que mostra para todo o país que o povo está nas ruas. A própria presidenta Dilma, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, destacou: "As manifestações são parte indissociável da construção da democracia e da mudança social. Meu governo ouviu e entendeu a voz das ruas. Os manifestantes não pediram para que o Brasil voltasse atrás. Pediram avanço para o futuro."
Sujar as mãos do povo é o caminho mais fácil para desqualificar os protestos. E ainda mais conveniente para os verdadeiros criminosos, que covardemente se omitem e usam as mãos do povo para esconder suas impressões digitais.
http://www.jb.com.br/

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