terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

DA TAXA TOBIN AO CONTROLE PÚBLICO DA BANCA

 




Em dezembro de 1997, quando a riqueza financeira representava 15 vezes o valor do PIB mundial, Ignacio Ramonet, então diretor do Le Monde Diplomatique, escreveu um célebre editorial, 'Desarmar os Mercados'. Nele, o ativista que foi um dos criadores do Forum Social Mundial alvejava a supremacia das finanças desreguladas que "contorna e rebaixa as nações e seus Estados", para disparar a indagação que guarda brutal atualidade nas ruas de Atenas, Lisboa, Madrid ou Roma: "Até quando as sociedades podem tolerar o intolerável?"

Na resposta, Ramonet lançaria a agenda que resistiu até a crise mundial de 2008 como o principal contrafogo progressista ao poder que viola a democracia impondo-se como um comanda paralelo à sociedade.

A taxação das operações financeiras, a Taxa Tobin, associada - preconizava Ramonet- à supressão dos paraísos fiscais e ao maior controle sobre os lucros do capital, seria o grão de areia de uma luta global para travar e reverter a dominância da engrenagem financeira sobre a economia e a política.

Quinze anos depois, a massa da riqueza financeira hoje é 60 vezes superior ao PIB mundial. O colapso da engrenagem não ocorreu por conta do grão de areia, mas em decorrência da avalanche inerente ao vale tudo pró-cíclico da jogatina financeira. A crise de proporções sistêmicas encerrou um ciclo e um agenda. Não há mais sentido em colocar um grão de areia numa engrenagem colapsada nos seus próprios termos.

No dia 27 de janeiro, em entrevista a Carta Maior, durante o Fórum Social Mundial temático, em Porto Alegre, coube ao economista Luiz Gonzaga Belluzzo enunciar o passo seguinte desse processo: "A Taxa Tobin já é uma questão anacrônica. É preciso exercer o controle público sobre o sistema encarregado da gestão da riqueza capitalista. As agências de risco uniram-se à sanha privatista. Falsificaram uma função necessária. O controle público do sistema financeiro está posto na agenda da crise.

Temos de controlar os elementos que produzem o mercado", resumiu o economista. No último dia 10 de fevereiro, um editorial do mesmo Le Monde Diplomatique, agora assinado pelo editor Serge Halime, endossa a travessia histórica indicada por Belluzzo. No momento em que taxar operações financeiras tornou-se um discurso incremental na boca de Sarkozy, Obama e outros, o Le Monde Diplomatique assume: "Poderíamos continuar a satisfazer-nos «atirando areia nas engrenagens do sistema financeiro»... Mas visto que este representa hoje, reconhecidamente, um bem público vital, usado para tornar a sociedade refém de sua lógica, temos também de avançar. E exigir que os bancos deixem de pertencer a interesses privados".
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