sexta-feira, 20 de abril de 2012

Mantega elege China como seu bode expiatório para as importações devastadoras




O sr. Mantega arrumou, diante da desastrosa condução da política econômica - hoje com previsões em torno de zero de crescimento no primeiro trimestre, com o emprego e a produção industrial imergindo – um bode expiatório para a sua permissividade com as importações predatórias. Como lhe falta imaginação, esse bode expiatório é a China, que "manipularia" o câmbio, até obrigando os EUA (coitados) a desvalorizar o dólar, supõe-se que para se defender dos chineses.

Logo, o problema das importações no Brasil não seriam os juros altos que atraem os dólares das superemissões norte-americanas, encarecendo a produção interna e barateando as mercadorias importadas, nem a política de guerra cambial dos EUA, mas o câmbio fixo da China.

Esse tipo de covardia pode fazer sucesso entre aqueles que não querem enfrentar e resolver os problemas reais. Mas, exatamente por isso, nada tem a ver com esses problemas, ou seja, com a realidade. Pretender que os empresários nacionais se agarrem a esse espantalho, ignorando onde está o verdadeiro problema, é chamá-los de idiotas.

É interessante, do ponto de vista de quem tem vocação para estudar a pusilanimidade alheia, que não foram os chineses que inverteram a balança comercial com o Brasil, à custa, única e exclusivamente, de manipular o dólar para invadir o nosso país com suas mercadorias.

Até 2008, tínhamos superávit com os EUA. Mas, em 2009, com a guerra cambial declarada pelos EUA, através de superemissões de dólares desvalorizados, passamos a ter déficit: US$ -4,4 bilhões (2009), US$ -7,7 bilhões (2010) e US$ -8,2 bilhões (2011). Essa inversão, que aumentou estupidamente as importações dos EUA, foi realizada, única e exclusivamente, por manipulação cambial.

No mesmo período, os resultados em relação à China são os seguintes: US$ +5 bilhões (2009), US$ +5,1 bilhões (2010), US$ +11,5 bilhões (2011). Ou seja, um superávit crescente à nosso favor.

A invasão dos importados no Brasil são o resultado de uma política de juros que favorece a entrada de montanhas de dólares desvalorizados; de uma política cambial submissa aos interesses dos EUA e outros países centrais; e da política de abrir as portas para o chamado "investimento direto estrangeiro" - ou seja, de desnacionalizar a economia, instalando filiais de multinacionais em lugar de empresas nacionais. Não é por acaso que quase metade das importações são de bens intermediários, isto é, componentes para montagem, importados, sobretudo, por filiais de multinacionais.

Quanto à origem das importações, nos primeiros três meses do ano entraram no país US$ 8,2 bilhões em importações da China. Dos EUA, vieram US$ 7,7 bilhões de importados. E, da União Europeia, US$ 11,6 bilhões. Portanto, importamos dos países capitalistas centrais (sem considerar o Japão) nada menos do que US$ 19,3 bilhões, contra menos da metade da China. Ou, o que é a mesma coisa, importamos dos países centrais 2,3 vezes o que importamos da China.

A situação ainda é mais nítida se tomarmos como exemplo o ano passado. Em 2011, os EUA, isoladamente, superaram a China. Entraram no país US$ 34 bilhões em mercadorias importadas dos EUA, as da União Europeia ascenderam a US$ 46,4 bilhões e as importações da China ficaram em US$ 32,8 bilhões.

Portanto, as importações dos países centrais foram US$ 80,4 bilhões contra US$ 32,8 bilhões da China. As primeiras foram, em valor, 2,4 vezes as segundas.

Com a diferença já mencionada que tivemos em 2011 um saldo comercial, ou seja, superávit a nosso favor de US$ 11,5 bilhões com a China e um déficit de US$ -8,2 bilhões com os EUA. Quanto ao superávit com a UE, foi metade do superávit com a China.

Por último, é compreensível que em alguns setores – têxteis, confecções, calçados, por exemplo – os empresários vejam as importações chinesas como principal problema. Certamente, cabe ao governo brasileiro proteger (ou seja, defender) esses setores nacionais contra essas importações.

No entanto, nem por isso essas são as importações da China mais importantes em valor. Pelo contrário, também nessas importações predominam, em valor, os bem intermediários (componentes para montagem de aparelhos de radiodifusão; componentes para montagem de aparelhos de telefonia, etc.). Como não existe nenhuma multinacional chinesa montando esses produtos no Brasil, é fácil saber quem importa esses produtos da China: as multinacionais americanas, europeias, quiçá japonesas.

C.L.

 

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