sexta-feira, 9 de março de 2012

Bicheiro importou cozinha dos EUA para presentear o probo Demóstenes

 “Somos só amigos”, disse o líder do Dem

Demóstenes é amigo do peito de contraventor, descobre PF

Polícia Federal registra 298 ligações telefônicas entre corda e caçamba

A PF detectou que o senador Demóstenes Torres (Dem-GO) mantinha profundas ligações com o bicheiro e contraventor, Carlos Cachoeira, que comandava um esquema de jogos de azar há dezessete anos. A Operação da PF, através de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, descobriu que o líder do Dem no Senado trocou 298 telefonemas com o bicheiro e que o contraventor também presenteou Demóstenes com uma cozinha importada dos EUA, no valor de US$ 27 mil (cerca de R$ 46,7 mil). “Sou amigo dele há anos. Pensei que ele tivesse abandonado o crime”, disse Demóstenes candidamente. 
 

“Sou amigo dele há anos”, admitiu o líder do Dem, que trocou 298 telefonemas com o bicheiro

O senador Demóstenes Torres (Dem-GO) foi flagrado pela Polícia Federal em profundas ligações com o bicheiro e contraventor, Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlos Cachoeira, mafioso que comandava um esquema de jogos de azar há dezessete anos. A Operação Monte Carlo, da PF, através de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, descobriu que o líder do Dem no Senado trocou 298 telefonemas com o bicheiro entre fevereiro e agosto de 2011, como mostram as transcrições das gravações feitas pela investigação federal.

E as descobertas da PF não ficaram apenas nas inexplicáveis e suspeitíssimas 1,4 ligações diárias em média do senador para o criminoso. As conversas telefônicas revelaram que o contraventor também presenteou o paladino da moralidade com uma cozinha importada dos EUA no valor de US$ 27 mil (cerca de R$ 46,7 mil). O singelo presente seria de uma marca conhecida por equipar a cozinha da Casa Branca. Além do vultoso agrado a Demóstenes, o bicheiro, que há anos não tinha seus negócios incomodados em Goiás, presenteou também o prefeito de Águas de Goiás, Geraldo Messias (PP) e sua esposa, com uma viagem para Las Vegas, com tudo pago.

Em um singelo e cândido pronunciamento da tribuna do Senado, feito na terça-feira (6), Demóstenes Torres jurou que achava que “o amigo tinha se regenerado”. “Sou amigo dele há anos. Pensei que ele tivesse abandonado o crime”. “Depois do escândalo Waldomiro Diniz, eu pensei que ele tivesse abandonado a contravenção, e se dedicasse apenas a negócios legais”, disse candidamente o senador, que há dez anos posa na Casa como se fosse o único honesto e ético na face da terra. “Aí fora eu não sei, mas aqui em Goiás ele é um empresário de sucesso, muito simpático, com trânsito em vários setores”, afiançou o líder do Dem. “Para mim, foi uma surpresa as revelações feitas por essa operação da Polícia Federal”. E sobre o presente recebido do contraventor, ele tentou convencer os senadores que “foi apenas um presente de casamento”. “Não perguntei o preço por uma questão de educação”, acrescentou, como se fosse isso o que que está em questão.

Apesar de Demóstenes tentar justificar que não sabia da vida do contraventor Carlos Cachoeira, isso é ridículo, porque o bandido foi muito badalado no Brasil inteiro no caso das propinas envolvendo Waldomiro Diniz, então assessor da Casa Civil, em 2004. Só o ex-promotor Demóstenes Torres jura de pés juntos não conhecer a ficha criminal de Cachoeira. O meliante já tinha sido condenado a dez anos de prisão pelos crimes de corrupção ativa e passiva e fraude em licitação. E, cá entre nós, dizer que não sabia que Carlinhos Cachoeira era criminoso é piada de salão. Só os ingênuos, entre eles seus diversos aparteadores, acreditam nessa balela.

Oito pessoas foram presas durante a Operação Monte Carlo, incluindo Cahoeira. Outros três suspeitos que estavam foragidos se entregaram nas Superintendências da PF em Goiânia e em Brasília, no fim de semana. Eles deverão depor nas próximas horas. Carlos Cachoeira está em um presídio federal em Mossoró (RN). O inquérito que resultou na operação da Polícia Federal (PF) mostra as ligações do bicheiro com várias autoridades de Goiás. Em uma das escutas telefônicas utilizadas na investigação, Cachoeira liga para o delegado Fernando Byron Filho, da PF de Anápolis (GO), e pede para que ele não indicie o prefeito Geraldo Messias na Operação Apate, que havia identificado fraudes de R$ 200 milhões na Receita Federal e envolveu diversas prefeituras.

Segundo a PF, o delegado integrava o grupo criminoso comandado pelo bicheiro e foi detido na Monte Carlo.

O prefeito Geraldo Messias negou que tenha recebido passagens aéreas, mas admitiu que o bicheiro pagou o hotel onde ele e sua esposa se hospedaram em Las Vegas, em maio de 2011. “O hotel é de uma pessoa ligada a ele”, disse o prefeito. Geraldo Messias e o bicheiro se conhecem há um ano e meio, segundo informação do próprio prefeito. As conversas telefônicas degravadas para a investigação da Monte Carlo mostram a importância do prefeito para os negócios de Cachoeira. A cidade abrigou diversas máquinas caça-níqueis e casas de bingo do grupo criminoso.

O contato para falar sobre a Operação Apate foi feito em 27 de abril de 2011, conforme as investigações. A operação foi deflagrada 16 dias depois, em Goiás e em Minas Gerais. Não há informação no inquérito sobre o resultado do pedido feito por Cachoeira, que, na mesma conversa, foi orientado pelo delegado da PF a “proteger as máquinas em razão de possível operação relacionada à exploração de jogos”.

Em seu discurso, Demóstenes, conhecido por ser sempre o primeiro a atacar qualquer político, principalmente quando é integrante do governo, à primeira acusação - sem provas - da mídia oposicionista, reclamou que a investigação da Polícia Federal tinha se precipitado. Se fosse um governista a essa hora já estaria ardendo no inferno queimado e torrado por Demóstenes. Uma CPI teria sido a primeira providência por parte deste inquisidor-mor demista.

“Deveria ter guardado mais discrição”, declarou Demóstenes. Ora, a Polícia Federal desarticulou uma quadrilha que explorava máquinas de caça-níquel em quatro estados e no Distrito Federal, prendeu oito pessoas, inclusive o seu amigo e descobriu a íntima relação do bicheiro com o tão zeloso senador demista, e ele queria “discrição”. Evidentemente que esse discurso não cola. Que discrição ele queria ainda? Que o nome do seu amigo não fosse revelado? E em que a polícia foi precipitada? Ela não deveria ter prendido o criminoso tão logo comprovou-se sua atividade criminosa? Deveria ter consultado o senador em respeito à sua longa amizade com o contraventor?

Como dissemos, o senador recebeu alguns apartes ao seu discurso. Mas, apesar do esforço de seus pares para tentar livrá-lo das explicações mais embaraçosas, ele confirmou ser amigão do criminoso condenado Carlos Augusto Ramos. “Mas, eu não sabia de nada era só amizade”, garantiu.

SÉRGIO CRUZ

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