quinta-feira, 21 de março de 2013

Marcas e lições da guerra no Iraque


Editorial do sítio Vermelho:

Há dez anos, os Estados Unidos e o Reino Unido iniciaram a guerra ao Iraque, primeiramente com bombardeios aéreos, depois com operações terrestres, que levaram mortes e destruição ao país árabe. Alegaram que o regime de Saddam Hussein estaria produzindo armas de destruição em massa, protegia a rede Al Qaida, era um país do “eixo do mal” e, portanto, atacá-lo era uma medida libertadora para o povo iraquiano e toda a humanidade. 


Foi uma ação unilateral sem autorização da ONU, cujos inspetores de programas nucleares não encontraram provas da acusação principal. Quanto às demais eram peça de publicidade ao gosto da mídia privada, aliada do belicismo. Em 2004, atuando no terreno como autoridades de ocupação, os governos dos Estados Unidos e do Reino Unido reconheceram que não havia armas de destruição em massa, numa evidência de que a ação foi torpe e covarde, baseada em mentiras. 

O conjunto da campanha iraquiana dos Estados Unidos e seus aliados configurou-se como uma das mais violentas guerras da superpotência contra um país soberano. 

Um ano e meio antes, com a justificativa de perseguir os autores dos atentados que resultaram na derrubada das duas torres gêmeas em Nova York, os Estados Unidos já haviam atacado o Afeganistão, onde suas tropas de ocupação, junto às da Otan, prosseguem até hoje. 

A conexão entre os dois fatos está em que ambos demonstraram a opção belicista da superpotência como método para a imposição do seu ditame e para levar adiante os planos de dominação sobre o Oriente Médio e a Ásia Central.

A invasão do Iraque foi um dos mais demolidores golpes da potência imperialista na Organização das Nações Unidas, na sua Carta constitutiva, nas normas do direito internacional e no multilateralismo como método de relações internacionais entre Estados soberanos. Não tendo conseguido a autorização do Conselho de Segurança, os EUA decidiram atacar o Iraque usando como instrumento de “legitimação” uma reunião de embusteiros e governantes servis. No arquipélago dos Açores, território português no ultramar, o presidente estadunidense George W. Bush “compartilhou” no dia 16 de março de 2003 a decisão de invadir o Iraque com os então primeiros-ministros da Espanha, Portugal e Reino Unido, respectivamente José María Aznar, José Manuel Durão Barroso e Tony Blair. 

Ao invadir o Iraque, os Estados Unidos aplicavam uma diretriz traçada no pronunciamento “urbi et orbi” que Bush fez ao mundo em 20 de setembro de 2001, quando, falando a um Congresso ainda sob estado de choque devido aos atentados às torres gêmeas, e utilizando este malsinado acontecimento como pretexto para justificar os passos que daria a partir daí, lançou os fundamentos da “guerra ao terrorismo”, que caracterizou os seus dois mandatos e imprime a marca fundamental da política externa estadunidense neste início de século.

A guerra ao Iraque revelou como a superpotência norte-americana leva às últimas consequências a luta pela hegemonia mundial, objetivo em nome do qual não se detém diante de nada e pode mesmo cometer inomináveis crimes de lesa-humanidade, como efetivamente fez no país árabe.

A doutrina da guerra ao terror, as práticas de “guerra infinita” e “guerra preventiva”, a ameaça latente de usar quaisquer que sejam as armas, mesmo as de destruição em massa, fazem parte de uma estratégia que leva o mundo a uma situação insegura, perigosa, alarmante, em que a soberania nacional e o direito internacional são letra morta.

Esta estratégia afigura-se como um terrível plano de dominação global, com trágicas consequências para a humanidade.

O uso indiscriminado da força bruta, o desprezo pela legalidade internacional e pelas instituições multilaterais, a militarização crescente das relações internacionais, as decisões unilaterais, a dominação unipolar, a imposição da primazia dos interesses estadunidenses no mundo são as práticas e os métodos com que o imperialismo estadunidense impõe este plano ao mundo.

Apesar da nova retórica, com a troca de comando na Casa Branca, tendo à frente Barack Obama já em segundo mandato, permanecem em ação os fatores que geram instabilidade e conflitos, continuam graves as ameaças à paz mundial e à segurança internacional e a essência do imperialismo estadunidense não mudou. É o próprio sistema econômico e político desse imperialismo que se tornou um obstáculo ao desenvolvimento, à cooperação internacional, ao progresso social e uma ameaça à segurança internacional e à paz. Continuam em execução planos de domínio do mundo, prosseguem a militarização, os ataques às liberdades, as violações de direitos políticos e econômicos dos povos, o menoscabo do direito internacional e a agressão à soberania nacional.

A guerra ao Iraque provocou danos irreversíveis àquele país, mas não só. Marcou uma época. Deu um aviso aos povos quanto à essência da política imperialista. Por outro lado, ensinou a não ter ilusões. Somente a união e a luta dos povos contra os planos de guerra e dominação imperialista podem abrir uma nova era de paz e progresso para a humanidade.

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