quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Obama X Romney: no estado policial da Amérika não há debate “presidencial”


Qualquer um que tenha assistido aos debates entre Obama e Romney - e não seja um sujeito tapado – chegará à conclusão de que um novo recorde foi batido (e um novo patamar, ainda mais baixo que o anterior, foi atingido). Nunca houve, antes, debates tão sem importância. Rigorosamente, nenhum assunto que tenha alguma relevância para os EUA, ou para algum segmento do povo daquele país, foi tocado pelos debatedores. Tudo é apenas marketing – e marketing sem vergonha - num país que se esvai em sangue (seu e dos outros) e afunda nos despejos, na fome e no desemprego, com os recursos públicos a serviço apenas, única e exclusivamente, dos grandes bancos, que nem chegam a ser meia dúzia.

Tácito, apesar de sua origem patrícia, retratou a Roma do Império, logo em seu início, como o reino da mais brutal e desenfreada selvageria. Mas não há nada em sua obra comparável a esses debates sobre nada, em que dois idiotas recitam o que alguns publicitários prepararam de antemão, com a coonestação completa do status quo - apesar deste estar levando o país ao abismo econômico, político e moral. Só vem a mente a frase de Gore Vidal, que, por sinal, conhecia muito bem a oligarquia norte-americana: "os EUA são um regime de partido único, com duas alas direitas".

Sem dúvida, em nossa última campanha eleitoral, também houve, em alguns debates, exemplos dessa tendência oligofrênica, amoral, e, de resto, vigarista. Mas era uma campanha municipal – e nenhum município brasileiro, ou o país, tem os problemas dos EUA, em franca decadência econômica e sob uma ditadura aberta desde outubro de 2001, quando Bush decretou o "Uniting and Strengthening America by Providing Appropriate Tools Required to Intercept and Obstruct Terrorism Act", mal conhecido como "USA Patriot Act", depois prorrogado por Obama, que suspendeu a Constituição e os direitos legais dos cidadãos norte-americanos.

Os brasileiros, depois de 27 anos da derrubada da ditadura, talvez não tenhamos mais a noção precisa do que é um país onde não há nem o direito de habeas corpus – pois, para suspendê-lo, basta à polícia política alegar que está averiguando um possível contato com alguém pertencente a uma organização "terrorista" (assim definida pela própria polícia ou por outro setor do Executivo).

Em suma, nos EUA da atualidade, como descreve o ex-subsecretário do Tesouro Paul Craig Roberts, no artigo abaixo, desde 2001 a prisão – assim como a tortura, o assassinato e o confisco da propriedade – de um cidadão do país passou a ser decisão que pode ser tomada por um meganha do FBI, sem qualquer controle ou apreciação da Justiça, até porque esta, desde a Suprema Corte, também é cúmplice dessa ditadura.

Há 11 anos não há Constituição vigente nos EUA – e não há lei alguma que limite os poderes do aparato repressivo, o que equivale à inexistência de lei. No entanto, nem se ventilou o assunto em nenhum debate, apesar da oposição à ditadura ter sido um dos grandes temas da primeira campanha de Obama – algo que ele se apressou a trair, tão logo foi eleito. Quanto à crise econômica, o outro tema de Obama na campanha passada, ora, a crise...

Há muito, quando do assassinato do presidente Kennedy, um grande historiador brasileiro, o general Nelson Werneck Sodré, afirmou que os EUA caminhavam para o nazismo – isto é, para a ditadura sanguinária dos cartéis financeiros e monopólios imperialistas.

Com efeito, nosso historiador estava certo.

A tradução do artigo foi realizada a partir do texto publicado, no último dia 24, pelo Centre for Research on Globalization (www.globalresearch.org). Todas as anotações entre colchetes são nossas.

O autor, Paul Craig Roberts, ex-Subsecretário do Tesouro dos EUA, foi editor-associado do "The Wall Street Journal".

C.L.
http://www.horadopovo.com.br/

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