quarta-feira, 21 de agosto de 2013

BC atua no câmbio para desencalhar estoque de monopólios estrangeiros


Não é para combater inflação e sim subsidiar múltis
O frenesi em torno do câmbio – com alguns cavalheiros quase gritando que a alta da moeda norte-americana em relação ao real é “assustadora” e outros adjetivos semelhantes – é bem a medida do quanto certas mentalidades ficaram, ou são, dependentes do dólar - em vários sentidos.
O Banco Central desatou a jogar no mercado futuro, na tentativa de conter a cotação do dólar. É justo e exato afirmar que a ação do BC tem por objetivo beneficiar bancos estrangeiros e outros monopólios multinacionais. Aliás, não é um segredo. A nota do sr. Tombini diz exatamente isso: “o Presidente reitera que o BC (…) não deixará de ofertar proteção (“hedge” cambial) aos agentes econômicos e, se necessário, liquidez aos diversos segmentos do mercado”.
Não vamos nos deter naqueles que tocaram o alarme de uma suposta “falta de liquidez” no mercado de dólar. “Falta de liquidez” e falta de dólar é a mesma coisa – mas, com reservas de US$ 370 bilhões, é difícil ver nesse alarme mais do que especulação com o possível pânico de alguns patos. Embora seja verdade que os bancos e multinacionais estão segurando dólares, na expectativa de alta, enquanto o BC o está distribuindo a um preço futuro barato.
No entanto, para que esse charivari? Uma cotação de R$ 2,4 ainda está longe da cotação média de 2002 (R$ 2,92) ou 2003 (R$ 3,08) ou 2004 (R$ 2,93) e é a mesma de 2005 (R$ 2,44), sem que isso tivesse provocado nenhuma catástrofe. Pelo contrário, a hipervalorização posterior do real, sobretudo em 2011 (R$ 1,67) é que causou não poucos problemas para a economia brasileira.
Portanto, o que querem esses elementos?
Em primeiro lugar, aumentar ainda mais os juros – a reunião do Copom é na próxima semana. Assim, diz um deles: “... a disparada da moeda americana reflete um cenário de ampla deterioração dos fundamentos da economia local, e a pressão no câmbio só será aplacada quando o governo der um 'choque de confiança' nos mercados” (Valor, 19/08/2013).
Essa “ampla deterioração dos fundamentos”, por enquanto, tem uma realidade semelhante à da inflação do tomate. Quanto ao “choque de confiança nos mercados”, trata-se do Copom/BC aumentar os juros básicos em 0,75 p.p. na próxima reunião – e, esclarece outro, do governo privatizar rodovias, ferrovias, o pré-sal e o diabo-a-quatro; e fazer até, diz uma senhorita, um “forte ajuste” nos gastos públicos, com redução das aposentadorias (em geral) e dos salários dos funcionários. Em suma, fazer do Brasil uma Grécia dos últimos anos, elevada à enésima potência, pois, além do tamanho do país, o governo já gasta muito pouco com essas coisas. No momento, já está caloteando a Previdência e arrochando os salários dos funcionários.
Sofreguidão fascista à parte, durante bastante tempo, e, sobretudo, nos dois últimos anos, o câmbio artificial, com uma hipervalorização do real completamente manipulada, foi instrumento para devastar nossa economia, especialmente a indústria. Através do câmbio, subsidiaram-se importações e encareceu-se, também artificialmente, a produção interna, com a destruição de não poucos elos da cadeia produtiva, tendo o efeito de lançar a economia na estagnação – com o encolhimento, cada vez maior, da indústria no conjunto dessa economia (cf. FIESP, “Panorama da Indústria de Transformação Brasileira”, agosto/2013 – principalmente os gráficos das páginas 6, 9 e 10, que vão de 1985 a 2011).
Nesse tempo de câmbio altamente destrutivo para o país, nenhum desses elementos que hoje gritam, supostamente “assustados” com a alta do dólar, achou alarmante que empresas estivessem fechando ou sendo queimadas em liquidação para o capital estrangeiro, ou que a parcela da indústria de transformação no PIB tenha se reduzido a meros 13,3%, ou que os produtos industrializados quase tenham desaparecido do valor das exportações. Nenhum deles criticou o governo ou a presidente Dilma por deixar essa situação rolar rio abaixo, sem uma intervenção mais firme no câmbio ou nos juros.
Agora, que o câmbio está caminhando para um patamar mais racional, diz um iluminado do comentarismo econômico: “A política consumista do governo Dilma, sem contrapartida no aumento da oferta interna, está abrindo rombos crescentes nas contas externas, porque o brasileiro queimou dólares em viagens para Miami e na compra de produtos importados” (Celso Ming, OESP, 19/08/2013).
Pois é, leitor, destruíram boa parte da indústria e agora a culpa é sua, que fica por aí, comprando produtos importados, consumindo “sem contrapartida no aumento da oferta interna” - como se esta não tivesse sido restringida pela destruição provocada, exatamente, por importações subsidiadas pelo câmbio hipervalorizado que esses pilantras sempre defenderam, e continuam defendendo. E, que absurdo os “brasileiros” irem a Miami sem ganhar os tubos como comentarista econômico da mídia dos bancos! (Brasileiros? Dos 200 milhões que somos nós, quantos, além do Joaquim Barbosa, foram para aquela breguice de Miami? Ainda se fosse Paris...).
Evidentemente, a presidente Dilma não estabeleceu nenhuma política “consumista”. Pelo contrário, infelizmente o aumento do consumo das famílias caiu de +6,9% em 2010 para +2,1% no primeiro trimestre deste ano – e zero no último mês. E o consumo do governo, que teve um crescimento de +4,2% em 2010, caiu para +1,6% no primeiro trimestre (cf. IBGE, “Contas Nacionais Trimestrais”, janeiro/março 2013).
Além disso, as importações de bens de consumo são apenas 17% do total das importações. O problema não está no consumo pessoal ou familiar. O desequilíbrio está nas importações de insumos e bens intermediários (45% do total), ou seja, as importações sobretudo das multinacionais - e das empresas que não encontram mais esses produtos no mercado interno, pois os fabricantes nacionais foram destruídos ou suspenderam sua fabricação por não suportarem o subsídio às importações e o encarecimento de sua própria produção. É para facilitar principalmente a importação desse tipo de produto que existe o subsídio cambial.
Alguns economistas calcularam o “câmbio de equilíbrio” - aquele que não subsidiaria as importações nem as exportações - em uma taxa de R$ 2,70 a R$ 3,00 por dólar. O cálculo tem razão de ser, pois numa economia sem nenhuma proteção – e com o Mantega retirando as pouquíssimas que ainda havia – é preciso retirar o dumping cambial, o subsídio pelo câmbio aos produtos importados, ou decretar a extinção da indústria nacional (e, por consequência, do crescimento econômico).
Os neoliberais – tanto os imperialistas tipo Milton Friedman quanto os serviçais tipo Gustavo Franco – dizem que, para um suposto combate à inflação, é preciso subsidiar as importações. Com preço mais baixo, elas impediriam os produtos internos de aumentar de preço.
Se fosse verdade, significaria que para combater a inflação é necessário destruir a indústria do país – um belo negócio, pois, sem dinheiro, realmente não existe inflação, mas existe miséria, fome e morte.
Porém, é evidente que a inflação está aqui mais deslocada do que madre Tereza de Calcutá estaria como assessora de Lúcifer. Não é para combater a inflação que os neoliberais subsidiam as importações. Eles o fazem para desencalhar os estoques dos monopólios externos como importações dos países periféricos. E, também, para tornar mais baratas as importações das filiais de multinacionais, ou seja, dos monopólios externos dentro dos países periféricos. Por fim, e não menos importante, para aumentar juros – pois é através do aumento de juros que eles desequilibram o câmbio a favor dos monopólios financeiros.
CARLOS LOPES

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