quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Há 67 anos, soviéticos libertavam Auschwitz


A libertação de Auschwitz pelos soviéticos vindos da frente ucraniana ocorreu na tarde do dia 28 de Janeiro de 1945. Sete a oito mil prisioneiros ainda estvam no campo. Horrorizados com o que encontraram, os soviéticos denominaram o complexo de “Fábrica da Morte”
Há 67 anos deva-se a libertação de Auschwitz pelo Exército Vermelho, o mais conhecido dos campos de concentração construídos pelos nazistas. Horrorizados com o que encontraram, os soviéticos denominaram o complexo de «Fábrica da Morte».
A libertação de Auschwitz pelos soviéticos vindos da frente ucraniana ocorreu na tarde do dia 28 de Janeiro de 1945. Sete a oito mil prisioneiros permaneciam no campo, os últimos de um total de pelo menos um milhão e trezentos mil que, entre 1940 e 1945, foram assassinados. Poucos foram os que sobreviveram às câmaras de gás, aos fornos crematórios, ao trabalho escravo, às torturas, ao arbítrio sádico dos criminosos, à fome, ao frio, às doenças, às experiências macabras nas quais seres humanos eram usados como cobaias. Auschwitz era um complexo de três campos e era o maior entre uma extensa rede de campos espalhados pela Europa.
No início da ofensiva militar, as autoridades do III Reich mandaram construir Auschwitz I com o objetivo de prender opositores políticos. Os primeiros ocupantes, em Maio de 1940, foram alemães e polacos transferidos dos campos de concentração de Sachsenhausen, na Alemanha, e de Lodz, na Polônia. Militantes comunistas, sindicalistas, judeus e antifascistas, democratas e intelectuais e indivíduos com comportamentos que fugissem ao ideal ariano, eram todos inimigos do regime criminoso liderado por Adolf Hitler. Dachau, Sachenhausen ou Buchenwald foram dos primeiros campos construídos pelos nazistas.
No início de 1942, começou a funcionar Auschwitz II (Auschwitz-Birkenau), uma ampliação do primeiro campo. Em Outubro de 1942 entrou em funcionamento o Auschwitz III, que mais tarde passaria  se chamar Monowitz. Este último campo tinha  “vocação” para a exploração extrema da mão-de-obra escrava.
 Estrategicamente colocado no centro da Europa, Aschwitz-Birkenau foi o campo que mais prisioneiros exterminou, sobretudo judeus (quase um milhão num total de 2,7 milhões de semitas mortos em todos os campos de extermínio, e num total de seis milhões liquidados pelos nazistas). O assassinato nas câmaras de gás foi instituído no final de 1941. Os testes com Zyklon-B, usado para combater pragas, foram efetuados com sucesso em soviéticos e polacos. A partir de então, em Auschwitz-Birkenau e noutros campos semelhantes, aquele era o principal instrumento de extermínio.
 Em Janeiro de 1942, durante a Conferência de Wannsee, os líderes nazistas discutiram em detalhe a «Operação Reinhardt» ou «solução final» da questão judaica, como diziam. Adolf Eichmann administrou o holocausto organizado com minúcia. Reinhardt Heydrich respondia pela coordenação geral. A Auschwitz-Birkenau chegavam comboios cuja circulação era ininterrupta. Vagões apinhados descarregavam vítimas a toda a hora e de todos os pontos da Europa ocupada e das ramificações nazistas nos regimes vassalos e aliados. Na Croácia fascista funcionava um outro campo de extermínio, em Jasenovac. Entre a chegada a Auschwitz-Birkenau e a entrada nas câmaras de gás, após seleção dos aptos e inaptos para o trabalho escravo, podiam se passar apenas duas horas.
A «Fábrica da Morte» chegou a aniquilar seis mil seres humanos por dia. Quando os fornos crematórios não carbonizavam os milhares de cadáveres com celeridade, os corpos eram empilhados e queimados ao ar livre.               
Milhares de mortos
 Nos últimos meses de 1944, face ao avanço do Exército Vermelho, os nazistas mandaram destruir as câmaras de gás e crematórios de Auschwitz-Birkenau. A ocultação das provas dos crimes cometidos não conheceu limites, e em Janeiro de 1945 mataram quase todos os prisioneiros. A 17 de janeiro foi dada ordem de evacuação dos três campos de Auschwitz. Mais de 60 mil prisioneiros foram obrigados a marchar dia e noite. Milhares morreram pelo caminho ou foram mortos. Em outros campos de concentração evacuados antes da chegada das tropas soviéticas, centenas de milhares de prisioneiros foram igualmente obrigados a percorrer quilômetros nas famosas «Marchas da Morte». Além de Auschwitz-Birkenau, os nazistas instalaram outros seis campos dedicados quase exclusivamente ao genocídio. Em Chelmo, Maly Trostenets, Majdanek, Treblinka, Bełżec e Sobibór. 
Experiências bizarras
Tal como em outros campos, também em Auschwitz-Birkenau o nazistas ordenaram experiências cruéis e bizarras em seres humanos. No Bloco 10 do campo, Joseph Mengele, responsável pela triagem dos prisioneiros enviados para extermínio ou para trabalho escravo, ficou conhecido como o «anjo da morte». Usando seres humanos como cobaias, Mengele testou a esterilização em mulheres, injetou substâncias para mudar a cor dos olhos de crianças e bebes, amputou e feriu para apurar métodos de estancamento de hemorragias, colecionou milhares de órgãos após cirurgias violentas, uniu gêmeos para tentar criar siameses, injetou substâncias para «tratar» o nanismo, ou a síndrome de Down.
Nos campos de Dachau, Sachsenhausen e Buchenwald, homens eram enfiados em tanques de água para testar os efeitos da hipotermia ou sujeitos a compressão e descompressão, agonizando enquanto os carrascos davam notas. Eram infectados com tifo, peste, lepra, cólera, ou sujeitos a inalação de produtos tóxicos.
 As práticas não eram iniciativa de um punhado de sádicos, mas financiadas e acompanhadas com interesse pelos dirigentes do III Reich. Foram publicados artigos e criados institutos. As ossadas de judeus, ciganos, mestiços ou deficientes eram enviadas para Berlim para demonstração da superioridade da raça ariana. Empresas sustentáculo do poder nazista, como a IG Farben (Bayer), compravam seres humanos para usá-los nos laboratórios.
Os monopólios lucraram
 No complexo de Auschwitz, o campo de Monowitz funcionava fundamentalmente como pólo de trabalho forçado. Deutsche- Ausrüstungs-Werk – DAW (empresa de armamento das SS), IG Farben-Bayer (que era também a fornecedora do gás Ziklon-B) ou Krupp foram algumas das empresas que ali instalaram unidades alimentadas por mão-de-obra escrava. A abundância levava à exclusão semanal dos inaptos e doentes, imediatamente sentenciados à morte. A esperança média de vida dos prisioneiros sujeitos a jornadas brutais em condições inumanas rondava os três meses.
 Em Auschwitz-Birkenau foram fundados quase 40 subcampos onde milhares de pessoas produziam produtos agrícolas e industriais; eram enviados para a extração de carvão ou pedra. Em Dachau, que administrava mais de 30 outros grandes campos de trabalho, em Buchenwald, que administrava mais de 80 estruturas, ou em Sachsenhausen, de onde eram geridos 60 campos de trabalho espalhados por toda a Alemanha, a palavra de ordem era igualmente fazer lucrar o capital à custa da escravatura. Nos latifúndios germânicos e nas casas dos senhores do III Reich e militantes nazistas, milhares de eslavos foram explorados até à exaustão. Quando morriam, compravam-se outros escravos. 
 Cúmplices na impunidade
  Derrotada a besta, muitos dos criminosos foram capturados, julgados e sentenciados. Muitos mais fugiram da justiça. Não poucos escaparam porque, aniquilado o imperialismo alemão, o alvo passou a ser a URSS. Contra o primeiro Estado socialista, a reação mundial havia atiçado as hordas nazi-fascistas, que foram derrotadas e empurradas até ao seu covil, em Berlim, pelos heróicos soviéticos que sabiam defender a pátria de todo o proletariado. 
Após a capitulação do regime fascista, os EUA, através da «Operação Paperclip», empenharam-se na caça dos especialistas nazistas, particularmente os envolvidos na máquina militar e de inteligência. O responsável pelo programa de foguetes da Alemanha hitleriana e membro do Partido Nazi, Wernher von Braun, é um dos quase dois mil cientistas e técnicos resgatados. A posterior carreira de sucesso de von Braun no programa espacial norte-americano não é caso isolado. No rol de colaboradores das fugas de criminosos nazis, destaca-se ainda a neutral Suíça e o Vaticano do papa Pio XII (que enquanto cardeal obrigou os bispos católicos alemães a jurar fidelidade a Hitler).
Revoltas e resistência
Face ao horror nazista, não havia pacificação possível, e apesar da brutal repressão e da morte certa muitas vezes eclodiram revoltas nos campos. Em Auschwitz centenas de prisioneiros se rebelaram em 1944. Mataram guardas e fizeram explodir um dos edifícios onde funcionavam as câmaras de gás e os fornos crematórios, usando granadas trazidas de uma fábrica de armamento onde trabalhavam.
Calcula-se que cerca de 700 prisioneiros tenham tentado fugir de Auschwitz. Menos de metade tiveram êxito. Um outro caso de resistência e revolta passou-se no campo de Buchenwald e foi descrito por Bruno Apitz, comunista alemão que escreveu o romance «Nu entre Lobos», editado pela Avante!, onde o autor descreve a experiência vivida por ele e por muitos dos seus camaradas.
Em Buchenwald foi assassinado Ernst Thaelmann, presidente do Partido Comunista Alemão, revolucionário tenaz que os nazis nunca conseguiram quebrar durante os 11 anos passados nos cárceres do III Reich, a exemplo de milhares de outros que resistiram à barbárie nas condições mais extremas e perante os maiores obstáculos, conservando a centelha de vida e esperança onde germina o futuro. 
* Principais trechos de artigo publicado no jornal Avante

Nenhum comentário: