segunda-feira, 17 de junho de 2013

Lula e Dilma acertam o tom


Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Um vez, ouvi de Luiz Carlos Prestes, comentando alguns episódios na China, a frase: “Governo que não se defende merece cair”.

Embora não se esteja tratando de queda de Governo - afinal, apesar da polícia de Alckmin, estamos numa democracia - é inegável que o governo brasileiro andou apanhando feio na luta que, querendo ou não, tem de travar com a mídia que pratica o “terrorismo informativo” ao qual se referiu a Presidenta Dilma Rousseff, ontem, na Rocinha.

Na véspera, em Curitiba – aliás, com Dilma – Lula havia definido: “”É impressionante a falta de verdade no jornalismo econômico”.

“”Achei que deixando a Presidência a imprensa ia me esquecer, mas foi pior”, disse Lula em seu discurso. “Há uma parte da imprensa que parece partido político. Seria melhor que lançassem candidato. Eles sabem tudo”, afirmou.”A companheira Dilma precisa saber que ela não está só, que o governo não está só”.

Mas, Lula, a mídia não se porta apenas como um partido, mas como um partido único, que não permite visões diferentes daquela que ela impõe e transforma em desqualificados e ridículos todos os que ousam ver e pensar de outra forma.

O discurso neoliberal, via mídia, se introjetou dentro das mentes de parte significativa de nossa elite intelectual.

E, devemos admitir, até de parte da soi-disant esquerda brasileira.

Rapidamente palavras como “modernidade”, “gestão”, “profissionalização”, “expertise” passaram a frequentar nosso vocabulário como jóias, enquanto ideologia, ideais, ousadia, e povo perdiam o lustro e se tornavam quase vício, defeitos, arcaísmos.

Quem não se conformou passou a ser tratado quase que como um primário, um maniqueísta privado de olhos para detalhes, tons, nuances e, sobretudo, incapaz de ser flexível e, necessariamente, incompetente.

Mas os rígidos, os intransigentes, os tirânicos são eles, que não admitem qualquer alternativa que não a dominação colonial, a formação de ilhas de prosperidade e sofisticação costeiras, nos entrepostos de onde partem para fora nossas riquezas, ah, e os aviões…

Os pobres, os selvagens, os subumanos que vão para a selva, agora na periferia, os guetos modernos, onde podem apenas assustar-nos, vez por outra, com seus “crimes hediondos”.

Lula quase foi devorado por esse “pensamento único” em seu primeiro mandato.

Salvou-o o povo, que reconhece nele um igual a si – a mesma desprezível identidade que nele enoja a nossa elite – e percebeu, em seu empirismo, que estava ali a possibilidade de se tornar cidadão que, para isso, é indispensável termos um país desenvolvido. E, num inexorável paralelismo, para sermos um país desenvolvido, sermos um país, com tudo o que de independência, altivez e autopreservação ser um país exige.

Quando Lula – e agora Dilma – recuperam a capacidade de dissentir das elites, de falar ao homem e às mulheres simples, de apontar o dedo aos responsáveis pelo atraso desta imensa e rica Nação, estão permitindo que a população corporifique e identifique os obstáculos àqueles desejos profundos, mas quase sempre inexpressos, a animam.

Mas, quando, ao contrário, assumimos os conceitos, os métodos, a ideologia e o discurso insípido e tecnocrático daquela gente, estamos prontos a nos deixar – e, muito pior, ao povo – derrotar por ela.

Porque ela, a elite, só admite a quem trai tão profundamente que passa a ver virtude na sua própria traição, como fizeram Fernando Henrique e José Serra.

Quando fazem isso, tornam-se extremamente destrutivos. Ou não foi assim que Mikail Gorbachev demoliu em pouco tempo um gigante como a extinta União Soviética?

Fazer como eles é tornar-se um deles.

E é isso o que, falando claramente, apontando-lhes o dedo e acusando-os pelo crime de arruinar o país e seus sonhos, permite a um governante popular não terminar seu mandato vazio de significado, espremido como laranja por um sistema que mói seres humanos.

Quando perdemos nossas raízes, também perdemos a seiva que nos alimenta e murchamos, ressecamos, morremos politicamente.

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