terça-feira, 3 de setembro de 2013

“Autocrítica” da Globo é alvo de ironia e sarcasmo nas redes sociais





Porto Alegre - Quase 50 anos depois, as Organizações Globo, em nome da “memória”, resolveram fazer uma autocrítica sobre o apoio que deram ao golpe civil-militar de 1964 que derrubou o governo constitucional de João Goulart e implantou uma ditadura que matou, torturou, reprimiu, censurou e interrompeu a frágil experiência democrática brasileira. Os danos causados por essa intervenção truculenta e desastrosa contra a democracia ainda estão por ser contabilizados.

A memória resgatada pelas Organizações Globo é extremamente seletiva. Omite, por exemplo, os benefícios que suas empresas obtiveram pelo apoio ao golpe. Omite também os crimes acobertados por seus veículos de comunicação que, durante anos, venderam dia e noite (e a palavra “venderam” aí não é uma expressão retórica, mas sim literal) um suposto Brasil gigante que estaria sendo construído pela ditadura. Omite ainda como os interesses dos Estados Unidos (que numa curiosa ironia história revelam agora seu caráter invasivo autoritário sobre a soberania nacional brasileira) foram colocados acima de uma agenda de reformas voltada ao combate da pobreza e da desigualdade social no país. Para restaurar essa memória sonegada somente algo como uma Comissão da Verdade que resolvesse investigar a sério as relações da mídia com a ditadura. Mas essa é outra história.

A “autocrítica” das Organizações Globo desatou uma onda de comentários irônicos e sarcásticos na noite desta segunda-feira nas redes sociais. Teria a Rede Globo cometido outros “equívocos” (como chama) nestes 50 anos? No Twitter, no Facebook e em outros espaços, várias sugestões e lembranças foram feitas neste sentido, indicando que, se a Globo realmente pretende fazer um resgate da memória de sua presença no Brasil nas últimas décadas, terá um longo trabalho pela frente e, talvez, novos editoriais a serem escritos. 

O debate nas redes sociais nesta segunda-feira sugere que, assim como o texto da Globo afirma, não é de hoje a consciência deste e de inúmeros outros “equívocos” desta empresa de comunicação. Confira alguns comentários sobre o editorial da Globo e algumas sugestões sobre futuros editoriais:

Lucas Rohãn, jornalista: “Pedido de desculpas demorou 50 anos. Quero estar vivo em 2039, quando rolar o mesmo sobre a eleição do Collor”.

Cintia Barenho, bióloga: “Hoje aprendemos que admitir erro não tem nada a ver com pedir desculpas”.

Duda Backes, advogado: “Globo suspende novela das 21h até 2016. Motivo: JN vai utilizar horário para editoriais de desculpas. Amanhã: eleição do Collor”.

José Simão, humorista: “A Globo demorou 50 anos pra admitir um erro? Nem o Rubinho ia demorar tanto”.

Cynara Menezes, jornalista: “Mortos, torturados, desaparecidos. Como a Globo apoiou a ditadura militar no Brasil manipulando o povo. Sexta-feira no Globo Repórter”.

Luiz Greenhalgh, advogado: “50 anos depois, O Globo se desculpa pelo apoio ao golpe contra o presidente João Goulart. Em 2036, irá se desculpar pelo mal que faz hoje”.

Grouchomarxismo: “Globo pede desculpas dizendo que foi induzida ao erro pelo povo. Genial! Foi você, Merval?

Cristóvão Feil, sociólogo: “Globo faz autocrítica por ter apoiado o golpe de 1964. Ok. Agora falta devolver os dividendos auferidos pelo apoio”.

Silvia Sales, jornalista: “Globo foi bem recompensada pelo apoio ao golpe, construiu um império midiático por conta das boas e generosas relações com os militares”.

Caio Tardelli, poeta: “A Globo apoiou o golpe por causa do povo? É mesmo? 69% das pessoas 



aprovavam o governo de Jango na época”.

Rogério Correia, deputado estadual de MG: “Autocrítica da Globo não é sincera! Recentemente apoiou a tentativa de golpe na Venezuela contra Chávez e o golpe no Paraguai”.

Laurez Cerqueira, jornalista: “Disseram que o editorial apoiando o golpe foi um erro, mas se esqueceram de dizer que receberam US$ 3,6 milhões do grupo Time Life para comprar equipamentos, montar TV, rádio e jornal e fazer parte da estratégia de combate à esquerda no Brasil como parte da estratégia da Guerra Fria (ver livro A História Secreta da Rede Globo, do jornalista Daniel Herz).

Eduardo Guimarães, blogueiro: Pela lógica, faltam 26 anos para Globo assumir erro da edição do debate Lula x Collor.

Tarcisio Pequeno, professor de Filosofia: “A Globo não apoiou a ditadura, a Globo foi sócia da ditadura”.

Marcos Rolim: Igreja Católica costuma pedir desculpas alguns séculos depois. A Globo é muito mais rápida, 49 anos.

Ricardo Berzoini, deputado federal: Esse arrependimento da Globo parece coisa de alcoólatra ou marido malandro. Promete que nunca mais vai acontecer, mas na primeira chance...


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