quinta-feira, 27 de outubro de 2011

EUA ASSASSINA KADAFI PARA ROUBAR O PETRÓLEO DOS LÍBIOS




Kadafi morreu como viveu: lutando, doando a sua generosa vida pelo seu povo. A revolução que liderou em 1969 colocou as riquezas do país a serviço dos líbios e construiu um país moderno


A estupidez pode ser tão monstruosa quanto o crime – quando ambos são derivados da mais abjeta covardia.


Desde a quinta-feira da última semana, quando Muamar Kadafi, aos 69 anos, depois de alvejado por aviões norte-americanos e franceses que guiavam “tropas especiais” inglesas e alemãs, foi cercado, torturado e assassinado por alguns marginais de aluguel, é difícil saber o que é mais monstruoso – se esse crime sanguinário, hediondo, bárbaro, selvagem, em desprezo a milhares de anos de civilização, ou se alguns papagaios do imperialismo com sua conversa cínica sobre “transição democrática”, “avanço democrático”, ou, como disse um débil mental no Itamaraty, contra toda a nossa tradição desde o Barão do Rio Branco, supostas “aspirações democráticas” desses assassinos.

Kadafi morreu como viveu: lutando, doando a sua generosa vida pelo seu povo. A sua grandeza está acima, agora definitivamente, não só de seus bestiais assassinos, mas também dos micróbios que se agacham diante deles. O último momento de Kadafi é o desmascaramento completo e absoluto da “democracia” desse vomitante “imperialismo humanitário” - marca infame tão impossível de apagar quanto o punhal que perseguia Macbeth após o sangramento do rei Duncan no castelo de Inverness.

REGRESSÃO MORAL


A única diferença é que Macbeth escondeu o seu crime. O mesmo não se pode dizer dos EUA, dos medíocres Obama ou Hillary, e outros canalhas ainda piores, que regrediram a um estágio moral e civilizatório anterior aos primeiros albores do ser humano sobre a Terra.

Não precisamos senão dos dados da própria ONU – usada e arrastada na lama nesses 203 dias de destruição por atacado da Líbia para saquear o seu petróleo – para mostrar quem era Kadafi: a Líbia era o país de maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de toda a África (aliás, maior que o do Brasil: cf. United Nations Development Programme, Human Development Report 2010).

A revolução de 1969, liderada pelo então coronel Kadafi, transformou um dos mais pobres e explorados países do planeta, num país moderno, com infraestrutura avançada, e com suas riquezas, em especial o seu petróleo, a serviço do povo. Nem falaremos na sua ajuda a outros povos. Sobre isso, basta uma frase de Nelson Mandela: “Os que se irritam com nossa amizade com o presidente Kadafi podem pular na piscina”. Kadafi ajudou a África do Sul no pior momento de sua história. Não por acaso, um dos netos de Mandela chama-se Kadafi.

Mas, o que dizer de um país em que a eletricidade era um direito comum, isto é, não era sujeita a pagamento? De um país em que a moradia havia sido declarada “direito da Humanidade”? Em que era proibido cobrar juros por empréstimos ao consumidor? Em que o atendimento médico e a educação eram públicos e gratuitos? Em que o governo garantia aos agricultores não somente a terra, mas uma casa, os animais, o equipamento e as sementes?

Foi exatamente isso o que foi destruído na Líbia por bombardeiros dos EUA, “tropas especiais” de seus satélites e mercenários arregimentados no esgoto da sociedade líbia. Essa é a “transição democrática” dessas bestas feras. Quem quiser conciliar com isso que o faça. Mas há certas coisas na vida que são inesquecíveis - de tão imperdoáveis.

É verdade, Kadafi tinha lá suas manias: uma delas era não aceitar pagamento pelo petróleo em dólares – podia até trocá-lo por outras mercadorias, mas em dólares, não.

Outra era não acreditar em parlamentos, para ele sempre corruptos. Por isso, elaborou um sistema de democracia direta – sem partidos, com o objetivo dos eleitores escolherem diretamente, sem intermediação. Independente da opinião que se tenha sobre este experimento, se há algo que não se pode honestamente acusar a Jamahiriya (república de massas) Árabe Popular e Socialista da Líbia era de falta de liberdade.

Naturalmente, tudo isso é o contrário do que dizem o imperialismo, sua mídia e seus papagaios. Mas não foi sempre assim? Não foi de ditadores – ou de tentar instalar uma ditadura - que acusaram João Goulart, Lumumba, Allende, Mossadegh, Sukarno, Árbenz, Sadam? E todos nós sabemos o que veio depois do golpe, sempre deslanchado em Washington, contra cada um desses líderes.

E, aliás, não é do mesmo modo que ainda agora tentam difamar o presidente Chávez, o comandante Fidel Castro, o presidente Evo Morales, e até a suave presidente Cristina Kirchner?

Naturalmente, Kadafi cometeu erros. Mas o principal foi, precisamente, o de ser pacífico demais e até confiar um pouco demais na canalha imperialista. O petróleo líbio era explorado pela estatal NOC (em inglês, Libia Oil National Corporation). Porém, sucessivas licitações introduziram na Líbia cerca de 60 multinacionais. O enfraquecimento da NOC (não só a redução de seu controle sobre o petróleo: seus funcionários mais especializados foram atraídos pelas multinacionais) não foi bom para o povo líbio – nem o programa de privatizações.

Alguns telegramas revelados pelo Wikileaks expõem a trama: num deles, o chefe da missão dos EUA na Líbia, John Stevens, diz que o governo líbio estava reduzindo o lucro das multinacionais, ao exigir uma “excessiva” contrapartida pela exploração do petróleo (despacho de 27 de novembro de 2007, Stevens para o Departamento de Comércio dos EUA).

Noutro, o mesmo Stevens relata uma conversa com um entreguista alojado na estatal petrolífera líbia, que reclama da gestão, supostamente política e centralizadora, da empresa – que, no momento, tentava aumentar a produção de petróleo dos 1,7 milhão de barris/dia, de 2008, para 3 milhões de barris/dia em 2012. Um executivo – ex-funcionário da estatal – diz que “minha empresa obtém os mesmos lucros em um país vizinho, extraindo apenas 25% do petróleo extraído na Líbia”. O fim da mensagem é mais revelador ainda: fala de membros do governo líbio que gostariam que houvesse mais empresas norte-americanas explorando o petróleo líbio (despacho de 1º de dezembro de 2008)

DEFESA DA LÍBIA


Em suma, o que o imperialismo tinha contra Kadafi é que ele defendia os interesses do povo líbio, era que ele não permitia que as multinacionais fizessem na Líbia o que fizeram em outros, e desgraçados, países petrolíferos: escravizar o povo, jogá-lo na fome, na miséria, e pilhar a sua maior riqueza natural.

Realmente, a entrada de multinacionais e as privatizações fizeram com que alguns membros do governo líbio fossem corrompidos e se tornassem traidores.

Porém, não Kadafi. Pelo contrário, sua atitude diante da agressão e da traição, sua disposição de dar a vida pelo seu povo, redimem qualquer erro – até porque, compreensíveis, num país que suportava intenso bloqueio e sabotagem por décadas.

Kadafi morreu como o herói que revolucionou a Líbia – e assim permanecerá, não somente na memória, mas como exemplo para os líbios e para a Humanidade. Agora, que não podem mais assassiná-lo, ele se tornou eterno, para castigo de seus algozes. Cada líbio e cada homem digno desse nome, agora é um Kadafi, e estarão à altura de sua vida e de sua obra. Mais cedo do que tarde, é o que se verá.
 
CARLOS LOPES

http://www.horadopovo.com.br/




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