sábado, 26 de outubro de 2013

Um leilão às pressas


PEDRO SIMON*
 
O sol do Rio de Janeiro iluminou na manhã de ontem um cenário inusitado à beira mar, composto por tropas do Exército na rua e soldados da Força Nacional perfilados na areia da praia, numa barreira humana que ia da calçada até a linha d’água. Tal contingente militar, que contou ainda com apoio da Polícia Federal, além de agentes locais, normalmente só é mobilizado em ocasiões especiais, como a realização de eventos internacionais, com a presença de chefes de estado, ou a visita do Papa.
Dessa vez, o aparato oficial serviu para garantir a realização às pressas de um leilão de privatização do petróleo, o primeiro do pré-sal. No salão refrigerado de um hotel de luxo da Barra, enquanto lá fora explodiam bombas de gás lacrimogêneo e manifestantes eram alvejados com balas de borracha, a reserva de Libra, na Bacia Santista, foi entregue em poucos minutos a um único consórcio concorrente. Formado pela Petrobras, duas estatais chinesas, mais a Shell (Inglaterra/Holanda) e a Total (França), essas últimas pertencentes ao grupo Rothschild/Rockefeller. A utilização do Exército demonstra a determinação do governo na promoção do leilão, afinal realizado em meio a críticas severas por parte de sindicatos de trabalhadores, engenheiros e ex-dirigentes da Petrobras e, em meio a ações judiciais e um decreto-legislativo que tramita no Congresso Nacional, proibindo leilões do pré-sal.
Atualmente, esse é o maior negócio envolvendo petróleo no mundo. Libra tem uma área de 1.547 quilômetros quadrados no oceano Atlântico, a menos de 180 quilômetros da costa brasileira. Representa a maior descoberta da Petrobras em 60 anos, uma província gigantesca de óleo localizada a cerca de 7 mil quilômetros de profundidade e estimada em cerca de oito a 12 bilhões de barris, ou US$ 1,5 trilhão, quantidade equivalente ao total de reservas do Brasil hoje, avaliadas em 15,7 bilhões de barris. Ao dar preferência a empresas privadas estrangeiras, o governo deixa claro que com relação à Petrobras desconhece o sentido de empresa estratégica e símbolo da soberania nacional.
A pressa como que essa privatização foi efetuada chama a atenção, pois não houve diálogo com a sociedade e, tampouco, com o Congresso. Uma operação que rendeu de imediato R$ 15 bilhões aos cofres do governo, depósito prévio exigido do consórcio vencedor. Esse dinheiro alivia o caixa e ajuda no superávit primário de uma administração que necessita, desesperadamente, de recursos para fechar as contas. Desperta a atenção, ainda, a oposição declarada do ex-presidente e ex-diretor da Petrobras Sérgio Gabrielli, que esteve na estatal durante nove anos do governo Lula, cujo silêncio a respeito do assunto é estrondosamente eloquente.
*Pedro Simon é senador da República pelo PMDB/RS. O artigo foi reproduzido do Jornal do Brasil.

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