sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

A GENTE NUNCA PERDE POR SER LEGÍTIMO, MAS QUEM CONTA A HISTÓRIA SÃO OS VENCEDORES, NÃO ESQUEÇAM!


O fascismo se expande hoje nas mídias sociais, forte e feioso como um espinheiro contorcido, que vai se estendendo, engrossando o tronco, ampliando os ramos,  envolvendo incautos, os jovens principalmente, e sufocando os argumentos que surgem,  com seu modo truculento de ser.
Para isso, utiliza-se de falsas informações, distorções de fatos, episódios, números e estatísticas, da História recente e da remota, sem o menor pudor ou comprometimento com a verdade, a não ser com seu compromisso de dar conta de um Projeto.
Sim, um Projeto moldado na mesma forma que produziu 1964, que, os minimamente informados sabem, foi fruto de um bem urdido plano, levando uma fatia da população brasileira, a crédula classe média, a um processo de coletiva histeria, de programado pânico, no receio de que o país fosse invadido por malvados de um fictício Exército Vermelho, que lhes tomaria os bens e as casas, mataria suas criancinhas, lhes tiraria a liberdade de ir, vir e até a de escolher.
Assim, a chamada elite, que na época formava opinião sobre a classe média mais baixa e mantinha um “cabresto de opinião” sobre seus assalariados, foi às ruas com as marchas católicas engrossadas pelos seus serviçais ao lado das bem intencionadas madames.
Elas mais tarde muito se arrependeram, ao constatar o quanto contribuíram para mergulhar o país nos horrores de maldades medievais.
Agora, os mesmos coroados, arquitetos de tudo aquilo, reescrevem aquele conto de horror a seu jeito, fazendo do mocinho bandido e do bandido mocinho, pois a História, meus amores, é contada pelos vencedores. E eles venceram. Eles sempre vencem.
Sim, leitores, compreendo quando me chamam de “esquerdista retardatária” ou coisa parecida. Esse meu impulso, certamente tardio, eu até diria sabiamente tardio, preservou-me a vida para hoje falar, quando tantos agora se calam; para agir e atuar pela campanha de Dilma, nos primórdios do primeiro turno, quando todos se escondiam, desviavam os olhos, eram reticentes, não declaravam votos, não atendiam aos telefonemas, não aceitavam convites.
Essa minha coragem, como alguns denominam, de apoiar José Dirceu, que de fato sequer meu amigo era, e de me aprofundar nos meandros da AP 470, a ponto de concluir que não se trata de “mensalão”, conforme a mídia a rotula, mas de “mentirão – royalties para mim, em pronunciamento na ABI – eu, a tímida, medrosa, reticente “Hildezinha”, ousando pronunciamentos na ABI! O que terá dado nela? O que terá se operado em mim?
Esse extemporâneo destemor teve uma irrefreável motivação: o medo maior do que o meu medo. Medo da Sombra de 64. Pânico superior àquele que me congelou durante uma década ou mais, que paralisou meu pensamento, bloqueou minha percepção, a inteligência até, cegou qualquer possibilidade de reação, em nome talvez de não deixar sequer uma fresta, passagem mínima de oxigênio que fosse à minha consciência, pois me custaria tal dor na alma, tal desespero, tamanhas infelicidade, noção de impotência absoluta e desesperança, ao encarar a face verdadeira da Humanidade, o rosto real daqueles que aprendi a amar, a confiar, que certamente sucumbiria…
Não, eu não suportaria respirar o mesmo ar, este ar não poderia invadir os meus pulmões, bombear o meu coração, chegar ao meu cérebro. Eu não sobreviveria à dor de constatar que não era nada daquilo que sempre me foi dito pelos meus, minha família, que desde sempre me foi ensinado: o princípio e mandamento de que a gente pode, com o bem, neutralizar o mal. Eu acreditava tão intensa e ingenuamente no encanto da bondade, que seguia sobre a nojeira como se flutuasse, sem percebê-la, sem pisar nela, como se caminhasse sobre flores.
As pessoas se admiravam: “Como a Hilde, que tanto sofreu, não guarda rancores e mágoas no seu coração?”.
E aí, passadas as tragédias, vividas e sentidas todas elas em nossas carnes, histórias e mentes, porém não esquecidas; viradas as páginas, amenizado o tempo… deu-se então o início daquela operação midiática monumental, desproporcional, como se tanques de guerra, uma infantaria inteira, bateria de canhões, frotas aérea e marítima combatessem um único mortal -  José Dirceu – tentando destrui-lo. Foi quando percebi, apreensiva, esgueirar-se sobre a nossa tão suada democracia a Sombra de 64!
Era o início do Projeto tramado para desqualificar a luta heroica daqueles jovens martirizados, trucidados e mortos por Eles, o establishment sem nomes e sem rostos, que lastreou a Ditadura, cuja conta os militares pagaram sozinhos. Mas eles não estiveram sozinhos.
Isso não podia ser, não fazia sentido assistir a esse massacre impassível. Decidi apoiar José Dirceu. Fiz um jantar para ele em casa. Chamei pessoas importantes, algumas que pouco conhecia. Cientistas políticos, jornalistas de Brasília, homens da esquerda, do centro, petistas, companheiros de Stuart do MR8, religiosos, artistas engajados. Muitos vieram, muitos declinaram. Foi uma reunião importante. A primeira em torno dele, uma das raras. Porém não a única. E disso muito me orgulho.
Um colunista amigo, muito importante, estupefato talvez com minha “audácia” (ou, quem sabe, penalizado), teve o cuidado de me telefonar na véspera, perguntando-me gentilmente se eu não me incomodava de ele publicar no jornal que eu faria o jantar. “Ao contrário – eu disse – faço questão”.
Ele sabia que, a partir daquele momento, eu estaria atravessando o meu Rubicão. Teria um preço a pagar por isso.
Lembrei-me de uma frase de minha mãe: “A gente nunca perde por ser legítima”. Ela se referia à moda que praticava. Adaptei-a à minha vida.
No início da campanha eleitoral Serra x Dilma, ao ler aqueles sórdidos emails baixaria que invadiam minha caixa, percebi com maior intensidade a Sombra de 64 se adensando sobre nosso país.
Rapidamente a Sombra ganhou corpo, se alastrou e, com eficiência, ampliou-se nestes anos, alcançando seu auge neste 2013, instaurando no país o clima inquisitorial daquela época passada, com jovens e velhos fundamentalistas assombrando o Facebook e o Twitter. Revivals da TFP, inspirando Ku Klux Klan, macartismo e todas as variações de fanatismo de direita.
É o Projeto do Mal de 64 de novo ganhando corpo. O mesmo espinheiro das florestas de rainhas más, que enclausuram príncipes, princesas, duendes, robin hoods, elfos e anõezinhos.
Para alguns, imagens toscas de contos de fadas. Para mim, que vi meu pai americano sustentar orfanato de crianças brasileiras produzindo anõezinhos de Branca de Neve de jardim, e depois uma Bruxa Má, a Ditadura, vir e levar para sempre o nosso príncipe encantado, torturando-o em espinheiros e jamais devolvendo seu corpo esfolado, abandonado em paradeiro não sabido, trata-se de um conto trágico, eternamente real.
Conforme disse minha mãe e escreveu a lápis, na carta que entregou a Chico Buarque, às vésperas de sua morte, denunciando que seria assassinada: “Estejam certos de que não estou vendo fantasmas”.
Feliz Ano Novo.
Inclusive para aqueles injustamente enclausurados e cujas penas não estão sendo cumpridas de acordo com as sentenças.
É o que desejo do fundo de meu coração.

JEFFERSON AGORA NEGA O MENSALÃO. O PIG VAI CHORAR ?

Jefferson ao ser atingido pelo PiG furioso


Saiu no twitter da Hildegard Angel

“JEFFERSON DECLARA QUE O TAL MENSALÃO NÃO É FATO É “PURA RETÓRICA”, ISTO É, NÃO EXISTIU!UMA FARSA.O “TENOR” QUERIA APENAS AS LUZES DA RIBALTA”


“QUEM DEU CREDIBILIDADE AO INACREDITÁVEL JEFFERSON? UMA IMPRENSA E UNS POLÍTICOS PREOCUPADOS COM SUAS CONVENIÊNCIAS E NÃO COM FATOS.VERGONHA!”


A seguir, trechos da defesa de Roberto Jefferson ao Supremo

Certo é que as acusações contra o Defendente não se sustentam e são claramente improcedentes e destituídas de qualquer fundamento fático.


Com efeito e isso a todo tempo ficou dito e mostrado, sem contraste, que o Defendente andou sempre nos limites que a lei garante.


Como Presidente de partido político, o PTB, formulou acordo para a campanha eleitoral de 2004, eleição de vereadores, vice-prefeitos e prefeitos, com o Partido dos Trabalhadores – PT.


Não se tratava aí de apoio ao Governo Federal. A eleição era municipal.


No âmbito federal, o PTB apoiou, desde o 2º turno da eleição presidencial, em 2002, o candidato e a coligação que elegeu o Presidente Lula, detendo um ministério do governo, o do Turismo e compondo a base parlamentar de apoio, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.


Isso é notório.


O acordo político para as eleições municipais de 2004 com o PT, envolveram, sim, doação financeira deste para o PTB, da ordem de R$ 20 milhões.


Essa doação aprovada por ambos os partidos tem apoio em lei e, naquele pleito, estava regulada pelas Resoluções do egrégio Tribunal Superior Eleitoral.


Era a Resolução nº 21.609/04, art. 3º, parágrafo único, inciso I, que considerou recurso, dinheiro em espécie e, a Resolução nº 20.987/02, art. 10, inciso IV, que indica doação de partido político como fonte de arrecadação.


Assim, os R$ 4 milhões pagos pelo PT, como parte do dito acordo, nada têm de irregular, dirá criminoso.


A origem desse recurso, que não se poderia presumir ilícita  -  como, de resto, a própria denúncia afirma que “ainda não foi identificada” (fl. 10)  -  segundo o PT, é fruto de recursos próprios seus e de empréstimos bancários.


Não se trata, portanto, como dito na denúncia, de propina.


É recurso lícito, fonte de arrecadação prevista em lei e destinada à eleição municipal de 2004.


Com o governo federal iniciado com a eleição vitoriosa de 2002, de que fazia e faz parte o PTB, suas bancadas, na Câmara e no Senado, desde então sempre votaram e conformaram sua base parlamentar de apoio.


E isso é conceitual e rudimentar na prática parlamentar e política, que aqui se quer criminalizar.


Mas crime não é.


Assim, nada de incomum, estranho ou ilícito, do Defendente, então Líder do PTB na Câmara, defender e votar a favor da reforma da previdência  -  como já pregava desde a Constituinte e da indispensável e urgente reforma tributária.


Nem de novo, desde que essa é a postura programática do PTB e de notória defesa, antes mesmo da Constituinte de 1987.


E se não sabe o acusador a origem daquele recurso, como afirmar que é ilícito e, por isso, atribuir ao Defendente que empenhou-se no seu branqueamento ou lavagem ?  Non sense !


Paulo Skaf: interesses de raiz contra o IPTU

Arquivo

Oportuna revelação de reportagem da Rede Brasil Atualmostra que o presidente da Federação das Indústrias do Estado de SP, Paulo Skaf, age em benefício próprio na cruzada para os ricos não pagarem o IPTU progressivo previsto pelo prefeito da capital, Fernando Haddad.

Skaf  há muito deixou de ser  industrial e menos ainda guarda qualquer identidade com o figurino do interesse público com o qual se apresenta nas propagandas enganosas na tevê.

Seu negócio, sintomaticamente,  é o mercado imobiliário. Os laços neste caso são estreitos e antigos. Coisa de raiz.

Em 2004, a revista Istoé , em um perfil elogioso do então candidato à presidência da Fiesp, revelou, digamos assim,  o pendor de berço pelo ramo: ‘ (Skaf)  fechou seu primeiro negócio aos 14 anos, quando ganhou um dinheiro razoável, uma comissão pela venda de um andar na avenida Paulista, de propriedade do pai de alguns amigos, para um grupo empresarial japonês’.

Tomou gosto pela coisa.

Hoje, a empresa ativa em seu nome, conforme revela a reportagem da Rede Brasil Atual, chama-se  BTS Empreendimentos Imobiliários Ltda. Opera no ramo da  "Compra e venda de imóveis próprios e aluguel de imóveis próprios".

Já a  Skaf Participações e Administração de Bens Ltda., teve a atividade alterada em 2010 – até então alugava máquinas têxteis do espólio fabril - com foco também em "aluguel de imóveis próprios, gestão e administração da propriedade imobiliária".

Ou seja,  estamos diante da velha figura do senhorio travestida em simulacro de capitão da indústria, que agora fala em nome dos interesses gerais da sociedade  para defender o próprio bolso.

O novo IPTU de SP, implodido pelo sugestivo quarteto formado pela mídia tucana, a Fiesp, o PSDB e  Joaquim Barbosa, elevaria a alíquota da mansões e propriedades de aluguel de Skaf e as de outros nababos quatrocentões que iscaram a classe média contra o prefeito.

Segundo a reportagem da Rede Brasil Atual, o império imobiliário de Skaf  está registrado por valores que equivalem hoje , em média, a 30% dos de mercado.
Com a atualização prevista por Haddad (sobre a qual incidiria o IPTU), chegaria a 59% do preço de mercado.

Simples assim.

Em 2004, quando interessava bombardear o novo herói liberal - que disputava a Fiesp com um candidato ligado ao PSDB e fazia acenos ao Planalto - o jornal Folha de SP montou um perfil revelador do personagem e de suas personas.

O texto revela que além de ser uma ficção de industrial  Skaf  também se notabilizara como mau patrão.

Sua folha corrida incluía então calotes no recolhimento do INSS de funcionários, ademais de pendências trabalhistas pelo não pagamento de décimo terceiro salário.

Para se ‘legalizar’ na corrida pelo voto dos industriais, tornara-se uma espécie de testa de ferro do setor têxtil ao qual já não pertencia há anos.

É esse produto típico do patronato liberal que emerge agora como o campeão dos direitos dos  cidadãos contra uma fórmula de IPTU que taxa mais os ricos para poupar os pobres e financiar serviços  inadiáveis  reclamados por  toda cidade.

A Skaf não se pode negar o  mérito da coerência: ele está apenas aplicando na esfera municipal  os mesmos princípios e valores da trajetória que o levou ao cargo de  patrão dos patrões, mesmo tendo como único vínculo com seus pares um legado de dívidas e calotes trabalhistas.

(abaixo, a matéria da Folha de SP de 29/04/2004)

Novo presidente da Fiesp é um "sem-indústria" 
19/09/2004/FSP

Skaf Indústria Têxtil Ltda., eis o nome da empresa de Paulo Antonio Skaf, o presidente eleito da Fiesp. Tem sede em São Paulo e filial em Pindamonhangaba. Figura nos cadastros da Receita Federal como firma "ativa". No mundo real, foi à breca.

 Sob a biografia de sucesso no ramo do sindicalismo patronal, Paulo Skaf esconde um infortúnio que deslustra o currículo do homem de negócios. No próximo dia 27, a Fiesp passará às mãos de um "sem-indústria".

 A ficha de inscrição da chapa que triunfou na Fiesp informa que, além de dono da Skaf Indústria, Paulo Skaf é vice-presidente do conselho administrativo da Paramount Lansul S.A., empresa do amigo Fuad Mattar.

 "Eu convidei o Paulo [Skaf] para o conselho há uns seis, oito meses", conta Fuad Mattar. "Temos pelo menos uma reunião por mês. Se ele usou o nome da Paramount, isso me enche de orgulho."

 A julgar pelo conteúdo dos computadores de Brasília, o abrigo no conselho da Paramount foi providencial para Paulo Skaf.

 De acordo com os arquivos do Ministério do Trabalho, deu-se no dia 2 de janeiro de 2001 a demissão de Janete Alves dos Santos. Era a última empregada que a Skaf Indústria Têxtil mantinha registrada no cadastro da Rais (Relação Anual de Informações Sociais). Janete recebia R$ 1.577,21 por mês quando foi para o olho da rua.

 Os terminais eletrônicos do INSS anotam o nome de outro "empregado", único sobrevivente na folha salarial da companhia. Vem a ser o próprio Paulo Skaf. Em dezembro de 2001, data da última atualização dos dados, amealhava R$ 180 mensais.

 Mergulhando mais fundo nos anais do INSS, descobre-se que, ao tempo em que mantinha quadro regular de funcionários, a Skaf têxtil acumulou dívidas com a Previdência. Em abril de 1999, quando o débito somava R$ 918,6 mil, o governo, então sob FHC, decidiu bater à porta dos tribunais.

 Em agosto de 2000, a Justiça expediu mandado de penhora dos bens da indústria Skaf. Era tarde. Cinco meses antes, a empresa aderira ao Refis, o programa de parcelamento de débitos fiscais. Além da dívida com o INSS, Paulo Skaf reconheceu um passivo com a Receita. Tudo somado, o total parcelado foi a R$ 1,074 milhão.

 Sancionada por FHC em abril de 2000, a lei do Refis abriu uma janela de oportunidades. O pagamento dos tributos em atraso foi atrelado a um percentual do faturamento (1,5% no caso da indústria Skaf). Sem prazo para a quitação.

 Entre março e dezembro de 2000, a Skaf têxtil recolheu ao fisco R$ 360 mensais. A partir de janeiro de 2001, passou a pagar R$ 12 por mês.

 Adocicado pelo Refis, o passivo da firma de Paulo Skaf foi excluído do rol de pendências sujeitas a ajuizamento. Folheando o processo de cobrança movido pelo INSS (2ª Vara de Execuções Fiscais de São Paulo), o repórter descobriu que o governo tentou levar adiante a execução.

 A procuradoria do INSS alegou que, apesar do parcelamento das pendências pretéritas, a indústria Skaf deixara de efetuar o pagamento de débitos correntes de 2001. Mencionaram-se contribuições sociais incidentes sobre o 13º salário dos empregados.

 Em resposta, os advogados de Paulo Skaf levaram aos autos um documento que corrobora a atmosfera de ruína que corroeu a empresa. A peça de defesa está datada de 24 de setembro de 2002. Anota à página cinco: "Com relação ao 13º salário de 2001, cumpre ressaltar que a empresa não dispõe de funcionários, razão pela qual não houve obrigação de recolher contribuição social".

 Em julho de 2003, já de olho na Fiesp, Paulo Skaf agiu como se desejasse suavizar a imagem de sua indústria. Migrou do Refis para outro programa de parcelamento, baixado sob Lula. Chama-se Paes.

 A despeito de ter sido apelidado no Ministério da Fazenda de "Mães", o Paes tem regras menos concessivas que as do Refis. Um exemplo: fixa o prazo de 180 meses para liquidação dos débitos. A primeira parcela amortizada pela Skaf têxtil foi de R$ 2.000.

 Súbito, a dívida tributária da empresa minguou. Nos computadores da Receita, caiu da casa do milhão para R$ 398.189,98 (valor de maio de 2004). 
"Aproveitamos créditos decorrentes de processos administrativos e judiciais", informa Helcio Honda, advogado do presidente eleito da Fiesp.

 O diabo é que, por ora, o INSS desconhece a compensação de créditos. Nos arquivos eletrônicos do instituto, que não dialogam com os congêneres da Receita, o débito previdenciário da firma somava na última segunda-feira R$ 977,2 mil.

 Nas palavras do advogado Honda, Paulo Skaf é "um patriota". Foi por "seriedade" e não por conveniência eleitoral que abdicou de um programa que o favorecia, o Refis, para ingressar em outro mais draconiano, o Paes. A dívida remanescente, diz ele, "será quitada em 143 meses".

 O doutor Honda informa que a indústria de seu cliente começou a definhar na década de 90. Foi dobrada pela concorrência dos têxteis vindos da China.

 A Junta Comercial de São Paulo guarda um documento que diz muito sobre o estágio atual dos negócios do novo presidente da Fiesp, eleito sob os auspícios do Palácio do Planalto. Trata-se da ata de fundação, em maio de 1998, da empresa Turn Key Parques Empresariais Ltda.. Tem como sócios Paulo Skaf, Aref Farkouh e Cláudia Farkouh.

 A Turn Key dedica-se a alugar o maquinário que jaz nas instalações da indústria Skaf. De industrial, o novo presidente da Fiesp converteu-se em locador de utensílios têxteis. Uma atividade que, segundo o doutor Honda, proporciona lucros "pouco expressivos".


“O único critério de verdade é a prática”

O filósofo Mario Sergio Cortella traça um histórico das políticas públicas para a educação no Brasil, comenta a situação do professor e contesta o modelo educacional adotado no estado de São Paulo. “”Para ver se o projeto funciona ou não é só você verificar o que aconteceu nos últimos 14 anos e analisar o resultado. É melhor reavaliar o projeto ideológico que está por trás””
Por Glauco Faria e Renato Rovai
Fórum – Desde a redemocratização, o que foi feito em relação à educação e o que deixou de acontecer na área?
Mario Sergio Cortella – Em 1977, o grande Darcy Ribeiro fez uma conferência em São Paulo em uma reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) na PUC-SP. Ele fez uma análise genial da crise da educação no Brasil e pôs isso em um texto, que era a conferência dele, chamado “Sobre o Óbvio”. Ali, disse que a crise da educação no Brasil não é uma crise, é um projeto. Assim, deixa claro o que aconteceu no país durante décadas.
O Brasil é um país que fez 509 anos de fundação, mas o Ministério da Educação foi fundado somente em 1930. Antes de 1930, não havia nenhum órgão nacional que cuidasse da educação. Aliás, a primeira universidade brasileira de fato é a de São Paulo, fundada em 1934. Para se ter uma ideia, Peru, Bolívia, Paraguai já tinham universidades no século XVI.
Fórum – E a primeira faculdade foi criada para dar um título…
Cortella – Isso, um título ao rei Leopoldo, da Bélgica. Existiam faculdades no Brasil, mas a primeira universidade é a USP. Quando as elites de um país, propositadamente, não cuidam da educação pública, é um sintoma de que não há a necessidade de fazê-lo para sustentação do seu poderio econômico. No período da República, a educação só entra como prioridade a partir de 1930, quando há a revolução liberal, graças a pioneiros como Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo que levaram a essa lógica.
Por incrível que pareça quem vai potencializar de fato a educação como elemento de integração nacional será a ditadura militar. É ela que em 1964, ao assumir no golpe, gerencia a estrutura política e econômica até 1985, e vai dar uma certa integralidade a uma noção de educação pública com todos os desvios que carregou e que podemos mencionar. A crise da educação no Brasil não tem sua agudização no governo militar por ser um governo militar. Mas porque ele implantou junto com as elites e com a burguesia uma série de políticas econômicas e sociais que relegaram a educação a um patamar secundário justamente quando ela se tornava pública.
Dou um exemplo. Em 1964, o Brasil tinha 70% dos brasileiros no campo ou em cidades pequenas. O que significa que o aparelho educacional público era suficiente para aqueles que o frequentavam, já que de fato apenas 30% dos brasileiros tinham demanda por educação pública. Vamos pegar 2004, 20% dos brasileiros estão nas cidades pequenas e no campo. Isto é, em 40 anos houve uma inversão, foi o maior deslocamento de população do campo para a cidade que o Ocidente teve. Em função do modelo econômico, a infraestrutura para a produção capitalista se concentrou nas áreas urbanas e isso provocou o deslocamento da população.
Isso é importante porque nos últimos 40 anos a educação pública se tornou, de fato, pública. Isto é, passou a ter povo dentro dela, e em grande quantidade. Nesse período, os investimentos foram decaindo de 1968 até 1988. Essa mudança que vai agudizar uma crise. Não se confunda qualidade da educação no Brasil no passado com privilégio. Quando se tem algo bom para poucos, não é qualidade, é privilégio. Sempre dou um exemplo, São Paulo é uma cidade na qual se come muito bem, isso é verdade, mas quem come? Temos um parque cultural de cinemas, teatros, museus, imbatível, mas quem os frequenta? Dizer que São Paulo tem grande qualidade para o parque cultural letrado, talvez seja mais fácil dizer que a cidade tem uma grande estrutura de privilégio para o parque cultural letrado.
É fácil entender alguns fenômenos. O primeiro deles é que o deslocamento da população do campo para a cidade levou a um inchaço da estrutura de demanda por escola. A mesma coisa na saúde, na habitação, no saneamento básico, que são as áreas que estão em crise sempre. Segundo, tivemos que trazer uma religiosidade popular das igrejas neopentecostais, cujo pavor pelo demônio veio do campo para a cidade, uma elevação da música sertaneja como critério de musicalidade vendável. Não foram só as pessoas que vieram do campo para a cidade, a sua cultura veio. Nessa hora que a Igreja Católica perde território – porque é um momento em que ela discute a visão social do evangelho, bate contra o grupo que deseja a oração e leva a um certo esvaziamento da igreja –, aqueles que adotaram o demônio como seu avatar crescem, especialmente nas áreas periféricas, que são justamente formadas por aquelas pessoas que vieram do campo.
A ditadura agudizou a crise da educação no Brasil? Sem dúvida, mas não por ser uma ditadura em si, mas porque fez um projeto capitalista com as elites. Juntar elite predatória, classe política canalha e classes médias acovardadas é uma receita muito boa para se criar uma condição econômica privilegiada e uma da educação que é de miserabilidade.
A ditadura deu ênfase à educação básica, como não havia acontecido antes. A Nova República do [José] Sarney e depois o governo FHC não deram atenção à educação básica, exceto quando o ministro Paulo Renato fez uma coisa positiva que foi a criação do Fundef, hoje Fundeb. Mas é só lembrar que a alfabetização de jovens e adultos no governo FHC estava na área de bem-estar social, da Comunidade Solidária, que é uma ideia boa, mas tem que estar vinculada ao sistema de educação.
O Brasil está deixando a indigência na área de educação nos últimos 15 anos. Portanto, no governo Fernando Henrique, no governo Lula, começa a se abandonar a indigência na área educacional. Mas isso não nos deixa alegremente exultantes e nem deve nos deixar desesperados por percebermos que falta muito. Para usar uma clássica e antiga frase, não estamos no começo do fim, estamos no fim do começo. Por isso, há um outro elemento. Os liberais, hoje chamados neoliberais, foram responsáveis pelo agravamento da crise da educação resultante do modelo econômico escolhido durante a ditadura pelas elites, sob gerenciamento dos militares. Haja vista que, quem foi ministro da Educação antes do governo Fernando Henrique Cardoso, isto é, na Nova República e na ditadura militar? Jarbas Passarinho, Jorge Bornhausen, Carlos Chiarelli, Hugo Napoleão, Marco Maciel…
Fórum – Houve uma continuidade de pensamento.
Cortella – Isso. Para quem diz que o problema da educação é falta de continuidade… (risos). Posso incriminar a ditadura, como ditadura em si, pelo viés da educação? Não. Pelo modelo econômico compartilhado pelas elites, sem dúvida. Pela proposta social de desprivilegiamento da educação com a introdução da LDB de 1971 que tornou a profissionalização do ensino médio compulsória desorganizou o sistema. Por outro lado, criou uma coisa boa, que foi o fim da separação entre o primário e o ginásio com o antigo exame de admissão que existia e que obrigava a fazer um vestibular para entrar no ginásio. Imagine a massa de despossuídos que ficava de fora desse circuito.
A democracia faz bem ao país por várias razões. A primeira delas é que a Constituição de 1988 previa uma coisa especial: pela primeira vez na República, havia o direito de voto ao analfabeto. Isso não é pouca coisa. Na primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso, de acordo com os dados do TSE, de cada três eleitores adultos, um era analfabeto. Um terço do eleitorado acima de 18 anos era analfabeto e ficava excluído do processo.
A questão da escolarização interessa muito aos despossuídos, gente escolarizada tem o hábito de desprezar a escola. Gente inclusive altamente escolarizada costuma escrever livros contra a escola. Como já passou por ela, já se beneficiou, então escreve livros contra a escola, que vendem muito. Mas esses livros não fazem sucesso junto a pessoas que não têm escolaridade.
Última coisa: falar em educação no Brasil é falar em educação pública e 87% das vagas da educação básica no Brasil estão na área pública, 13% no setor privado. Portanto, se vamos conversar de educação pública, vamos falar da educação que pega 87 de cada 100 alunos no país. É bom ressaltar que a questão não é escola pública contra escola privada, mas escola boa contra escola ruim. E boas e ruins temos em ambos os campos. A escola privada, a confessional, é um direito dentro de uma democracia; e a pública é um dever do Estado e um direito do cidadão. E, sob este ponto de vista, o que fez a ditadura militar? Organizou um pouco o planejamento da educação brasileira; segundo, extinguiu alguns elementos de exclusão, com a junção de primário e ginásio; terceiro, começou a estruturar mecanismos de avaliação, ainda iniciais, do ensino superior no Brasil. Mas, seu nível de financiamento da educação pública foi irrisório diante das necessidades. Portanto, se permitiu e se incentivou que as pessoas viessem para as cidades mas não se garantiu a elas qualidade de vida, vitimando muita gente nesse processo.
A democracia trouxe a possibilidade de maior gestão democrática, de eleição de pessoas e grupos que não estavam no circuito com prioridade para a área de educação, trouxe a necessidade de maior fiscalização da imprensa e de organizações não-governamentais em relação ao aparato educacional público, agregou grandes massas que tiveram participação e uma inserção social muito forte. Até o modelo econômico voltado para o incentivo à cana-de-açúcar trouxe uma coisa curiosa, que é a organização do trabalhador volante – ou boia-fria como se diz no Sudeste –, que mora na cidade e demanda educação, o que levou a uma maior escolarização na área do campo.
Se olharmos hoje, que digo eu? Depois de 509 anos de história, há uma educação que começa a dar seus passos. Atingiu quase a universalização do ensino fundamental mas não atingiu a permanência.
Fórum – Isso leva o senhor a dizer que a educação está saindo da indigência?
Cortella – Está saindo da indigência nos últimos 15 anos porque temos sistemas de avaliação organizados; uma reestruturação, no governo Lula, do ensino superior com uma maior presença das camadas economicamente despossuídas; a necessidade de reorganização do vestibular que, tal como a jabuticaba, só existe no Brasil; a reformatação do sistema nacional de formação docente, que está sendo estudado pelo Fernando Haddad; o que o Paulo Renato como ministro fez, que é organizar um fundo de financiamento para o ensino fundamental, mas que tinha um pecado que foi corrigido pelo ministro Tarso Genro e depois pelo Haddad, que era deixar de lado a educação de jovens e adultos e a educação infantil. As universidades federais estão se organizando e há uma abertura imensa de vagas nessa área porque a ditadura militar fez algo que foi completado nos governos Sarney, Itamar e Fernando Henrique, que foi a privatização do ensino superior.
Fórum – Tem-se a impressão de que no governo FHC não se fez nada nesse sentido.
Cortella – Não se fez, ao contrário, o Conselho Nacional de Educação se tornou um grande cartório de homologação do ensino privado brasileiro, haja vista que hoje apenas 22% das vagas de ensino superior estão no sistema público, exatamente o inverso do que havia em 1964. Razão pela qual a questão do vestibular está ligada a isso, a questão tecnológica também e o fato de que sobram vagas no Brasil nessa área.
Portanto, crise em educação é uma coisa inata. Porque educação é processo, processo é mudança e, portanto, tem crise continuada. Mas, mais do que crise, houve é indigência e volto a Darcy Ribeiro: a educação nunca foi uma tragédia, foi um drama. A diferença entre tragédia e drama é que o trágico é decidido pelos deuses e os humanos não têm como lidar; o dramático é que temos escolha. A crise da educação no Brasil sempre foi uma escolha, um plano, deixou de sê-lo nos últimos 15 anos. Isso não significa, na grande viagem da comédia dantesca, que estejamos entrando no Paraíso. Estamos começando a sair do nono círculo de fogo do inferno. Mas chegaremos ao Paraíso porque temos condições de fazê-lo. Há forças sociais que se movimentam nessa área, a crise existe, mas temos saída.
Por último, muita gente diz que o Brasil vai crescer no dia em que tiver educação em larga escala. Essa equação não é tão automática, se fosse assim, não seríamos o número 66 no IDH em Educação e a décima economia do mundo. Educação é um bem, uma riqueza. O problema não é a posição em que ela está, o problema é que ela não é redistribuída. Portanto, sendo um bem não redistribuído, não adianta tê-lo em alta densidade, é preciso tê-lo em alta extensividade de absorção. A ditadura tem seus pecados, mas não tem todos.

Fórum – Dentro da estruturação desse projeto, desde a ditadura e que se estendeu na redemocratização, como ficou o papel do professor?
Cortella
– No início dos anos 1960, pegando-se uma década que teve turbulência em muitos momentos, grandes sonhos até 1964, grandes pesadelos a partir dele, o ressurgimento do sonho em 1968, tivemos muitas utopias elevadas e outras esmagadas. Ali se tinha o professor de escola pública como um profissional de alta qualificação, com um salário que equivaleria hoje, no inicial, a por volta de R$ 6 mil. Mas é preciso lembrar que essa escola era para pouca gente, tanto para as elites como para as camadas pobres que viviam nas cidades junto com as elites. Daí dizem que no passado o filho da empregada estudava junto com o filho do médico. Mas era só um médico e a empregada dele, não as não-empregadas que não estudavam, era outra lógica.
Dentro disso, essa década traz uma posição do professor que era mais valorizada. Quem é do interior como eu, que nasci em Londrina, para uma visita na cidade você mostrava a casa do delegado, do juiz de direito e da diretora da escola. O que acontece é que nos últimos 50 anos tivemos uma depauperação contínua e acelerada da formação docente; uma multiplicação imensa das atividades que a escola passou a absorver e que antes não tinha; e uma entrada de docentes sem uma formação completa porque formados no sistema privado de ensino. Às vezes, o setor privado de educação diz que a rede pública é responsável pela má qualidade, mas o professor de rede pública é formado extensamente na rede privada de ensino superior, portanto, a maior responsabilidade se localiza no sistema privado. Houve também o rebaixamento de salário em função também da banalização da profissão, muita gente passou a encará-la como uma forma de complementação do orçamento. A profissionalização universal e compulsória que o governo militar colocou de 1971 a 1982 levou a que profissionais que não eram da educação entrassem na docência, pela obrigatoriedade do currículo específico. Pessoas que tinham que ensinar Física, Biologia, parte de ensino profissionalizante, que não eram profissionais da área, portanto, não tinham naquilo um corpo de atividades no cotidiano. Tudo isso levou a que o professor hoje quase tenha um lema de “Vote em Jesus para Cristo”, o professor é incriminado. Não que não tenhamos responsabilidade sobre problemas na educação, mas a responsabilidade não é exclusivamente nossa.
Por outro lado, a educação não é um crime perfeito onde só tem vítimas. Tem autores. Existem causas extra-escolares para as dificuldades na educação. Como mencionei, as elites predatórias, uma economia que apropria o coletivo para uma parcela diminuta, classe médias acovardadas que utilizam a escola pública como ameaça para seus filhos: “se você não se comportar vou te por em uma escola pública, estudar com uma ralé”. Quando Benedita da Silva assumiu o governo do estado do Rio de Janeiro, foi ao palácio, lotado de tapetes, alguns do tempo do Império, e um jornalista fez uma pergunta extremamente escandalosa e elitista: “como a senhora se sente, já que mora em uma favela, pisando nesses tapetes?”. Ela respondeu: “não tenho nenhuma dificuldade, eu e todos os meus antepassados que vieram da África passamos séculos esfregando e limpando esses tapetes, temos o direto de pisar neles agora”.
Por que digo tudo isso? Porque houve uma depauperação das condições de trabalho e as sociedades que incharam as metrópoles levaram a que a escola assumisse algo que nunca deveria ter assumido. Educação não é sinônimo de escolarização. Educação é tarefa da família, a tarefa da escola é escolarização. De repente a escola teve que fazer educação física, científica, matemática, artística, sexual, ecológica, para o trânsito, oferecer merenda, cuidar da saúde e ela não tem estrutura para fazer isso.
Fórum – Uma transferência de responsabilidades?
Cortella
– Sim, algumas escolas, sobretudo privadas, fazem uma coisa altamente mentirosa. Uma escola que anuncia no seu site que oferece “educação integral” deveria ser enquadrada no artigo 171 do Código Penal, estelionato. A escola não faz educação integral, pode fazer escolarização. A educação integral se dá pela família, nas instituições sociais, no grupo de amigos, no sindicato, na mídia, ela só pode ser feita no conjunto da socialização. Por isso, essa depauperação das condições de vida docente fizeram com que houvesse um descompasso entre a formação docente e as necessidades.
Quando a escola pública se tornou pública, uma parte dos docentes não estava preparada para lidar com o que não era ligado às classe médias. Em outros tempos, a professora passava a lição de casa e pedia para os pais ajudarem. Nas periferias das grandes cidades, quase 80% das crianças que estão no segundo ano do ensino fundamental têm mais escolaridade que os pais. O que significa que se eu for um docente que foi formado levando em conta que o pai e a mãe auxiliem na tarefa, estou fadado ao fracasso.
A criança que não tem pais alfabetizados não tem estímulo. Uma das maneiras de melhorar a educação básica é alfabetizar o adulto. Isso eleva a condição educacional das crianças. A formação docente tem que ser tal como o governo federal vem começando a propor, um sistema nacional de formação docente, com uma proposta nacional de prova de concurso, que cada um vai adaptar para a sua realidade local. É importante citar a mudança que o governo fez na Capes, que sempre cuidou apenas do ensino superior e que hoje tem uma câmara de educação básica da qual faço parte. Ao mesmo tempo, é preciso que as avaliações sirvam para a mudança. Não podemos nos tornar grandes fabricantes de termômetros, temos que usar o termômetro como ferramenta indicativa de distúrbio e mexer no distúrbio.
Isso vem sendo trabalhado nos últimos 15 anos, estamos ainda dando os passos iniciais, mas os passos estão sendo dados. Agora, por exemplo, o governo federal está propondo uma bolsa para o professor. Como você tem bolsa para residência médica, uma residência na área de educação. Mas a grande novidade é colocar o sistema público de ensino e se puder, na sequência, colocar as confessionais e comunitárias, na relação com a educação básica, ao invés de haver esse distanciamento. Até agora quem decidia como seria o ensino médio era o vestibular da universidade, quando a lógica teria que ser inversa. Agora, com a utilização – optativa – do Enem por parte das universidades federais, a lógica muda.
Toda vez que se fala em vestibular, as pessoas opinam “tem que ser assim, tem que ser assado” e, no fundo, estamos discutindo o tamanho da porteira ao invés de falar da reforma agrária da universidade. Nós, professores, no momento, estamos na berlinda. Até porque vários secretários da Educação, inclusive no estado de São Paulo, vêm responsabilizando o professor por essa situação.
Fórum – Nesse contexto, como o senhor vê a política de bonificação e premiação do professor implementada no estado de São Paulo?
Cortella – O projeto tucano e o projeto lulista, chamemos assim, são diferentes em várias coisas e não em outras. Fernando Haddad hoje – também dando sequência a iniciativas de Tarso Genro – fez, com a expansão, que as federais estivessem a serviço da sociedade. O ensino médio, com a profissionalização tecnológica, que levasse a uma qualificação do trabalho dentro da sociedade. A grande diferença entre os dois governos é que o governo Lula tem uma concepção federativa e federalizadora da educação que o governo tucano não tinha. O governo Fernando Henrique imaginava que a autonomia de cada unidade deveria ser respeitada por conta de suas especificidades, e o governo lulista entende que a educação tem que ser federalizada, um vestibular único, um exame nacional de seleção único. E único não significa exclusivo, mas sim baseado em um patamar único. É a percepção de que é preciso fazer, e fazer juntando as forças nacionais. Nesse sentido é positivo.
O governo Fernando Henrique Cardoso e a gestão em São Paulo desde o governo Mário Covas até hoje se dá a partir das orientações do Banco Mundial. É só lembrar que parte dos educadores tucanos não é de desqualificados, ao contrário, tem outra percepção, mas todos tiveram algum tipo de pertencimento às políticas do Banco Mundial, inclusive o Paulo Renato, que viveu em Washington muito tempo, a Guiomar Namo de Mello [ex-secretária de Educação do município de São Paulo] até há pouco era presidente da Fundação Victor Civita, do grupo Abril… Essa lógica de um viés mais privatista, que deixa que as forças sociais e o setor privado se encarreguem de ocupar o que é gerador de qualidade, e que eu chamo de privilégio, é um grande diferencial.
Hoje, no governo estadual de São Paulo, principalmente de Paulo Renato e antes de Maria Helena Guimarães de Castro, que é uma grande professora e intelectual, é preciso centralizar a ação docente em função de um material. E esse material, que é o apostilamento da educação, é o grande motivo privatista na área de educação nas redes públicas país afora. Há grandes grupos privados cuja receita é o apostilamento do ensino municipal. Um grupo que atua com a produção de texto, de livro, e o município apostila…
Fórum – E eles estão se tornando financiadores de campanhas eleitorais.
Cortella – Alguns dos ministros que aí estavam eram proprietários dessas grandes redes. Existe capital internacional nisso também. Não é à toa que o Grupo Pitágoras, que eu gosto muito, faço atividades com eles eventualmente, mas são um grupo poderoso nessa área. Tem capital norte-americano, declarado, e o proprietário é o Walfrido Mares Guia, que foi um grande secretário de Educação de Minas Gerais, cujo principal teórico é o Cláudio de Moura Castro, que veio também de algumas atividades do Banco Mundial e é colunista da revista Veja. Ressalto de novo que não são pessoas que não têm competência na área da sua percepção ideológica da educação. Pelo contrário, têm uma competência sólida. Aliás, é uma pena, porque se menos competentes fossem teríamos uma dificuldade menor para romper determinados parâmetros que considero negativos.
Esse apostilamento da rede estadual paulista, como tudo na vida, tem um elemento de positividade, que é a capacidade de organizar um pouco o conteúdo que estava disperso. Mas ao ser colocado não como uma diretriz, mas como obrigatoriedade, e não fazendo uma formação que prepara o docente para a autonomia, o que ele faz é substituir o docente pelo material didático. Isso é o que se chamava de tecnicismo na educação, isto é, tanto faz se sou da área de filosofia, de psicologia, de comunicação, posso dar qualquer conteúdo pois este não está comigo, está no material escrito. Isto tira a autonomia das redes de ensino, nas municipais dificulta que ela ganhe a independência, porque ela passa a depender desse material. E no dia em que o contrato é rompido, durante anos você teve uma formação por empréstimo. Lembra um pouco Nietzsche quando diz “trouxestes os vossos leões do Pireu até aqui apenas para nos mostrar que o Pireu não é aqui?”. E durante quatro anos, ou seis ou oito anos, você tem aquele apostilamento sem que haja apropriação pela rede municipal, que não produz sua teoria, sua convicção, sua prática refletida. Cria-se uma certa orfandade pedagógica, que é o grande risco.
No caso do governo do estado, não é necessário que a gente pegue a temática do apostilamento e a descarte como se fosse de si negativa. Pelo contrário, ela tem elementos de positividade, se ela fosse uma junção de uma organização de um esforço pedagógico de formação, em conjunto com os docentes, as estruturas associativas sindicais, e que se fizesse um projeto de formação da educação pública no estado de São Paulo. Aliás, Paulo Freire dizia que a prática de pensar a prática é a única maneira de pensar certo. Marx tem uma frase que acho definitiva, “o único critério de verdade é a prática”. Para ver se o projeto funciona ou não é só você verificar o que aconteceu nos últimos 14 anos e analisar o resultado. Se é o mesmo tipo de modelo pedagógico e ele chega com o decréscimo das condições de aprendizagem do código matemático e o código linguístico, é melhor reavaliar o projeto ideológico que está por trás. E isso é algo que acontece no estado.
Por exemplo, Rose Neubauer, que foi secretária da educação do governo Covas, fez uma gestão cuja finalidade era quebrar a espinha da área sindical. E ela fez, porque ao levar a uma municipalização compulsória e precoce, e depois com a entrada em cena da separação das escolas, de primeira à quarta em uma unidade, de quinta à oitava em outra, separou docentes também. Quando Paulo Renato implantou o Fundef, que exigia que o município, para receber os recursos, tivesse um número maior de alunos no ensino fundamental, preferiu municipalizar, o que levou a um enfraquecimento das estruturas do movimento social via sindicato.
Quando ela foi substituída pelo Gabriel Chalita, ele conseguiu algo muito positivo na educação, mas, claro, não foi o suficiente. Ele reencantou um pouco a educação, levando um pouco de estímulo à parte do professorado que não tinha militância política no cotidiano. Ao falar da “pedagogia do amor”, da “esperança”, fazendo grande palestras, como ele é um brilhante palestrante, deu um pouco de ânimo, mas foi uma coisa eventual, já que não teve depois sustentação. Ele foi inspirador, reviu pontos a respeito da progressão continuada, mas foi substituído pela professora Maria Lúcia, freiriana, que infelizmente não permaneceu porque ficou adoentada. E a professora Maria Helena dá continuidade à gestão tucana. Paulo Renato, quando assumiu, não disse o que ia fazer, só falou do viés político. Em época de eleições, como em 2010, começa a haver um discurso cínico sobre educação. Ela vira prioridade, mas prioridade se traduz em recurso e políticas na área.
Fórum – A educação chegou a ter uma centralidade nas últimas eleições presidenciais.
Cortella – Mas perdeu o fôlego, por uma razão: algo só é assunto se a mídia pautar. Senão, sai do circuito.

Estamos assistindo ao fim da imprensa como a conhecemos


Pochmann(FOTO)
“Parece que os jornais assumiram aquilo que eles criticavam da imprensa comunista”, sustenta o economista ao afirmar que os periódicos “escrevem para seus militantes”
“A sociedade está aprendendo a identificar o potencial da rede, que parece ser enorme”
Por Marcelo Hailer
Marcio Pochmann, economista e professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de Estudo Sindicais e de Economia do Trabalho na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), recebeu a reportagem da revista Fórum para conversar sobre o primeiro ano de sua gestão à frente da Fundação Perseu Abramo (FPA). Ele também falou sobre a cobertura política da imprensa e o papel das redes no ativismo.
Segundo Pochmann, a imprensa clássica não dialoga com a geração atual, mas apenas com “seus militantes”. O economista fez uma análise das manifestações de junho e afirma que não se pode fazer uma leitura dos atos tendo como referencial as organizações sociais do século XX. Confira a entrevista abaixo:
Fórum – O que você destacaria deste primeiro ano de sua gestão frente a Fundação Perseu Abramo?
Marcio Pochmann – A Fundação Perseu Abramo tem 17 anos de existência e tem reproduzido a evolução do PT ao longo desse período. 2013, de certa maneira, apresentou algumas conexões mais fortes em relação aos desafios que o partido vem vivendo e nós organizamos a Fundação para responder a três desafios que são centrais na perspectiva do Partido dos Trabalhadores.
Fórum – E quais são esses desafios?
Pochmann – O primeiro desafio foi buscar responder a questão a respeito do projeto petista de governo. O PT é governo em mais de 600 prefeituras, em vários estados, já é governo federal há mais de dez anos e, portanto, tem uma série de carências em relação ao próprio monitoramento das suas ações. Ao mesmo tempo, tem uma necessidade enorme de formação de quadros, de gestores, justamente para viabilizar o projeto petista de transformação da sociedade. Essa reconstrução do projeto em termos de ênfase, de método, de atuação é um dos aspectos que nos fez organizar a Fundação para responder a isso.
O segundo desafio que o PT enfrenta é em relação ao seu projeto para o país e, em última análise, para o mundo. O partido político, do ponto de vista da esquerda, tem essa visão mais ampla em relação ao mundo no que diz respeito à transformação da sociedade. E nesse aspecto a Fundação reuniu cerca de 400 estudiosos, professores, intelectuais de maneira geral, trabalhando em torno de 20 temas que, para nós, são definitivos do ponto de vista de um diálogo sobre o futuro do Brasil.
Fórum – O que estes estudos revelaram até o momento?
Pochmann – Há uma configuração de um novo federalismo no Brasil, um federalismo que não mais depende, na perspectiva do passado, de haver uma “locomotiva São Paulo”, com os demais Estados sendo vagões. Os estudos estão mostrando que temos um Brasil reconfigurado, que a dinâmica está mudando, que hoje nós temos novas elites, há uma reestruturação da sociedade. E como é que o partido está conectado com as grandes mudanças que tivemos na estrutura social? Somos um país que está envelhecendo, ou seja, uma crescente participação de pessoas com mais idade. Tivemos uma mobilidade social enorme no Brasil, fruto da geração de mais empregos, que permitiram à base da pirâmide social se recolocar no mercado de trabalho, mas grande parte dessas pessoas não foram para os sindicatos.Da mesma forma, tivemos mais de 1,5 milhão de jovens que ascenderam à universidade por intermédio do ProUni, mas não se envolveram com as instituições que representam os estudantes; tivemos quase 1,3 milhão de famílias que ascenderam à casa própria a partir do programa Minha Casa, Minha Vida, mas essas pessoas não se engajaram nas associações de bairro e de moradores.
Então, a nossa preocupação é conhecer melhor essa estrutura social para entender os seus desejos, os seus anseios e que medidas o partido precisa desenvolver. Fizemos uma série de debates e pesquisas sobre classes, drogas, reforma política, sobre a mídia. Agora, vamos fazer um debate sobre Estado Laico, sobre a questão das religiões, são vários temas quase que pontuais, mas com o objetivo de entender como conectar esse segmento com a política.
Fórum – Há uma tese de que estes jovens que ascenderam à universidade, as famílias que passaram a ter casa própria, são grupos não foram para os espaços políticos por que os partidos de esquerda esqueceram da sua base. Você concorda?
Pochmann – Temos duas hipóteses para explicar, pelo menos.Uma que é a crise da direção. Ou seja, a direção das instituições não está conectada com estes segmentos que estão ascendendo. A outra é que as instituições que nós não são contemporâneas a esses novos segmentos. Se é um problema de crise de direção, é mais fácil de mudar. E, até nesse sentido, o PT fez um grande debate neste semestre que envolveu meio milhão de participantes e também uma oxigenação na sua direção. Ele está contemporâneo a essa ascensão.
Agora, se de fato for um problema das instituições, aí a questão é muito mais grave. Particularmente, acredito que, de certa maneira, esses novos segmentos que ascenderam representam um fenômeno que ocorreu à margem das instituições que temos, não se envolveram muito com esses segmentos novos. Algumas interpretações é de que estes segmentos são muito conservadores, individualistas, que acreditam que o êxito de sua ascensão se deveu ao seu esforço individual. É natural que ocorra isso quando se trata de uma ascensão sem politização do ponto de vista da interpretação, da narrativa necessária a ser feita pra demonstrar que as pessoas ascenderam por que tiveram um salário mínimo maior e que foi necessário tomar uma decisão para ter um salário mínimo maior. Teve emprego porque houve decisões favoráveis ao investimento e a políticas de renda que integrassem as pessoas de baixa renda.
Fórum – Qual tem sido o papel da rede/ internet no embate no político?
Pochmann – O papel da rede não é, está sendo. É um processo de construção e essa construção é permeada de idas e vindas. A sociedade está aprendendo a identificar o potencial da rede, que parece ser enorme, e a forma como isso pode ser usado por um lado e pelo outro. A nossa preocupação em relação às mídias digitais é em torno da regulação, a construção de um marco civil.
Fórum – Você acredita na aprovação do Marco Civil com a neutralidade de rede?
Pochmann – Se não for pra isso, eu não sei qual é o sentido de ter um Marco Civil.
Fórum – E, falando em redes, nós tivemos as manifestações de junho, que foram organizadas, majoritariamente, pela redes sociais. O que estas manifestações trouxeram?
Pochmann – As manifestações aqui são mais contemporâneas às questões ocidentais do ponto de vista da vida humana neste século e dizem respeito à revolução informacional e dos serviços. Nós estamos transitando de uma sociedade industrial para uma sociedade de serviços e, de maneira geral e heterogênea, as reclamações que levaram o povo às ruas eram questões relacionadas aos problemas de serviço: saúde, educação… A minha leitura é que se trata de serviços públicos: a saúde não funciona, a cidade não tem mobilidade. Se formos olhar do ponto de vista do consumidor, as maiores reclamações são direcionadas aos planos de saúde privada, para as empresas de transporte aéreo, para os bancos, então há um problema nos serviços para os quais não temos grandes respostas, a não ser a resposta derivada da forma de o Estado atuar que vem do século passado, que é trabalhar com caixinhas. O todo ainda é fatiado e as pessoas que foram para as ruas foram reclamar de tudo.  Perdemos a capacidade de olhar o indivíduo na sua totalidade e o Estado ainda não teve a capacidade de entender isso.
Fórum – Muitos setores da política disseram que os atos eram despolitizados, não tinham um foco. Você concorda com essa crítica?
Pochmann – É uma crítica adequada para os movimentos sociais do século XX, que eram constituídos a partir de organizações existentes que articulavam os atos políticos. Esses movimentos (que atuaram nos atos de junho) são característicos do século XXI. Essas pessoas foram às ruas por que não acreditam nas instituições existentes e essa é uma explicação para a qual não tenho resposta, mas acredito que na política, onde não existe o tal do vácuo, em algum momento alguma instituição vai ter que assumir essa contemporaneidade.
Fórum – Recentemente, tivemos a descoberta da máfia dos fiscais a partir de uma investigação da atual gestão municipal de São Paulo. Posteriormente, a cobertura jornalística acabou misturando as responsabilidades da administração Haddad e da gestão Serra-Kassab. Como encarou essa cobertura?
Pochmann – É uma cobertura coerente com a forma de imprensa que temos no Brasil. Incoerente se ela tivesse dado uma certa imparcialidade, o que não aconteceu.
Trabalhei na gestão da Marta (2001-2004), é impressionante a presença da chamada grande imprensa. Encerrado o governo da Marta, iniciou-se outro governo e praticamente desapareceu. Quando tinha um problema na Secretaria de Transporte, a chamada era “O governo da Marta está com um problema assim…”, depois que mudou o governo era “Secretaria X…”, nunca estava vinculado ao prefeito. Na verdade, quando você define a pauta, já é uma coisa muito ideológica. Então, vejo com coerência, incoerência é a nossa de imaginar que a imprensa faria uma cobertura imparcial.
Fórum – Há 20 anos Perseu Abramo escreveu o ensaio “Padrões de Manipulação da grande imprensa” e lá ele já identifica a imprensa enquanto uma força política. Acredita que hoje vivemos isso de maneira aprofundada?
Pochmann – Parece que os jornais assumiram aquilo que eles criticavam da imprensa comunista. Você tinha o Pravda, que sempre tinha uma crítica ao capitalismo, ou seja, era um jornal que escrevia para os seus militantes. Os jornais que temos hoje também escrevem para os seus militantes, escrevem o que eles querem ouvir, e por isso esses jornais estão com dificuldades para ampliar o seu número de leitores, é por isso que os jovens não interagem com esses jornais. Mas eles têm um público cativo, e para manter esse público cativo ficam alimentando uma visão que é, a meu ver, insustentável, isso não tem futuro. Estamos assistindo ao fim desse tipo de imprensa. Está em construção uma outra imprensa, uma outra cobertura, que é a coisa digital e isso também está em construção.