quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

“40% do comércio entre Brasil e Argentina é das montadoras”


Alto Representante do Mercosul, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães:

"São Multinacionais, não são empresas nacionais"

O Alto Representante do Mercosul, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, apontou que grande parte do comércio entre os países membros do bloco é realizado entre empresas multinacionais. Ele citou como exemplo o setor automotivo, que, no caso dos principais países do bloco, Brasil e Argentina, ocupa 40% do comércio.

“Essa visão choca com alguns exemplos da própria realidade. No comércio entre Brasil e a Argentina, 40% é automotivo, e não se trata de um intercâmbio surgido do comércio livre. É feito por multinacionais”, destacou.

Para o embaixador, as montadoras de veículos “assim organizam a sua produção”. Utilizando as regras de comércio do Mercosul para maximizar os lucros em sua cadeia produtiva.
Em entrevista ao jornal argentino “Página 12”, concedida durante as atividades do Fórum Social, na última semana, Samuel Pinheiro relembrou que a origem do Mercosul se deu “em 1991 sobre a base de governos neoliberais. Os que assinaram o Tratado de Asunción foram Carlos Menem, Fernando Collor, Andrés Rodríguez e Luis Lacalle, presidentes de governos tipicamente neoliberais, que pensavam na integração regional como um instrumento prévio à integração aberta com o mundo”.

“E isso não pode ser. O regionalismo aberto é como um casamento aberto. É um contra-senso, porque os acordos de livre comércio com terceiros obviamente destruiriam o Mercosul em razão das tarifas zero”, ressaltou.

“O livre comércio não leva ao desenvolvimento. Leva à desintegração”, enfatizou o representante.

Samuel Pinheiro disse ainda que o bloco deve ser um instrumento de desenvolvimento industrial dos países. Ele afirmou ainda que a crise financeira não afeta diretamente os países do Mercosul, mas estes, sofrem um impacto distinto por conta dela,” um da China e outro dos Estados Unidos e da crise europeia”. Para o embaixador, os países devem pensar em como utilizar dessa situação para impulsionar o desenvolvimento industrial.

O Mercosul, “tem que ser transformado em um instrumento de desenvolvimento industrial dos quatro países. Em qualquer sistema de integração os países maiores se beneficiam mais, mas deve haver mecanismos de compensação através da infra-estrutura”, destacou.

Questionado sobre qual o seu maior orgulho quando ocupou a Vice-Chancelaria do governo do presidente Lula, o embaixador foi enfático em responder: “Antes de Lula já me havia dedicado à luta contra a ALCA. Continuei e conseguimos, em 2005, que os países mais importantes da América do Sul não formassem uma área de livre comércio de toda a América”.

“Também lembro a briga, no Brasil, contra os acordos de proteção de investimentos. A Argentina sofre muito, ainda hoje, com esses acordos que Menem assinou. O Ministério da Fazenda do senhor Antonio Palocci queria e eu não. Como sou amigo de Celso Amorim, que era chanceler, isso foi importante. Também pusemos muita ênfase na América do Sul”, respondeu Samuel Pinheiro.

O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, assumiu em janeiro de 2011 o cargo de Alto Representante do Mercosul, em substituição ao posto de Presidente do bloco, que ficou vago com a morte do ex-presidente argentino Néstor Kirchner. Durante o governo Lula, Samuel Pinheiro, ocupou, além da Vice-Chancelaria, o cargo de secretário de Assuntos Estratégicos do Governo Federal.

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