quinta-feira, 21 de junho de 2012

Governo de minoria pró-arrocho na Grécia adia saída do atoleiro



No segundo turno eleitoral grego de domingo os partidos que defendem o memorando do arrocho da Troika – Nova Democracia e Pasok – ficaram claramente minoritários com 41,94% dos votos

Sob a maior campanha de atemorização já vista em décadas recentes, a Grécia foi às urnas no domingo (17) e por menos de 3% o partido que galvanizou os gregos contra o memorando do FMI, a Coalizão de Esquerda Radical – Syriza, logrou obter já agora o rompimento do país com o choque neoliberal. Resultado que mantém a Grécia sob feroz arrocho e desemprego, e adia a saída para a crise.

A Syriza obteve 26,89% dos votos, contra 29,66% colhidos pelo partido Nova Democracia, que fez campanha aterrorizando sobre a “saída do euro” e prometendo negociar remendos no memorando do FMI e Merkel. O Pasok, partido que lançou a Grécia ao despenhadeiro, limitou-se a 12,28% dos votos. Os Gregos Independentes tiveram 7,5%; Amanhecer Dourado, 6,92%; Esquerda Democrática, 6,26%; e Partido Comunista, 4,5%.

Com o resultado, fortalece-se um pólo de primeira grandeza de resistência ao memorando da Troika, com a Syriza primeiro quadruplicando a votação, para 16,78%, em maio e agora no domingo arrancando mais 10,11 pontos percentuais.

A Syriza venceu nas cidades, particularmente na periferia, na ilha de Creta e nas ilhas do Mar Jônico. Também venceu por larga margem entre os jovens. A maior votação da Nova Democracia foi nas áreas rurais. Considerando como demarcação ser contra ou a favor do memorando, os partidos do arrocho – ND e Pasok – ficaram com 41,94% dos votos, minoritários, portanto.

“Aterrorizem os terroristas com seus votos”, foi a proclamação do líder da Syriza, Alexis Tsipras, em seu discurso de encerramento de campanha eleitoral. Ele se referia à avalanche de declarações da Alemanha e de outros governos europeus e também do FMI ameaçando os gregos com a “saída do euro” se descumprido o memorando.

Uma onda de boatos buscou criar pânico entre a população. Como o de que “já em julho” o governo não teria dinheiro para pagar salários e aposentadorias e que a Syriza iria decretar “moratória de salários e pensões”. A moratória proposta pelo partido era da dívida externa espúria. Em razão da boataria, chegou a haver um princípio de corrida aos bancos, com saques diários de 800 milhões de euros às vésperas da eleição.

A proposta da Syriza era permanecer no euro, mas rasgando o memorando que lançou a Grécia numa crise humanitária, para criar condições para reverter a recessão de cinco anos consecutivos, desemprego de 21% e pauperização em massa.

BOATOS


A Nova Democracia fez uma campanha demagógica, dizendo que a eleição era sobre a permanência ou não na zona do euro – repercutindo assim quem ameaçava o povo grego. Ao mesmo tempo a mídia divulgava “notícias” sobre encontros secretos de altos funcionários da União Europeia para “expelir a Grécia do euro” – o que não é permitido pelos tratados – no caso de vitória da Syriza. Por outro lado, a ND ainda tinha alguma credibilidade por ter, por anos, se mantido como oposição ao Pasok e aos ajustes.

Em todo o caso, será um governo minoritário, com 112 deputados, em 300, conferidos pelas urnas. Graças à esdrúxula lei eleitoral grega, que dá ao primeiro colocado 50 cadeiras de presente, é que poderão constituir um governo do memorando.

Como o regime do memorando nada tem a oferecer à Grécia senão a continuação da atual agonia, a crise prosseguirá e se agravará. Inclusive a crise europeia, pois não é possível que seja um país que tem 3% do PIB europeu e 2,85% da dívida do continente, que seja a causa da atual conturbação na zona do euro.

 
ANTONIO PIMENTA

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