segunda-feira, 18 de março de 2013

Esquema Veja-Cachoeira agiu contra Renan, revela colunista



Tereza Cruvinel, no artigo “Dedo de Cachoeira”, diz que matéria de Policarpo Jr inventou grampo de Renan contra Demóstenes e Perillo em 2007
A jornalista Tereza Cruvinel colunista do jornal "Correio Braziliense", acaba de trazer à tona um documento do Senado, apontado como sigiloso, que revela mais evidências contundentes das ligações tenebrosas entre o diretor da revista Veja, Policarpo Júnior, e a quadrilha do contraventor Carlinhos Cachoeira.
A queda do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência do Senado em 2007 foi, segundo a jornalista, em seu artigo "Dedo de Cachoeira", conseguida através da montagem de uma "denúncia" falsa feita pela revista com a ajuda de arapongas. A "denúncia" era de que Renan teria montado um esquema para espionar os senadores, entre eles Demóstenes Torres (então do DEM) e o tucano Marconi Perillo, na época senador e atualmente governador de Goiás. A matéria forjada por Veja acabou acarretando a renúncia do peemedebista.
O texto de Veja, "O jogo sujo de Renan", afirmava que o senador havia montado um esquema de espionagem contra seus pares, com direito a câmeras de vídeo instaladas num hangar de Brasília. Veja mentiu dizendo que o ex-deputado goiano Pedrinho Abrão, dono do hangar, teria confirmado o pedido de Renan para instalar câmeras e espionar senadores. O fato, apurado formalmente pelo então corregedor do Senado, Romeu Tuma, falecido em 2010, dizia exatamente o contrário. O material-farsa montado por Veja, segundo Cruvinel, "incendiou o plenário" e foi estratégico para que o então senador Demóstenes Torres abrisse suas baterias contra Renan.
O documento, ao qual a jornalista teve acesso, é a íntegra do depoimento do empresário Pedrinho Abrão ao então corregedor do Senado, Romeu Tuma. O senador ouviu o desmentido, mas pediu o arquivamento do documento, sem divulgá-lo. Tuma fez isso porque estava sendo pressionado pelo DEM, partido de Demóstenes, que viria a ser cassado posteriormente, depois de ser desmascarado como um dos tentáculos de Cachoeira. Marconi Perillo também é denunciado por ligações com Cachoeira. O DEM ameaçava processar Tuma por infidelidade partidária, tirando-lhe o mandato, por ter migrado para o PTB.
No depoimento, Abraão nega taxativamente ao corregedor que o então assessor de Renan, Francisco Escórcio - que fora senador como suplente e hoje é deputado federal - tenha lhe pedido autorização para instalar câmeras no hangar e captar imagens comprometedoras dos dois senadores para chantageá-los.
Em 10 de outubro de 2007, Veja publicou a matéria, assinada por Policarpo Junior e Otávio Cabral, com reportagem de Alexandre Oltramari, afirmando que Renan montara o tal esquema para espionar seus pares. Disse que a trama era chefiada pelo assessor Francisco Escórcio. Que este fora a Goiânia e se reuniu com Abraão, pedindo-lhe para instalar duas câmeras em seu hangar, com o que ele não teria concordado. A reportagem-intriga se esforça para envolver Abraão na trama, diz que ele confirmou ter os senadores como clientes e conhecer os envolvidos. Mas omite as negativas peremptórias de Abraão, apenas registrando que ele negou ter participado de reunião com este objetivo. A matéria diz que o suposto plano de Renan só não foi adiante porque o dono do hangar não concordou.
Depois de incendiar o plenário com a matéria mentirosa, lembra a jornalista, Demóstenes fez um discurso indignado. O DEM e o PSDB apresentaram ao Conselho de Ética a quinta representação contra Renan. As outras envolviam a sua vida privada, mas esta, de que espionava os colegas, fez com alguns deles lhe retirassem apoio. Mesmo após a absolvição pela acusação de uso de dinheiro de um empresário para o pagamento de despesas particulares, o então presidente do Senado não resistiu à série de críticas e renunciou ao cargo.
Cruvinel revela que Abrão tinha relatado a Tuma que Demóstenes o visitara dias antes, afirmando já saber que Francisco Escórcio lhe propusera a arapongagem. "O Demóstenes veio para mim com um ímpeto... me especulando como promotor". Abrão esclareceu que não ouviu proposta em tal sentido e teria acrescentado que o hangar já tem mais de 60 câmeras instaladas. "E tudo filmado por segurança, pois certa vez roubaram um avião aqui". "Então, se eu quisesse fazer ou contribuir com alguma arapongagem, seria a coisa mais simples".
A participação da quadrilha de Cachoeira neste episódio foi confirmada pelas declarações de Francisco Escórcio, hoje deputado. Ele fala sobre o episódio e confirma o conteúdo do depoimento de Abraão a Tuma: "A conversa foi banal. Eu fui a Goiânia contratar o Heli Dourado para mover a ação eleitoral que veio a garantir a posse de Roseana. Na conversa, alguém mencionou Pedrinho Abraão, com quem tive boa convivência no Congresso. Pedi o numero dele e liguei. Ele se propôs a ir lá me rever. O que eu não sabia, e vim a saber, é que, por ser assessor do Renan, tivera meu telefone grampeado pelo esquema deles (Cachoeira). Deduziram que meu encontro com Pedrinho Abraão era alguma armação", afirmou Escórcio.
O documento revelado agora só reforça o que já se sabia sobre o modo de agir do bando e que Policarpo e Cachoeira não tinham limites nas suas armações para desestabilizar o governo e atingir adversários. A realidade mostrou também que títulos da revista como este contra Renan, ou aqueles em sentido oposto como "Demóstenes, o mosqueteiro da moralidade" ou "O menino pobre que salvou o Brasil", na verdade não passavam e não passam de senhas, disfarces e acobertamentos dos esquemas obscuros da revista.
Policarpo Jr, diretor da sucursal de Veja no Distrito Federal, foi flagrado em intensas articulações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira pelas interceptações telefônicas legais feitas nas operações Vegas e Monte Carlo da Polícia Federal, que levaram o contraventor à prisão. Através de Policarpo, Cachoeira plantou matérias na Veja de interesse do esquema da quadrilha. O ex-senador Demóstenes Torres foi cassado porque ficou comprovado que ele atuou no Senado a serviço do bicheiro. E tinha cobertura e apoio de Veja que publicou matéria (entre outras) considerando-o como um dos "mosqueteiros da ética" (matéria de Otávio Cabral e Alexandre Oltramari). Policarpo também utilizava os serviços da quadrilha. Numa das gravações da PF, ele pede a Cachoeira para realizar uma escuta ilegal contra o deputado Jovair Arantes, do PTB de Goiás. Policarpo: "Como é que eu levanto aí umas ligações do Jovair Arantes, deputado?" Cachoeira: "Vamos ver, uai. Pra quando, que dia?" Policarpo: "De imediato, com a turma da Conab".
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