sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A invisibilidade dos “indignados”



GILSON CARONI*



O jogo é repleto de velhos subterfúgios. A grande imprensa, na tentativa de desconstruir o legado do governo Lula, organiza o movimento, mas não pode revelar o sujeito do enunciado. As últimas manifestações contra a corrupção, urdidas nas oficinas do Instituto Millenium, não evidenciam apenas o vazio de uma oposição sem projeto. Vão além. Seus verdadeiros objetivos são por demais ambiciosos para serem expostos à luz do dia.

Na verdade, o que se tem em mente é o combate às políticas de redistribuição de renda e os diversos programas de inclusão social levados a cabo nos últimos nove anos de governo petista.

Para tanto, as redações interagem com os “indignados” das redes sociais, apresentados como protagonistas de uma nova esfera pública singular. Sem organicidade, enraizamento e ojeriza a qualquer coisa que coisa que remeta a práticas políticas transformadoras, os “movimentos espontâneos” são a imagem espelhada de tantos setores que endossam a verdadeira corrupção a ser combatida: aquela que promove a concentração de renda, de terras e a exclusão social, além de assegurar os privilégios das corporações midiáticas.

Mais uma vez, é preciso voltar no tempo para apreender a dinâmica do ocultamento das taxonomias, pressuposto básico para a eficácia do poder simbólico, da capacidade, cada vez mais limitada, de formatar antigas agendas.

Terça-feira, 20 de março de 2007. Mais uma vez, “empenhado” em repor a verdade factual de episódio recente da política brasileira, Ali Kamel, diretor-executivo de jornalismo da TV Globo, voltava à página de “Opinião” do jornal da família Marinho. Desta vez escreveu um artigo que tinha por título “Collor”. Como de hábito, uma redação formalmente correta, escorreita e elegante. Como sempre, uma petição de meias verdades. Algo como um Legacy com problemas no mapa aeronáutico e no painel do tranponder. Se a história tomasse a forma de um Boeing, uma colisão inevitável teria que desaparecer do noticiário do Jornal Nacional.

Dizendo-se chocado com a “reação do Senado ao discurso de estréia de Fernando Collor” na quinta-feira (15/3), o jornalista abria o artigo manifestando indignação com a forma como o ex-presidente classificou seu impeachment: “Uma litania de abusos e preconceitos, uma sucessão de ultrajes e acúmulo de violações das mais comezinhas normas legais”.

Para Kamel, a passividade dos senadores deu margem a uma perigosa releitura da história. Segundo ele, o que Collor queria caracterizar como momento de arbítrio, foi, na verdade, “um exemplo pleno do funcionamento de nossa democracia”. Até aqui não havia o que objetar ao texto do segundo cargo de maior importância na hierarquia da Central Globo de Jornalismo. Os problemas começavam quando, após relato detalhado do funcionamento da CPI e do julgamento de Collor pelo STF, Kamel explicitava o que o levou a escrever o artigo: “A preocupação com os jovens, que não conhecem essa história”. Se a motivação fosse sincera, deveria, então, contar o processo histórico inteiro, não se atendo apenas a seus momentos finais.

HISTÓRIA

Teria que recordar que o ex-presidente foi uma aposta de Roberto Marinho para dar início à desconstrução do Estado, conforme solicitava o receituário neoliberal. O criador do maior conglomerado de mídia e entretenimento do Brasil não hesitou em jogar sujo para assegurar a vitória do “caçador de marajás” em 1989.

A apresentação do debate de Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva, às vésperas do segundo turno da eleição presidencial de 1989, é um exemplo dos métodos empregados por Roberto Marinho quando resolvia intervir na política. Em matéria para o Estado de S.Paulo (8/8/2003), José Maria Mayrink revela que...

“...Roberto Marinho não gostou da edição que a Rede Globo fez no noticiário da tarde e determinou que o diretor de jornalismo, Alberico Souza Cruz, reeditasse o material. Seu argumento era que estava parecendo que Lula ganhara o debate quando, de fato, o vencedor havia sido Collor. O episódio provocou uma crise interna na emissora e levou o candidato do PT a dizer que perdeu a eleição por causa da TV Globo”.

Em sua dissertação de mestrado, “Marajás e Caras-Pintadas: a memória do governo Collor nas páginas de O Globo”, o professor e jornalista Luis Felipe Oliveira mostra como a mídia construiu representações identitárias que marcaram o período Collor, da ascensão ao impeachment. Da necessidade de apresentar, acatando a agenda do neoliberalismo ascendente, o serviço público como algo oneroso, inoperante e injusto, nasceu a funcionalidade do “marajá”. Um construto tão eficaz quanto simplificadora.

MANIPULAÇÃO

Para os fins deste artigo, é interessante reproduzir como a Globo afirma suas representações negando o princípio do contraditório. Segundo Luis Felipe...

“...no esforço de representar o marajá, foi preciso evitar que as pessoas identificadas como tal pudessem apresentar ao leitor a sua versão. Nas poucas oportunidades em que permitiu aos acusados o direito de se manifestar, O Globo selecionou e redigiu de tal forma as informações que elas acabavam por corroborar as denúncias das quais os servidores estariam se defendendo. Recursos como este não foram usados apenas com os supostos marajás. Os governadores que não aderiram à caça também eram apresentados nas matérias de O Globo de tal maneira que suas intervenções não faziam efeito”.

O protagonismo da Globo na consolidação da imagem de Collor junto a parcela expressiva do eleitorado foi inegável. Marinho nunca ocultou que escondeu suas cartas. Foi enfático quando declarou à imprensa que “até as acusações, o Collor era para mim motivo de orgulho” (Estado de S.Paulo, 12/9/1992).

Deixemos claro que entre a Globo e Collor não houve relação de causalidade. Um precisava do outro para atingir seus fins. Era um típico caso de afinidade eletiva, formatado do princípio ao fim.

Convém lembrar que as Organizações Globo só abriram espaços para as manifestações públicas quando a sustentabilidade de Collor se tornou inviável. Em momento algum houve inflexão ética. Imolaram um personagem para manter intacto o projeto. Na mobilização pelo impeachment, a conhecida antecipação histórica de Roberto Marinho se fez presente.

Os caras-pintadas eram o retorno do movimento estudantil como farsa. A ação política teatralizada neutralizava qualquer possibilidade contra-hegemônica. O espetáculo sobrepujava as contradições históricas. A TV Globo aparecia como vanguarda de um processo que, inicialmente, buscou esvaziar.

Já era possível antever, em meados de 1992, que o saldo final do movimento seria favorável às forças conservadoras. O clamor pela ética, quando acompanhado de vazio político, sempre produz um vaudeville burguês. A edição do Jornal Nacional de 2/10/1992, dia do impeachment, foi o modelo acabado da informação espetacularizada. Mostrou multidões concentradas em diversas capitais e terminou ao som de Alegria, Alegria, de Caetano Veloso.

Ainda que reposta parcialmente, a história da Globo e seu candidato talvez explique melhor porque, segundo Kamel, “este é um país em que o decoro pode ser quebrado sem infringir o Código Penal”. Sem meias verdades, encontraremos as digitais do império de Roberto Marinho no que há de mais indecoroso no Brasil. Quem sabe, até o próprio DNA do monopólio informativo.

E que nenhum leitor pense que, passados 18 anos, a Globo atualizou seus métodos. Continua fiel seguidora da velha sentença de Nélson Rodrigues: “Se as versões contrariam os fatos, pior para os fatos”. Nos critérios de noticiabilidade da emissora não há lugar para fiascos.

Pior para os gatos-pingados que, no vazio de suas palavras de ordem, perdidos no centro do Rio de Janeiro, ficaram no limbo das editorias que tanto apostaram no êxito das articulações. Os caras-pintadas de 20 de setembro de 2011 conheceram a invisibilidade do próprio fracasso. Foi patético, mas de um didatismo exemplar.

* é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal Hora do Povo.http://www.horadopovo.com.br/

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Líbia e Colômbia: farsas e
fossas da mídia pró-EUA (I)

LEONARDO SEVERO



No mesmo domingo, 25 de setembro, em que os aviões da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) se aproximavam das 24 mil “operações de patrulha aérea” contra a Líbia, incluídas 8.941 missões de ataque para “proteger civis”, as agências internacionais reforçavam o bombardeio midiático.
Despejando desinformações, o jornalismo teleguiado buscava inocular o vírus da apatia e da alienação em massa enquanto tratava de transformar a vítima em culpada, a ação genocida em caridade, o invasor em libertador.

Com o propósito de atender aos monopólios do dinheiro, das armas e da palavra, a “notícia” tinha de ser bombástica para se impor: “Corpos de 1270 são achados em fossa comum na Líbia”. “A descoberta somente foi possível porque um simpatizante do regime de Muamar Kadafi detido horas antes apontou o local exato. A fossa comum fica perto da prisão de Abu Saleen. Os corpos encontrados na fossa poderiam pertencer aos presos massacrados pelo regime de Kadafi em 1996”, dizia a nota da agência espanhola Efe, rapidamente mimetizada sem o mínimo de critério e o máximo de estardalhaço.

A mesma imprensa que nada vê, ouve ou fala sobre o bombardeio a hospitais e o assassinato em massa de mulheres e crianças pelos EUA/Otan ou procura encobrir o acordo de sangue por petróleo, por meio do qual os fantoches se comprometeram a conceder 35% do ouro negro da Líbia aos franceses em troca do reconhecimento do “governo” do autodenominado Conselho Nacional de Transição (CNT). A mesma mídia que estende um manto de silêncio sobre o cerco criminoso a Sirte e à crise humanitária provocada pelos bombardeios “cirúrgicos” que estão arrasando com a infraestrutura da cidade natal do líder líbio, que continua resistindo sem água potável, energia elétrica, alimentos ou remédios.

Mentiras e mais mentiras

A orquestração da “fossa” fez do boato um “fato”, repetido mil e uma vezes como verdade absoluta e inconteste pelos grandes conglomerados privados e suas emissoras de rádio e televisão, jornais e revistas.

Horas depois, médicos líbios que foram até a prisão em Trípoli, acompanhados de vários meios de comunicação, incluindo uma desiludida e cabisbaixa CNN, tiveram de desmentir a notícia. A suposta fossa, “com mais de mil cadáveres”, era falsa, mais uma invenção publicitária dos marionetes da Otan. Os fragmentos ósseos não eram de humanos, mas de animais. Desconsertados, os propagandistas do império optaram pelo silêncio, confessando através da omissão o medo pânico que sentem diante da verdade.

Na Colômbia, o terrorismo de Estado está institucionalizado e os números falam por si: nos últimos 10 anos foram assassinados mais de 2.778 sindicalistas, sendo cometidos mais de 11 mil atos de violência. Nada menos do que 60% dos assassinatos de sindicalistas do mundo ocorreram no país, que tem um Tratado de Livre Comércio (TLC) com os EUA e onde bases militares ianques – e suas empresas - avançam a ritmo de câncer terminal pelo território.

Ali, a cerca de 200 quilômetros ao sul de Bogotá, foi descoberta no ano passado uma vala comum na pequena cidade de La Macarena com centenas de cadáveres produzidos pelo exército colombiano.

“O comandante do Exército nos disse que eram guerrilheiros mortos em combate, mas o povo da região nos falou de muitos líderes sociais, camponeses e comunitários que desapareceram sem deixar rastro”, declarou o jurista Jairo Ramírez, secretário do Comitê Permanente pela Defesa dos Direitos Humanos na Colômbia, que acompanhou uma delegação de parlamentares espanhóis ao local. “O que vimos foi arrepiante, de causar calafrios.

Uma infinidade de corpos e na superfície centenas de placas de madeira de cor branca com a inscrição NN (sem identificação) e com datas de 2005 até hoje”, acrescentou.

A mídia que propagandeia os feitos humanitários da luta dos paramilitares de direita contra os “terroristas” – como são chamados os patriotas colombianos – é a mesma que incentiva o genocídio dos patriotas líbios pelos “rebeldes” – como qualifica os mercenários dos EUA e da Otan.

Cadáveres na Colômbia

Registrem ou não os grandes conglomerados midiáticos, até recentemente haviam sido descobertos cerca de 2.500 cadáveres em fossas espalhadas pela Colômbia, dos quais foram reconhecidos tão somente 600, identificados e entregues aos seus familiares. Todos os demais eram NN.

Diferente do país norte-africano onde as agências noticiosas diziam ter chegado ao local por intermédio de “um simpatizante do governo de Kadafi” – a fim de enlamear e incriminar o líder da revolução verde -, a localização destes cemitérios clandestinos na Colômbia somente foi possível devido a relatos de membros dos esquadrões da morte, fascistas com nome e sobrenome, beneficiados pela Lei de (IN)Justiça e Paz que trocou confissões de psicopatas por microscópicas penas.

Um dos assassinos que decidiu destampar o bueiro cavado e cevado por bilhões de dólares made in USA do “Plano Colômbia”, John Jairo Rentería admitiu ter enterrado pelo menos 800 pessoas. “Todos tínhamos que aprender a desmembrar, a esquartejar aquela gente. Muitas vezes isso era feito com as pessoas ainda vivas”, relatou

Lula recebe diploma em Paris e irrita mídia neoescravocrata

Jornalista argentino do “Página/12” testemunhou o papelão dos repórteres brasileiros que tentaram desmerecer prêmio dado ao ex-presidente do Brasil 

O ex-presidente Lula afirmou, na última terça-feira (27), ao receber o título de Doutor Honoris Causa do Instituto de Estudos Políticos de Paris, conhecido como Sciences-po, que se sente honrado de ser o primeiro latino-americano a receber esta homenagem e destacou que ela é um reconhecimento, não apenas a ele, “mas ao Brasil e a todo o povo brasileiro”.
 
A iniciativa francesa de premiar Lula irritou parte da elite colonizada brasileira, representada no evento por alguns correspondentes de certa mídia. Essa parte da elite, segundo o próprio ex-presidente, costuma ter “complexo de vira-lata”. Ela esperneou o quanto pôde contra a homenagem antes e depois do evento.
 
CASTA
 
A correspondente de “O Globo”, Deborah Berlink, por exemplo, indagou aos organizadores do evento por que escolheram Lula e não Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, para receber a homenagem da instituição. O presidente do instituto, Richard Descoings, com toda a diplomacia, deu a resposta: “O presidente Lula fez uma carreira política de alto nível, que mudou muito o país e, mudou radicalmente a imagem do Brasil no mundo. O Brasil se tornou uma potência emergente sob Lula, e ele não tem estudo superior. Isso nos pareceu totalmente em linha com a nossa política atual no Sciences-po, a de que o mérito pessoal não deve vir somente de um diploma universitário”.
 
Richard Descoings ainda acrescentou: “Na França, temos uma sociedade de castas. E o que distingue a casta é o diploma. O presidente Lula demonstrou que é possível ser um bom presidente, sem passar pela universidade. Ele foi eleito por unanimidade pelo nosso conselho de administração”.
 
O vexame da repórter e de outros seus colegas da mídia brasileira (?) chamou a atenção de Martín Granovsky, do jornal argentino “Página/12”, que não perdoou e ironizou no seu artigo “Os escravistas contra Lula”: “Seria bom que [Lula] soubesse que, antes de receber o doutorado Honoris Causa da Sciences-po, deve pedir desculpas aos elitistas de seu país. Um trabalhador metalúrgico não pode ser presidente. Se por alguma casualidade chegou ao Planalto, agora deveria guardar recato. No Brasil, a casa grande das fazendas estava reservada aos proprietários de terras e escravos. Assim, Lula, agora, silêncio, por favor. Os da casa grande estão bravos”.
 
Ao contrário do espírito de caramujo da mídia elitista brasileira que foi cobrir o evento, Lula esbanjou otimismo com o Brasil e fez um balanço amplo de suas realizações, dando destaque à área da educação. “Investimos fortemente em educação, pesquisa e desenvolvimento. Orgulho-me de ter criado 14 novas universidades federais e 126 extensões universitárias, democratizando e interiorizando o acesso ao ensino público”. Ele resgatou o fato de ter dobrado o número de matrículas nas instituições federais. “Mas não ficamos restritos a isso e instituímos o Prouni, um sistema inovador de bolsas de estudo em universidades particulares. Com ele, garantimos que 912 mil jovens de baixa renda pudessem cursar o ensino superior”.
 
O ex-presidente ainda aproveitou para mostrar a grande força que tem o povo brasileiro, ao dizer que essa “oportunidade não foi desperdiçada: os jovens com bolsas do Prouni têm-se destacado em todas as áreas, liderando em muitos casos os exames nacionais de avaliação feitos pelo Ministério da Educação. Ou seja, bastou uma chance e a juventude brasileira deu firme resposta ao mito elitista segundo o qual a qualidade é incompatível com a ampliação das oportunidades”. “Também me orgulho muito de termos inaugurado 214 novas escolas técnicas federais, que criaram possibilidades inéditas de formação profissional para a juventude”, acrescentou.
 
O correspondente do “Página 12” descreveu ainda uma outra manifestação do complexo de vira-lata, a que se referia Lula. Um repórter brasileiro [não citado] “perguntou com ironia” ao presidente do Instituto “se o Honoris Causa a Lula fazia parte da política de ação afirmativa da Sciences-po”. Descoings observou-o com atenção antes de responder. “As elites não são só escolares ou sociais”, rebateu. “Os que avaliam quem são os melhores são os outros, não os que são iguais a alguém. Se não, estaríamos frente a um caso de elitismo social. Lula é um torneiro mecânico que chegou à presidência, mas segundo entendi não ganhou uma vaga, mas foi votado por milhões de brasileiros em eleições democráticas”, completou Descoings.
 
MORAL
 
Perguntado por que premiar um presidente que “tolerou” a corrupção, o professor sorriu e disse: “Veja, Sciences-po não é a Igreja Católica. Não entra em análises morais, nem tira conclusões apressadas. Deixa para o balanço histórico esse assunto e outros muito importantes, como a instalação de eletricidade em favelas em todo o Brasil e as políticas sociais”. E acrescentou, pegando o Le Monde: “Que país pode medir moralmente hoje outro país? Se não queremos falar destes dias, recordemos como um alto funcionário de outro país teve que renunciar por ter plagiado uma tese de doutorado de um estudante”. Falava de Karl-Theodor zu Guttenberg, ministro de Defesa da Alemanha até que se soube do plágio. Mais ainda: “Não desculpamos, nem julgamos. Simplesmente não damos lições de moral a outros países”. “Um dos colegas perguntou se era correto premiar alguém que se jacta de nunca ter lido um livro. O professor manteve sua calma e o olhou assombrado. Talvez saiba que essa jactância de Lula não consta em atas, ainda que seja certo que não tem título universitário”, contou o correspodnente do “Pagina/12”.
 
Segundo ainda o articulista do “Página 12”, outro luminar resolveu perguntar se era correto premiar alguém que, certa vez, chamou Muamar Kadafi de “irmão”. “Com as devidas desculpas, que foram expressadas ao professor e aos colegas, a impaciência argentina [referindo-se à historiadora Diana Quattrocchi Woisson presente na coletiva] levou a perguntar onde Kadafi havia comprado suas armas e que país refinava seu petróleo, além de comprá-lo”, continuou Granovsky o seu relato. “O professor deve ter agradecido que a pergunta não tenha mencionado com nome e sobrenome França e Itália”. Aliás, os dois países europeus que agora , junto com os EUA, estão bombardeando a Líbia para saquear o seu petróleo. Com isso, o nosso “hermano”, habilmente, deixou evidente tanto a hipocrisia da elite francesa como daqueles que seguem seus passos por aqui.
 
SÉRGIO CRUZ

Porta-vozes dos bancos fazem alarmismo para subir os juros

“Inflação” da pera e do açúcar cristal é apenas pretexto


Toda a mídia oposicionista (não encontramos até agora nenhuma exceção), TV, rádios, jornais, revistas, foi possuída nos últimos dias, desde que o câmbio, de um jeito ou de outro, começou a ser corrigido, e sobretudo depois que o IBGE, no dia 20, divulgou o resultado do IPCA-15, por um formidável zelo pela inflação. Por coincidência, apenas por coincidência, são os mesmos que reclamaram tanto quando o Banco Central cortou mísero meio ponto percentual na taxa básica de juros.

A luminosa tese dessas carpideiras, em geral exposta por cinzentas e ignotas mediocridades - quer dizer, consultores – elevadas a autoridades em matéria econômica e cambial, é que o BC cometeu uma imprudência com o corte de juros, e, com isso, supostamente, fez a inflação estourar. E haja gráficos, uma verdadeira floresta deles, de várias cores e formatos, sempre desenhados sem nenhuma proporção razoável nem senso do ridículo, para mostrar que estamos em pleno surto inflacionário, a caminho, talvez, da hiperinflação, à beira de comprar pãozinho francês com um caminhão de dinheiro, etc., etc., se o BC não voltar a aumentar imediatamente (isto é, na próxima reunião do Copom) os juros. Na quarta-feira, por exemplo, o Jornal Nacional, para mostrar a terrível inflação, recorreu ao preço da pera importada – como todo mundo sabe, um gênero alimentício de primeira necessidade na mesa de todo brasileiro.

Há também diatribes sobre o preço do açúcar cristal (quem será que usa isso?) ou sobre o tremendo impacto do aumento das passagens aéreas, provavelmente porque o povo passou a usar avião até para ir ao barbeiro ou à manicure – mas oculta-se que o açúcar, hoje, está sob o tacão de alguns monopólios multinacionais e não se fala dos aluguéis, vítimas da lei dos despejos aprovada há alguns meses.

Pois, leitor, talvez você não tenha notado, mas o hediondo IPCA-15 de setembro foi 0,53%, um aumento de 0,26 ponto percentual (ou seja, 1/4 de ponto) em relação a agosto. O mesmo índice, desde janeiro, está em 5,04%.

Mas o alarde foi para o “acumulado de 12 meses”, 7,33%.

Qual a importância desse número, que inclui três meses do ano passado? O BC aumentou cinco vezes os juros, antes de reduzi-los em apenas 0,5 p.p. O Ministério da Fazenda, como está em seu recente relatório, “Economia Brasileira em Perspectiva”, tomou providências adicionais para derrubar o crescimento, que, de 7,5%, foi parar em 3,1%.

Se, mesmo assim, esse lobby queixa-se da inflação, só pode ser a prova de que não é assim que se combate a inflação.

Realmente, não é. Combate-se a inflação aumentando os investimentos, a capacidade produtiva do país para atender o consumo, e a primeira medida para isso é baixar mais os juros. No entanto, eles sabem que a inflação atual não apresenta perigo algum, que sua origem externa – o preço especulativo das commodities – está caindo, e que, de qualquer forma, aumento de juros no Brasil não interfere na Bolsa de Mercadorias de Chicago ou Nova Iorque. O que querem, realmente, é aumentar os juros para que os bancos, principalmente os estrangeiros, pilhem mais o Estado e a população – daí, esse terrorismo em torno da inflação (e do câmbio, exatamente quando este começa a ser corrigido, isto é, quando se torna um pouco menos favorável aos produtos importados das multinacionais).

Até que dessa vez o ministro Mantega tem razão: “o câmbio está devolvendo o que se valorizou”. O problema é que a devolução foi pouca até agora e feita por via especulativa, ou seja, porque os especuladores passaram a apostar no dólar como boia para o naufrágio da Europa.

Sucintamente: com os juros altos atraindo nuvens de gafanhotos, isto é, dólares desvalorizados pelas superemissões dos EUA, a situação do câmbio, com o real hipervalorizado, provocou outra invasão: a de mercadorias importadas, barateadas em relação à produção interna por essa mera manipulação cambial, devastando a produção nacional, ao ocupar uma parcela cada vez maior do mercado interno, devido a esse dumping cambial. Para isso serve o chamado regime de “câmbio flutuante” - na verdade, uma renúncia do país a estabelecer o preço da sua própria moeda. Naturalmente, se não é o país que estabelece esse preço, os especuladores – ou um outro país – o faz.

Portanto, só fariseus, idólatras dos juros e do dólar, gente que rompeu seus vínculos com o país, inclusive com a economia nacional, podem lastimar que o preço da pera, ou outra mercadoria importada, ficou mais cara porque o câmbio ficou mais racional. Para o país é excelente que os importados estejam mais caros – e, portanto, aumente o espaço para a produção nacional no mercado interno. Não existe país sem economia própria, assim como sem Estado próprio e sem cultura própria.

A presidente Dilma analisou uma parte desses problemas em artigo publicado na quarta-feira pelo “Financial Times”, intitulado “O Brasil lutará contra os manipuladores de moeda”. O texto é muito mais interessante do que o seu discurso na ONU (deve ter sido o Patriota que redigiu esse último). Afirma a presidente:
“... a crise financeira de 2008 não acabou, especialmente nas economias avançadas. (…) As economias que emitem moedas de reserva estão gerenciando [managing] a liquidez internacional sem um sentido de bem coletivo.

Elas estão recorrendo à taxas de câmbio desvalorizadas para garantir sua parcela nos mercados globais. Essa onda de desvalorizações competitivas unilaterais cria um círculo vicioso que leva ao protecionismo cambial e comercial. Isso tem devastadores efeitos sobre todos, mas especialmente sobre os países em desenvolvimento”.

A moeda de reserva internacional, desde 1945, é o dólar. Mas compreende-se que a presidente não mencione explicitamente o que todo mundo sabe. Em seguida, apesar de condenar o protecionismo em geral (como se o protecionismo nos países periféricos não fosse um recurso de defesa contra a agressão comercial e cambial, sobretudo, dos EUA), Dilma chamou ao “combate a todas as formas de manipulação da moeda que fornece espúria competitividade às expensas dos parceiros comerciais”.

Em seguida, ela explicita do que está falando:
“... ameaçados por um grande fluxo de capital especulativo, assim como por uma rápida e insustentável apreciação da moeda, os países em desenvolvimento que adotam o regime de câmbio flutuante, tais como o Brasil, são forçados a tomar medidas prudenciais para proteger suas economias e suas moedas nacionais. Nós não sucumbiremos às pressões inflacionárias vindas de fora. Com firmeza e serenidade nós manteremos a inflação sob controle, sem desistir do crescimento econômico que é essencial se queremos promover a inclusão social” (Dilma Rousseff, “Brazil will fight back against the currency manipulators”, FT, 21/09/2011).

Os lobistas dos bancos interpretaram essa última parte como se Dilma tivesse afirmado que o crescimento é mais importante do que o combate à inflação – o que, aliás, é mesmo. No entanto, Dilma não afirmou isso, e sim que não arrasará o país em nome de um suposto – e, de resto, falso - combate à inflação. Mas, para os corifeus dos bancos e demais especuladores, arrasar o país para ganhar com os juros não é uma questão em que se pense duas vezes.


CARLOS LOPES

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

BARBOSA LIMA SOBRINO UM BRASILEIRO DE VERDADE. PATRIOTA



BARBOSA LIMA SOBRINHO DISSE. NOS SEUS 100 ANOS: "GETULIO VARGAS ESTAVA CERTO."
NESTE 03 DE OUTUBRO, QUE SE APROXIMA, INICIO DA REVOLUÇÃO DE 1930, LIDERADO PELO REVOLUCIONÁRIO GETULIO VARGAS, QUE TRANSFORMOU O BRASIL, APROFUNDANDO SUA INDEPENDÊNCIA. 

UMA HOMENAGEM A ESTES DOIS PATRIOTAS, LEONEL BRIZOLA E BARBOSA LIMA SOBRINHO . ESTAVAMOS LÁ NO SEU CENTENÁRIO.






"NO BRASIL SEMPRE SÓ EXISTIU DOIS PARTIDOS. O DE TIRADENTES E DE SILVÉRIO DOS REIS", DISSE BARBOSA LIMA SOBRINHO





domingo, 25 de setembro de 2011

EUA Vendido Bombs Busting Bunker a Israel:

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WASHINGTON, (Pal Telegraph) - O presidente Barack Obama secretamente autorizou a venda de 55 poderosas bombas arrasa-bunkers para Israel, a revista Newsweek noticiou sexta-feira.

Israel pediu pela primeira vez para comprar profundidade de penetração de bombas GBU-28 em 2005, mas foram repelidos pelo então presidente George W. Bush. Na época, o Pentágono havia congelado projectos conjuntos de EUA-Israel de defesa, com medo de que Israel foi a transferência de tecnologia militar avançada para a China, a Newsweek disse.

No entanto, em 2007, Bush informou o então primeiro-ministro israelense Ehud Olmert de que as bombas estará pronta para entrega em 2009 ou 2010, mesmo que os israelenses queriam-los imediatamente. Obama lançou as bombas em 2009, a revista relata, citando funcionários não identificados familiarizado com o decisão ainda em segredo. Newsweek, citando funcionários não identificados EUA e de Israel, disse em sua edição on-line que Israel tem desenvolvido sua tecnologia anti-bunker-próprio, mas que era mais barato comprar as armas dos EUA. As bombas de 2.000 libras são projetados para destruir alvos endurecido, o que poderia ser usado para atacar instalações nucleares iranianas.

O Pentágono se recusou a confirmar ou negar o relatório, mas o secretário de imprensa George Little, disse "os Estados Unidos continuam comprometidos a ajudar Israel prever a sua própria segurança e continuamos comprometidos em ajudar a manter a Israel sua vantagem qualitativa militar. "

http://paltelegraph.com/palestine/west-bank/10184-us-sold-bunker-busting-bombs-to-israel-report.html

Globo quer decretar o AI-5 em editorial e fechar a Câmara

Só pode ser isso para fazer um escarcéu em 3 telejornais e no jornal impresso (aquele que fica pendurado nas bancas de revistas) contra uma coisa absolutamente insignificante.

Nós temos muitas críticas às mazelas do Congresso e a atuação de vários deputados, mais tem críticas imbecis como a que a Globo fez, que não tem nenhum motivo justificado, a não a ser produzir alguma intimidação ou a intenção de demonizar todo e qualquer político, para dar um golpe ditatorial de elite contra a vontade popular soberana de escolher seus representantes nas urnas para eles cumprirem a vontade do povo.

Esse golpe, nos dias de hoje, não é mais com tanques de guerra nas ruas. É um recado aos deputados do tipo: "ou vocês votam do jeito que a gente quer no Congresso ou lhes daremos o inferno em nossos jornais".

A farsa da dramatização de algo insignificante
O tom sensacionalista começou de manhã no telejornal "Bom dia Brasil" que trouxe a "denúncia" com ar severo do tipo "quando achávamos que já havíamos visto tudo"....

Tratava-se da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) que, na linguagem do telejornal, "em pouco mais de 3 minutos" aprovou "108 projetos", numa sessão "com apenas 1 deputado no plenário" (o outro único deputado presente, presidia a sessão). Uau! A notícia foi de 1 minuto, e as imagens obtidas do próprio site da Câmara, portanto foram transmitidas ao vivo pela internet.

No Jornal Nacional repetiu e aumentou a dose para quase 2 minutos, com direito a mais dramatização:

- as imagens que eram públicas do site da Câmara, já foram trocadas por imagens de pior qualidade "gravadas por um celular de um repórter do jornal O Globo", dando a entender que seria algo sorrateiro, escondendo do telespectador a informação verdadeira: a sessão foi transmitida com transparência pela internet.

- os 118 projetos já ganharam ares de "maior importância", dizendo que entre eles tinham até "acordos internacionais". Uau! Abaixo explico que acordos são estes. Além disso havia também concessões de rádio (ÊPA), e regulamentação da profissão de cabelereiro.

- a matéria passa a informação de que 35 deputados "assinaram a lista de presença e foram embora". O repórter entrevistou o deputado que presidiu a sessão e que garantiu estar tudo dentro do regimento, e diz (genericamente) o óbvio: que o debate dos projetos com a presença dos demais deputados é sempre bom.

Uau! Com todo o respeito à profissão de cabelereiro, depois do projeto apresentado e relatado, não consigo imaginar intermináveis debates na CCJ sobre a constitucionalidade de um projeto destes (e seria a mesma coisa com a maioria das profissões).

- Para fechar "com chave de ouro", dando a palavra final, entrou no ar a opinião de um "especialista", um cientista político escolhido para respaldar a opinião que a Globo queria passar ao público, dizendo: "Soa como um deboche, um desprezo pela opinião pública. Uma afronta!... desqualifica toda a instituição!".

Pronto! O Merval Pereira e o Alexandre Garcia já podem decretar seu AI-5 em editorial para fechar a Câmara!

No telejornal da meia-noite, mais 1 minuto e meio da mesma ladainha, com William Waack dramatizando em tom severo: "... deputados acharam engraçado aprovar mais de uma centena de projetos em 10 minutos..." e blá-blá-blá.

No jornal "O Globo", em papel e na internet, saiu o listão dos deputados "cassados pelo AI-5" decretado pelo jornalismo da Globo (repare acima do título a palavra "descaso"):
Entre os nomes (a maioria influentes, de todos os partidos, tanto governistas como da oposição), deputados atuantes e que trabalham muito.

A matéria publicada como se fosse uma negligência gravíssima, tem a clara função de perseguição, de intimidar, ameaçar quem cometeu algum "descaso" contra algum interesse contrariado das Organizações Globo, e não descaso com o eleitor.

A verdade sobre a insignificância do fato
A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara teve reunião na manhã de 5a. feira.
A pauta da reunião estava pré-determinada, com os "118 projetos" (confira
aqui).

Não havia nenhum projeto polêmico. Praticamente todos consensuais. Alguns mera homologação de atos administrativos corriqueiros. Outros com parecer técnico e jurídico do relator para aprovação da constitucionalidade, para depois irem a voto no plenário da Câmara.

Os acordos internacionais são do tipo "Cooperação Cultural entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo de Belize". Nada a ver com entrada no Mercosul ou coisas complexas.

Ou seja, a sessão iria apenas homologar a aprovação do que já estava decidido na pauta que seria aprovado, praticamente por consenso.

Os 35 deputados deram quórum e foram exercer outras atividades parlamentares fora da CCJ, como se deixassem uma procuração com o voto pela aprovação do que estava na pauta. Nada de errado.

Nenhum mal uso do dinheiro público, ninguém estava gazeteando, nada contrário aos interesses dos eleitores que eles representam. Cumpriram com seu dever e aumentaram sua produtividade parlamentar indo exercer outras atividades.

A Globo ficou nervosa por que?
Como jabuti não sobe em árvore, qual é o interesse contrariado da Globo, para ficar tão irada?

A constitucionalidade da profissão de cabeleireiro, não deve ser.

Há, entre os 118 projetos, diversas renovações e algumas outorgas da concessão de rádios comerciais, a maioria do interior, outras de capital, mas rádios que já existem e estão apenas renovando o período da concessão. Nada que pareça ser ameaçador para a Globo. Há diversas outorgas de novas rádios comunitárias. Os barões da mídia sempre foram contra rádios comunitárias, mas será que pequenas rádios de comunidades são o suficiente para tamanha virulência contra os deputados?
 
http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com/
 

O artigo de Jô Soares contra a Globo

Por Altamiro Borges

O vídeo de quase sete minutos em que Jô Soares faz duras críticas à Rede Globo (assista aqui) causou alvoroço no twitter. Muitos internautas replicaram e aproveitaram para tirar uma casquinha do famoso "Gordo", que hoje "é um servil funcionário" - esse foi o adjetivo mais leve - da famiglia Marinho.

Alguns internautas, inclusive, pediram a difusão do artigo de Jô Soares, publicado no Jornal do Brasil com o título "Agora falando sério". O texto pode ser encontrado no sítio
Baú do Silvio e foi reproduzido pelo atento jornalista Marco Aurélio Mello, do blog DoLaDoDeLá, com o título irônico "Viva o Gordo! (Só se for daquela época)". É uma peça histórica:


*****


Em 1947, os grandes produtores de Hollywood se reuniram no hotel Waldorf-Astoria, em Nova Iorque, e resolveram que artistas com tendências políticas em desacordo com seu ideário não trabalhariam mais em filmes. Surgia a lista negra e a conseqüente caça às bruxas. Em pouco tempo, não somente radicais ou liberais eram perseguidos; qualquer artista que desagradasse aos chefes de estúdio era listado e não conseguia mais trabalho.

Com impecável senso de oportunidade, a TV Globo escolheu exatamente o momento da Constituinte no Brasil para inaugurar sua lista negra. Quem sair da emissora sem ter sido mandado embora corre o risco de não poder mais trabalhar em comerciais, sob a ameaça de que estes não serão lá veiculados. Como a rede detém quase o monopólio do mercado, os anunciantes não ousam nem pensar em artistas que possam desagradá-la.

Neste ponto, alguém pode achar que eu estou falando por interesse pessoal. Garanto que não.

Não falo pelo fato de os meus comerciais não poderem ser exibidos, nem pelo fato mais recente, das chamadas pagas do meu novo espetáculo no Scala 2 “O Gordo ao vivo” terem sido proibidas. Sou um artista muito bem remunerado e meus espetáculos têm outros meios de divulgação. Graças a Deus meus shows de humor já lotavam teatros antes que eu fosse para a Globo.

Que as chamadas de “O Gordo ao vivo” não passariam na emissora eu já sabia desde outubro, pelo próprio Boni, que me disse em sua sala quando fui me despedir:

– Já mandei tirar todos os seus comerciais do ar. Chamadas do seu novo show no Scala 2, também, esquece. Estou vendo como te proibir de usar a palavra ‘gordo’. – claro que esta última ameaça ficou meio difícil de cumprir: a megalomania ainda não é lei fora da Globo.

Logo, não é por isso que escrevo pela primeira vez sobre esse assunto. Saí da Globo, onde conservo grandes amigos, com a maior lisura, e nunca me aproveitei deste espaço, ou de nenhum espaço, em causa própria.

Escrevo, isso sim, porque atores que trabalham no meu programa, como Eliéser Mota, como Nina de Pádua, foram vetados em comerciais. As agências foram informadas, não oficialmente, é claro – como acontece em todas as listas negras – que suas participações não seriam aceitas.

É triste, nesse momento, em que se escreve diariamente a democracia no Congresso, que uma empresa que é concessão do Estado cerceie, impunemente, o artista brasileiro, de um modo geral já tão mal remunerado.

Finalmente, eu gostaria de dizer que Silvio Santos foi tremendamente injusto quando chamou Boni numa entrevista de “office-boy de luxo”. Nenhum office-boy consegue guardar tanto rancor no coração.
 
http://altamiroborges.blogspot.com/

Quem são os "éticos" do Opus Dei

Por Altamiro Borges

O Opus Dei (do latim, Obra de Deus) foi fundado em outubro de 1928, na Espanha, pelo padre Josemaría Escrivá. O jovem sacerdote de 26 anos diz ter recebido a “iluminação divina” durante a sua clausura num mosteiro de Madri. Preocupado com o avanço das esquerdas no país, este excêntrico religioso, visto pelos amigos de batina como um “fanático e doente mental”, decidiu montar uma organização ultra-secreta para interferir nos rumos da Espanha. Segundo as suas palavras, ela seria “uma injeção intravenosa na corrente sanguínea da sociedade”, infiltrando-se em todos os poros de poder. Deveria reunir bispos e padres, mas, principalmente, membros laicos, que não usassem hábitos monásticos ou qualquer tipo de identificação.


Reconhecida oficialmente pelo Vaticano em 1947, esta seita logo se tornou um contraponto ao avanço das idéias progressistas na Igreja. Em 1962, o papa João 23 convocou o Concílio Vaticano II, que marca uma viragem na postura da Igreja, aproximando-a dos anseios populares. No seu fanatismo, Escrivá não acatou a mudança. Criticou o fim da missa rezada em latim, com os padres de costas para os fiéis, e a abolição do Index Librorum Prohibitorum, dogma obscurantista do século 16 que listava livros “perigosos” e proibia sua leitura pelos fiéis. “Este concílio, minhas filhas, é o concílio do diabo”, garantiu Escrivá para alguns seguidores, segundo relato do jornalista Emílio Corbiere no livro “Opus Dei: El totalitarismo católico”.

O poder no Vaticano

Josemaría Escrivá faleceu em 1975. Mas o Opus Dei se manteve e adquiriu maior projeção com a guinada direitista do Vaticano a partir da nomeação do papa polonês João Paulo II. Para o teólogo espanhol Juan Acosta, “a relação entre Karol Wojtyla e o Opus Dei atingiu o seu êxito nos anos 80-90, com a irresistível ascensão da Obra à cúpula do Vaticano, a partir de onde interveio ativamente no processo de reestruturação da Igreja Católica sob o protagonismo do papa e a orientação do cardeal alemão Ratzinger”. Em 1982, a seita foi declarada “prelazia pessoal” – a única existente até hoje –, o que no Direito Canônico significa que ela só presta contas ao papa, que só obedece ao prelado (cargo vitalício hoje ocupado por dom Javier Echevarría) e que seus adeptos não se submetem aos bispos e dioceses, gozando de total autonomia.

O ápice do Opus Dei ocorreu em outubro de 2002, quando o seu fundador foi canonizado pelo papa numa cerimônia que reuniu 350 mil simpatizantes na Praça São Pedro, no Vaticano. A meteórica canonização de Josemaría Escrivá, que durou apenas dez anos, quando geralmente este processo demora décadas e até séculos, gerou fortes críticas de diferentes setores católicos. Muitos advertiram que o Opus Dei estava se tornando uma “igreja dentro da Igreja”. Lembraram um alerta do líder jesuíta Vladimir Ledochowshy que, num memorando ao papa, denunciou a seita pelo “desejo secreto de dominar o mundo”. Apesar da reação, o papa João Paulo II e seu principal teólogo, Joseph Ratzinger, ex-chefe da repressora Congregação para Doutrina da Fé e atual papa Bento 16, não vacilaram em dar maiores poderes ao Opus Dei.

Vários estudos garantem que esta relação privilegiada decorreu de razões políticas e econômicas. No livro “O mundo secreto do Opus Dei”, o jornalista canadense Robert Hutchinson afirma que esta organização acumula uma fortuna de 400 bilhões de dólares e que financiou o sindicato Solidariedade, na Polônia, que teve papel central na débâcle do bloco soviético nos anos 90. O complô explicaria a sólida amizade com o papa, que era polonês e um visceral anticomunista. Já Henrique Magalhães, numa excelente pesquisa na revista A Nova Democracia, confirma o anticomunismo de Wojtyla e relata que “fontes da Igreja Católica atribuem o poder da Obra a quitação da dívida do Banco Ambrosiano, fraudulentamente falido em 1982”.

O vínculo com os fascistas

Além do rigoroso fundamentalismo religioso, o Opus Dei sempre se alinhou aos setores mais direitistas e fascistas. Durante a Guerra Civil Espanhola, deflagrada em 1936, Escrivá deu ostensivo apoio ao general golpista Francisco Franco contra o governo republicano legitimamente eleito. Temendo represálias, ele se asilou na embaixada de Honduras, depois se internou num manicômio, “fingindo-se de louco”, antes de fugir para a França. Só retornou à Espanha após a vitória dos golpistas. Desde então, firmou sólidos laços com o ditador sanguinário Francisco Franco. “O Opus Dei praticamente se fundiu ao Estado espanhol, ao qual forneceu inúmeros ministros e dirigentes de órgãos governamentais”, afirma Henrique Magalhães.

Há também fortes indícios de que Josemaría Escrivá nutria simpatias por Adolf Hitler e pelo nazismo. De forma simulada, advogava as idéias racistas e defendia a violência. Na máxima 367 do livro Caminho, ele afirma que seus fiéis “são belos e inteligentes” e devem olhar aos demais como “inferiores e animais”. Na máxima 643, ensina que a meta “é ocupar cargos e ser um movimento de domínio mundial”. Na máxima 311, ele escancara: “A guerra tem uma finalidade sobrenatural... Mas temos, ao final, de amá-la, como o religioso deve amar suas disciplinas”. Em 1992, um ex-membro do Opus Dei revelou o que este havia lhe dito: “Hitler foi maltratado pela opinião pública. Jamais teria matado 6 milhões de judeus. No máximo, foram 4 milhões”. Outra numerária, Diane DiNicola, garantiu: “Escrivá, com toda certeza, era fascista”.

Escrivá até tentou negar estas relações. Mas, no seu processo de ascensão no Vaticano, ele contou com a ajuda de notórios nazistas. Como descreve a jornalista Maria Amaral, num artigo à revista Caros Amigos, “ao se mudar para Roma, ele estimulou ainda mais as acusações de ser simpático aos regimes autoritários, já que as suas primeiras vitórias no sentido de estabelecer o Opus Dei com estrutura eclesiástica capaz de abrigar leigos e ordenar sacerdotes se deram durante o pontificado do papa Pio XII, por meio do cardeal Eugenio Pacelli, responsável por controverso acordo da Igreja com Hitler”. Outro texto, assinado por um grupo de católicas peruanas, garante que a seita “recrutou adeptos para a organização fascista ‘Jovem Europa’, dirigida por militantes nazistas e com vínculos com o fascismo italiano e espanhol”.

Pouco antes de morrer, Josemaría Escrivá realizou uma “peregrinação” pela América Latina. Ele sempre considerou o continente fundamental para sua seita e para os negócios espanhóis. Na região, o Opus Dei apoiou abertamente várias ditaduras. No Chile, participou do regime terrorista de Augusto Pinochet. O principal ideólogo do ditador, Jaime Guzmá, era membro ativo da seita, assim como centenas de quadros civis e militares. Na Argentina, numerários foram nomeados ministros da ditadura. No Peru, a seita deu sustentação ao corrupto e autoritário Alberto Fujimori. No México, ajudou a eleger como presidente seu antigo aliado, Miguel de La Madri, que extinguiu a secular separação entre o Estado e a Igreja Católica.

Infiltração na mídia

Para semear as suas idéias religiosas e políticas de forma camuflada, Escrivá logo percebeu a importância estratégica dos meios de comunicação. Ele mesmo gostava de dizer que “temos de embrulhar o mundo em papel-jornal”. Para isso, contou com a ajuda da ditadura franquista para a construção da Universidade de Navarra, que possuí um orçamento anual de 240 milhões de euros. Jornalistas do mundo inteiro são formados nos cursos de pós-graduação desta instituição.

O Opus Dei exerce hoje forte influência sobre a mídia. Um relatório confidencial entregue ao Vaticano em 1979 pelo sucessor de Escrivá revelou que a influência da seita se estendia por “479 universidades e escolas secundárias, 604 revistas ou jornais, 52 estações de rádio ou televisões, 38 agências de publicidade e 12 produtores e distribuidoras de filmes”.

Na América Latina, a seita controla o jornal El Observador (Uruguai) e tem peso nos jornais El Mercúrio (Chile), La Nación (Argentina) e O Estado de S.Paulo. Segundo várias denúncias, ela dirige a Sociedade Interamericana de Imprensa, braço da direita na mídia hemisférica. No Brasil, a Universidade de Navarra é comandada por Carlos Alberto di Franco, numerário e articulista do Estadão, responsável pela lavagem cerebral semanal de Geraldo Alckmin nas famosas “palestras do Morumbi”.

Segundo a revista Época, seu “programa de capacitação de editores já formou mais de 200 cargos de chefia dos principais jornais do país”. O mesmo artigo confirma que “o jornalista Carlos Alberto Di Franco circula com desenvoltura nas esferas de poder, especialmente na imprensa e no círculo íntimo do governador Geraldo Alckmin”.

O veterano jornalista Alberto Dines, do Observatório da Imprensa, há muito denuncia a sinistra relação do Opus Dei com a mídia nacional. Num artigo intitulado “Estranha conversão da Folha”, critica seu “visível crescimento na imprensa brasileira. A Folha de S.Paulo parecia resistir à dominação, mas capitulou”. No mesmo artigo, garante que a seita “já tomou conta da Associação Nacional de Jornais (ANJ)”, que reúne os principais monopólios da mídia do país. Para ele, a seita não visa a “salvação das almas desgarradas. É um projeto de poder, de dominação dos meios de comunicação. E um projeto desta natureza não é nem poderia ser democrático. A conversão da Folha é uma opção estratégica, política e ideológica”.

A “santa máfia”

Durante seus longos anos de atuação nos bastidores do poder, o Opus Dei constituiu uma enorme fortuna, usada para bancar seus projetos reacionários – inclusive seus planos eleitorais. Os recursos foram obtidos com a ajuda de ditadores e o uso de máquinas públicas. “O Opus Dei se infiltrou e parasitou no aparato burocrático do Estado espanhol, ocupando postos-chaves. Constituiu um império econômico graças aos favores nas largas décadas da ditadura franquista, onde vários gabinetes ministeriáveis foram ocupados integralmente por seus membros, que ditaram leis para favorecer os interesses da seita e se envolveram em vários casos de corrupção, malversação e práticas imorais”, acusa um documento de um católico do Peru.

A seita também acumulou riquezas através da doação obrigatória de heranças dos numerários e do dizimo dos supernumerários e simpatizantes infiltrados em governos e corporações empresariais. Com a ofensiva neoliberal dos anos 90, a privatização das estatais virou outra fonte de receitas. Poderosas multinacionais espanholas beneficiadas por este processo, como os bancos Santander e Bilbao Biscaia, a Telefônica e a empresa de petróleo Repsol, têm no seu corpo gerencial adeptos do Opus.

Para católicos mais críticos, que rotulam a seita de “santa máfia”, esta fortuna também deriva de negócios ilícitos. Conforme denuncia Henrique Magalhães, “além da dimensão religiosa e política, o Opus Dei tem uma terceira face: da sociedade secreta de cunho mafioso. Em seus estatutos secretos, redigidos em 1950 e expostos em 1986, a Obra determina que ‘os membros numerários e supernumerários saibam que devem observar sempre um prudente silêncio sobre os nomes dos outros associados e que não deverão revelar nunca a ninguém que eles próprios pertencem ao Opus Dei’. Inimiga jurada da Maçonaria, ela copia sua estrutura fechada, o que frequentemente serve para encobrir atos criminosos”.

O jornalista Emílio Corbiere cita os casos de fraude e remessa ilegal de divisas das empresas espanholas Matesa e Rumasa, em 1969, que financiaram a Universidade de Navarra. Há também a suspeita do uso de bancos espanhóis na lavagem de dinheiro do narcotráfico e da máfia russa. O Opus Dei esteve envolvido na falência fraudulenta do banco Comercial (pertencente ao jornal El Observador) e do Crédito Provincial (Argentina). Neste país, os responsáveis pela privatização da petrolífera YPF e das Aerolineas Argentinas, compradas por grupos espanhóis, foram denunciados por escândalos de corrupção, mas foram absolvidos pela Suprema Corte, dirigida por Antonio Boggiano, outro membro da Opus Dei. No ano retrasado, outro numerário do Opus Dei, o banqueiro Gianmario Roveraro, esteve envolvido na quebra da Parlamat.

“A Internacional Conservadora”

O escritor estadunidense Dan Brown, autor do best seller “O Código da Vinci”, não vacila em acusar esta seita de ser um partido de fanáticos religiosos com ramificações pelo mundo. O Opus Dei teria cerca de 80 milhões de fiéis, muitos deles em cargos-chaves em governos, na mídia e em multinacionais. Henrique Magalhães garante que a “Obra é vanguarda das tendências mais conservadoras da Igreja Católica”.

Num livro feito sob encomenda pelo Opus Dei, o vaticanista John Allen confessa este poderio. Ele admite que a seita possui um patrimônio de US$ 2,8 bilhões – incluindo uma luxuosa sede de US$ 60 milhões em Manhattan – e que esta fortuna serve para manter as suas instituições de fachada, como a Heights School, em Washington, onde estudam os filhos dos congressistas do Partido Republicano de George W.Bush.

Numa reportagem que tenta limpar a barra do Opus Dei, a própria revista Superinteressante, da suspeita Editora Abril, reconhece o enorme influência política desta seita. E conclui: “No Brasil, um dos políticos mais ligados à Obra é o candidato a presidente Geraldo Alckmin, que em seus tempos de governador de São Paulo costumava assistir a palestras sobre doutrina cristã ministradas por numerários e a se confessar com um padre do Opus Dei. Alckmin, porém, nega fazer parte da ordem”. Como se observa, o candidato segue à risca um dos principais ensinamentos do fascista Josemaría Escrivá: “Acostuma-se a dizer não”.

Os tentáculos no Brasil

No Brasil, o Opus Dei fincou a sua primeira raiz em 1957, na cidade de Marília, no interior paulista, com a fundação de dois centros. Em 1961, dada à importância da filial, a seita deslocou o numerário espanhol Xavier Ayala, segundo na hierarquia. “Doutor Xavier, como gostava de ser chamado, embora fosse padre, pisou em solo brasileiro com a missão de fortalecer a ala conservadora da Igreja. Às vésperas do Concílio Vaticano II, o clero progressista da América Latina clamava pelo retorno às origens revolucionárias do cristianismo e à ‘opção pelos pobres’, fundamentos da Teologia da Libertação”, explica Marina Amaral na revista Caros Amigos.

Ainda segundo seu relato, “aos poucos, o Opus Dei foi encontrando seus aliados na direita universitária... Entre os primeiros estavam dois jovens promissores: Ives Gandra Martins e Carlos Alberto Di Franco, o primeiro simpático ao monarquismo e candidato derrotado a deputado; o segundo, um secundarista do Colégio Rio Branco, dos rotarianos do Brasil. Ives começou a freqüentar as reuniões do Opus Dei em 1963; Di Franco ‘apitou’ (pediu para entrar) em 1965. Hoje, a organização diz ter no país pouco mais de três mil membros e cerca de quarenta centros, onde moram aproximadamente seiscentos numerários”.

Crescimento na ditadura

Durante a ditadura, a seita também concentrou sua atuação no meio jurídico, o que rende frutos até hoje. O promotor aposentado e ex-deputado Hélio Bicudo revela ter sido assediado duas vezes por juízes fiéis à organização. O expoente nesta fase foi José Geraldo Rodrigues Alckmin, nomeado ministro do STF pelo ditador Garrastazu Médici em 1972, e tio do governador Geraldo Alckmin. Até os anos 70, porém, o poder do Opus Dei era embrionário. Tinha quadros em posições importantes, mas sem atuação coordenada. Além disso, dividia com a Tradição, Família e Propriedade (TFP) as simpatias dos católicos de extrema direita.

Seu crescimento dependeu da benção dos generais golpistas e dos vínculos com poderosas empresas. Ives Gandra e Di Franco viraram os seus “embaixadores”, relacionando-se com donos da mídia, políticos de direita, bispos e empresários. É desta fase a construção da sua estrutura de fachada – Colégio Catamarã (SP), Casa do Moinho (Cotia) e Editora Quadrante. Ela também criou uma ONG para arrecadar fundos: OSUC (Obras Sociais, Universitárias e Culturais). Esta recebe até hoje doações do Itaú, Bradesco, GM e Citigroup. Confrontado com esta denúncia, Lizandro Carmona, da OSUC, implorou à jornalista Marina Amaral: “Pelo amor de Deus, não vá escrever que empresas como o Itaú doam dinheiro ao Opus Dei”.

Os exageros sobre as redes sociais

Por Luciano Siqueira, no sítio Vermelho:

Não é a primeira vez nem será a última que se supervaloriza o instrumento em detrimento do conteúdo. Nesse caso, parece uma onda – à semelhança das ondas reais de manifestações ocorridas no Oriente Médio e em alguns países da Europa, como a França.

Atribui-se à internet – ao uso de sites de relacionamento, sobretudo – o dom de produzir grandes movimentações em praça pública, “à revelia dos partidos políticos, sindicatos e organizações estudantis clássicas”, que estariam superados.

Nessas análises ligeiras há uma clara subestimação das causas objetivas dos movimentos registrados. Como se fosse possível, por um passe de mágica, tornar real o desejo subjetivo de alguns indivíduos, que se supõe sejam em geral jovens, sem qualquer compromisso com correntes de pensamento sistematizado, transformando-os em movimentos de massas.

Que em alguns lugares a organização política seja incipiente, pelo menos nas formas convencionais, tudo bem – especialmente em países árabes cuja prática democrática quase inexiste. Mas razões objetivas há, de sobra, para que manifestações de rua se produzam. Não surgem do nada. São produtos de uma realidade objetiva hostil, que parcelas crescentes da população já não suportam e contra ela se sublevam.

Mesmo no caso de Paris e outras cidades francesas, onde grandes encontros festivos regados a consumo elevadíssimo de bebida alcoólica, que recentemente tumultuaram o ambiente em fins de semana e provocaram a intervenção do governo. Se não há causa explicita, há uma espécie de rebeldia sem causa que, em última instância, reflete a realidade objetiva adversa que reclama no mínimo uma válvula de escape.

Assim, o noticiário acumula manchetes e reportagens evidentemente marcadas por um desejo – de clara conotação politica – de ver a população reagir à margem das organizações politicas e sociais. “Militantes do Facebook descobrem a política”, é um exemplo. “Pelo Twitter, milhares atendem à convocação e ganham as ruas”, outro exemplo.

Há casos em que os promotores desses atos públicos se dizem absolutamente ignorantes ou avessos à política – e são saudados como novidade benéfica!

Existe algo mais politizado do que o combate à corrupção? E por que se dá tanta corda, na grande mídia a atos públicos nos quais os organizadores rejeitam a participação de políticos, partidos, sindicatos, entidades estudantis e até inofensivas ONGs?

Por que analistas dessas manifestações tergiversam sobre o conteúdo da “causa”, obscurecendo a necessidade de medidas concretas, para além do protesto, tais como a adoção do financiamento público das campanhas eleitorais, sabidamente um antidoto eficaz às relações promiscuas entre detentores de mandato e grupos econômicos, que está na raiz da corrupção institucionalizada?

Movimentos desprovidos de conteúdo são facilmente manipuláveis pelos meios de comunicação, que procuram direcioná-los a objetivos políticos nem sempre confessáveis.

Porém na prática, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Quem vai às ruas pelo simples desejo de protestar muitas vezes desperta para a necessidade de compreender a raiz dos problemas, ganha consciência política e se torna ativista consciente. Para frustração dos manipuladores
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Daslu caloteira pode ser despejada

Por Altamiro Borges

O Shopping Cidade Jardim, endereço da elite paulistana, entrou na semana passada na Justiça com pedido de despejo da butique Daslu – famosa por vender roupas de grife, por promover contrabando e por ter empregado a filha do governador Geraldo Alckmin. Segundo a gerenciadora do shopping, JHSF, a loja deve R$ 471,8 mil de aluguel e encargos somente de agosto passado.

Conforme informa o repórter Toni Sciarretta, da Folha, o processo na Justiça “diz respeito à ‘velha’ Daslu, comandada pela empresária Eliana Tranchesi, e que reúne a parte ruim do negócio, incluindo a dívida com a Receita Federal de mais de R$ 500 milhões”. Em outras palavras, a empresária caloteira dividiu os seus negócios para poder fraudar pagamentos e manter os seus lucros.

Nova loja no Rio de Janeiro
Segundo a matéria, em julho, “a Justiça de Falência acatou o pedido da Daslu de recuperação judicial, mecanismo que substituiu a antiga concordata e protege a empresa dos credores”. A empresa Laep, então, “comprou a parte ‘boa’ da Daslu, para alugar um espaço 50% maior. Na prática, a Daslu de Tranchesi é despejada do térreo e ressurge renovada nos dois andares superiores do mesmo shopping”.

Além disso, a empresária devedora acaba de anunciar que abrirá nova loja em novembro. “Enquanto a parte endividada da Daslu é ameaçada de despejo do Shopping Cidade Jardim, em São Paulo, a marca se prepara para abrir uma loja de dois andares no shopping mais luxuoso do Rio de Janeiro” – o São Conrado Fashion Mall, na zona sul carioca –, informa outra reportagem.

Que tal uma “marcha” contra a Daslu?
“O valor do investimento não é revelado pela Laep, empresa que adquiriu a marca da empresária Eliana Tranchesi em fevereiro. A parte ‘ruim’ do negócio, que inclui dívida de mais de R$ 500 milhões com a Receita, continua sob comando de Tranchesi. No Rio, a loja deverá ter uma equipe de 30 funcionários”.

Como se observa, os empresários têm várias mecanismos para sonegar impostos e fraudar pagamentos. Na relação promíscua entre corruptores e corruptos, eles também conseguem benesses e favores dos órgãos públicos. Seria o caso da Juventude do PSDB, tão ativa nas “marchas contra a corrupção”, convocar um protesto contra a Daslu. Poderia até convidar a filha de Geraldo Alckmin!
 
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