quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Obama concorre contra a desilusão que causou



Traiu promessa a milhões de “mudança” com que fora aclamado e aplicou outro programa, pró-bancos. Só assim as mentiras do especulador abutre Romney ganharam espaço na reta final

Aclamado por multidões há quatro anos como a “mudança” e a esperança, Barack Obama chega à eleição deste 6 de novembro como um pálido reflexo de si mesmo, com um adversário republicano tão insosso quanto o especulador abutre Mitt Romney chegando à reta final em empate nas pesquisas. Mais que Romney o verdadeiro adversário é a desilusão que Obama causou com a traição a tudo que prometeu na campanha passada e fez exatamente o contrário após eleito.

O estelionato eleitoral de Obama está cobrando seu preço e ele pode ganhar, mas milhões já não acreditam nele. Soam patéticos os apelos de democratas para a população ir votar contra o “mal maior” republicano, as convocações para os “90 milhões” de eleitores que deixarão de ir depositar seu voto, desesperançados. É a confirmação da observação sagaz do escritor Gore Vidal, de que os EUA são “um regime de partido único com duas alas direitas”.

Muitos milhões ainda se lembram dos momentos mágicos do comício da vitória. A América parecia rumo à mudança, “sim, nós podemos”. Mas eram só palavras vazias. Eleito, aplica-se outro programa e o resto fica por conta dos marqueteiros na próxima eleição. Agora Obama é “Em frente”, e Romney, “A mudança real”.

Depois das duas guerras e do crash de W. Bush, é um espanto que tão rapidamente um candidato republicano tenha levantado a cabeça, ainda mais para propor como “recuperação de verdade” um arrocho neoliberal a título de corte do déficit, que irá estrangular os trabalhadores e a classe média, e destroçar direitos. Até o Medicare está ameaçado.

É que os republicanos puderam contar com a “astúcia” de Obama, que deixou um país devastado por 23 milhões de desempregados sem um programa federal de criação em massa de empregos, mas que fez um programa de geração de dólares em massa para os bancos falidos - o bailout e os seguintes QE “quantitative easing”, tsunami de dólares.

Como poderia o milionário Romney estar se proclamando “a mudança real”, não fosse por Obama ter feito sua opção preferencial por Wall Street, e deixado à míngua milhões que acreditaram nele, sufocados pelo desemprego rompante, pelos despejos e pelos cortes nos programas sociais?

Como poderia Romney se intitular o “salvador de empregos” sem ser imediatamente contestado como o esquartejador de postos de trabalho que é, não fosse a decisão de Obama de salvar os bancos e deixar os 99% carregando o fardo de deixar inimputáveis os responsáveis pelo desastre com a especulação desbragada? Por que nenhum bankster foi para a cadeia?
Há quatro anos, Obama sintetizou os sentimentos de milhões de norte-americanos contra as guerras de W. Bush, Iraque e Afeganistão e prometeu fechar Guantánamo. Também era o crítico ao Ato (In)Patriótico, que dava fim a liberdades essenciais em nome da “guerra ao terror”.

Na Casa Branca, Obama só não manteve tropas no Iraque porque o governo de Maliki não quis, mas ainda deixou 20 mil soldados estacionados no vizinho Kuwait. Guantánamo continua aberto e já não se fala nisso; a tortura não será mais investigada. O Ato (In)Patriótico foi reforçado com a Lei de Defesa Nacional. O habeas corpus está abolido quando o poder executivo quiser.

DRONES

Obama estendeu a guerra do Afeganistão ao Paquistão e tornou-se o presidente dos drones, cujos ataques se estenderam ao Iêmen e Somália, e dali para mais países. Atacou a Líbia e foi sua secretária de Estado quem deu a senha para o assassinato do líder Kadafi. Ameaça o Irã com uma guerra, e intervém com hordas de mercenários na Síria, assassinando em massa. Tenta extraditar Assange por ter com o WikiLeaks divulgado os telegramas secretos do Pentágono sobre as agressões no mundo inteiro. Um Nobel da Paz com as mãos sujas de sangue, que manteve abarrotadas as arcas do Pentágono.

Também foi Obama que prometeu uma reforma da saúde, para ao final, ao invés de um sistema universal e público de saúde, passar a obrigar cada norte-americano a pagar por um plano de saúde privado sob pena de multa. Deportou mais imigrantes que W. Bush, mas prometeu a cidadania aos filhos de imigrantes. Cantou como grande coisa modestíssimas variações no PIB, como os 0,5% no último trimestre.

Não foi por acaso que uma nulidade como Romney tenha conseguido trucidar o fenômeno dos comícios no primeiro debate presidencial, o que abriu o caminho para o empate de reta final nas pesquisas. Nem todo dia se está brilhante para encenar.

ANTONIO PIMENTA 

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