quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

UMA VIAGEM AO BELO PAÍS DE KIM II SUNG E KIM ZONG II


O mundo e a Coreia caminham para a frente. Kim Zong Il tem a glória, e sempre terá, de ter contribuído, e não pouco, para que a Humanidade seja cada vez mais plenamente humana. Essa é uma obra de gigantes – que o são porque representam a vontade e lideram bilhões de seres humanos

CARLOS LOPES

Esta última parte de nosso relato da visita à Coreia já estava escrita no essencial, quando soubemos do falecimento de Kim Zong Il. Portanto, tomamos a iniciativa de modificá-la, ainda que correndo os riscos advindos das alterações feitas no último momento – mas de nada vale um texto, nem para nós nem para ninguém, se ele passa elegantemente (há quem veja elegância nisso) ao largo da realidade e do seu movimento, isto é, do tempo.

Em alguma seção anterior, dissemos que para os coreanos é perfeitamente natural chamar Kim Zong Il de "grande dirigente". Sem dúvida, porque ele foi um grande dirigente.

Seu pai, Kim Il Sung, tinha por ele profundos sentimentos de afeto, que bem expressou em suas memórias. Mas, como aos outros militantes e dirigentes do Partido do Trabalho da Coreia, Kim Il Sung seguia a regra de que a máxima consideração para com um companheiro está em dar-lhe uma tarefa especialmente difícil, da qual só poderia ser encarregado alguém realmente digno de especial confiança.

Contaram os mais antigos companheiros de Kim Il Sung que, em fevereiro de 1974, quando Kim Zong Il foi eleito para o Birô Político do partido, a principal resistência veio de seu pai: não que ele deixasse de reconhecer o valor do filho, mas era particularmente exigente com aqueles de quem gostava. No entanto, diante da opinião dos membros do Comitê Central – e da intervenção pessoal de alguns veteranos, companheiros de sua juventude, que defenderam, em conversas com ele, a eleição de Kim Zong Il -, aceitou a proposta, e jamais se arrependeu, pelo contrário.

Como secretário de Organização do PTC, Kim Zong Il aliviou o presidente de pesadas tarefas, sistematizou sua filosofia – em especial o conceito de Ideia Zuche – e dedicou-se, concentradamente, ainda mais do que antes, à defesa militar do país e ao desenvolvimento da arte e da literatura coreanas, com destaque para o cinema.

Kim Zong Il demonstrou, muitas vezes, um sutil humor. Quando os coreanos, sob sua direção, capturaram, em águas territoriais do país, o navio-espião "USS Pueblo", a 23 de janeiro de 1968, diante do charivari do governo Johnson, que exigia a entrega (e, ainda por cima, incólume) do navio, ele declarou: "Os Estados Unidos deveriam conhecer melhor a Coreia. É trágica a sua falta de entendimento da Coreia".

O "Pueblo" está hoje atracado no rio Taedong, no lugar onde, em 1866, os coreanos destruíram o "General Sherman", navio americano que invadira o país, massacrando muitos coreanos – o bisavô de Kim Il Sung foi um dos líderes do combate ao "Sherman".

A tripulação do "Pueblo" foi deportada para os EUA após o pedido de desculpas e a admissão de espionagem pelo governo daquele país. Até hoje os norte-americanos consideram a captura do navio-espião, "o maior incidente da guerra fria". Bem, se foi, eles perderam.

LUTA IDEOLÓGICA


O establishment norte-americano, se não fosse - e cada vez mais é - uma repugnante trupe de espoliadores e assassinos em massa, seria cômico.

Não há país do mundo em que tudo, ou quase tudo, seja mais esmagadoramente ideológico do que os EUA – o que, evidentemente, é extensivo, em boa parte, a países, como o nosso, que ainda não se livraram completamente da órbita em torno de Washington.

Se o leitor quiser uma experiência, basta ficar algum tempo diante de um desses canais a cabo norte-americanos que chacinam diariamente a massa cinzenta dos espectadores (ou seja, quase qualquer um, por exemplo, o "Universal" ou "AXN" ou "Warner", ou canais "infantis" do tipo "Nickelodeon").

São centenas, dezenas de milhares de seriados, filmes e programas cuja única função é fazer propaganda da marinha, do exército, da força aérea dos EUA, do FBI, da CIA, da NSA (todos assassinando pela liberdade...), das polícias de Nova Iorque, Los Angeles ou de qualquer outra biboca americana (com seus policiais sempre civilizados, inteligentes, incorruptíveis e infalivelmente competentes...) – ao mesmo tempo em que difamam, sem nenhuma preocupação ou laço, mesmo que discretamente tênue, com a verdade, chefes de Estado, personalidades, movimentos e qualquer um que se oponha ao poder dos monopólios financeiros norte-americanos.

Para completar, há sempre uma tentativa de poluição cerebral maciça, através de maravilhosos valores, como aqueles que dividem as pessoas em "ganhadoras" e "perdedoras", ou que pregam a ganância como o único sentido da vida, e nem vamos nos referir a aspectos sexuais que deixariam corados os patrícios romanos da decadência.

Isso é assim há décadas – quando não existia TV a cabo, eram as histórias em quadrinhos, onde, por exemplo, o "Falcão Negro" combatia os "espiões", cuja atividade de espionagem se resumia a fazer manifestações contra o belicismo dos cartéis norte-americanos (nós temos uma dessas preciosas revistas, amigo leitor, publicada no Brasil na década de 50, em tradução da "Rio Gráfica", isto é, da Globo - não estamos falando por falar).

E, repare o leitor, não mencionamos os "noticiosos" estilo "Fox News"...

Porém, quando as forças nacionais, populares e democráticas, para contrarrestar essa ideologia mentirosa e desumana por atacado – e, sobretudo, para construir um novo país – empreende sua luta ideológica, exatamente para libertar a mente das pessoas e dar a elas a possibilidade de serem independentes, aí é um Deus nos acuda na propaganda americana: não pode, onde já se viu?; arte engajada?; isso não é arte; etc., etc., etc, e sempre aparecem alguns bobocas (sempre os há, e muito bem remunerados, mas nem por isso menos bobocas) para repetir essa venenosa xaropada imperialista.

Kim Zong Il tem o mérito imperecível de ter, na Coreia, a partir da História do seu povo, apontado qual é - e onde está - a questão verdadeira. A citação é algo longa, mas, leitor, a verdade exige sempre algum esforço:

"A consciência é, em si, a propriedade suprema do ser humano, o qual, graças a ela, é um ente superior, o mais poderoso do mundo. (…) A consciência ideológica, por refletir as exigências e os interesses dos seres humanos, exerce o mais dinâmico papel em suas atividades. À margem da função determinante e reguladora da consciência ideológica, não se podem conceber as atividades independentes e criadoras dos seres humanos. Para ser independente e criador, o homem deve possuir uma consciência ideológica independente. Esta implica na compreensão de sua posição como dono do seu próprio destino, e na vontade de forjá-lo por si mesmo. (…) As atividades dos homens que compreendem de modo científico o mundo e o transformam ativamente não são mais que a manifestação de sua consciência. O papel que desempenham na transformação da natureza e da sociedade é, afinal, o papel de sua consciência ideológica. (…) Na sociedade de classes não podem existir ideias acima das classes e o principal na consciência ideológica dos homens é a consciência de classe, que lhes determina a atitude e a posição na luta de classes. Certamente, sua própria situação social de classe condiciona e restringe suas atividades. Mas exerce essa influência, sempre, segundo a sua consciência ideológica. Na sociedade de classes, o problema de que interesses de classe defendem os homens se decide pela ideologia de classe que professam. (…) As massas possuem uma inesgotável capacidade para a luta revolucionária, mas, se não despertam no plano ideológico, não podem demonstrar em alto grau essa capacidade.

Quando lhes falta disposição ideológica, não podem alçar-se na luta revolucionária, ainda que estejam exploradas e oprimidas, nem tampouco podem transformar com êxito a natureza e a sociedade segundo suas necessidades. (…) é preciso que na luta revolucionária e no trabalho de construção sempre se conceda primordial importância à ideologia dos homens. (…) a revolução não se desencadeia por si só porque foram criadas as condições materiais para ela. A tarefa de como aproveitar estas condições depende das atividades conscientes dos homens. (…)

Na sua origem, a luta revolucionária não se inicia somente depois que estejam criadas todas as condições, nem se efetua somente em circunstâncias favoráveis. Esperar sentados pelo amadurecimento de todas as condições é a mesma coisa que renunciar à revolução. Por isso, na luta revolucionária e no trabalho de construção deve-se conceder primordial importância ao fator ideológico..." (Kim Zong Il, "Sobre La Idea Zuche", Pyongyang, 1982, págs. 32 a 37 – para verter estes trechos do castelhano, cotejamos com as traduções em inglês e francês).

MONTANHAS


Em Hyangsan, no norte da Coreia Popular, pode-se admirar o que é, certamente, um dos mais belos panoramas do mundo – sobretudo no outono, quando as folhas das árvores, que cobrem as Montanhas Myohyang, mudam aos poucos de cor, cada uma em seu ritmo próprio, na lenta preparação da natureza para o inverno.

O nome da serra, e também do rio que a percorre, Myohyang, é devido à vegetação – a uma árvore, o junípero, pouco comum em nosso Hemisfério, e inexistente em climas tropicais, conhecida por alguns aqui apenas como a fonte de uma especiaria, o "zimbro", ingrediente essencial de uma bebida, o gim (e de sua fórmula original, antigamente famosa, a "genebra") ou como aromatizante de certos pratos da cozinha francesa.

Em Hyangsan, o presidente Kim Il Sung escreveu um de seus mais conhecidos poemas, intitulado, precisamente, "As Montanhas Myohyang em um dia de outono". Também é legendária a sua recusa em permitir que uma jazida de ouro fosse explorada na região – a beleza natural, disse ele, é mais valiosa para o país do que o ouro.

Por coincidência, foi exatamente no outono coreano que nós estivemos lá, a alguns quilômetros da fronteira com a China, para visitar o Salão de Exposição da Amizade Internacional, um prédio difícil de ser descrito – e nem tentaremos - por sua bela originalidade, bem distinta dos nossos padrões habituais.

No entanto, o seu conteúdo pode ser resumido: salas e salas imensas, onde estão expostos os presentes oferecidos por personalidades do mundo inteiro a Kim Il Sung e Kim Zong Il. Na Coreia Popular, os presentes aos líderes e dirigentes são um patrimônio do povo – por isso, são enviados para o espetacular museu que é o Salão de Exposição, para que a população possa, de certa forma, usufruí-los.

Há uma bola de futebol, presenteada, com dedicatória em português, por Pelé "ao amigo Kim Zong Il". Há alguns presentes de figuras surpreendentes, inclusive dois ex-presidentes norte-americanos. Há uma sala dedicada só aos presentes de Stalin - por exemplo, um carro enviado a Kim Il Sung, naturalmente, para tornar mais rápidas as viagens do líder coreano por seu país. E há presentes de várias espécies: jogos de xadrez com tabuleiros e peças em vários materiais, uma mobília completa em ouro, enviada por um empresário do sul da Coreia, um fuzil, tomado pelas forças armadas populares de um país africano a um derrotado invasor racista.

Lá vimos, também, o presente levado pelo fundador da Hora do Povo, Cláudio Campos, quando esteve com o presidente Kim Il Sung, em 1993. Cláudio, aliás, era uma lembrança constante – isto é, marcante – para os funcionários do Salão de Exposição.

Realmente, poucos escreveram tão bem e precisamente sobre o líder coreano. Por exemplo, quando do primeiro ano de seu falecimento:

"... acredito que o grande líder não gostaria que nos puséssemos tristes no dia 8 de julho. Porque, se essa é a data em que seu coração parou de bater, ela também marca o momento em que ele completou toda uma vida dedicada por inteiro ao seu povo e à Humanidade - porque só quem a dedica por inteiro à coletividade é capaz de realizar as façanhas que ele realizou. O 8 de julho testemunha, portanto, esta vitória magna da condição humana, testemunha que é possível viver uma tal vida, testemunha que, como ele mesmo disse, não existe nada mais alto, mais honroso e mais gratificante do que dedicar a nossa vida ao bem estar de todos. Nenhuma outra vida deixou isso tão cristalino, tão inteiramente demonstrado, como a vida de Kim Il Sun. Acredito, portanto, que também temos alguma coisa muito importante a comemorar no dia 8 de julho: essa é a data da vitória definitiva, irreversível, do amor, do compromisso com o povo e com a Humanidade" (Cláudio Campos, "Vida de Kim Il Sun é síntese maior dos valores humanos", HP, 09/07/2008 - republicação do artigo de 1995).

Agora nos ocorre que estas palavras são, essencialmente, válidas também para Kim Zong Il – é inevitável a tristeza da perda, mas o povo coreano saberá incorporar o legado do seu grande dirigente, e transformar a tristeza em força.

SONGUN


Ao contrário do que esperava o establishment norte-americano, a Coreia Popular não desmoronou após a queda da URSS e do Leste Europeu.

Na Coreia, a libertação do país foi realizada, no essencial, pelos coreanos – a ajuda soviética e, depois, chinesa, foi acessória. Da mesma forma, as duas reconstruções do país, após o fim da ocupação japonesa e após o fim da agressão dos EUA em 1950-1953.

No entanto, isso não quer dizer que, depois dos acontecimentos da década de 90, não tenha havido dificuldades na Coreia. Houve, e nenhum dirigente coreano tentou nos dizer que não foram muitas e bastante complexas. Pelo contrário, eles enfatizaram esse aspecto, pois a Coreia Popular, apesar de, ao contrário dos países do Leste Europeu, não ter se "integrado" crescentemente ao comércio com os países imperialistas, fazia parte do mercado comum socialista.

Todos os coreanos com quem conversamos lembraram que foi nesse momento difícil que o país perdeu Kim Il Sung, em 1994.

As dificuldades foram, sobretudo, energéticas – mas também em alguns setores econômicos que o país ainda não tivera tempo de desenvolver. Além disso, a Coreia Popular é um país montanhoso, apenas 20% do seu território é agricultável. Somaram-se algumas calamidades naturais – principalmente, inundações.

A situação não era fácil. Mas também foi nesse momento que a direção de Kim Zong Il se fez sentir. E essa direção tem um nome: "política revolucionária do Songun" ou "direção revolucionária do Songun".

O Songun é a concepção de que a prioridade do país e da revolução é sua própria defesa. Em palavras simples: exceto como acúmulo para as próximas gerações, e a verdade é que não estamos mais na época da Comuna de Paris, de nada adianta realizar a revolução, se esta não tem condições de defender-se.

Hoje é possível realizar a revolução com êxito, desde que a prioridade seja colocada na defesa contra o imperialismo. Naturalmente, como observou Kim Zong Il na citação que reproduzimos acima, a revolução não se inicia com todas as suas condições de êxito estabelecidas de antemão – cabe aos homens criarem aquelas que faltam.

Mas o Songun não é somente uma política militar. Ele implica no revolucionamento de toda a economia, e, em geral, da vida do país, em função da defesa militar – sobretudo em um país já bloqueado pelo imperialismo.

Assim, a economia coreana se manteve independente e socialista, se desenvolveu e superou, na maior parte, as dificuldades que se iniciaram na década de 90. Assim o país foi dotado de uma infraestrutura energética nuclear, de uma defesa nuclear, e hoje pode lançar, como já lançou, satélites ao espaço com veículos lançadores próprios – até hoje, como enfatizou recentemente um nosso ex-ministro da Ciência e Tecnologia, e também ex-diretor geral da Alcântara Cyclone Space (ACS), Roberto Amaral, o veículo lançador de satélites é o grande problema do programa espacial do Brasil, sempre alvo da sabotagem norte-americana.

Se o leitor interessado no desenvolvimento da ciência e da tecnologia visitar um dia a Coreia Popular, não deixe de ir ao Salão de Exposição dos Êxitos das Três Revoluções, onde vários pavilhões mostram os avanços em diversos campos científicos e tecnológicos.

Do mesmo modo, a Biblioteca Eletrônica (ou Digital) da Universidade Kim Il Sung fornece uma ideia do esforço coreano – e da direção desse esforço – no sentido de fazer o país crescer, apoiado na mais moderna técnica, de uma forma justa para com seus cidadãos.

Leitores, muito haveria ainda a dizer sobre nossa visita à Coreia. No entanto, não pretendemos ser exaustivos – apenas fornecer uma amostra. Nesse sentido, já escrevemos até demais. O que não esperávamos é que nossa última parte coincidisse com a perda de Kim Zong Il.

Mas o mundo e a Coreia caminham para a frente. Kim Zong Il tem a glória, e sempre terá, de ter contribuído, e não pouco, para que a Humanidade seja cada vez mais plenamente humana. Essa é uma obra de gigantes – que o são porque representam a vontade e lideram bilhões de seres humanos.

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