quarta-feira, 4 de julho de 2012

Demóstenes pede perdão pelo crime que jura não ter cometido


O senador Demóstenes Torres (sem partido), denunciado como integrante da quadrilha de Carlinhos Cachoeira, voltou a alegar que é inocente das acusações de envolvimento em negócios ilícitos com o contraventor. Mais uma vez, ele ocupou a tribuna para debochar dos senadores, dizendo que era apenas amigo do bicheiro.

Mas os senadores preferiram ouvir outros sons mais alentadores do que o disco quebrado de Demóstenes. O plenário estava quase vazio, apenas 4 senadores presentes.

“Fui apenas amigo de Cachoeira. Nunca tive negócios com ele. Repito, agora, e rebato os pontos da Comissão de Ética: não, não tenho nem sociedade, nem nada a ver com os delitos investigados nas operações Vegas e Monte Carlo”, disse Demóstenes, apesar de todas as evidências de que atuava intensamente na defesa dos interesses da quadrilha. Repetiu por 48 vezes “Eu peço perdão; eu peço desculpas", citando 44 senadores nominalmente. Se não fez nada, por que pedir perdão?

No discurso, o senador teve o disparate de tentar negar que tenha usado o mandato para fazer lobby para quadrilha.

“Não coloquei meu mandato a serviço de Cachoeira. Não percebi, nem recebi vantagem indevida, nem algo em troca de minhas ações no Senado. Nunca procurei senadores para a legalização de jogos. Não tive servidores fantasmas”, jurou. Só pediu, pelo menos uma vez, para que Cachoeira lhe pagasse uma “despesa dele com táxi-aéreo no valor de R$ 3 mil”, recebeu uma “cozinha americana”, de US$ 24 mil dólares, de presente de casamento do contraventor, rádio nextel e 30% da arrecadação geral do esquema do bicheiro, segundo a Polícia Federal.

Ele criticou a atuação da Polícia Federal e dos Ministérios Públicos nas operações Vegas e Monte Carlo, atacando os órgãos de investigação com a acusação de que os telefonemas interceptados foram editados de modo a incriminá-lo. Que ingrato, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, engavetou o quanto pôde o processo e ele retribui dessa forma. Segundo o senador, “das 250 mil horas de gravações”, tudo o que conseguiram contra sua conduta foram “frases soltas”. “Frases soltas” como essa em que aconselha o “professor” Cachoeira sobre um projeto tramitando no Congresso: “O que tá aprovado lá é o seguinte: ‘transforma em crime qualquer jogo que não tenha autorização’. Então, inclusive, te pega, né?”.

Demóstenes fez outra encenação na busca desesperada para escapar da cassação do seu mandato. “Suplico pela perícia [independente, dos áudios da PF] para compreender, contextualizar e transcrever corretamente os diálogos destacados. Já temos exemplos de edição, com intenção de realizar acusações”. O senador também apontou que a imprensa o “acusou, julgou e sentenciou” como culpado.

Outra vez é ingrato. A Veja lhe deu amplo respaldo e publicidade das suas encenações como paladino da moral e dos bons costumes e ele não agradece. Maior ingratidão é com o seu padrinho, Carlinhos Cachoeira, renegado pelo ingrato.


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