quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Lula recebe diploma em Paris e irrita mídia neoescravocrata

Jornalista argentino do “Página/12” testemunhou o papelão dos repórteres brasileiros que tentaram desmerecer prêmio dado ao ex-presidente do Brasil 

O ex-presidente Lula afirmou, na última terça-feira (27), ao receber o título de Doutor Honoris Causa do Instituto de Estudos Políticos de Paris, conhecido como Sciences-po, que se sente honrado de ser o primeiro latino-americano a receber esta homenagem e destacou que ela é um reconhecimento, não apenas a ele, “mas ao Brasil e a todo o povo brasileiro”.
 
A iniciativa francesa de premiar Lula irritou parte da elite colonizada brasileira, representada no evento por alguns correspondentes de certa mídia. Essa parte da elite, segundo o próprio ex-presidente, costuma ter “complexo de vira-lata”. Ela esperneou o quanto pôde contra a homenagem antes e depois do evento.
 
CASTA
 
A correspondente de “O Globo”, Deborah Berlink, por exemplo, indagou aos organizadores do evento por que escolheram Lula e não Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, para receber a homenagem da instituição. O presidente do instituto, Richard Descoings, com toda a diplomacia, deu a resposta: “O presidente Lula fez uma carreira política de alto nível, que mudou muito o país e, mudou radicalmente a imagem do Brasil no mundo. O Brasil se tornou uma potência emergente sob Lula, e ele não tem estudo superior. Isso nos pareceu totalmente em linha com a nossa política atual no Sciences-po, a de que o mérito pessoal não deve vir somente de um diploma universitário”.
 
Richard Descoings ainda acrescentou: “Na França, temos uma sociedade de castas. E o que distingue a casta é o diploma. O presidente Lula demonstrou que é possível ser um bom presidente, sem passar pela universidade. Ele foi eleito por unanimidade pelo nosso conselho de administração”.
 
O vexame da repórter e de outros seus colegas da mídia brasileira (?) chamou a atenção de Martín Granovsky, do jornal argentino “Página/12”, que não perdoou e ironizou no seu artigo “Os escravistas contra Lula”: “Seria bom que [Lula] soubesse que, antes de receber o doutorado Honoris Causa da Sciences-po, deve pedir desculpas aos elitistas de seu país. Um trabalhador metalúrgico não pode ser presidente. Se por alguma casualidade chegou ao Planalto, agora deveria guardar recato. No Brasil, a casa grande das fazendas estava reservada aos proprietários de terras e escravos. Assim, Lula, agora, silêncio, por favor. Os da casa grande estão bravos”.
 
Ao contrário do espírito de caramujo da mídia elitista brasileira que foi cobrir o evento, Lula esbanjou otimismo com o Brasil e fez um balanço amplo de suas realizações, dando destaque à área da educação. “Investimos fortemente em educação, pesquisa e desenvolvimento. Orgulho-me de ter criado 14 novas universidades federais e 126 extensões universitárias, democratizando e interiorizando o acesso ao ensino público”. Ele resgatou o fato de ter dobrado o número de matrículas nas instituições federais. “Mas não ficamos restritos a isso e instituímos o Prouni, um sistema inovador de bolsas de estudo em universidades particulares. Com ele, garantimos que 912 mil jovens de baixa renda pudessem cursar o ensino superior”.
 
O ex-presidente ainda aproveitou para mostrar a grande força que tem o povo brasileiro, ao dizer que essa “oportunidade não foi desperdiçada: os jovens com bolsas do Prouni têm-se destacado em todas as áreas, liderando em muitos casos os exames nacionais de avaliação feitos pelo Ministério da Educação. Ou seja, bastou uma chance e a juventude brasileira deu firme resposta ao mito elitista segundo o qual a qualidade é incompatível com a ampliação das oportunidades”. “Também me orgulho muito de termos inaugurado 214 novas escolas técnicas federais, que criaram possibilidades inéditas de formação profissional para a juventude”, acrescentou.
 
O correspondente do “Página 12” descreveu ainda uma outra manifestação do complexo de vira-lata, a que se referia Lula. Um repórter brasileiro [não citado] “perguntou com ironia” ao presidente do Instituto “se o Honoris Causa a Lula fazia parte da política de ação afirmativa da Sciences-po”. Descoings observou-o com atenção antes de responder. “As elites não são só escolares ou sociais”, rebateu. “Os que avaliam quem são os melhores são os outros, não os que são iguais a alguém. Se não, estaríamos frente a um caso de elitismo social. Lula é um torneiro mecânico que chegou à presidência, mas segundo entendi não ganhou uma vaga, mas foi votado por milhões de brasileiros em eleições democráticas”, completou Descoings.
 
MORAL
 
Perguntado por que premiar um presidente que “tolerou” a corrupção, o professor sorriu e disse: “Veja, Sciences-po não é a Igreja Católica. Não entra em análises morais, nem tira conclusões apressadas. Deixa para o balanço histórico esse assunto e outros muito importantes, como a instalação de eletricidade em favelas em todo o Brasil e as políticas sociais”. E acrescentou, pegando o Le Monde: “Que país pode medir moralmente hoje outro país? Se não queremos falar destes dias, recordemos como um alto funcionário de outro país teve que renunciar por ter plagiado uma tese de doutorado de um estudante”. Falava de Karl-Theodor zu Guttenberg, ministro de Defesa da Alemanha até que se soube do plágio. Mais ainda: “Não desculpamos, nem julgamos. Simplesmente não damos lições de moral a outros países”. “Um dos colegas perguntou se era correto premiar alguém que se jacta de nunca ter lido um livro. O professor manteve sua calma e o olhou assombrado. Talvez saiba que essa jactância de Lula não consta em atas, ainda que seja certo que não tem título universitário”, contou o correspodnente do “Pagina/12”.
 
Segundo ainda o articulista do “Página 12”, outro luminar resolveu perguntar se era correto premiar alguém que, certa vez, chamou Muamar Kadafi de “irmão”. “Com as devidas desculpas, que foram expressadas ao professor e aos colegas, a impaciência argentina [referindo-se à historiadora Diana Quattrocchi Woisson presente na coletiva] levou a perguntar onde Kadafi havia comprado suas armas e que país refinava seu petróleo, além de comprá-lo”, continuou Granovsky o seu relato. “O professor deve ter agradecido que a pergunta não tenha mencionado com nome e sobrenome França e Itália”. Aliás, os dois países europeus que agora , junto com os EUA, estão bombardeando a Líbia para saquear o seu petróleo. Com isso, o nosso “hermano”, habilmente, deixou evidente tanto a hipocrisia da elite francesa como daqueles que seguem seus passos por aqui.
 
SÉRGIO CRUZ

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