quarta-feira, 17 de julho de 2013

O serial killer neoliberal


O sr. Samuel Pessoa, neoliberal que escreveu o programa econômico de Serra em alguma das eleições que este perdeu, descobriu uma forma genial de aumentar o investimento público: cortar as pensões por morte. Como todo neoliberal, Pessoa é dono de uma consultoria. Esperemos que ele não esteja aconselhando seus clientes a matarem as viúvas e os órfãos menores de idade (ou inválidos) – pois são estes que recebem as pensões por morte.
O caso é tão curioso e tão relevante para os destinos da Pátria, que temos de sumariá-lo. O problema, diz o sujeito, é que ninguém quer reduzir os salários. Assim, ele foi obrigado a encontrar alternativas. Naturalmente, não pensou em tocar no superávit primário e nos juros, que comem R$ 230 bilhões, em média, por ano, do Orçamento público. Não, leitor, o Pessoa não incorreria em tal falta de disciplina fiscal. O dinheiro dado aos bancos estrangeiros, como todo mundo sabe, é o que garante que o país não consuma o Orçamento em cachaça ou equivalentes – por exemplo, creches, moradias, metrôs, unidades de Saúde, escolas ou universidades, para não falar na cachaça propriamente dita, isto é, nos aumentos de salários.
Assim, felizmente, ele achou as viúvas e os órfãos, esses parasitas. Logo, se eles também morrerem (de fome), vai ser uma beleza para o investimento público. Não é lógico? Vamos transcrever, para que ninguém pense que estamos inventando:
Em alguns casos (…), como as pensões por morte, o despropósito dos benefícios é tão evidente que talvez seja menos difícil enfrentar a luta para reduzi-los [do que reduzir os salários]. Aliás, isso se aplica também ao setor privado. Na verdade, um dos exemplos mais contundentes de por que o consumo do governo é tão elevado no Brasil é justamente o programa de pensão por morte do funcionalismo. Mas o mesmo também pode ser dito do gasto do setor público com as pensões por morte do setor privado. Nesse caso, não se trata de consumo do governo, mas de transferências. De qualquer forma, tudo faz parte da despesa do Estado. O Brasil gasta com pensão por morte, no setor público e no privado, cerca de 3% do PIB. (…) Temos, consequentemente, excesso de gasto nessa rubrica (…). Se, portanto, gastássemos o normal (…) na rubrica pensão por morte, haveria recursos para dobrar o investimento público”.
Jonathan Swift sugeriu, em 1729, que o problema das crianças que passavam fome na Irlanda fosse resolvido por torná-las alimento, pois, “garantiu-me um americano muito sábio, conhecido meu em Londres, que uma criança jovem e saudável, bem alimentada, com um ano de idade, é o mais delicioso alimento, mais nutricional e completo – seja estufada, grelhada, assada ou cozida. E não tenho qualquer dúvida de que poderá igualmente ser servida como fricassé ou num “ragout””.
Menos produtivo, o neoliberal serrista sugere que elas morram (e mais as viúvas) para aumentar o investimento público – provavelmente, o investimento público nos cemitérios.
Por sinal, dizer que o gasto com pensão por morte é 3% do PIB, apenas omite que o PIB não cresce devido, precisamente, aos matadores de velhinhas e crianças da área econômica. Quando o PIB não cresce, é evidente que as despesas parecem altas quando traduzidas em percentagem do PIB. Mas o problema não está nas despesas, e, sim, na falta de crescimento. Nada deixa tão claro quem são esses vigaristas, quanto o fato de que as pensões por mortes são apenas a consequência das pessoas morrerem. O neoliberal não sugeriu uma forma de tornar as pessoas imortais (entrar na Academia Brasileira de Letras, já dizia Grieco, é virar candidato a cadáver...); no entanto, acha um absurdo as pensões por morte.
O leitor pode pensar: será que essa besta não sabe que os trabalhadores pagam para que os familiares daqueles que morrem recebam pensão - aliás, em geral pequena?
Claro que ele sabe disso, leitor. Mas ser ladrão é a verdadeira natureza do neoliberal. O que ele arrumou, com esse genocídio de viúvas e órfãos, foi uma forma de roubar os trabalhadores – e enfiar mais dinheiro no superávit primário, ou seja, nos juros. Nem no dia do juízo final vai aparecer algum neoliberal preocupado, realmente, com o investimento...
C.L.

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