sábado, 11 de fevereiro de 2012

CRISTINA DENUNCIA MILITARIZAÇÃO COLONIAL INGLESA DO ATLÂNTICO SUL



A presidente da Argentina afirmou que denunciará a radicalização da militarização do Atlântico Sul pela Inglaterra à ONU e que essa política irresponsável e anacrônica hostiliza toda a região


A presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, afirmou na terça-feira (07), que denunciará a radicalização da militarização do Atlântico Sul por parte da Inglaterra ao Conselho de Segurança e à Assembléia Geral da ONU.

“Mais uma vez, estão militarizando o Atlântico Sul. Não podemos interpretar de nenhuma outra maneira o envio de um destróier acompanhando o herdeiro real”, disse, em referência ao príncipe William, que chegou às ilhas na semana passada para a realização de exercícios militares vestido como piloto de caça da força aérea britânica.

Nas Malvinas, a Inglaterra montou a maior base militar do Atlântico Sul, a de Mount Pleasant, dedicada a ações de vigilância armada. As ilhas têm 3000 habitantes civis - os kelpers – e 1.650 soldados da Marinha, Exército e Aeronáutica. Caças supersônicos Tornado F-3, aviões EC-130 de monitoramento eletrônico, helicópteros antissubmarino, uma fragata lança - mísseis, lanchas torpedeiras e um grande jato VC-10/T, de reabastecimento em vôo, e agora enviou um dos seus barcos de guerra mais avançados, o destróier HMS Dauntless, e um submarino nuclear - equipado com mísseis de cruzeiro Tomahawk - com técnicos que falam espanhol para escutar comunicações de rádio marítimas na região.

Falando em frente a uma bandeira das Malvinas com as cores da bandeira argentina, diante de veteranos da guerra, partidos políticos, inclusive os da oposição, máximos dirigentes da Justiça, o Parlamento, a indústria e os sindicatos, Cristina Kirchner classificou a atitude inglesa como “irresponsável” e um “grande risco para a comunidade internacional”, afirmando que este território não pode ser tratado como um “troféu de guerra”.

“Estamos aqui hoje porque as Malvinas deixaram de ser somente uma causa dos argentinos para se transformar numa causa dos americanos, da América Latina, da América do Sul e numa causa global”, assinalou, sublinhando que a usurpação das Ilhas é hoje “uma causa global e regional porque é um anacronismo que no século XXI continue existindo colônias. Há apenas 16 casos em todo o mundo e 10 desses casos são da Inglaterra e nestes 10, também estamos conhecendo como recrudesce a reclamação da Espanha sobre o Rochedo de Gibraltar”.

“É também regional e global porque as grandes batalhas do século XXI vão ser sobre os recursos naturais de nossos povos. E América Latina, a América do Sul é uma das regiões mais ricas do planeta, não somente em recursos humanos, mas em recursos naturais, em água e em todas as potencialidades que diariamente estão se descobrindo”, frisou Cristina, ressaltando a depredação e o assalto ao petróleo.

O alerta da presidenta é mais que procedente. O Serviço Britânico de Medições Geológicas estima que pode haver até 60 bilhões de barris de petróleo sob as águas do arquipélago (três vezes o total das reservas norte-americanas de petróleo). O jornal inglês The Sun informou recentemente que a empresa Anadarko, vinculada ao Pentágono, investirá US$ 1,5 bilhão na petrolífera britânica Rockhopper para as prospecções, já realizadas desde 2010 pela também inglesa Desire Petroleum, em uma plataforma situada a cerca de 100 quilômetros da costa das ilhas.

“Sinto-me mais que nunca a presidenta dos 40 milhões de argentinos, porque a presença de tantos setores revela claramente que estamos ante um fato de Estado, de política nacional. Essa política de Estado é de memória, verdade e justiça. A esses valores lhe acrescentaria o de democracia e soberania. Assim lhe dão o exato lugar que para nos tem a causa Malvinas”, explicou.

Cristina Kirchner também anunciou que a partir de março, os ex-combatentes argentinos que participaram da guerra das Malvinas receberão tratamento para distúrbios psicológicos, mencionando os numerosos suicídios de veteranos argentinos que, 30 anos depois, não receberam o auxílio adequado após participar do combate.

APOIO REGIONAL


“Esta é uma das nossas maiores conquistas”, afirmou Cristina sobre o apoio demonstrado recentemente por países latino-americanos, que, salientou, se deve a que estes veem no domínio inglês “uma potencialidade do que pode acontecer”.

Em dezembro, os países do Mercosul – Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai – decidiram bloquear a entrada em seus portos de navios com bandeira das Malvinas, decisão política que reafirma o apoio à soberania argentina sobre as ilhas. No último fim de semana, os integrantes da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América), também aprovaram o apoio do grupo à reivindicação de soberania sobre as Ilhas Malvinas.

O presidente equatoriano, Rafael Correa, propôs que a Alba imponha sanções à Inglaterra frente às recusas britânicas em dialogar sobre a disputa pelo arquipélago. Nicarágua, Cuba, São Vicente e Granadinas, Dominica e Antígua e Barbuda também aderiram à decisão de exigir que a Inglaterra respeite a soberania de Buenos Aires sobre as Ilhas Malvinas. Hugo Chávez afirmou que se o “Império Britânico” agredir a Argentina, o país não estará sozinho.

O chanceler da Argentina, Héctor Timmerman, afirmou que a Grã-Bretanha já “entendeu que a Argentina não está sozinha”, lembrando do apoio de países da Celac (Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos), Unasul (União das Nações Sul-americanas) e Caricom (Comunidade do Caribe).

Dirigentes políticos da base de apoio do governo e da oposição, lideranças sociais, sindicais e empresários apoiaram sem restrições os anúncios realizados pela presidenta em relação a reclamação pela soberania argentina sobre as ilhas do Atlântico Sul.

SUSANA SANTOS

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