domingo, 18 de setembro de 2011


Um em cada seis estadunidenses
vive na pobreza
 

 Segundo o Escritório do Censo, em 2010, o número aumentou para 2,6 milhões e já são 46,2 milhões nessa condição
David Brooks

NOVA YORK.— Um em cada seis estadunidenses vive agora na pobreza, ao entrarem mais 2,6 milhões nesse status, em 2010, chegando ao número total mais alto em meio século, segundo dados oficiais. Por sua vez, a classe média sofre uma erosão, a tal ponto que alguns consideram que a desigualdade de ingresso nos Estados Unidos é agora comparável à do México.

Por sua vez, as megaempresas que durante décadas se dedicavam ao vasto mercado da classe média estadunidense, acreditam que estas tendências serão em longo prazo, e reformulam suas estratégias para se focalizarem nas fatias de mercado de alto crescimento: a dos pobres e a dos mais ricos.

Os números difundidos, sem dúvida, alimentaram mais o intenso debate sobre o desemprego e a estagnação econômica que enfrentam, tanto o presidente Barack Obama, como ambos os partidos no Congresso, e nutrem o pessimismo de que não há grandes esperanças de recuperação econômica, em curto prazo.

O Escritório do Censo dos Estados Unidos informou, em 13 de setembro, que 46,2 milhões de estadunidenses viviam na pobreza, em 2010 (2,6 milhões mais, em relação a 2009) para chegar a 15,1%, a taxa mais alta de pobreza desde 1993 e a terceira alta anual consecutiva, no item da pobreza. Em termos de números, é o total mais alto jamais registrado pelo censo, desde que começou a ser medido este parâmetro, há 52 anos. A "linha de pobreza" oficial para uma família de quatro pessoas era de US$ 22.113, em 2010.


A RENDA, EM NÍVEIS DOS ANOS 70


Por sua vez, os novos números também revelaram maior erosão da classe média, com uma redução da renda real média de 2,3%, em 2010, a respeito de 2009. A renda anual média foi de US$ 49.400, 7% menos que seu nível de 1999.

Várias análises ao longo dos últimos anos demonstraram que, apesar do enorme incremento da produtividade, nas últimas décadas, a renda dos trabalhadores, em média, permanece, em termos reais, nos níveis dos anos 70, pois quase toda a riqueza se concentra, cada vez mais, no setor mais rico.

De fato, o Censo informou que as reduções na renda média dum lar foram muito mais marcantes entre os pobres do que entre os mais ricos: os 10% com o nível mais baixo de renda sofreram uma queda de 12,1% em sua renda, entre 2009 e 2010, enquanto os 10% de maior renda apenas experimentaram uma redução de 1,5%.

Pior, como sempre, foi para as principais minorias, para as mulheres e os menores. O censo informa que a taxa de pobreza nos hispânicos se incrementou para 26.6%, em 2010 (era de 25.3% em 2009) e nos afro-americanos subiu para 27.4% (25.8% em 2009). Nos brancos foi de 9.9%, meio ponto a mais do que em 2009.

Em 2010, mais de um em cada cinco menores agora vive na pobreza (22%). Cerca de 35% dos menores hispânicos e 39% dos afro-americanos estão na pobreza.

Com a deterioração econômica registrada até a data, supõe-se que todos esses números só vieram a piorar.

Tudo isto são manifestações óbvias de que 14 milhões estão desempregados, outros dez milhões estão subempregados ou já desistiram e nem procuram trabalho, e a taxa de desemprego foi superior a 9% (atinge mais de 16%, se incluirmos os subempregados) durante mais de dois anos. "As famílias batalham para pôr comida na mesa, e não têm o poder de aquisição para ajudar a que se recupere a economia", considerou a especialista da Brookings Institution, Isabel Sawhill, ao comentar os novos dados, em entrevista com a agência Bloomberg.

Por sua vez, estas estatísticas só continuam registrando a crescente desigualdade econômica neste país, onde os Estados Unidos se mantêm entre os países com maior taxa de pobreza entre os 34 parceiros da OCDE: só o Chile, Israel e México têm taxas superiores, e já há dois anos era o mais desigual, depois do México e da Turquia na lista desse clube. Numa lista de 136 países, medida segundo o índice Gini, na qual o primeiro é o mais desigual, os Estados Unidos estão no 39a colocação, com um índice Gini de 0.469, em 2010. O índice Gini é uma medida da desigualdade de rendas dos lares; zero representa a igualdade de rendas perfeita e um representa a desigualdade perfeita; México está no 27o posto.

Nos últimos dez anos, informa o economista Prêmio Nobel Joseph Stiglitz, a renda dos 1% mais rico se elevou em 18%, enquanto a dos trabalhadores industriais caiu 12%. Em 1% dos lares se concentra mais de um terço da riqueza nacional, e em 2009 o 1% mais rico dos lares gozava dum valor líquido 225 vezes maior que o lar típico, segundo a análise do Instituto de Política Econômica (EPI).

A tal extremo estão as coisas, que algumas das empresas mais poderosas dos Estados Unidos elaboram novas estratégias de mercado, levando em conta que a classe média se está encolhendo. Procter & Gamble, que antes se dedicava, sobretudo, a promover produtos para a classe média, agora muda sua estratégia para focalizar-se no mercado da classe baixa e da classe mais rica, já que ambos se estão alargando, informou o Wall Street Journal.

A empresa, que calcula que tem pelo menos um produto em 98% dos lares estadunidenses (detergentes, dentríficos e mais) e é a maior em nível mundial em produtos para consumidores, está supondo que a classe média (40% de lares com rendas anuais de entre US$50 mil a US$140 mil) continuará encolhendo-se. "Obrigaram-nos a pensar de maneira diferente sobre nossa pasta de produtos, para satisfazer os mercados altos e baixos.

Francamente, aí é onde está ocorrendo muito do crescimento", comentou a presidenta do grupo América do Norte, da Procter & Gamble, Melanie Healey, ao Wall Street Journal. O jornal informa que há um amplo leque de empresas que estão percebendo e fazendo o mesmo. Tiffany’s e outras de artigos de luxo gozaram de um grande ano, em 2010.
O jornal diz que os executivos estudam o famoso índice Gini, que em 2009 registrou um incremento de disparidade de renda de 20%, ao longo dos últimos 40 anos, algo que se agrava agora. "Agora, temos um índice Gini similar ao das Filipinas e do México; jamais teríamos imaginado isso", comentou ao jornal o vice-presidente da Procter & Gamble, Phyllis Jackson.



Nenhum comentário: