sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Nossa missão é apoiar o protesto na Liberty Plaza

MICHAEL MOORE*

Nova Iorque tem 8 milhões de habitantes; um milhão vive na pobreza. É uma vergonha. E, contudo, o sistema não acaba aqui. Não importa quanta vergonha possamos sentir; a máquina segue adiante, para fazer mais dinheiro. Novas maneiras de trapacear com as pensões; de roubar mais. Mas algo está sucedendo na Liberty Plaza.

Estive na Liberty Plaza para realizar algumas anotações. E voltarei. Sabia? Estão fazendo um grande trabalho ali. E estão recebendo cada vez mais apoio. Na outra noite, o sindicato dos empregados em transportes – os motoristas de ônibus, os condutores de metrô – votaram com entusiasmo pela manutenção do protesto. Há três dias, 700 pilotos de linhas aéreas – sobretudo da United e Continental – marcharam por Wall Street. Não sei se mostraram isso na televisão. Sei como foi a cobertura aqui: mostraram uns poucos hippies tocando tambores – as coisas típicas que buscam os noticiários. Por favor, que Deus abençoe os hippies que tocam seus tambores!

Mas a verdade é que “eles” querem que vejamos apenas isso. E agora eu lhes digo o que vi naquela praça. Vi jovens, vi velhos, vi gente de todo tipo e de todas as cores e todas as religiões. Vi também as pessoas que votam em Ron Paul (o candidato presidencial ultraconservador que quer acabar com o Banco Central). Quero dizer, eram pessoas de todo tipo. Na praça estavam enfermeiros, professores, gente de todo tipo.

Hoje, terça-feira, uma nova manifestação: também os motoristas de ônibus e condutores do metrô marcharam por Wall Street. Ouvi dizer que o UAW (o sindicato dos trabalhadores da indústria automobilística) está pensando em algo parecido. Pensem, se o pior pesadelo se converte em realidade. Os hippies e os metalúrgicos marchando juntos! As pessoas entenderam. E toda essa história sobre as divisões internas, e isto e aquilo: as pessoas não se importam mais. Porque desta vez se trata de seus próprios filhos que correm perigo de não poderem mais ir à escola. Desta vez existe o risco de ficarem sem moradia. Isso é o que na verdade está em jogo.

Mas o que me parece mais estranho e bizarro, sobre os ricos, é como decidiram se excederem tanto. Quero dizer: tudo estava indo muito bem. Mas, não, para eles não era o bastante. Para os novos ricos não era o bastante. Os novos ricos que não fizeram suas fortunas graças a uma boa idéia. Nem a um invento. Nem com seu suor. Nem com seu trabalho. Os novos ricos que enriqueceram com o dinheiro dos outros; com o que jogaram como se fosse num cassino. Dinheiro e mais dinheiro. E agora nos encontramos com uma geração de jovens para quem os heróis que emulam são aqueles dos canais de televisão de negócios: aqueles que enriqueceram fazendo dinheiro sobre aqueles que fazem dinheiro.

Mas, quanta necessidade teremos de jovens que trabalhem para salvar este planeta? Para encontrar a cura para todos os males. Para encontrar uma maneira de levar água e serviços sanitários a milhões de pessoas que não os têm.

Isto é o que queria. Que em vez das 400 pessoas mais ricas desse país tenham mais riquezas, sejam os 150 milhões de norte-americanos, todos juntos, que possam viver melhor. Dirão, é uma dessas cifras que Michael Moore tira por aí. Mas é uma estatística certa: verficada pela Forbes e pela PolitiFact. As 400 pessoas mais ricas deste país são mais ricas que as 150 milhões juntas! A isso não se pode chamar de democracia. A democracia implica em uma certa igualdade: não digo que cada pedaço da torta deve ser da mesma medida, mas fomos muito além.

Agora esta boa notícia. Até mesmo para que alguém desafie a nossa democracia – enquanto a Constituição se mantenha intacta -, significará que cada um de nós terá o mesmo direito de voto que os senhores de Wall Street: um voto por pessoa. E eles poderão comprar todos os candidatos que quiserem; mas sua mão guiará a nossa mão quando estivermos em um quarto escuro. A mensagem de gritar forte é fazer chegar aos milhões de pessoas que se deram por vencidas – ou que foram convencidas por ignorância.

Conseguiremos fazer chegar nossa mensagem, para aqueles 400 será o maior dos pesadelos. Porque a única coisa que sabem fazer bem são as contas. Somos muito mais que eles. Depende só de nós. Basta de acordarmos pela manhã e dizer “Ok”. Agora basta. Decidi me envolver. Esta agora é a nossa missão, nos envolvermos. Por isso lhes digo: apoiem o protesto de Liberty Plaza.




* Cineasta norte-americano

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