quinta-feira, 7 de junho de 2012

Demóstenes Torres diz que seus colegas o livrarão da cassação

 

Para ele, basta que mais 11 senadores não vá a plenário que evitará a perda do seu mandato 


O senador Demóstenes Torres (sem partido), denuncia do como integrante da quadrilha de Carlinhos Cachoeira, disse que confia nos seus colegas para escapar da cassação do seu mandato e fez circular informação, reforçada por seu advogado, Antônio Carlos de Almeida, de que já teria o apoio de 30 senadores. “Estamos trabalhando” para impedir a perda do mandato, declarou o advogado de Demóstenes.

Sua estratégia seria a de que os senadores sob seu controle não compareçam à votação em plenário, já que na votação no Conselho de Ética ele deverá perder o mandato. Na semana passada, Demóstenes foi várias vezes ao plenário do Senado em busca de apoio. A cassação de seu mandato exige o voto de 41 dos 81 senadores.

Em discurso no plenário, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) disse que “em que pesem todas as evidências e gravações que comprovam o envolvimento do senador Demóstenes Torres com o ‘empresário da contravenção’ Carlinhos Cachoeira, temos lido a toda hora que o senador goiano confia na sua absolvição quando, por causa do voto aberto, o Conselho de Ética do Senado recomendar a cassação de seu mandato”. “Pesquisas feitas entre os senadores já constataram que Demóstenes precisa apenas de cerca de 10 votos para conseguir os 41 necessários à sua absolvição, ou seja, metade mais um dos 81 senadores que compõem aquela Casa”, alerta Simon.

Demóstenes debochou dos senadores durante seu depoimento no Conselho de Ética quando jurou que não tinha relação nenhuma com Cachoeira. Mesmo diante de todas as evidências de que atuava intensamente na defesa dos interesses da quadrilha, ele teve tentou negar que tenha usado o mandato para fazer lobby para Cachoeira. Chegou a pedir para ser julgado pelo que fez e não pelo que falou.

Só que ele falou pelos cotovelos sobre quase todos os tipos de falcatruas com Cachoeira. Sua máscara de “vestal da moralidade” desabou. A Operação Monte Carlo, da PF, através de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, descobriu que o ex-líder do Dem trocou 298 telefonemas com o contraventor entre fevereiro e agosto de 2011. Quase todas essas conversas eram para defender interesses da empreiteira Delta, para achacar governadores, como Agnelo Queiroz, e ministros, como Alfredo Nascimento, ou para tentar, junto com a revista Veja, desestabilizar através de arapongas da quadrilha o governo federal ou ex-integrantes do governo, como José Dirceu.

No depoimento ao Conselho de Ética do Senado, Demóstenes admitiu ter recebido um dos aparelhos Nextel que Cachoeira distribuiu para os membros da quadrilha, acreditando que não seria grampeado, “mas apenas por comodidade, porque fazia ligações internacionais”. Alegou desconhecer que o “presente” fora dado a outros membros da quadrilha, para o chamado ‘Clube Nextel’. Questionado pelo relator, reconheceu que a conta era paga pelo contraventor. “Uns R$ 50, pagos nos Estados Unidos”, admitiu. Só o fato do senador receber um aparelho de telefone fornecido por um chefe de quadrilha e com conta paga por el já seria motivo mais do que suficiente para a perda do mandato, mas Demóstenes fez coisas muito piores do que isso.

Segundo a documentação reunida nos relatórios da Polícia Federal, o senador goiano recebia 30% da arrecadação geral do esquema financeiro armado por Cachoeira, calculado em, aproximadamente, 170 milhões de reais nos últimos seis anos. Fingindo abrir seu sigilo, ele negou ter recebido esse dinheiro. “Não tinha relação com Cachoeira”, mas ele e sua mulher ganharam de presente dele uma “cozinha americana” no valor de 24 mil dólares. “O que eu sabia era que me relacionava com um empresário que se relacionava com cinco governadores, e outras dezenas de políticos e empresários”, afirmou. “E o governador (Perillo) tinha me dito que ele não atuava mais na contravenção”, disse o ex-líder do Dem.
Mesmo diante de todas essas evidências, ele procurou negar que tenha usado o mandato para fazer lobby para Carlinhos Cachoeira. Numa das gravações, feitas pela PF com autorização judicial, Demóstenes - que é ex-delegado e ex-promotor - pede para Cachoeira “pagar uma despesa dele com táxi-aéreo no valor de R$ 3 mil”. Mais recentemente Cachoeira autorizou a liberação de um jatinho para buscar Demóstenes em São Paulo, vindo da Alemanha junto com Gilmar Mendes, para levá-los para Goiânia e Brasília.

Demóstenes disse que não sabia que Cachoeira “operava clandestinamente”. Mas alertou o contraventor de que ele poderia “ser pego” se um determinado projeto sobre jogatina, estudado por ele a pedido do mafioso, fosse aprovado. As gravações mostrando esse diálogo foram feitas em 2009. Vejam os detalhes da conversa:

Demóstenes: Eu peguei o texto, ontem, da lei para analisar. É aquela que transforma contravenção em crime. Que importância tem a aprovação disso?

Cachoeira: É bom demais. Aí também regulamenta as estaduais.

Demóstenes: Regulamenta não. Vou mandar o texto pra você. O que tá aprovado é o seguinte: transforma em crime qualquer jogo que não tenha autorização. Então, inclusive, te pega, né?

Cachoeira: Não, mas essa aí é boa também. Não pega ninguém, não. Pode mandar brasa aí.

“Essa frase está mais do que ratificada de que o senhor estava avisando algo a ele”, afirmou o senador Mário Couto (PSDB-PA), durante o depoimento de Demóstenes. Couto indagou a Demóstenes se a voz nos diálogos, que diz ‘inclusive te pega!’ – advertindo Cachoeira do risco que correria, era realmente dele.

SÉRGIO CRUZ

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