quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Governo da Grécia cede a FMI: demite 30 mil e reduz salários

Mesmo com cortes que provocam a destruição da economia grega, governo anuncia que não cumprirá as sufocantes “metas” de redução do deficit impostas do exterior para atender bancos
Dobrando-se às ameaças dos representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI), a União Européia (UE) e o Banco Central Europeu (BCE), apelidados de "a troika", o governo grego aprovou no dia 2, colocar no olho da rua 30 mil trabalhadores até o fim deste ano. Além disso, já baixou uma série de medidas de escorcha contra a população com novos impostos, cortar os salários dos funcionários públicos em 20% em média, e privatizar o que resta de patrimônio público no país.

Mas, o Ministério das Finanças grego teve que reconhecer que o arrocho, aprovado com o argumento de reduzir o déficit orçamentário para as metas estabelecidas tanto para este ano quanto para 2012, não conseguiu seu suposto objetivo. O orçamento para 2012, que começou a ser discutido na segunda-feira no Parlamento para sua posterior aprovação no final de outubro, admitiu que a dívida pública grega representará no próximo ano 172,7% do PIB, frente a 161,8% previsto para o exercício presente.

"Ninguém mais acredita nesse governo. As medidas de arrocho contra os trabalhadores não são para sanear a economia. São para por o país de joelhos diante dos banqueiros, da especulação, dos interesses defendidos pelo FMI", afirmou o presidente da União dos Funcionários Públicos (ADEDY), Spyros Papaspyros, em entrevista na frente ao Ministério de Finanças, em Atenas, em protesto contra as medidas anunciadas.

"Cortes ao orçamento, afastamento do Estado da vida econômica do país numa crise profunda como esta só provocam mais recessão. Hoje os olhos da Europa estão ligados a nós, hoje estamos demonstrando que para haver esperança em um futuro (para a Grécia) as medidas devem ser canceladas", afirmou Yannis Panagopoulos da Confederação Geral dos Trabalhadores da Grécia (GSEE).

O documento do governo expressa ainda que o déficit orçamentário de 2011 ficará em 8,5% do PIB (Produto Interno Bruto) sem atingir a meta imposta de redução para 7,6%. Ele também será rebaixado para 6,8% do PIB no ano que vem, mas ainda assim não atingirá a meta procustiana de 6,5%.

Por outro lado, a taxa média de desemprego oficial – sem considerar os que desistiram de procurar emprego ou fazem bicos ou trabalhos temporários - se situará em 15,2% em 2011, aumentando para 16,4% em 2012. A recessão que assola a economia do país fará com que o PIB seja reduzido em 5,2% em 2011, com a pretensão de outra redução de 2,5%, em 2012.

Esse orçamento, que condensa a política rejeitada por amplos setores da população, estará pela primeira vez sob supervisão direta dos órgãos internacionais, prevendo novos ajustes adicionais de cerca de 6,6 bilhões de euros.

Os enviados do FMI, a Comissão Européia, o Banco Central Europeu (BCE) e o governo grego acertaram que os primeiros funcionários atingidos sejam aqueles com mais de 60 anos de idade, forçando a sua aposentadoria com valores já devidamente reduzidos.

Porém, a ingerência dos inspetores da troika para impor as medidas não passa em branco. Os protestos dos trabalhadores se sucedem em Atenas a cada dia. No sábado (01/10), uma reunião prevista no Ministério de Finanças não pode se realizar, com manifestações de funcionários bloqueando a entrada, e teve que ser trasladada para o escritório do primeiro ministro.

Na segunda-feira, um encontro dos representantes do FMI e da UE com o ministro de Transportes teve que ser adiado pelos protestos dos trabalhadores do setor que estão em greve há vários dias. Devido a esses protestos, tiveram que manter em segredo a hora e o lugar da reunião com o ministro de Administração Pública. As ruas que levam ao centro de Atenas ficaram bloqueadas pelos protestos de trabalhadores e estudantes contra as reformas e cortes.

 

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