quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Deus ajude Obama e Romney, se eles resolverem participar de um debate real sobre alguma questão

PAUL CRAIG ROBERTS
 na Oxford Union [N. HP: um famoso e antigo clube de debates da Universidade de Oxford, Inglaterra].

Eles seriam massacrados.

Os "debates" revelaram que não só os candidatos, como também todo o país, está completamente fora de sintonia com qualquer problema real ou que tenha desdobramentos perigosos. Por exemplo: nunca se saberia, pelos debates, que cidadãos dos EUA podem ser aprisionados e executados sem o devido processo judicial. Tudo o que é preciso para terminar com a liberdade e com a vida de um cidadão americano pelo seu próprio governo, é uma decisão, que não precisa ser explicada a ninguém, tomada em algum lugar do executivo.

Não duvido que os norte-americanos, se é que pensam nisso, acreditam que isso só acontecerá a terroristas que o merecem. Mas como nenhuma prova ou processo é necessário, como saberíamos nós que isso só acontece a terroristas? Podemos realmente confiar num governo que começou guerras em sete países com base em falsidades? Se o governo dos EUA mentiu sobre armas iraquianas de destruição em massa para invadir o país, por que não mentirá sobre quem é terrorista?

Os EUA precisam de um debate sobre como se pode ficar mais seguro pela remoção das garantias constitucionais ao devido processo legal. Se o poder do governo não é limitado pela Constituição, seremos nós dominados pelo César? Os Pais Fundadores não pensavam que pudéssemos confiar nossa segurança a um césar. O que mudou para que agora confiemos num césar?

Se estamos sob uma tal ameaça terrorista que a Constituição foi suspensa ou substituída pela ação sem explicações a ninguém do executivo, não é possível que todos os alegados casos terroristas sejam operações encobertas organizadas pelo FBI? Em onze anos, não houve um único caso em que o "terrorista" tivesse a iniciativa!

Nos onze anos desde o 11 de setembro, os atos de terrorismo interno foram minúsculos, se é que algum chegou a existir. O que justifica o enorme e dispendioso Departamento de Segurança Interna [Department of Homeland Security]? Por que a Segurança Interna tem Equipes de Resposta Especial [Special Response Teams] equipadas militarmente, inclusive com blindados? Quem são os alvos dessas unidades militarizadas? Se onze anos de assassinatos, mutilações e deportação de milhões de muçulmanos [no mundo], por parte do governo dos EUA, não provocaram atos maciços de terrorismo dentro do país, por que a Segurança Interna está criando a sua própria força armada? Por que não há audiências no Congresso e nenhuma discussão pública sobre isso? Como pode um governo com o orçamento profundamente no vermelho, permitir-se uma segunda força militar sem qualquer propósito definido pela Constituição?

Qual é a motivação da Segurança Interna ao criar uma Juventude Patriótica [Homeland Youth]? Será o novo Corpo da FEMA [Federal Emergency Management Agency – agência do Departamento de Segurança Interna] um disfarce para um objetivo mais sinistro, uma Juventude Hitlerista, como sugerem sites na Internet? As compras maciças de munições por parte da Segurança Interna estão relacionadas com a formação de um corpo, em nível nacional, com jovens de 18 a 24 anos? Como pode isso estar acontecendo na frente dos nossos olhos, sem que quaisquer perguntas sejam feitas?
[N.HP: Sobre o novo corpo da FEMA, ver, no site da Homeland Security: www.dhs.gov/blog/2012/09/14/welcome-fema-corps-inaugural-class]

Por que Romney não perguntou a Obama por que este articula a derrubada da regra dos tribunais federais segundo a qual cidadãos dos EUA não podem ser sujeitos à detenção por tempo indefinido, em violação à Constituição? Terá sido porque Romney e seus conselheiros neoconservadores concordam com Obama e seus conselheiros? Se é assim, então, por que um tirano é melhor do que o outro?
Por que os EUA construíram uma rede de campos de detenção e está contratando "especialistas em internamento" para eles?

[N.HP: Sobre a rede de campos de detenção, ver: www.yotube.com/watch?v=b0gvWkHNeQs&list=UUiqRq2mT bBPMRhHap684Ig&index=10&feature=plcp]
Por que o Exército dos EUA tem agora uma política de "estabelecer programas de trabalho para reclusos civis e campos de prisioneiros civis nas instalações do Exército"?

[N.HP: A ordem para esses programas, assinada pelo então chefe de Estado Maior do Exército, general Peter J. Shoomaker, em 2005, pode ser lida em http://armypubs.army.mil/epubs/pdf/r210 35.pdf]

Eis a reportagem de Rachel Maddow sobre como Obama criticava o regime neoconservador de Bush/Cheney por violações à Constituição e às demais leis dos EUA, e, logo em seguida, ele mesmo propõe a mesma coisa: www.youtube.com/watch?v=L8J_lcHwkvc.

Como os debates presidenciais evitam o fato de que os Predator Drones [aparelhos aéreos não tripulados, que os EUA têm utilizado para assassinar adversários políticos] voam sobre nós aqui dentro dos Estados Unidos da América? Qual é a finalidade disso? Por que até as menores forças policiais, nos mais remotos rincões, estão sendo equipadas com carros blindados? Em pequenas comunidades lilly-white [N.HP: comunidades racistas, onde ainda impera a segregação racial] ao norte de Atlanta, na Geórgia, comunidades com MacMansions

[N.HP: um termo para designar moradias que se caracterizam pela ostentação e estilo duvidoso] de menos de um milhão de dólares, há policia militarizada com carros blindados e armas automáticas. Equipes da SWAT, armadas dos pés à cabeça, estão por toda parte. O que significa isso? Essas pequenas áreas semi-rurais nunca verão um terrorista ou experimentarão uma situação de sequestro. Mas todas elas estão armadas até os dentes.

Qualquer dessas perguntas entra em conflito com a suposta perfeição moral dos EUA. Tal debate não acontecerá. Mas, se "é a economia, estúpido", por que não há debate econômico?
No mês passado, o Federal Reserve [banco central dos EUA] anunciou o terceiro Quantitative Easing, o QE3.

[N.HP: QE = Quantitative Easing = "afrouxamento monetário", um eufemismo para as superemissões de dólares, que estão na casa US$ 10 trilhões desde o início da crise econômica norte-americana.]

Se o QE1 e o QE2 não funcionaram, porque alguém, incluindo o presidente do Federal Reserve, pensa que o QE3 funcionará?

No entanto, os absolutamente irracionais mercados financeiros, que não sabem nada sobre nada, ficaram super-satisfeitos com o QE3. Só pode ser porque o que governa o mercado de títulos é a propaganda, a conversa fiada e a desinformação, não os fatos. O tão louvado mercado de papéis é incapaz de tomar qualquer decisão correta. As decisões são tomadas pelos imbecis que operam no mercado, com base no curto prazo. O único caminho seguro a tomar é correr como os lêmingues [N.

HP: referência ao mito de que os lêmingues, ao migrar, se suicidam em massa ao atravessar um rio, por seguirem sempre o semelhante que está na sua frente]. Esta estratégia assegura que o administrador de uma carteira esteja sempre no meio dos seus pares e, portanto, não perca clientes.

Teria sido maravilhoso se Obama e Romney discutissem, num debate real, sobre como o QE3, concebido para ajudar bancos falidos "demasiado grandes para quebrar", pode ajudar a sobreviverem as famílias com dois assalariados e rendimento real de 45 anos atrás, que é onde se situa a atual média da renda familiar.

Como é que salvar um banco, considerado como "demasiado grande para quebrar", ajuda a família cujos empregos, ou o emprego principal, foram exportados para a China ou a Índia, com o objetivo de maximizar os lucros das corporações, o desempenho dos bônus dos executivos e os ganhos de capital dos acionistas?

Obviamente, a população trabalhadora dos EUA foi sacrificada em prol dos lucros dos mega-ricos.

Uma apropriada pergunta para o debate é: por que os meios de vida dos trabalhadores americanos foram sacrificados em prol dos lucros dos mega-ricos?

Mas tal pergunta jamais será feita num "debate presidencial".

No século XXI, os cidadãos dos EUA tornaram-se não-existentes [nonentities: não-entes, não-entidades, desprovidos de existência]. Eles são brutalizados pela polícia, cujos salários são pagos pelos seus pagamentos de impostos. Por protestarem contra a injustiça, ou sem causa alguma, eles são espancados, presos, atingidos por pistolas elétricas e até assassinados. A polícia, paga pelo público, espanca pessoas até paralisá-las em cadeiras de rodas, incrimina aqueles que a ela recorrem para combater criminosos, dispara com pistolas elétricas sobre avós e crianças pequenas, e abate a sangue frio cidadãos desarmados, que nada fizeram senão perder o controle de si mesmos, devido ao álcool, as drogas ou a raiva.

Americanos com o cérebro lavado pagam altos impostos, em todos os níveis de governo, para proteção contra a violência gratuita, mas o que os seus impostos sustentam é a violência gratuita contra si próprios. Todo americano, exceto o pequeno número de mega-ricos que controla Washington, pode ser preso e despojado tanto da liberdade como da propriedade, com base em nada, exceto uma alegação de um membro do executivo que pode querer a esposa, ou a namorada, ou a propriedade do acusado, ou fazer carreira, ou exterminar um rival, ou obter vantagem contra uma escola secundária, uma faculdade ou um negócio rival.

Na América de hoje, a lei serve aos poderosos, não à justiça. Com efeito, aqui não há lei e não há justiça. Só poder arbitrário.

Que importância tem um voto, quando o seu efeito é o mesmo? Ambos os candidatos representam os interesses de Israel, não os interesses dos EUA. Ambos os candidatos representam os interesses do complexo militar e de segurança, do agronegócio, das corporações que transferem fábricas para o exterior, a supressão de sindicatos e trabalhadores, a morte total da liberdade civil e da Constituição dos EUA, o caminho do poder executivo sem freios.

Nos EUA de hoje, o poder do dinheiro governa. Nada mais existe na equação. Por que votar para dar apoio à continuação da sua própria exploração? Toda vez que um americano vota, é um voto pela sua própria anulação [obliteration].

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