sexta-feira, 11 de maio de 2012

Bancos dizem que apoiam crédito, mas não abrem mão dos juro alto



Ministro transmitiu indignação da presidente Dilma após Federação dos Bancos divulgar informativo com “expectativa” de crescimento da taxa selic 


O cartel dos bancos – a Febraban – lançou às pressas, na noite de terça-feira, uma nota, após o ministro Mantega transmitir ao presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, a indignação da presidente Dilma com o “Informativo Semanal de Economia Bancária” publicado pela entidade no dia anterior.

O boletim da Febraban considerava inócuos os esforços da presidente para que os bancos privados baixem seus juros. Resumindo, dizia: “Alguém já disse que ‘você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não conseguirá obrigá-lo a beber água’ “ - isto é, ainda que o governo faça cair a taxa básica de juros, e os juros da Caixa e do BB, nem por isso os bancos privados irão baixar seus juros e aumentar o crédito disponível para empresas e consumidores. 

ESCLARECIMENTOS 

Já na terça-feira à noite, em sua nota, a Febraban esclarecia (?) que as “expectativas e projeções” do seu boletim “não podem ser interpretados como um posicionamento oficial da entidade ou de seus associados” (grifo nosso).

Trata-se de uma afirmação muito peculiar - e não somente porque não se sabe o motivo da Febraban ter um boletim semanal, se não é para divulgar a posição da entidade e de seus associados. De quem será, então, a posição expressa em seu boletim?

Mas, além disso, o que está no nº 140 do “Informativo Semanal de Economia Bancária” é uma pesquisa com “analistas” de 31 bancos, inclusive o Bradesco, Itaú Unibanco, HSBC, Santander, JP Morgan, Safra, Credit Suisse, Citibank e Tokyo-Mitsubishi, ou seja, os bancos que mandam na Febraban – e mandam tanto que até transferiram o sr. Murilo Portugal do FMI para a presidência da sua entidade.

Esse ponto de vista dos grandes bancos é que foi resumido pela sutil imagem do cavalo que não bebe água nem na beira de um rio (deve ser um cavalo muito burro, mas dizem alguns especialistas que os cavalos são menos inteligentes que os jegues – no entanto, o economista-chefe da Febraban, Rubens Sardenberg, editor do “Informativo”, parece ter um gosto especial por imagens cavalares).

A pesquisa é muito interessante, pois revela o que são os membros da quadrilha financeira, diante da qual o Cachoeira é um beato: a “expectativa” sobre a taxa de juros básicos, a Selic, para dezembro deste ano é 8,5% (o máximo possível para cortar os rendimentos da poupança dos mais pobres); mas, leitor, sabe qual é essa “expectativa” para dezembro de 2013? Nada menos que 10%! Em que está baseada essa torcida por um aumento garrafal da taxa de juros? Em nada, exceto na ganância (cf. Informativo Semanal de Economia Bancária, Ano 4, nº 140, 07 a 11/05/2012, pág. 13).

Sobre a questão do que o Banco Central deve fazer, se baixar mais a taxa básica ou não, 52% dos bancos consultados responderam que o BC deve fazer exatamente nada (“deve aguardar mais tempo para avaliar os efeitos das medidas já adotadas”), apesar de todos reconhecerem que “a recuperação da atividade vem ocorrendo mais lentamente do que se antecipava”.

Mas, se é assim, como o BC não deve fazer coisa alguma? Ora, leitor, por sua causa – sim, você, leitor, você mesmo, você é que está impedindo os bancos de concederem empréstimos. Os juros são altos por sua culpa, porque você não passa de um caloteiro em potencial. Quem manda você fazer com que os bancos se sintam inseguros? Eles não emprestam porque “o quadro de inadimplência traçado pelos bancos também parece pior que o inicialmente esperado” (cf. idem, ibidem, grifo nosso).

Para os grandes bancos, não existem clientes, somente caloteiros à espreita, esperando uma oportunidade – ou seja, um empréstimo - para calotear. A população toda é composta, precisamente, por caloteiros, com uma exceção: os banqueiros, inclusive os do tipo Daniel Dantas ou Naji Nahas, excelentes pagadores que jamais tiveram, como também o Cachoeira, dificuldades para conseguir crédito.

Não há nenhuma crise de inadimplência no país. Mas a maior parte dos bancos (maioria relativa de 48% dos “analistas” consultados) respondeu que não aumentam o crédito, ou seja, não baixam os juros, “tendo em vista o quadro de inadimplência mais negativo”. Por isso, “o comportamento dos bancos pode seguir cauteloso na concessão e a demanda de empresas e famílias” (cf. idem, pág. 14). 

POSTURA AGRESSIVA


Logo, conclui a Febraban, “é possível criar condições mais favoráveis à expansão do crédito reduzindo as taxas básicas, mas uma ampliação efetiva das operações passa por uma postura mais agressiva, tanto dos emprestadores como dos tomadores de crédito [triste sina a de ser um “tomador”. Mas o que será uma “postura mais agressiva dos tomadores”? Tomar mais sem que ninguém empreste?]”. Mas, continuando: “os números da nossa pesquisa seguem apontando uma postura cautelosa”.

Tradução: os bancos não baixam os juros e não aumentam o crédito porque não querem; e não querem porque estão ganhando os tubos na especulação e preferem continuar parasitando a sociedade pelo sequestro de seus recursos, em especial os do Tesouro. Nem o desbragado canalha Shylock, o agiota do “Mercador de Veneza”, de Shakespeare, que exigia pagamento de juros em libras de carne humana, seria capaz de sonhar, depois dos efeitos desastrosos dos aumentos da taxa básica em 2011 e das consequentes agruras de 2012, com um aumento dessa taxa para 10% em 2013.

Muito justa, portanto, a indignação da presidente Dilma. Aproveitando o ensejo, temos uma sugestão: vamos cortar mais a taxa básica, mais e mais, para obrigar esse cavalo a beber água. Afinal, com uma bronca da presidente, eles se retrataram em 24 h. Mas, por enquanto, somente do que disseram, não do que estão fazendo – que, por sinal, é exatamente o que disseram.
CARLOS LOPES

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