domingo, 1 de abril de 2012

Operação Monte Carlo: diretor de Veja confabulava com o bicheiro

 

 

Operação Monte Carlo: diretor de Veja confabulava com o bicheiro

Em mais de 200 ligações Policarpo discutia pauta da revista e era elogiado por Cachoeira

A Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, desencadeada no último dia 29 de fevereiro, em conjunto com o Ministério Público Federal de Goiás e com apoio do Escritório de Inteligência da Receita Federal, investigou 82 pessoas ligadas ao crime organizado no Estado, chefiado pelo mafioso Carlinhos Cachoeira. A Operação tinha por objetivo desarticular a organização criminosa que explorava máquinas de caça-níqueis no Estado de Goiás. Inúmeros funcionários do governo estadual estavam envolvidos no esquema criminoso, como mostram as gravações telefônicas obtidas com autorização judicial.

Essas gravações revelaram a indecorosa sociedade entre um senador da República, líder da bancada do Dem na Casa, Demóstenes Torres, e o contraventor Carlinhos Cachoeira. E agora tornam clara outra participação no esquema mafioso: As gravações flagraram mais de 200 ligações telefônicos realizadas nos últimos meses entre Cachoeira e o chefe de redação e diretor da sucursal de Brasília da revista Veja, Policarpo Jr, atualmente membro da alta cúpula da publicação. Mais ainda, as investigações apontam para o envolvimento do governador do Estado, Marconi Perillo (PSDB).

Nos 200 telefonemas captados, segundo o jornalista Luiz Nassif, entre outros assuntos, Policarpo Jr. informa a Cachoeira sobre as matérias publicadas pela revista favoráveis ao bicheiro, trocam informações e ele - diretor de Veja - recebe elogios do meliante.

Cachoeira ficou conhecido nacionalmente em 2004, após ter divulgado um vídeo sobre o escândalo Waldomiro Diniz, então assessor de José Dirceu, na Casa Civil. O vídeo mostrava Diniz (então subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência da República) cobrando propina de Cachoeira. De acordo com a PF, o bicheiro é acusado de subornar servidores públicos, policiais e autoridades para garantir a exploração criminosa de caça-níqueis próprios e destruir eventuais concorrentes. “Ele é acusado também de pagar a policiais corruptos para receber com antecedência informações sobre fiscalizações contra as casas de jogos ilegais”, informa a PF.

A revista propagava as ações e repercutia as armações do grupo contra o PT. Até uma capa da revista com Demóstenes vestido de mosqueteiro eles publicaram. A prisão do policial Jairo Martins de Souza, detido junto com outras 81 pessoas, revelou ligações ainda mais profundas entre a revista dos Civita com a quadrilha. Martins foi o mesmo que, em 2005 repassou para Veja o vídeo, gravado por ele, com o ex-funcionário dos Correios, Maurício Marinho, recebendo uma propina de 3 mil reais, o estopim da farsa do “mensalão”, divulgada à exaustão pela mídia golpista na época (2005). Em cima disso, tentaram, inclusive, envolver e derrubar o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Martins, de acordo com a acusação do Ministério Público, era um “empregado” da quadrilha de Carlinhos Cachoeira, recebia R$ 5 mil mensais e tinha a função de cooptar policiais e também levantar informações que pudessem prejudicar os negócios do grupo. Foi ele quem entregou a gravação diretamente a Policarpo. Em 2005, na crise, Jairo Martins depôs no Congresso, e disse que gravou a fita com Maurício Marinho por “patriotismo”.

FARSA DO "MENSALÃO”

O ex-prefeito de Anápolis, Ernani de Paula, afirmou, em entrevista ao jornal digital “247”, estar convicto que “Cachoeira e Demóstenes fabricaram a primeira denúncia do mensalão”.

No início do governo Lula, em 2003, segundo Ernani, o senador Demóstenes era cotado para se tornar Secretário Nacional de Segurança Pública. Teria apenas que mudar de partido, ingressando no PMDB. “Eu era o maior interessado, porque minha ex-mulher se tornaria senadora da República”, diz Ernani de Paula. Cachoeira, segundo ele, também era um entusiasta da ideia, porque pretendia nacionalizar o jogo no país – atividade que já explorava livremente em Goiás. Segundo o ex-prefeito, houve um veto à indicação de Demóstenes. “Acho que partiu do Zé Dirceu”, diz o ex-prefeito. A partir daí, segundo ele, o senador goiano e seu amigo Carlos Cachoeira começaram a articular o troco.

O primeiro ataque dos dois foi a fita que derrubou Waldomiro Diniz, ex-assessor de Dirceu, da Casa Civil. Diniz tinha sido presidente da Loteria do Estado do Rio de Janeiro e ali conhecera Cachoeira. A fita também foi gravada por Cachoeira. O segundo golpe, muito mais forte, foi a gravação dos Correios, na reportagem de Policarpo Júnior, que desencadeou todo o enredo da farsa do “mensalão”, em 2005.

Depois da associação com Cachoeira, Policarpo Jr foi promovido e tornou-se diretor da sucursal da revista em Brasília. Mais recentemente, passou a integrar a cúpula da publicação. Agora, sete anos depois, na operação Monte Carlo, Policarpo aparece nas 200 conversas com Cachoeira.

PERILLO

Ligações de Cachoeira com o governador tucano de Goiás também foram reveladas pela investigação da Polícia Federal. É o que fica claro no fato da empresa Delta - controlada indiretamente por Cachoeira - ter contratos de pelo menos R$ 247 milhões com vários órgãos do governo estadual, particularmente com a Secretaria de Segurança. Ironicamente a empresa do criminoso Cachoeira fornece os carros, em regime de aluguel, para a Secretaria de Segurança Pública de Goiás. O diálogo, reproduzido abaixo, entre Cachoeira e um outro integrante da quadrilha, o ex-delegado da PF, Fernando Byron, é revelador dessas ligações.

Cachoeira: Vai ter alguma coisa amanhã, em Goiânia?

Byron: Num tô sabendo, não. Acredito que não tem nada aqui não.

Cachoeira: E com a Delta tem alguma coisa?

Byron: Não, não, tá tudo tranquilo. Pode ficar tranquilo, tá tudo tranquilo.

A Delta Construções – empreiteira na qual o empresário Carlos Cachoeira mantém uma sala – celebrou contratos de limpeza, aluguel de carros e infraestrutura com o governo do Estado e as principais prefeituras de Goiás nos últimos dois anos. Ao contrário do que informou Byron, a empresa foi alvo de busca e apreensões da Operação Monte Carlo. Carlinhos Cachoeira é sócio de Cláudio Abreu, que é diretor laranja da Delta. Nas gravações telefônicas autorizadas pela Justiça, há diversas conversas nas quais Cachoeira ordena o fornecimento de valores a Cláudio. Numa delas, o chefe da quadrilha diz para o responsável pelo controle financeiro da organização, Geovani Pereira da Silva, disponibilizar R$ 700 mil ao diretor da Delta. O montante seria para ele “enviar para fora’ do País.

O que parece claro é que os integrantes da quadrilha, além de encher as burras de dinheiro com a jogatina e os roubos dos cofres públicos de Goiás, também usavam o seu tempo tramando contra integrantes do governo e do PT.

SÉRGIO CRUZ

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