sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O NÚMERO DE AMERICANOS FERIDOS NO IRAQUE É MUITO MAIOR QUE O DADO OFICIAL, APURA ESTUDO DO CONGRESSO



Se a quantidade de soldados estadunidenses mortos no Iraque é inteiramente subestimada pelo grande número de mercenários utilizados desde 2003 pelo Pentágono, quem dirá o de feridos, mutilados ou que sofrem com lesões cerebrais traumáticas, depressão, perda de audição, distúrbios respiratórios e toda sorte de doenças que importaram do sangrento campo de batalha em que se transformou o país.

Sobre o tipo de acompanhamento médico ou psicológico dedicado às centenas de milhares de vítimas pelo governo americano, podemos ter uma vaga ideia pelo filme Sick, de Michael Moore, com inúmeras declarações de bombeiros que atuaram na queda das torres gêmeas e foram abandonados. Ao final, acabaram recebendo tratamento... Em Cuba.

Na tentativa de reduzir a montanha a um grão de areia, o Departamento de Estado utiliza a categoria altamente suspeita de “feridos em ação”. O jargão é feito sob medida para quantificar apenas e tão somente os feridos em combate e que precisaram de tratamento médico emergencial após terem sido atingidos, excluindo todos os vitimados psicológica ou fisiologicamente pelo acúmulo de tensões e ferimentos, bastante comuns entre veteranos. A magnitude do problema tem sido evidentemente minorada pelo governo - e pelas agências desinformativas a serviço do cartel bélico – convertendo-se numa forma de propaganda para encobrir a dimensão da resistência iraquiana e afegã à ocupação estrangeira.

Um artigo do jornalista estadunidense Dan Froomkin, do Huffington Post, lembra que o número de baixas assumido pelo Pentágono: 4.487 mortos e 32.226 feridos, de um total de 1,5 milhão de homens e mulheres que passaram pelo Iraque, é “descontroladamente subestimado”. “O verdadeiro número de militares feridos durante o curso do nosso fiasco está nas centenas de milhares, talvez até mais de meio milhão”. Afinal, questiona, como não levar em conta todos que retornaram com problemas de saúde que os impossibilitam de ter uma vida normal?

Ele aponta a título de reflexão alguns destes problemas, olimpicamente desconsiderados pela manipulação midiota:

- Conforme o Centro de Veteranos foram diagnosticados 229.106 casos – de leves a graves – de lesão cerebral traumática entre 2000 e o terceiro trimestre de 2011, incluindo Iraque e Afeganistão;

- Um relatório do Serviço de Pesquisa do Congresso dos EUA de 2010 reconheceu ser “difícil de encontrar estatísticas precisas sobre baixas militares”, pois há “subnotificação de baixas” através da categoria “feridos em ação” e que, para cada um militar americano efetivamente evacuado do Iraque por ferimento, outros quatro foram clinicamente retirados do país.

- Estudo de 2008 publicado no New England Journal of Medicine descobriu que 15% dos soldados relataram terem sido lesionados durante o período em que estiveram servindo, com perda de consciência ou estado mental alterado, enquanto 17% descreveram outros ferimentos. Relação que pode sugerir que 480 mil veteranos do Iraque foram feridos “de um jeito ou de outro”.

- Segundo o Centro de Veteranos, um em cada três soldados que atuaram nas agressões ao Iraque e ao Afeganistão sofrem de stress pós-traumático, depressão ou lesão cerebral traumática, o equivalente a 500 mil dos 1,5 milhão soldados estadunidenses que pisaram solo iraquiano.

- Entre os problemas mais comuns de deficiência está o de perda de audição, reforçando uma pesquisa de fonoaudiólogos com veteranos em 2005, que constatou que 72% dos expostos à explosões ficaram com seqüelas definitivas. O diretor do Centro de Audição e Surdez da Universidade de Búfalo, Richard Salvi, informou recentemente que cerca de 50% dos soldados pesquisados sofrem com “zumbidos”, vitimados por um “ruído intenso”.

- O Departamento de Assuntos dos Veteranos do governo dos EUA inclui na lista de enfermidades que os soldados trazem consigo fibromialgia (condição dolorosa generalizada e crônica que engloba também fadiga, indisposição e distúrbios do sono), problemas auditivos, hepatite A, B e C, leishmaniose, malária, perda de memória, depressão, enxaquecas e tuberculose. Entre os riscos a que foram expostos, com efeito potencializado pelas armas químicas e bacteriológicas que utilizaram indiscriminadamente contra a população civil, estão “doenças infecciosas, urânio empobrecido e estilhaços tóxicos”.

Para Dan Froomkim, como os problemas persistirão por décadas, “e os números citados por políticos e pela mídia não chegam nem perto de refletir o custo real”, é preciso investigar a fundo. “Nós devemos isso a eles para fazer uma contabilidade completa do seu sacrifício – e nunca esquecê-lo”, disse.

LEONARDO SEVERO

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