sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

AS SANÇÕES DE OBAMA AOI PETRÓLEO IRANIANO E OS INTERESSES DA EUROPA



 O Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov criticou hoje em Moscou as sanções impostas pelos EUA ao Irã afirmando que tais medidas “estão destinadas a estrangular a economia e causar danos e sofrimentos à população iraniana”. E acrescentou: “Essas sanções foram provavelmente pensadas para incitar o descontentamento social no Irã e não com o fim de assegurar-se de que se trata de um programa nuclear pacífico”.

Os EUA intensificaram sua campanha de provocações contra o Irã por que querem demonstrar força e presença militar na Ásia, região que hoje consideram “estrategicamente prioritária” para os seus interesses políticos e econômicos e não aceitam o controle exercido pelo Irã no Estreito de Ormuz por onde transitam 40% do petróleo comercializado no mundo, entrada e saída do Golfo Pérsico, onde está estacionada (no Bahrein) a IV frota militar naval norte-americana.

No dia 1º de janeiro os EUA revelaram sua decisão de pressionar o Irã com mais bloqueios e sanções econômicas e intensificaram sua “gestão” junto aos países europeus para que parem de comprar o petróleo iraniano. Os EUA dizem que vão retaliar as empresas dos países que comprarem petróleo do Irã, o que causou “desconforto” nos países que importam o petróleo desse país e, ao mesmo tempo, demonstra o quanto é difícil os EUA imporem aos europeus o boicote ao petróleo iraniano.

Os EUA não compram petróleo do Irã. Esse não é o caso de vários países europeus além da China, Índia e do Japão. A China importou de janeiro a junho de 2010 pouco mais de 22% da produção de petróleo iraniano. A Europa importou 18%, o Japão 14%, a Índia 13%, a Coreia do Sul 10% e a Turquia 7% do que o Irã exportou, de acordo com informação do Departamento de Energia dos EUA.

Dos 18% importados do Irã pela Europa, a maior parte, 7%, ficou com a Itália. A Espanha ficou com 6% desse montante, a França 2%, a Grécia, a Alemanha e a Holanda ficaram com 1% cada. Esses volumes importados correspondem a 14% do consumo na Grécia, 13% do que a Itália e a Espanha consomem cada uma, 4% do que consome a França e 1% do consumo da Holanda e da Alemanha. Também a Inglaterra importou do Irã no mesmo período 1% do petróleo que consome.

O embargo proposto pelos EUA à União Europeia às exportações iranianas é, sem dúvida, um grave contratempo econômico para o governo de Teerã, mas é evidente que o grau de inconveniência gerado aos países europeus, à China, Índia e Japão que importam maiores quantidades do óleo do Irã, deve ser levado em conta.

A Turquia que compra do Irã 30% do petróleo que consome - 217 mil barris/dia, em declaração do seu Ministro de Energia, Taner Yildiz, deixou claro que não vai mudar sua política com o país - “nossos negócios com o Irã seguirão normalmente”.

A Inglaterra, menos dependente do petróleo iraniano e mais submissa à política norte-americana contra o Irã, secundada pela França, no fim de semana decidiu reforçar sua presença militar no Golfo junto ao Irã. A Grã Bretanha enviou, segundo a ANSA, o contra-torpedeiros HMS Daring armado com a mais recente tecnologia antimíssil. A França enviou o Porta-aviões Charles De Gaulle. Os americanos colocaram em marcha a Global Hawk, que opera pela primeira vez a partir de um porta-aviões e tem o objetivo de monitorar o tráfego marítimo na costa iraniana e o Estreito de Ormuz, como informaram fontes militares de Washington.

O Secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, declarou na terça-feira (17) que “Existe o perigo real de um ataque dos EUA contra o Irã. Existe a possibilidade de que se intensifique o conflito militar. Os EUA atualmente veem o Irã como seu principal problema e querem transformar o Irã de um inimigo num sócio dócil e leal. Os EUA querem mudar o regime iraniano a qualquer preço, já estabeleceram o bloqueio econômico e têm fortemente apoiado as forças de oposição ao governo”.

Em Teerã, o responsável do governo na OPEP, Mohammad Ali Khatibi, afirmou que “o possível embargo da União Europeia ao petróleo iraniano seria sem dúvida um suicídio político para os países europeus. Países como a Grécia, a Itália e a Espanha importam anualmente do Irã respectivamente 25%, 13% e 10% do petróleo que consomem. EUA e Europa devem evitar a temeridade de um desequilíbrio no mercado mundial de petróleo”.

“O Irã bloqueará o Estreito de Ormuz em resposta a possíveis provocações e ameaças a sua segurança por parte dos EUA”, afirmou nessa quarta-feira (18) em Moscou o Embaixador do Irã na Rússia, Seyyed Mahmoud Reza Sajjadi, e acrescentou “Cremos que esse cenário – o ataque dos EUA – é possível” sublinhando que seu país “tem poder suficiente para bloquear o Estreito de Ormuz em defesa própria”, finalizou.

O Irã ocupava no fim de 2010 o terceiro lugar no ranking mundial de reservas provadas de Petróleo. Sua produção atingiu 4 milhões e 245 mil barris diários levando o país a ocupar o quarto lugar na produção mundial e o segundo lugar na OPEP. Hoje o Irã ocupa o terceiro lugar como país produtor de petróleo, superado apenas pela Arábia Saudita e a Rússia.

ROSANITA CAMPOS

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