domingo, 8 de abril de 2012

Arrocho do FMI/BCE leva idoso ao suicídio e revolta a Grécia


Aposentado, com 77 anos, Dimitris se matou para não ser “obrigado a revirar o lixo em busca do sustento” e defendeu que os jovens lutem para “pendurar os traidores do país na praça Sintagma”

A Grécia recebeu com comoção a notícia de que um aposentado de 77 anos, Dimitris Christoulas, se suicidou na Praça Sintagma, do lado de fora de numa estação de metrô, a 100 metros do parlamento grego, na quarta-feira (4), contra as humilhações a que o país está submetido. Na sua nota de suicídio, transcrita pelo Athens News, Christoulas compara o atual governo grego com a administração colaboracionista na II Guerra Mundial, encabeçada pelo oficial do exército Georgios Tsolakoglou.

ESPERANÇA


“O governo de Tsolakoglou acabou com a possibilidade de eu poder sobreviver com uma pensão digna, que paguei sozinho durante 35 anos sem nenhuma ajuda do Estado. E, sendo que a minha idade avançada não me permite reagir de forma dinâmica (embora se um colega grego pegasse uma Kalashnikov, eu estaria bem atrás dele), não vejo outra solução senão pôr, de forma digna, fim à minha vida, para que eu não me veja obrigado a revirar o lixo para assegurar o meu sustento. Eu acredito que os jovens sem futuro um dia vão pegar em armas e pendurar os traidores deste país na praça Sintagma, assim como os italianos fizeram com Mussolini em 1945”.

Uma testemunha relatou que ainda o ouviu gritar “não quero deixar dívidas aos meus filhos”. O tiro foi disparado pouco antes das 9 h da manhã. Milhares de pessoas acorreram à Praça Sintagma – local das principais manifestações contra o arrocho deflagrado pela Troika (FMI/BCE/União Europeia) – e homenagearam o idoso com ramos de flores e velas.

Mensagens de indignação foram postadas numa árvore junto ao local aonde ele tombou. “Governo assassino”; “Não foi um suicídio, foi um assassinato”; “quem será o próximo?”; e “memorando [da Troika] assassino”. Numa dessas mensagens podia se ler uma citação de Ésquilo, dramaturgo da Grécia Antiga: “Nós não enterramos os nossos mortos. Nós os colocamos na linha da frente”. Também houve manifestação em Tessalônica, a segunda maior cidade grega. Na capital grega, a polícia reprimiu com violência a manifestação em homenagem a Christoulas.

No país, um em cada cinco gregos está desempregado e as aposentadorias foram cortadas em até 25%. “Sinto-me triste. Ultimamente ocorrem muitos suicídios, na Grécia, mas este é especialmente triste pela situação em que este homem morreu”, disse à agência Efe Vassilis, de 33 anos. “Por este caminho de austeridade, a Grécia não vai bem”. De acordo com dados do Ministério da Saúde, houve um aumento de 40% no número de suicídios desde o início da crise.

 

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