quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O papel genocida da OTAN (Segunda parte)(Extraído de CubaDebate)

HÁ algo mais de oito meses, em 21 de fevereiro do presente ano, afirmei com plena convicção: "O plano da OTAN é ocupar a Líbia". Sob essa manchete, tratei do tema pela primeira vez, em uma Reflexão cujo conteúdo parecia ser o fruto da fantasia.

Incluo nestas linhas os elementos de juízo que me levaram a essa conclusão.

"O petróleo se converteu na riqueza principal, nas mãos das grandes multinacionais ianques; através dessa energia dispuseram de um instrumento que acrescentou consideravelmente seu poder político no mundo".

"Alicerçada nessa fonte de energia teve seu desenvolvimento a civilização atual. A Venezuela foi a nação deste hemisfério que maior preço pagou. Os Estados Unidos se tornaram nos donos das enormes jazidas com a que a natureza dotou esse irmão país".

"Ao finalizar a Segunda Guerra Mundial, começou a extrair maiores volumes de petróleo das jazidas do Irã, bem como das da Arábia Saudita, Iraque e os países árabes situados em torno destes países. Estes passaram a ser os fornecedores principais. O consumo mundial foi se elevando até a quantia fabulosa de aproximadamente 80 milhões de barris diários, incluídos os que são extraídos do território dos Estados Unidos, aos que posteriormente se somaram o gás, a energia hidráulica e a nuclear".

"O esbanjamento do petróleo e do gás é associado a uma das maiores tragédias, ainda não resolvido no absoluto, que a humanidade está sofrendo: a mudança climática".

"Em dezembro de 1951, Líbia se converteu no primeiro país africano a atingir a independência, depois da Segunda Guerra Mundial, tendo sido seu território palco de importantes combates entre as tropas alemãs e as do Reino Unido..."

"Mais de 95% do território líbio é desértico. A tecnologia permitiu descobrir importantes jazidas de petróleo leve, de excelente qualidade, que hoje atingem 1,8 milhão de barris diários e abundantes depósitos de gás natural. (...) Seu rigoroso deserto é situado acima de um enorme lago de água fóssil, equivalente a mais de três vezes a superfície de Cuba, questão que lhe permitiu construir uma ampla rede de tubagens condutoras de água doce que se estende pelo país todo".

"A Revolução líbia teve lugar no mês de setembro do ano 1969. Seu líder principal foi Muammar al-Khadafi, militar de origem beduína, quem ainda muito jovem se inspirou nas ideias do líder egípcio Gamal Abdel Nasser. Sem dúvida, muitas de suas decisões estão associadas às mudanças que se produziram na altura em que, tal como no Egito, uma monarquia fraca e corrupta foi derrocada na Líbia".

"Pode-se ou não concordar com Khadafi. O mundo foi invadido por todo o tipo de notícias, empregando, especialmente, a mídia. Será preciso esperar o tempo necessário para conhecermos com rigor, o quanto há de verdade ou mentira. Ou uma mistura de fatos de todo tipo que, em meio do caos, se produziram na Líbia. O que para mim se torna evidente é que ao governo dos Estados Unidos não lhe preocupa minimamente a paz na Líbia e não vacilará na hora de dar à OTAN a ordem de invadir esse rico país, talvez em questão de horas ou em breves dias.

"Aqueles que com pérfidas intenções inventaram a mentira de que Khadafi se dirigia à Venezuela, tal como fizeram na tarde de domingo 20 de fevereiro, receberam hoje uma digna resposta do ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Nicolas Maduro..."

"Da minha parte, não imagino o líder líbio abandonando o país, eludindo as responsabilidades que lhe imputam, sejam ou não falsas em parte ou na totalidade.

"Uma pessoa honesta sempre reagirá contra qualquer injustiça que seja cometida contra qualquer povo do mundo, e o pior disso, neste instante, seria guardar silêncio diante do crime que a OTAN se prepara para cometer contra o povo líbio.

"A chefia dessa organização bélica quer fazê-lo com urgência. É preciso denunciar isso!

Nessa data tão precoce já me tinha dado conta daquilo que era absolutamente óbvio.
Amanhã, terça-feira, 25 de outubro, falará nosso chanceler Bruno Rodríguez na sede das Nações Unidas para denunciar o criminoso bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba.

Acompanharemos de perto essa batalha, que porá em evidência, mais uma vez, a necessidade de pôr fim, não só ao bloqueio, mas sim ao sistema que gera a injustiça em nosso planeta, dilapida seus recursos naturais e põe em risco a sobrevivência humana. Prestaremos atenção especial à alegação de Cuba.

O papel genocida da OTAN  (Terceira parte)
(Extraído de Cubadebate)


Em 23 de fevereiro deste ano, sob o título "Dança macabra de cinismo" expus:

"A política de saqueio imposta pelos EUA e seus aliados da OTAN no Oriente Médio entrou em crise".

"Graças à traição do presidente egípcio Hosni Mubarak, em Camp David, o Estado árabe palestino não tem podido existir, apesar dos acordos da ONU, de novembro de 1947, e Israel virou forte potência nuclear aliada dos EUA e da OTAN".

"O complexo militar industrial dos EUA forneceu bilhões de dólares cada ano a Israel e aos próprios estados árabes dominados e humilhados por este".

"O gênio saiu da garrafa e a OTAN não sabe como controlá-lo. Vão tentar tirar o maior proveito dos lamentáveis acontecimentos da Líbia. Ninguém seria capaz de saber, neste momento, o que ali está acontecendo. Todas os números e versões, até as mais inacreditáveis, foram divulgadas pelo império, através dos meios de comunicação, semeando o caos e a desinformação".

"É evidente que na Líbia se está travando uma guerra civil. Por que e como se desencadeou a mesma? Quem vai pagar as consequências? A agência Reuters, fazendo-se eco do critério dum conhecido banco do Japão, o Nomura, expressou que o preço do petróleo poderia superar qualquer limite"...

"Quais seriam as consequências em meio a uma crise alimentar?"

"Os líderes principais da OTAN estão exaltados. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, informou a ANSA, "… admitiu num discurso, no Kuwait, que os países ocidentais erraram em apoiar governos não-democráticos no mundo árabe".

Seu colega francês, Nicolás Sarkozy, declarou: "A prolongada repressão brutal e sangrenta da população civil líbia é repugnante".

O chanceler italiano Franco Frattini declarou "‘acreditável’ o número de mil mortos em Trípoli […] ‘a cifra trágica será um banho de sangue’".
Hillary Clinton declarou: "… o ‘banho de sangue’ é ‘completamente inaceitável e ‘tem que parar’…".

Ban Ki-moon expressou: "‘É absolutamente inaceitável o uso da violência que se produz no país’".

"… ‘o Conselho de Segurança atuará conforme o que decidir a comunidade internacional’".
"‘Estamos considerando várias opções’".

"O que Ban Ki-moon espera realmente é que Obama diga a última palavra".

"O presidente dos Estados Unidos falou, na tarde desta quarta-feira, e expressou que a secretária de Estado sairia para a Europa, a fim de concordar com seus aliados da OTAN as medidas a tomar. Em seu rosto se percebia a oportunidade de lidar com o senador da extrema-direita republicana John McCain; o senador pró-israelense de Connecticut, Joseph Lieberman e os líderes do Tea Party, com o objetivo de garantir sua candidatura pelo partido Democrata".

"A mídia do império preparou o terreno para atuar. Não seria estranho a intervenção militar na Líbia, com o qual, também, garantiria a Europa os quase dois milhões de barris diários de petróleo leve, se antes não acontecem sucessos que ponham fim à liderança ou à vida de Gaddafi".

"De qualquer forma, o papel de Obama é bastante complicado. Qual será a reação do mundo árabe e muçulmano, caso o sangue nesse país se derramar em abundância com essa aventura? Será que uma intervenção da OTAN na Líbia vai deter a onda revolucionária desatada no Egito?"

"No Iraque, se derramou o sangue inocente de mais de um milhão de cidadãos árabes, quando o país foi invadido com falsos pretextos. Missão cumprida! —proclamou George W. Bush".

"Ninguém no mundo estará jamais de acordo com a morte de civis indefensos na Líbia, ou em qualquer outra parte. E me pergunto: Por acaso os Estados Unidos e a OTAN aplicarão esse princípio aos civis indefensos que os aviões sem piloto ianques e os soldados dessa organização matam todos os dias no Afeganistão e no Paquistão?"

"É uma dança macabra de cinismo".

Enquanto meditava sobre esses fatos, nas Nações Unidas se abriu o debate marcado para ontem, terça-feira, 25 de outubro, em torno à "Necessidade de pôr fim ao bloqueio comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos da América contra Cuba", algo que vem sendo exposto, pela imensa maioria dos países membros dessa instituição, no decurso destes 20 anos.

Desta vez, os inúmeros raciocínios elementares e justos — que para os governos dos Estados Unidos não eram senão meros exercícios retóricos — puseram em evidência, como nunca antes, a fraqueza política e moral do império mais poderoso que jamais tenha existido, a cujos interesses oligárquicos e insaciável sede de poder e riquezas têm sido submetidos todos os habitantes do planeta, incluído o próprio povo desse país.

Os Estados Unidos tiranizam e saqueiam o mundo globalizado com seu poderio político, econômico, tecnológico e militar.

Essa verdade se torna cada vez mais óbvia, após os debates honestos e valentes que tiveram lugar, nos últimos 20 anos, nas Nações Unidas, com o apoio dos Estados que, supostamente, expressam a vontade da imensa maioria dos habitantes do planeta.

Antes da intervenção de Bruno, numerosas organizações de diferentes países expressaram seus pontos de vista, através de um de seus membros. O primeiro deles foi a Argentina, em nome do Grupo dos 77 mais a China; depois, foi a vez do Egito, em nome dos Não-Alinhados; Quênia, em nome da União Africana; Belize, em nome da Caricom; Cazaquistão, em nome da Organização da Cooperação Islâmica; e o Uruguai, em nome do Mercosul.

Independentemente destas expressões de caráter coletivo, a China, país de crescente peso político e econômico no mundo, a Índia e Indonésia, apoiaram firmemente a resolução, através de seus embaixadores. Entre os três representam 2,7 bilhões de habitantes. Também o fizeram os embaixadores da Federação Russa, Bielorrúsia, África do Sul, Argélia, Venezuela e o México. Dentre os países mais pobres do Caribe e da América Latina, vibraram as palavras solidárias da embaixadora de Belize, que falou em nome da Comunidade do Caribe, São Vicente e as Granadinas e a Bolívia, cujos argumentos relacionados com a solidariedade de nosso povo, apesar de um bloqueio que dura já 50 anos, será um estímulo imperecedouro para nossos médicos, educadores e cientistas.

A Nicarágua falou antes da votação, para explicar com valentia por que votaria contra aquela pérfida medida.

Também fê-lo anteriormente o representante dos Estados Unidos para explicar o inexplicável. Eu senti pena por ele. É o papel que lhe deram.

Quando chegou a hora da votação, dois países se ausentaram: Líbia e Suécia; três se abstiveram: Ilhas Marshall, Micronésia e Palau; dois votaram contra: Estados Unidos e Israel. Somando aqueles que votaram contra, se abstiveram ou estavam ausentes: os Estados Unidos, com 313 milhões de habitantes; Israel, com 7,4 milhões; Suécia, com 9,1 milhões; Líbia, com 6,5 milhões; Ilhas Marshall, com 67 mil; Micronésia, 106,8 mil; Palau, com 20,9 mil, somam 336,9 milhões, equivalente a 4.8% da população mundial, que já neste mês chega aos sete bilhões.

Depois da votação, para explicar seus votos, falou a Polônia, em nome da União Europeia que, apesar de sua aliança estreita com os Estados Unidos e sua participação obrigada no bloqueio, é contrária a essa medida criminal.

Depois, 17 países usaram da palavra, para explicar com firmeza e decisão por que votaram a resolução contra o bloqueio.
Prosseguirá na sexta-feira 28.
Fidel Castro Ruz
26 de outubro de 2011
21h45.

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