terça-feira, 29 de outubro de 2013

DISCURSO DO PRESIDENTE JOÃO GOULART NO COMÍCIO DA CENTRAL DE 13 DE MARÇO DE 1964

PARABÉNS, VOCÊ É SERVIDOR PÚBLICO.

 "Aos servidores públicos da Nação, aos médicos, aos engenheiros do serviço público, que também não me têm faltado com seu apoio e o calor de sua solidariedade, posso afirmar que suas reivindicações justas estão sendo objeto de estudo final e que em breve serão atendidas. Atendidas porque o governo deseja cumprir o seu dever com aqueles que permanentemente cumprem o seu para com o país."


 























Devo agradecer às organizações sindicais, promotoras desta grande manifestação, devo agradecer ao povo brasileiro por esta demonstração extraordinária a que assistimos emocionados, aqui nesta cidade do Rio de Janeiro. Quero agradecer, também, aos sindicatos quem de todos os estados mobilizaram os seus associados, dirigindo minha saudação a todos os patrícios, neste instante mobilizados em todos os recantos do país, e ouvindo o povo através do rádio ou da televisão. Dirijo-me a todos os brasileiros, e 
não apenas aos que conseguiram adquirir instrução nas escolas. Dirijo-me também aos milhões de irmãos nossos que dão ao Brasil mais do que recebem e que pagam em sofrimento, pagam em miséria, pagam em privações, o direito de serem brasileiros e o de trabalhar de sol a sol pela grandeza deste país. Presidente de oitenta milhões de brasileiros, quero que minhas palavras sejam bem entendidas por todos os nossos patrícios. Vou falar em linguagem (...) rude, mas que é sincera e sem subterfúgios. É também a linguagem de esperança, de quem quer inspirar confiança no futuro, mas de quem tem a coragem de enfrentar sem fraquezas a dura realidade que vivemos.
 
Aqui estão os meus amigos trabalhadores, pensando na campanha de terror ideológico e de sabotagem, 
cuidadosamente organizada para impedir ou perturbar a realização deste memorável encontro entre povo e o seu Presidente, na presença das lideranças populares mais representativas deste país, que se encontram também conosco, nesta festa cívica. 
 
Chegou-se a proclamar, trabalhadores brasileiros, que esta concentração seria um ato atentatório ao regime democrático como se no Brasil a reação ainda fosse dona da democracia, ou proprietária das praças e ruas. Desgraçada democracia a que tiver de ser defendida por esses democratas. Democracia para eles não é o regime da liberdade de reunião para o povo. O que eles querem é uma democracia de um povo emudecido, de um povo abafado nos seus anseios, de um povo abafado nas suas reivindicações.
 
democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia do anti-sindicato, ou seja, aquela que melhor atenda aos seus interesses ou aos dos grupos que eles representam. A democracia que eles pretendem é a democracia dos privilégios, a democracia da intolerância e do ódio. A democracia que eles querem, trabalhadores, é para liquidar com a Petrobrás, é a democracia dos monopólios, nacionais e internacionais, a democracia que pudesse lutar contra o povo, a democracia que levou o grande Presidente Vargas ao extremo sacrifício.
 
Ainda ontem eu afirmava no Arsenal de Marinha, envolvido pelo calor dos trabalhadores de lá, que a democracia jamais poderia ser ameaçada pelo povo, quando o povo livremente vem para as praças – as praças que são do povo. Para as ruas – que são do povo. 
 
Democracia, trabalhadores, é o que o meu governo vem procurando realizar, como é do meu dever. Não 
só para interpretar os anseios populares, mas também para conquistá-los pelo caminho do entendimento e da paz. Não há ameaça mais séria para a democracia do que tentar estrangular a voz do povo, dos seus 
legítimos líderes populares, fazendo calar as sua reivindicações. 
 
Estaríamos, assim, brasileiros, ameaçando o regime se nos mostrássemos surdos aos reclamos da Nação, 
desta Nação e desses reclamos que, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, levantam o seu grande clamor pelas 
reformas de base e de estrutura, sobretudo pela reforma agrária, que será o complemento da abolição do 
cativeiro para dezenas de milhões de brasileiros, que vegetam no interior, em revoltantes condições de 
miséria. Ameaça à democracia, enfim, não é vir confraternizar com o povo na rua. Ameaça à democracia 
é empulhar o povo brasileiro, é explorar os seus sentimentos cristãos, na mistificação de uma indústria do 
anticomunismo, insurgindo o povo até contra os grandes e iluminados ensinamentos dos grandes e santos 
Papas que informam notáveis pronunciamentos, das mais expressivas figuras do episcopado nacional. O inolvidável Papa João XXIII é que nos ensina, povo brasileiro, que a dignidade da pessoa humana exige normalmente, como fundamento natural para a vida, o direito e o uso dos bens da terra, ao qual corresponde a obrigação fundamental de conceder uma propriedade para todos. É dentro desta autêntica doutrina que o governo brasileiro vem procurando situar sua política social, particularmente no que diz 
respeito à nossa realidade agrária. O cristianismo nunca foi o escudo para privilégios condenados para o 
Santo Padre, nem também, brasileiro, os rosários podem ser levantados contra a vontade do povo e as sua aspirações mais legítimas.
 
Não podem ser levantados os rosários da fé contra o povo, que tem fé numa justiça social mais humana e na dignidade das suas esperanças. Os rosários não podem ser erguidos contra aqueles que reclamam a discriminação da propriedade da terra, hoje ainda em mãos de tão poucos, de tão pequena maioria. 
 
Àqueles que reclamam do Presidente da República uma palavra tranqüila para a Nação, àqueles que em 
todo o Brasil nos ouvem nesta oportunidade, o que eu posso dizer é que só conquistaremos a paz social 
através da justiça social. Perdem seu tempo, também, os que temem que o governo passe a empreender uma ação subversiva na defesa de interesses políticos ou pessoais, como perdem também seu tempo os que esperam deste governo uma ação repressiva dirigida contra o povo, contra os seus direitos ou contra as suas reivindicações. Ação repressiva, trabalhadores, é a que o governo está praticando e vai ampliar cada vez mais e mais implacavelmente, aqui na Guanabara e em outros Estados, contra aqueles que 
especulam, contra as dificuldades do povo, contra os que exploram o povo, que sonegam gêneros alimentícios ou que jogam com seus preços. Ainda ontem, dentro de associações de cúpula de classes conservadoras, ibadianos de ontem levantaram a voz contra o Presidente pelo crime de defender o povo contra os que o exploram na rua e em seus lares, através da exploração e da ganância. 
 
Mas não tiram o sono as manifestações de protestos dos gananciosos, mascaradas de frases patrióticas, 
mas que, na realidade, traduzem suas esperanças e seus propósitos de restabelecer impunidade para suas 
atividades antipopulares e anti-sociais. Por outro lado, não receio ser chamado de subversivo pelo fato de 
proclamar – e tenho proclamado e continuarei proclamando nos recantos da Pátria – a necessidade da 
revisão da Constituição. Há necessidade, trabalhadores, da revisão da Constituição da nossa República, 
que não atende mais aos anseios do povo e aos anseios do desenvolvimento desta Nação. A Constituição 
atual, trabalhadores, é uma Constituição antiquada, porque legaliza uma estrutura sócio-econômica já 
superada, uma estrutura injusta e desumana. O povo quer que se amplie a democracia, quer que se ponha fim aos privilégios de uma minoria; quer que a propriedade da terra seja acessível a todos; que a todos seja facilitado participar da vida política do país, através do voto, podendo votar e ser votado; que se impeça a intervenção do poder econômico nos pleitos eleitorais e que seja assegurada à representação de todas as correntes políticas, sem quaisquer discriminações, ideológicas ou religiosas. 
 
Todos, todos os brasileiros, todos têm o direito à liberdade de opinião, de manifestar também sem temor 
seu pensamento. É um princípio fundamental dos direitos do homem, contido na própria Carta das Nações 
Unidas, e que temos o dever de assegurar a todos os brasileiros. Está nisso, trabalhadores, está nisso, povo brasileiro, o sentido profundo desta grande e incalculável multidão que presta, neste instante, sua 
manifestação ao Presidente, que vem também lhe prestar conta de seus problemas, mas também de suas 
atitudes e de sua convicções nas lutas que vem enfrentando, luta contra forças poderosas, mas confiando 
sempre na unidade do povo e das classes trabalhadoras, unidade que há de encurtar o caminho da nossa 
emancipação. É apenas de se lamentar que parcelas ainda ponderáveis que tiveram acesso à instrução 
superior continuem insensíveis, de olhos e ouvidos fechados à realidade nacional. São, certamente, 
trabalhadores, os piores surdos e os piores cegos, porque poderão com tanta surdez e com tanta cegueira, 
ser, amanhã, responsáveis, perante a História, pelo sangue brasileiro que possa ser derramado, ao 
pretenderem levantar obstáculos à caminhada do Brasil e à emancipação do povo brasileiro..........

...............Em todos os países civilizados do mundo já foi suprido do texto constitucional aquela parte que obriga a desapropriação por interesse social, a pagamento prévio, a pagamento em dinheiro. 
No Japão de pós-guerra, há vinte anos, ainda ocupado pelas forças aliadas vitoriosas, sob o patrocínio do 
comando vencedor, foram distribuídos dois milhões e meio de hectares das melhores terras do país, com 
indenizações pagas em bônus com vinte e quatro anos de prazo, juros de 3,65% ao ano. E quem é que se 
lembrou de chamar o Gen. Macarthur de subversivo ou extremista? 
 
Na Itália, ocidental e democrática, foram distribuídos um milhão de hectares, em números redondos, na 
primeira fase de uma reforma agrária cristã e pacífica iniciada há quinze anos. Cento e cinqüenta mil 
famílias foram beneficiadas. 
 
No México, durante os anos de 1932 a 1945, foram distribuídas trinta milhões de hectares, com 
pagamento das indenizações em títulos da dívida pública, vinte anos de prazo, juros de 5% ao ano, e 
desapropriação dos latifúndios com base no valor fiscal. 
 
Na Índia foram promulgadas leis que determinam a abolição da grande propriedade mal aproveitada, 
transferindo as terras para os camponeses. Essas leis abrangem cerca de sessenta e oito milhões de 
hectares, ou seja, a metade da área cultivada da Índia.
 
Portanto, não existe argumento capaz de poder afirmar que no Brasil, uma nação jovem, que se projeta 
para o futuro, não se possa também fazer a reforma da Constituição para a reforma agrária autêntica e 
verdadeira. 
 
A reforma agrária não é capricho de um governo ou programa de um partido. É produto da inadiável 
necessidade de todos os povos do mundo. Aqui, no Brasil, constitui a legenda mais viva da esperança do 
nosso povo, sobretudo daqueles que labutam no campo. A reforma agrária é também uma imposição 
progressista do mercado interno, que necessita aumentar a sua produção para sobreviver. 
 
Os tecidos e os sapatos sobram nas prateleiras das lojas e as nossas fábricas estão produzindo muito 
abaixo de sua capacidade. Ao mesmo tempo em que isso acontece, as nossas populações mais pobres 
vestem farrapos e andam descalças, porque não têm dinheiro para comprar.
 
Assim, a reforma agrária é indispensável, não só para aumentar o nível de vida do homem do campo, 
mas, também, para dar mais trabalho às indústrias e melhor remuneração ao trabalhador urbano. 
Interessa, por isso, também a todos os industriais e aos comerciantes. A reforma agrária é necessária, 
enfim, à nossa vida social e econômica, para que o país possa progredir, em sua indústria, e no bem-estar 
do seu povo. 
 
Como garantir o direito de propriedade autêntica quando, dos quinze milhões de brasileiros que trabalham a terra, no Brasil, apenas dois milhões e meio são proprietários? 
 
O que estamos pretendendo fazer no Brasil, pelo caminho da reforma agrária, não é diferente, pois, do 
que se fez em todos os países desenvolvidos do mundo. É uma etapa de progresso que precisamos 
conquistar e haveremos de conquistar. Esta manifestação deslumbrante que presenciamos é um testemunho vivo de que a reforma agrária será gêneros baratos, não pode haver tranqüilidade social.
 
No meu Estado, por exemplo, o Estado do Dep. Leonel Brizola, 65% da produção de arroz é obtida em terras alugadas e o arrendamento ascende a mais de 55% do valor da produção. O que ocorre no Rio Grande é que um arrendatário de terras para o plantio de arroz paga, em cada ano, o valor total da terra que ele trabalhou para o proprietário. Esse inquilino rural desumano e medieval é o grande responsável pela produção insuficiente e cara que torna insuportável o custo de vida para as classes populares em nosso país. 
 
A reforma agrária só prejudica uma minoria de insensíveis, que deseja manter o povo escravo e a Nação 
submetida a um miserável padrão de vida. E é claro, trabalhadores, que só se pode iniciar uma reforma agrária em terras economicamente aproveitáveis. É claro que não poderíamos começar a reforma agrária, para atender os anseios do povo, nos Estados do Amazonas ou do Pará. A reforma agrária deve ser iniciada nas terras mais valorizadas e ao lado dos grandes centros de consumo, com transporte fácil para o seu escoamento. 
 
Governo nenhum, trabalhadores, povo nenhum, por maior que seja o seu esforço, e até mesmo o seu 
sacrifício, poderá enfrentar o monstro inflacionário que devora os salários, que inquieta o povo 
assalariado, se não forem efetuadas as reformas de estrutura e de base exigidas pelo povo e reclamada 
pela Nação. 
 
Tenho autoridade para lutar pela reforma da atual Constituição, porque esta reforma é indispensável e 
porque o seu objetivo único e exclusivo é abrir o caminho para a solução harmônica dos problemas que 
afligem o nosso povo. Não me animam, trabalhadores - e é bom que a Nação me ouça –, quaisquer 
propósitos de ordem pessoal. Os grandes beneficiários das reformas serão, acima de todos, o povo 
brasileiro e os governos que me sucederão. A eles, trabalhadores, desejo entregar uma Nação 
engrandecida, emancipada e cada vez mais orgulhosa de si mesma, por ter resolvido mais uma vez, e 
pacificamente, os graves problemas que a História nos legou.
 
Dentro de 48 horas vou entregar à consideração do Congresso Nacional à mensagem presidencial deste 
ano. Nela, estão claramente expressas as intenções e os objetivos deste governo. Espero que os senhores 
congressistas, em seu patriotismo, compreendam o sentido social da ação governamental, que tem por 
finalidade acelerar o progresso deste país e assegurar aos brasileiros melhores condições de vida e 
trabalho, pelo caminho da paz e do entendimento, isto é, pelo caminho reformista, pacífico e democrático. 
Mas estaria faltando ao meu dever se não transmitisse, também, em nome do povo brasileiro, em nome 
destas cento e cinqüenta ou duzentas mil pessoas que aqui estão, caloroso apelo ao Congresso Nacional 
para que venha ao encontro das reivindicações populares, para que, em seu patriotismo, sinta os anseios 
da Nação, que quer abrir caminho, pacífica e democraticamente, para melhores dias. Mas também, 
trabalhadores, quero referir-me a um outro ato que acabo de assinar, interpretando os sentimentos 
nacionalistas deste país. Acabei de assinar, antes de dirigir-me para esta grande festa cívica, o decreto de 
encampação de todas as refinarias particulares. 
 
A partir de hoje, trabalhadores brasileiros, a partir deste instante, as refinarias de Capuava, Ipiranga, 
Manguinhos, Amazonas e Destilaria Rio-Grandense passam a pertencer ao povo, passam a pertencer ao 
patrimônio nacional. Procurei, trabalhadores, depois de estudos cuidados elaborados por órgãos técnicos, depois de estudos profundos, procurei ser fiel ao espírito da lei que foi inspirada nos ideais patrióticos e imortais de um brasileiro que também continua imortal em nossa alma e nosso espírito. 
 
Ao anunciar, à frente do povo reunido em praça pública, o decreto de encampação de todas as refinarias 
de petróleo particulares, desejo prestar homenagem de respeito àquele que sempre esteve presente nos 
sentimentos do nosso povo, o grande e imortal Presidente Getúlio Vargas. 
 
O imortal e grande patriota tombou, mas o povo continua a caminhada, guiado pelos seus ideais. E eu, 
particularmente, vivo hoje momento de profunda emoção ao poder dizer que, com este ato, soube 
interpretar o sentimento do povo brasileiro. 
 
Alegra-me ver, também, o povo reunido para prestigiar medidas como esta, da maior significação para o 
desenvolvimento do país e que habilita o Brasil a aproveitar melhor as suas riquezas minerais, 
especialmente as riquezas criadas pelo monopólio do petróleo. O povo estará sempre presente nas ruas e 
nas praças públicas, para prestigiar um governo que pratica atos como estes, e também para mostrar às 
forças reacionárias que há de continuar a sua caminhada, no rumo da emancipação nacional. 
Na mensagem que enviei à consideração do Congresso Nacional estão igualmente consignadas duas 
outras reformas que o povo brasileiro reclama, porque é exigência do nosso desenvolvimento e da nossa 
democracia. Refiro-me à reforma eleitoral, à reforma ampla que permita a todos os brasileiros maiores de 
18 anos ajudar a decidir dos seus destinos, que permita a todos os brasileiros que lutam pelo 
engrandecimento do país a influir nos destinos gloriosos do Brasil. Nesta reforma, pugnamos pelo
princípio democrático, princípio democrático fundamental, de que todo alistável deve ser também 
elegível. 
 
Também está consignada na mensagem ao Congresso a reforma universitária, reclamada pelos estudantes brasileiros, pelos universitários de classe que sempre tem estado corajosamente na vanguarda de todos os movimentos populares e nacionalistas. 
 
Ao lado dessas medidas e desses decretos, o governo continua examinando outras providências de 
fundamental importância para a defesa do povo, especialmente das classes populares. 
Dentro de poucas horas, outro decreto será dado ao conhecimento da Nação. É o que vai regulamentar o 
preço extorsivo dos apartamentos e residências desocupados, preços que chegam a afrontar o povo e o 
Brasil, oferecidos até mediante o pagamento em dólares. Apartamento, no Brasil, só pode e só deve ser 
alugado em cruzeiros, que é dinheiro do povo e a moeda deste país. Estejam tranqüilos que dentro em 
breve esse decreto será uma realidade. 
 
E realidade há de ser também a rigorosa e implacável fiscalização para que seja cumprido. O governo, 
apesar dos ataques que tem sofrido, apesar dos insultos, não recuará um centímetro sequer na fiscalização que vem exercendo contra a exploração do povo. E faço um apelo ao povo para que ajude o governo na fiscalização dos exploradores do povo, que são também exploradores do Brasil. Aqueles que desrespeitam a lei, explorando o povo – não interessa o tamanho de sua fortuna, nem de seu poder, esteja ele em Olaria ou na rua do Acre – hão de responder perante a lei pelo seu crime. 
 
Aos servidores públicos da Nação, aos médicos, aos engenheiros do serviço público, que também não me têm faltado com seu apoio e o calor de sua solidariedade, posso afirmar que suas reivindicações justas estão sendo objeto de estudo final e que em breve serão atendidas. Atendidas porque o governo deseja cumprir o seu dever com aqueles que permanentemente cumprem o seu para com o país. 
 
Ao encerrar, trabalhadores, quero dizer que me sinto reconfortado e retemperado para enfrentar a luta que tanto maior será contra nós quanto mais perto estivermos do cumprimento do nosso dever. À medida que esta luta apertar, sei que o povo também apertará sua vontade contra aqueles que não reconhecem os direitos populares, contra aqueles que exploram o povo e a Nação. 
 
Sei das reações que nos esperam, mas estou tranqüilo, acima de tudo porque sei que o povo brasileiro já 
está amadurecido, já tem consciência da sua força e da sua unidade, e não faltará com seu apoio às 
medidas de sentido popular e nacionalista. 
 
Quero agradecer, mais uma vez, esta extraordinária manifestação em que os nossos mais significativos 
líderes populares vieram dialogar com o povo brasileiro, especialmente com o bravo povo carioca, a 
respeito dos problemas que preocupam a Nação e afligem todos os nossos patrícios. 
 
Nenhuma força será capaz de impedir que o governo continue a assegurar absoluta liberdade ao povo 
brasileiro. E, para isto, podemos declarar, com orgulho, que contamos com a compreensão e o patriotismo 
das bravas e gloriosas Forças Armadas da Nação. 
 
Hoje, com o alto testemunho da Nação e com a solidariedade do povo, reunido na praça que só ao povo 
pertence, o governo, que é também o povo e que também só ao povo pertence, reafirma os seus propósitos inabaláveis de lutar com todas as suas forças pela reforma da sociedade brasileira. Não apenas pela reforma agrária, mas pela reforma tributária, pela reforma eleitoral ampla, e pelo voto do analfabeto, pela elegibilidade de todos os brasileiros, pela pureza da vida democrática, pela emancipação econômica, pela justiça social e pelo progresso do Brasil. 
 
Fonte: SILVA, Hélio. 1964: golpe ou contragolpe? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975. 

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