sexta-feira, 27 de julho de 2012

Importações aumentam no ano e chegam a 110 bilhões de dólares

Taxa de câmbio melhora mas ainda é insuficiente

O resultado das contas externas em junho, divulgado pelo Banco Central (BC) na terça-feira, mostra vários problemas – e graves. O que parece mais estranho é o aumento das importações, apesar da relativa correção da taxa de câmbio que as subsidiavam barbaramente.

De janeiro a junho do ano passado - quando a cotação média do dólar foi R$ 1,63 – o valor total das importações atingiu US$ 105,3 bilhões. De janeiro a junho deste ano, com uma cotação média do dólar de R$ 1,87, as importações alcançaram US$ 110 bilhões, ou seja, quase US$ 5 bilhões a mais.

Esse aumento nas importações é o principal motivo dos declinantes saldos comerciais, pois as exportações permanecem mais ou menos no mesmo patamar – em junho o saldo foi apenas US$ 806 milhões para exportações de US$ 19,4 bilhões. Essa é uma questão secundária, ainda que seja uma pedra no sapato daqueles que querem apresentar os problemas atuais como resultado da crise dos países imperialistas (até agora eles não explicaram qual o mecanismo de transmissão dessa crise para dentro do país, já que as exportações não foram paralisadas).

O problema mais importante é por que as importações continuam ampliando sua participação no mercado interno do país, em detrimento das empresas nacionais, apesar da melhora na taxa de câmbio.

Primeiro, porque a desnacionalização da economia atingiu um grau muito perigoso e quanto mais empresas nacionais passam a ser filiais ou subsidiárias de multinacionais, mais as importações aumentam, pois essas empresas importam os componentes com que aqui montam os seus produtos (ou, como na área de serviços, uma das consequências da compra em massa das empresas brasileiras de tecnologia da informação – TI – é a transformação de empresas elaboradoras de softwares em balcão de venda para softwares importados).

Sinteticamente: as filiais de multinacionais fazem parte de uma cadeia produtiva externa. Além disso, as importações das filiais proporcionam ganhos financeiros às matrizes - não é por outra razão que a maior parte do comércio exterior das multinacionais é um comércio intrafirma, ou seja, entre a matriz e as filiais. Evidentemente, esses ganhos financeiros se dão à custa de espoliar os países onde estão instaladas as filiais.

Segundo, a destruição de elos das cadeias produtivas, promovida pela política do sr. Mantega no ano passado, foi tão violenta que boa parte das empresas nacionais não consegue mais adquirir insumos e bens intermediários dentro do país, pois eles deixaram de ser fabricados aqui – portanto, são obrigadas a importá-los. Um exemplo evidente é a produção de pigmentos para fabricação de tintas, que deixou de existir no Brasil. Somos agora grandes importadores de pigmentos da Índia...

Terceiro, a taxa de câmbio melhorou, mas ainda está subsidiando fortemente as importações contra a produção interna. Portanto, continua mais barato importar. Esta é a razão porque a Abimaq, no momento, faz campanha para que a cotação do dólar vá para R$ 2,50. Trata-se de algo que até o FMI, em seu recente relatório sobre o Brasil, não somente reconheceu, mas explicitou:

A taxa de câmbio [do real em relação ao dólar] caiu substancialmente este ano, mas permanece bem acima do nível médio de 2004-2008” (IMF, “Brazil: 2012 Article IV Consultation - Staff Report”, Washington, D.C., July 9, 2012, pág. 8).

Entre 2004 e 2008 a taxa de câmbio média, vis-à-vis o dólar, foi R$ 2,30 – a cotação do real em relação ao dólar estava, portanto, abaixo da atual, em que são necessários cerca de R$ 2 para comprar 1 dólar. Em 2004, esteve mais abaixo (US$ 1=R$ 2,92) e também em 2005 (US$ 1=R$ 2,43).

Na página seguinte do mesmo relatório do FMI está um gráfico, onde é mostrado que, mesmo o real tendo reduzido sua hipervalorização artificial em relação ao dólar em “quase 8,5% este ano e 25% em relação aos níveis de julho de 2011”, a taxa de câmbio permanece bem acima daquelas das moedas da África do Sul, Índia, México e Coreia do Sul, também em relação ao dólar.

Portanto, é forçoso reconhecer que a diminuição da hipervalorização do real – isto é, a passagem da taxa de câmbio da casa dos R$ 1,50 ou R$ 1,60 para a casa dos R$ 2,00 - ainda é muito insuficiente.

Logo, são meio desesperadas – ao modo daquelas trezenas ou novenas, com rezas obsessivas de terços, diante de uma situação aflitiva da vida – certas lamentações pela “falta de competitividade” da indústria nacional. Em que consiste a competitividade? A taxa de câmbio faz parte da competitividade – tanto quanto a proteção da indústria nacional pelo Estado nacional, o financiamento público das empresas nacionais e a prioridade para elas nas compras do governo.

É algo inútil falar que o problema é a “competitividade” porque “esgotou-se” o papel do consumo no estímulo ao crescimento, quando a “falta de demanda” é apontada por 34,5% das grandes empresas, 35,6% das médias empresas e 31,8% das pequenas empresas como um problema crucial, na recente pesquisa da Confederação Nacional da Indústria, num pulo de +8,5 pontos percentuais na menção ao problema pelas grandes empresas, desde o segundo trimestre de 2011 (cf. CNI, “Sondagem Industrial”, Ano 15, Nº 6, junho/2012, pág. 6).

O que isso quer dizer é, somente, que os níveis salariais muito baixos já são um obstáculo para a expansão da economia – e que a contenção dos salários, incentivada pelo governo, já está estrangulando o consumo em alguns setores. Só isto e nada além.

Segundo a pesquisa da CNI, “a indústria operou, em média, com 72% da capacidade instalada em junho” (CNI, loc. cit., pág. 4).

É difícil achar que o problema da indústria é falta de “competitividade” ou de “produtividade”, quando, em média, 28% da capacidade instalada já existente, está ociosa – ou por “falta de demanda” ou porque a demanda está sendo coberta por mercadorias importadas.

O investimento, sem dúvida, é muito baixo no Brasil – e enquanto o investimento público estiver travado, será impossível aumentar o investimento privado. Não é uma originalidade brasileira: qualquer país atualmente é assim.

Mas, a principal causa do baixo investimento é o privilégio ao setor financeiro - especulativo e parasitário - e às multinacionais, contra as empresas produtivas nacionais.

Por essa razão, certos gritos atuais, dos corifeus de bancos e monopólios estrangeiros, pelo investimento “porque o consumo estaria esgotado”, seriam ridículos, se não fosse a sinistra intenção de liquidar empresas nacionais e arrochar consumidores – isto é, o povo.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), Luiz Aubert Neto, tem toda razão ao apontar que:

O fato é que todos os incentivos dados pelo governo, pelo menos até o momento, serviram para gerar empregos no exterior (...). … está claro que somente o incentivo ao consumo sem uma política industrial eficaz, não é garantia de encomendas no mercado interno. (…) o governo adota políticas pontuais sem atacar as questões estruturais. É preciso construir uma política industrial que, além de se preocupar com o consumo das famílias, também seja voltada à ampliação dos investimentos (…). Neste cenário a taxa de investimento mais uma vez ficará em torno dos inexpressivos 18% do PIB. Para se ter uma ideia o mundo investe, em média, 23% do PIB”.

Realmente, é um falso dilema se, para o crescimento, o mais importante é o investimento ou o consumo – até porque não parece provável que algum dia nasça um empresário que faça investimentos sem que haja consumo ou, pelo menos, expectativa de consumo.
CARLOS LOPES

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